João Gomes da Rocha

João Gomes da Rocha (1861-1947) foi um médico, hinista e missionário congregacionalista brasileiro.

Nascido no Rio de Janeiro, filho de portugueses, João Gomes da Rocha foi adotado pelo casal missionário escocês Robert e Sarah Kalley. Eles o batizaram em 1885, na Escócia.

Estudou medicina em Londres, onde atuou como médico e missionário. Durante uma visita ao Brasil, em 1893, filiou-se à Igreja Evangélica Fluminense, fundada por seu pai adotivo, Robert Kalley. A missão o enviou para a África e, ao retornar a Londres, permaneceu lá exercendo a medicina até sua morte.

Após a morte de Robert, João auxiliou sua mãe adotiva na compilação do hinário Salmos e Hinos. Habilidoso em português, assumiu a responsabilidade pela terceira edição do hinário em 1889 e pela quarta em 1919.

David Worthington Simon

David Worthington Simon (1830–1909) foi um teólogo, ministro congregacionalista e tradutor britânico.

Nascido no Reino Unido, Simon dedicou sua vida ao ministério e à educação teológica. Formado em um contexto que valorizava a erudição teológica, especialmente a tradição reformada, Simon atuou como reitor de uma faculdade congregacionalista.

Familiarizado com a teologia alemã, produziu traduções de obras como “Comentário sobre Eclesiastes” de Hengstenberg (1860), a “História do Desenvolvimento da Doutrina da Pessoa de Cristo” (Divisão II) de Dorner, traduzido em colaboração com Alexander e Fairbairn (1861–1863), e o “Lexicon Biblico-Teológico do Grego do Novo Testamento” de Cremer, traduzido com Urwick (1872). Também publicou “A Bíblia: Um Crescimento da Vida Teocrática” (1886), onde explora a relação entre a vida religiosa e a sociedade.

Simon também escreveu diversos artigos em revistas teológicas, como “A Formação Universitária dos Ministros Congregacionalistas” (1883) e “Doutrina Cristã e Vida” na Bibliotheca Sacra (1884).

Suas publicações refletem seu envolvimento com questões teológicas contemporâneas e sua habilidade em articular conceitos complexos de maneira acessível. Abordou uma variedade de tópicos teológicos, incluindo a doutrina da Trindade, a redenção e a relação entre evolução e a queda do homem. Em suas obras, frequentemente integrava perspectivas históricas e críticas. Seu trabalho “Redenção do Homem: Discussões sobre a Expiação” (1889) é um exemplo disso, onde discute as implicações da expiação na vida cristã.

Nels F. S. Ferré

Nels Frederick Solomon Ferré (1908-1971) foi um teólogo sueco-americano que enfatizou o amor como o princípio interpretativo central da teologia.

Nascido em uma família batista na Suécia, emigrou aos Estados Unidos na adolescência. Recebeu formação em teologia filosófica, depois seria ordenado na Igreja Congregacional e seria contratado como professor de teologia filosófica na Andover Newton Theological School. Lecionou lá de 1937 a 1965. Também lecionou na Vanderbilt Divinity School de 1950-1957.

Foi um popularizador da teologia nos meados do século XX, escrevendo para uma audiência leiga. Escreveu mais de 30 livros.

Enraizado no Personalismo de Boston, sua teologia centrava-se no amor como categoria fundamental da vida e essência de Deus. Influenciado pela Filosofia do Processo, Ferré via Deus como dinâmico, evoluindo em conexão com a criação. A Teologia da Ágape desempenhou um papel fundamental, enfatizando o amor incondicional de Deus como a realidade última. O pensamento de Ferré encorajou a piedade pessoal, fomentando devoção e experiências místicas. Suas ideias principais retratavam Deus como relacional, criativo e em constante evolução, manifestado por meio do amor altruísta. Ferré imaginou a humanidade como co-criadora de Deus, chamada a encarnar o ágape no mundo. Rejeitando noções estáticas de realidade última, defendia uma comunhão dinâmica de amor. Ferré defendeu a experiência em vez do dogma, a harmonia entre razão e fé e a abertura para entendimento em evolução. Sua teologia priorizou a justiça social, prevendo um mundo transformado através do poder do ágape.

BIBLIOGRAFIA

Ferré, Nels. Faith and Reason. 1946.

Ferré, Nels. Evil and the Christian Faith. New York, 1947.

Ferré, Nels. The Christian Faith. 1948.

Ferré, Nels. Strengthening the Spiritual Life. 1951.

Ferré, Nels. Christ and the Christian.

Ferré, Nels. The Christian Understanding of God.

Ferré, Nels. Swedish Contributions to Modern Theology, 1967.

Congregacionalistas

Congregacionalismo é tanto (a) uma estrutura eclesiológica e política de organização denominacional que enfatiza a autonomia da igreja local, bem como (b) as denominações de origem angloamericanas que adotam tal estrutura.

A tradição denominacional congregacionalista

Originárias reuniões puritanas e separatistas na Inglaterra do século XVI, os congregacionalistas velam pela autonomia das congregações locais sob a liderança imediata de Cristo. Esta abordagem enfatiza o cuidado mútuo entre as igrejas, inicialmente expresso em associações locais e posteriormente evoluindo para uma denominação nacional.

Entre seus pioneiros estavam os puritanos Robert Browne e John Robinson. A congregação de Robinson mais tarde viriam ser os Peregrinos que migraram para Plymouth, Massachusetts.

O congregacionalismo segue tradição teológica reformada, evoluindo a partir de suas raízes calvinistas para abraçar a diversidade teológica. Ao invés do confessionalismo, adota pactos doutrinários. A Plataforma Cambridge define a igreja como um corpo reunido de crentes, com uma natureza pactual influenciando tanto a eclesiologia como os sistemas políticos.

Figuras notáveis incluem Horace Bushnell, Nathaniel Taylor e outros.
Expressões nacionais são a União das Igrejas Congregacionais na Inglaterra e o Conselho Nacional das Igrejas Congregacionais na América, surgiram nos séculos XIX e XX. Fusões incluem a formação da Igreja Unida de Cristo nos EUA, a Igreja Unida do Canadá e a Igreja Reformada Unida do Reino Unido.

A International Congregational Fellowship, criada em 1974, serve como um órgão global não representativo para congregacionalistas de várias nações.

Congregacionalismo no Brasil

O congregacionalismo é a mais antiga tradição denominacional a fazer cultos em português e realizar missões entre brasileiros. O congregacionalismo brasileiro tem suas origens históricas não no congregacionalismo britânico ou norteamericano, mas no trabalho missionário indenominacional do médico-missionário escocês Robert Reid Kalley e de sua esposa Sarah Poulton Kalley.

Chegando ao Brasil em 1855, fundaram a Igreja Evangélica Fluminense no Rio de Janeiro. Igrejas semelhantes surgiram em Recife e Niterói, todas independentes de laços denominacionais no exterior.

Embora batizado na Igreja Livre da Escócia, Kalley distanciou-se da afiliação denominacional, enfatizando a unidade entre os cristãos, independentemente da denominação. Esta abordagem, divergindo do denominacionalismo estrito do presbiterianismo, introduziu uma estrutura congregacionalista onde cada igreja local era autônoma.

Os principais grupos são.

  1. União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB) – Formada em 1913, representa igrejas congregacionalistas estabelecidas através dos esforços missionários de Robert Reid Kalley e enfatiza a autonomia congregacional.
  2. Igreja Cristã Evangélica do Brasil – Originada da missão de Kalley, fundiu-se com a UIECB em 1942 e reflete sua abordagem indenominacional do Cristianismo.
  3. Igreja Evangélica Congregacional do Brasil – Influenciada pelo pietismo alemão, surgiu separada do trabalho missionário de Kalley e mantém presença principalmente no Sul do Brasil.
  4. Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil – Formada em 1967, representa igrejas congregacionalistas com ênfase na doutrina pentecostal e movimentos de renovação dentro de igrejas protestantes históricas.

Horace Bushnell

Horace Bushnell (1802-1876) foi um ministro e teólogo congregacional americano que fez contribuições significativas para o pensamento religioso americano no século XIX.

Nascido em Bantam, Connecticut, Bushnell se formou no Yale College em 1827 e mais tarde frequentou a Yale Divinity School. Após a formatura, Bushnell serviu como pastor congregacional em várias igrejas de Connecticut, e sua carreira incluiu vários anos como professor de teologia na Yale Divinity School. Ele era conhecido por seus sermões e escritos sobre teologia, que desafiavam as crenças protestantes tradicionais e procuravam conciliar a religião com os desenvolvimentos intelectuais e científicos modernos.

O pensamento teológico de Bushnell enfocou a ideia da “Teologia da Nova Inglaterra”, que enfatizava a importância da experiência religiosa pessoal e o papel do Espírito Santo na salvação individual. Ele rejeitou as estritas doutrinas calvinistas da predestinação e do pecado original, enfatizando, em vez disso, o poder da vontade humana e o potencial de aperfeiçoamento moral por meio da prática religiosa.

Uma das contribuições teológicas mais significativas de Bushnell foi sua doutrina da expiação, que procurou reinterpretar a compreensão protestante tradicional da morte de Cristo na cruz. Na visão de Bushnell, a expiação não era uma troca transacional de punição pelo pecado, mas sim uma demonstração do amor e da solidariedade de Deus com a humanidade diante do sofrimento e do mal.

Bushnell argumentou que o sofrimento de Cristo não foi apenas um pagamento pelo pecado, mas uma participação na experiência humana de sofrimento e uma demonstração de empatia e solidariedade divinas. Ele acreditava que esse entendimento da expiação estava mais de acordo com os ensinamentos do Novo Testamento e mais compatível com os desenvolvimentos intelectuais e científicos modernos.

Sua doutrina da expiação, enfatizando a solidariedade de Cristo com a humanidade no sofrimento, continua sendo uma contribuição significativa para a teologia cristã. A cruz não mudou a atitude de Deus. Antes foi uma revelação do perdão perpétuo de Deus e sua disposição para sofrer conosco e por nós. A obra de expiação de Cristo foi altruísta; assim, foi um sofrimento vicário, como no Servo Sofredor de Isaías, mas não de substituição penal. Essa perspectiva é tida como um renascimento da teoria da influência moral de Abelardo.

Bushnell antecipou as justificações teológicas para o continuísmo da ação divina de forma miraculsoa. Considerou que qualquer a negação dos milagres contemporâneos seria uma ameaça a todo o argumento do sobrenatural registrado na Bíblia. Ele previu: “Agora pode estar surgindo uma dispensação de dons e milagres mais distinta e amplamente atestada do que foi testemunhada por séculos”. (1858).

A recepção do pensamento de Bushnell foi controversa. Conforme sumarizado por Smith e Town (2015) : “Desprezado por seus críticos como liberal, calvinista, místico e herege, a teologia de Horace Bushnell – particularmente seu modelo de educação cristã – prevaleceu como um modelo significativamente influente para a educação religiosa.”

BIBLIOGRAFIA

Bushnell, Horace. Nature and Supernatural. 1858.

Bushnell, Horace. The Vicarious Sacrifice: Grounded in Principles of Universal Obligation. RD Dickinson, 1892.

Haddorff, David W. “The Horace Bushnell Controversy, 1849-1854: A Crisis in Connecticut Congregationalism.” Connecticut History Review 38.1 (1997): 56-73.

Mullin, Robert Bruce. “Horace Bushnell and the question of miracles.” Church history 58.4 (1989): 460-473.

Olson, Roger. “Remembering the “Progressive Orthodoxy” of Horace Bushnell”. Patheos, 2012.

Smith, Samuel J.; Town, Elmer L. “Horace Bushnell: Advocate of Progressive Orthodoxy and Christian Nurture.” Liberty University, 2o15.