Crítica confessional

O termo crítica confessional aplica-se a duas abordagens de exegese homônimas, porém não relacionadas, além de o termo servir para leituras teológicas sem critérios exegéticos.

A primeira abordagem refere-se à Interpretação Teológica das Escrituras. Desde a distinção proposta por Johann Philipp Gabler entre teologia e estudos bíblicos, a primeira disciplina ficou relegada em fases posteriores da exegese, notoriamente na atualização ou aplicação das Escrituras ou totalmente não considerada. Por outro lado, a reflexão teológica passou a considerar as ciências bíblicas como anciliar da teologia. No entanto, um movimento heterogêneo de exegetas desde dos anos 1950 discutem como conciliar ambas disciplinas.

O segundo significado reflete a utilização de análises literárias voltadas para autobiografias, confissões pessoais, autoetnografia, testimonios para compreender os textos bíblicos.

Ambas abordagens são importantes por transparecer o quanto as interpretações são carregadas de perspectivas pessoais ou pressupostos teológicos. Adicionalmente, legitimam leituras que sirvam para professar experiências de fé, tanto pessoais quanto alinhadas às tradições das confissões históricas.

Vale ressaltar que, por vezes, o termo de interpretação confessional implica em um criticismo às práticas eisegéticas de muitos teólogos que imprimem no textos bíblicos significados alinhados às suas ideologias e tradições teológicas. Nessa linhagem, o termo leitura confessional ou leitura teológica pressupõe uma interpretação sem consciência de critérios exegéticos.

BIBLIOGRAFIA

Allison, Gregg R. “Theological Interpretation of Scripture: An Introduction and Preliminary Evaluation,” Southern BaptistJournal oJ Theology 14/2 (2010), 28-36.

Blocher, Henri. La Bible au microscope: Exégèse et théologie biblique. Vaux-sur-Seine: Edifac, 2006.

Fowl, Stephen E. (ed.), The Theological Interpretation of Scripture: Classic and Contemporary Readings. Blackwell Readings in Modern Theology: Cambridge: Blackwell, 1997.

Green, Joel B.  Practicing Theological Interpretation: Engaging Biblical Texts for Faith and Formation. Grand Rapids: Baker, 2011.

Hays, Richard B. “Reading the Bible with eyes of faith: The practice of theological exegesis.” Journal of Theological Interpretation 1.1 (2007): 5-21.

Kitzberger, Ingrid R. Autobiographical Biblical Criticism: Between Text and Self. BRILL, 2019.

Rosenthal, M.L. The Poet’s Art. New York: Norton, 1989.

Trimm, Charlie. “Evangelicals, Theology, and Biblical Interpretation: Reflections on the Theological Interpretation of Scripture.” Bulletin for Biblical Research 20.3 (2010): 311-330.

Treier, Daniel. Introducing Theological Interpretation oj Scripture: Recovering a Christian Practice. Grand Rapids, MI: Baker, 2008.

Topping, Richard R. Revelation, Scripture and Church: Theological Hermeneutic Thought of James Barr, Paul Ricoeur, and Hans Frei. Aldershot: Ashgate, 2007.

Wolters, Al. “Confessional Criticism and the Night Visions of Zechariah.” Renewing Biblical Interpretation 1 (2000): 90.

Vanhoozer, Kevin (ed.), Dictionary of Theological Interpretation of the Bible Grand Rapids, MI: Baker, 2005.

Teologia credal

A teologia credal é o ramo da teologia sistemática que discorre sobre métodos e tópicos relacionados à formulação, interpretação e aplicação de credos e confissões de fé nas comunidades religiosas.

Enquanto a teológica dogmática discorre sobre as implicações das doutrinas formuladas pelos credos e confissões, a teologia credal preocupa-se com a elaboração e aplicação das declarações de fé. Entretanto, como se ocupam de proposições doutrinárias, há sobreposição entre as duas subdisciplinas.

Alguns dos principais tópicos abordados pela teologia do credo incluem:

  1. Natureza da declaração de fé: examina os papeis como norma normata e regra da doutrina (regula doctrinæ). Discorre sobre os limites e mutabilidade (ou não) das proposições doutrinárias. Compara as declarações de fé com o uso de textos litúrgicos como hinos, com textos normativos como cânones denominacionais, com as Escrituras na vida da igreja.
  2. Desenvolvimento histórico de credos e confissões: Examina as origens, as modificações e o contexto histórico de vários credos e confissões dentro de diferentes tradições religiosas.
  3. Interpretação da declaração de fé: analisa os significados e implicações teológicas de declarações de fé, incluindo a interpretação de conceitos e princípios doutrinários fundamentais.
  4. Teologia comparada: Compara e contrasta os credos e confissões de diferentes tradições ou denominações religiosas para identificar semelhanças, diferenças e pontos de convergência e divergência.
  5. Metodologia teológica: explora as metodologias empregadas na formulação, interpretação e aplicação de credos e confissões, incluindo abordagens exegéticas, históricas e sistemáticas.
  6. Teologia doutrinária e dogmática: investigar os ensinamentos doutrinários e afirmações dogmáticas contidas nos credos e confissões, e explorar suas implicações teológicas para a crença e a prática.
  7. Eclesiologia: Examina o papel dos credos e confissões na formação da identidade, unidade e limites das comunidades religiosas, incluindo o seu significado para a autoridade e governação eclesial. Também inclui os empregos das declarações de fé para fins apologéticos, respostas a desafios internos ou para questões sociais, bem como a utilização da declaração de fé para o exercício da disciplina.
  8. Hermenêutica: Reflete sobre os princípios e métodos de interpretação aplicados aos textos de credos, incluindo considerações de contexto, linguagem e tradição teológica. A crítica confessional aplica elementos hermenêuticos dos credos e confissões na leitura das Escrituras.
  9. Autoridade confessional: Também a teologia credal ocupa-se da questão hermenêutica e de autoridade do confessionalismo, na distinção entre quia e quatenus se adesão a um credo ou confissão deva ser “quia” (porque) ou “quatenus” (na medida em que) a declaração de fé expressa as verdades evangélicas oriundas das fontes teológicas.
  10. Relevância contemporânea: avalia o significado contínuo e a aplicação de credos e confissões no cenário religioso contemporâneo, incluindo o seu papel na abordagem de desafios teológicos e no envolvimento com questões culturais e sociais. Aqui entram as questões como os credos e confissões servem para a vida da Igreja, se prioriza o discipulado ou se prioriza seu uso como disciplina.
  11. Ecumenismo: explora o potencial de diálogo, reconciliação e cooperação entre diferentes tradições ou denominações religiosas através do estudo e interpretação de credos e confissões.
  12. Teologia prática: Investigar as implicações práticas da teologia de credo para evangelização, adoração, discipulado, cuidado pastoral e missão dentro de comunidades religiosas.

BIBLIOGRAFIA

Fairbairn, Donald; Reeves, Ryan M. The Story of Creeds and Confessions: Tracing the Development of the Christian Faith. Baker Academic, 2019.

Hahn, Georg L. Bibliothek der Symbole und Glaubensregeln der alten Kirche [Breslau: E. Morgenstern, 1897 (Hildesheim: G. Olms, 1962)].

Hahn, Scott. The Creed: Professing the Faith Through the Ages. Emmaus Road Publishing, 2016.

Kelly, John Norman Davidson. Early christian creeds. Routledge, 2014.

McGrath, Alister E. Faith and Creeds: A Guide for Study and Devotion. Vol. 1. Westminster John Knox Press, 2013.

Pelikan, Jaroslav. Credo: Historical and theological guide to creeds and confessions of faith in the Christian tradition. Yale University Press, 2005.

Radde-Gallwitz, Andrew. “Private Creeds and their Troubled Authors.” Journal of Early Christian Studies 25.1 (2017): 464-490.

Schaff, Philip. Creeds of Christendom, with a History and Critical notes. Volume I. The History of Creeds. CCEL, 1877.

Wilhite, David E. “The Baptists ‘and the Son’: The Filioque Clause and non-Creedal Theology”. Journal of Ecumenical Studies 44 (2 2009): 285-302.

VEJA TAMBÉM

Crítica confessional

Artigos de Fé

Teologúmena

Credos e confissões de fé