Gattungsgeschichtliche

Gattungsgeschichtliche e crítica das formas são duas metodologias usadas no estudo de textos bíblicos. Esses métodos foram desenvolvidos por biblistas no início do século XX que buscavam entender as origens e o contexto histórico dos textos.

Gattungsgeschichtliche, que significa “história do gênero”, é uma metodologia que busca identificar os diferentes gêneros literários presentes nos textos bíblicos e traçar seu desenvolvimento ao longo do tempo. Esta abordagem centra-se na forma dos textos e não no seu conteúdo e procura compreender o contexto social e cultural em que foram produzidos.

A crítica das formas, por outro lado, se baseia no trabalho de Gattungsgeschichtliche, investigando as tradições orais e as coleções de histórias e leis que existiam antes e independentemente das obras escritas. Esta abordagem examina os ciclos de histórias nas narrativas patriarcais, nos Salmos e no material jurídico, particularmente o Decálogo. A crítica da forma procura compreender as formas e estruturas dos textos e as formas como foram transmitidas e adaptadas ao longo do tempo.

Enquanto a crítica da forma de Gunkel ganhou respeitabilidade nos estudos do Pentateuco, ela não eclipsou a crítica da fonte, mas levou a novos desenvolvimentos no trabalho de Von Rad e Noth. No entanto, houve algumas fraquezas identificadas na teoria crítica da forma de Gunkel. A datação de possíveis tradições folclóricas antigas e a avaliação de se uma parte das Escrituras veio de uma fonte oral ou de uma composição escrita antiga eram problemáticas. Além disso, alguns estudiosos questionaram o uso da etiologia como forma de identificar fontes anteriores e se havia alguma oralidade por trás dos documentos escritos.

No entanto, os críticos da forma contribuíram significativamente para o estudo do Antigo Testamento, expondo o significado interpretativo das configurações sociais/literárias gerais e particulares (Sitz im Leben) dos textos bíblicos. Essa abordagem ajudou os estudiosos a entender melhor o contexto cultural em que os textos foram produzidos e as formas como foram transmitidos e adaptados ao longo do tempo.

Crítica das formas

A crítica da formas (formgeschichtlichen Methode e Gattungsgeschichtliche) é um método exegético diacrônico que visa reconstituir forma de transmissão das passagens bíblicas.

Há pressupostos de oralidade em grande parte da transmissão bíblica. Também é importante a compreensão dos gêneros literários — orações, aforismos, provérbios, salmos, genealogias, épicos, ciclos narrativos, códigos legais, dentre outros. Por essa razão, é muito próxima da crítica dos gêneros textuais (Gattungsgeschichtliche).

Como base metodológica, a crítica das formas tenta situar as passagens em um Sitz im Leben, o contexto de composição, para compreender a funcionalidade do texto em suas audiências originais.

A crítica das formas teve como seu grande proponente Hermann Gunkel (1862 – 1932).

Embora vários exegetas deram suas contribuições valiosas empregando a crítica das formas há vários problemas conceituais. Devido a uma então teoria literária ainda incipiente, houve muita confusão entre forma, estrutura e gênero. Isso gerou uma imprecisão sobre as distinções entre tradições orais e composições literárias. Também, a antropologia e a história oral somente viria a desenvolver seus métodos e meios de análise mais tarde. Atualmente, os adeptos da crítica das formas ajustaram o método a essas limitações.

Sitz im Leben

Termo em exegese bíblica que se refere às circunstâncias em que ocorreu uma frase, um história ou um gênero textual. O termo foi cunhado pelo biblista Hermann Gunkel (1862 – 1932) para seu estudo de crítica formal.

É um termo mais restrito que contexto, discorrendo sobre os meios e condições em que um texto foi criado, preservado e transmitido. Considera ainda o papel social e o momento dos interlocutores, tanto o emitente quanto a audiência.

Um exemplo ilustra o conceito. Uma genealogia foi recitada pelos membros de uma família incrementalmente por gerações. Em dado momento, talvez em uma disputa de terras ou sucessão pode ter sido vertida em escrita. A forma escrita teria sido guardada em arquivos, os quais poderiam ter sido consultados na composição de livros como 1 Crônicas. O Sitz im Leben preocupa-se com a funcionalidade original de um texto antes de sua escrituralização. No caso, o foco estaria na transmissão oral da genealogia, tentando desvendar como era composta, repassada e utilizada as listas genealógicas para a sociedade camponesa de uma vila no Antigo Israel.

O conceito foi expandido por Paul Minear para analisar os relatos do nascimento de Jesus na Igreja primitiva. Além de Sitz im Leben (“situação da vida”), Minear chama atenção para o Sitz im Glauben (“situação de fé”) e Sitz im Loben (“situação de adoração”) das comunidades que produziram e recepcionaram tais textos bíblicos. Outra expansão do conceito foi proposto por Gesché para Sitz im Schrift (a situação da passagem dentro do texto).

BIBLIOGRAFIA

Gesché, Adolphe, “Pour une identité narrative de Jésus”, in Revue Théologique
de Louvain, 30 (1999), pp. 153-179 e 336-356.

Gunkel, Hermann. Die Psalmen. Übersetzt und erklärt von Hermann Gunkel. Göttingen 1926.

Minear, Paul Sevier. “The Interpreter and the Birth Narratives,” in Symbolae Biblicae Upsalienses, Supplementhäften Till Svensk Exegetisk Årsbok, 13, 1950.