Antimetabólio

Antimetabólio ou Antimetábole vem do grego para “girar na direção oposta”.

A antimetábole é um artifício retórico caracterizado pela repetição das mesmas palavras ou frases em ordem inversa. Envolve a inversão deliberada da ordem das palavras entre orações ou sentenças sucessivas.

O efeito retórico da antimetábole é:

  • Mudança de foco: A inversão de palavras ou frases na segunda cláusula ou frase altera o foco da primeira cláusula ou frase. Esta mudança de foco pode criar ênfase ou contraste, chamando a atenção para diferentes aspectos da mensagem.
  • Provocativo: apresentar ideias de maneira surpreendente ou inesperada, incentivando o público a considerar as coisas de uma perspectiva diferente. Essa qualidade pode envolver os ouvintes e estimular o pensamento crítico.
  • Motivacional: os palestrantes costumam usar antimetabólito para inspirar ou motivar o público. A repetição de palavras na ordem inversa pode reforçar pontos-chave e deixar uma impressão duradoura nos ouvintes.

Em Gênesis 9:6 as mesmas palavras são repetidas em ordem inversa, enfatizando o conceito de retribuição por tirar uma vida humana:

“Quem derramar o sangue do homem, //
pelo homem o seu sangue será derramado.”

Distinção de Quiasmo
Embora o antimetabólio e o quiasmo compartilhem semelhanças, eles são dispositivos retóricos distintos:

  • O antimetabólio envolve a repetição das mesmas palavras ou frases em ordem inversa, enquanto o quiasma apresenta um padrão cruzado de repetição e reversão em orações ou frases sucessivas.
  • No antimetabólio, o foco da segunda cláusula é tipicamente diferente daquele da primeira cláusula devido à ordem invertida das palavras, enquanto o quiasma enfatiza o paralelismo e a simetria entre os elementos correspondentes.

Kening

O kening é uma figura de linguagem, uma variação das metáforas, que consiste em uma frase com múltiplos substantivos para referir-se a algo notório.

Embora seja típico das literaturas germânicas, este recurso perifrástico aparece também na Bíblia. Ocorre em passagens como Gênesis 49:11, em que “sangue de uvas” é usado como termo para “vinho”. E em Jó 15:14, “nascido de mulher” refere-se a “homem”, bem como “qualquer um que mije contra a parede” . (1 Sm 25:22; 1 Re 16:11).

Crítica literária

A crítica literária considera as técnicas e teorias literárias presentes na Bíblia.

Pode utilizar as diversas abordagens literárias (narratologia, estudos de personagens, retórica, recepção, dentre outras) para compreender sincronicamente o texto bíblico.

Várias abordagens de análises aparecem na crítica literária. A análise léxica tenta entender termos-chave e o significado das palavras. A análise estilística estuda a dicção (escolha de palavras), estruturas (como o quiasmo e paralelismo), as figuras de linguagem (metáforas, metonímias, hipérbole, etc). A tipologia em seu sentido estrito também é estudada na crítica literária, junto da análise temática e análise de motivos literários. Tipos e gêneros textuais fazem parte da crítica literária.

A história da recepção, história dos efeitos e a crítica orientada ao leitor são abordagens literárias que enfocam na interpretação dos textos bíblicos. Obras literárias, como Esaú e Jacó de Machado de Assis, são comparados com os textos bíblicos.

Resume Alter: “Por análise literária, entendo as múltiplas variedades de atenção minuciosamente discriminativa ao uso artístico da linguagem, ao jogo mutável de ideias, convenções, tom, som, imagens, sintaxe, ponto de vista narrativo, unidades de composição e muito mais; o tipo de atenção disciplinada, em outras palavras, que através de todo um espectro de abordagens críticas iluminou, por exemplo, a poesia de Dante, as peças de Shakespeare, os romances de Tolstoi.” (Alter, 2011, p 12-13).

BIBLIOGRAFIA

Alter, Robert; Kermode, Frank (orgs.). Guia literário da Bíblia. São Paulo: Edunesp, 1997.

Alter, Robert. The art of biblical narrative. Basic Books, 2011.

Auerbach, Erich. Mimesis: The representation of reality in western literature. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1953.

Frye, Northrop. The great code: The Bible and literature. Vol. 19. University of Toronto Press, 2006.

Quiasmo

Quiasmo, do grego, “cruz” ou “x”, um padrão literário no qual o autor introduz palavras ou conceitos em uma ordem particular e depois repete esses termos ou outros semelhantes em ordem inversa ou reversa.

É chamado também de epanodos, paralelismo introvertido, introversão estendida, concentrismo, forma chi, palístrofe, construção em envelope, forma delta e recursão. Pode ser uma figura de linguagem ou algo maior, como a estrutura de um livro todo.

O quiasmo é uma forma complexa de paralelismo. Diferente do paralelismo comum, os dois pares de elementos correspondentes dispostos não em paralelo (a-b-a-b), mas em ordem inversa ou concêntrica (a-b-b-a). Os elementos podem ser fonéticos, lexicais, rítmicos ou temáticos.

Um exemplo em Marcos 2:27:
“O sábado foi feito (A)
para a humanidade (B),
e não a humanidade (B’)
para o sábado (A’).”

E um exemplo dentro de um livro:

A. Jonas afasta de Deus (Jn 1:1-3)
B. Desastre de Jonas (Jn 1:4-16)
C. Salmo de ação de graças (Jn 2:1-11)
B’. Nínive escapa do desastre (Jn 3:1-10)
A’. Deus aproxima de Jonas (Jn 4:1-11)

E dentro de uma passagem, no caso o desastre de Jonas (Jn 1:4-16):

A. Risco de naufrágio. (1:4)
B. Confissão de responsabilidade (1:8)
C. Palavras de Jonas (1:9)
D. Palavras do viajantes (1:10a)
E. Conclusão da causa do risco (1:10b)
D’. Palavras dos viajantes (1:11)
C’. Palavras de Jonas (1:12)
B’. Responsabilidade dos viajantes (1:14)
A’. Fim dos riscos (1:15).

A estrutra quiástica permite reconhecer lacunas e problemas de interpretação ou transmissão textual.

Alguns estudiosos da literatura e antropólogos argumentam que o quiasmo é um parâmetro amplamente presente em narrativas orais.

BIBLIOGRAFIA

Breck, John. The Shape of Biblical Language: Chiasmus in the Scriptures and Beyond. Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press, 1994.

Yehuda T. Radday, “A Chiasmus in Hebrew Biblical Narrative,” in J. H. Welch, ed. Chiasmus in Antiquity: Structures, Analyses, Exegesis. Provo: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 1998.