Pierre Ramus

Pierre Ramus (1515-1572) foi um estudioso, filósofo e reformador educacional huguenote francês que fez contribuições significativas para os campos da lógica, retórica e pedagogia.

Ramus nasceu na aldeia de Cuts, na Picardia, na França, e estudou na Universidade de Paris, onde obteve o doutorado em teologia.

Ramus foi uma figura proeminente no movimento humanista renascentista, que enfatizou o estudo de textos clássicos e o uso da razão e do pensamento crítico. Desenvolveu um novo sistema de lógica conhecido como Ramismo, que enfatizava o uso de métodos de raciocínio simples, claros e sistemáticos. Ramus acreditava que os métodos tradicionais de ensino de lógica e retórica eram excessivamente complexos e obscuros, e ele procurou simplificar esses assuntos e torná-los mais acessíveis a um público mais amplo.

As ideias de Ramus tiveram um impacto significativo nos campos da filosofia, educação e teologia. Sua ênfase no pensamento claro e sistemático influenciou o desenvolvimento da ciência moderna, e suas reformas educacionais ajudaram a estabelecer uma abordagem mais democrática e igualitária da educação. O ramismo também estava intimamente ligado à Reforma Protestante, pois muitos de seus adeptos buscavam aplicar os princípios ramistas ao estudo da teologia e desafiar a autoridade da Igreja Católica.

No entanto, as ideias de Ramus geraram controvérsia e ele enfrentou a oposição de muitos tradicionalistas que viam suas reformas como uma ameaça à ordem estabelecida. Ele também foi um crítico vocal da filosofia aristotélica escolástica que dominava o pensamento medieval, e sua rejeição ao aristotelismo lhe rendeu a ira de muitos de seus contemporâneos.

Em 1572, Ramus estava entre os muitos huguenotes que foram alvo do massacre do Dia de São Bartolomeu, que foi um assassinato em massa de protestantes ocorrido em Paris.

Apesar desses desafios, as ideias de Ramus continuaram a influenciar o discurso filosófico, educacional e teológico por séculos após sua morte. Hoje, ele é reconhecido como uma das figuras mais importantes do movimento humanista renascentista e um pensador pioneiro no desenvolvimento da lógica e da pedagogia modernas.

Diatribe

Figura de linguagem e tática retórica de representar as ideias ou falas de um interlocutor para discutí-los de modo agressivo para censura, ridicularização ou refutação.

No diatribe o orador presume a presença de um oponente. Sem permissão para responder, a posição do oponente é indicada por declarações ou perguntas retóricas colocadas em sua boca pelo orador.

Serve para fazer objeções hipotéticas e conclusões falsas ou redução ad absurdum.

Notoriamente, Rudolf Bultmann fez sua dissertação doutoral sobre o tema relacionado à retórica paulina. Essa obra padrão apresenta o diálogo imaginário na diatribe. As respostas do oponente são frequentemente tolas e são sumariamente rejeitadas pelo orador.

Nos escritos paulinos aparece notavelmente em Rm 1-11; 1 Cor 6: 12-20; 15:29-41; Gal 3:1-9, 19-22. Outro livro recheado de diatribes é a epístola de Tiago. Há frequentes indícios de diatribes de Jesus com seus interlocutores, principalmente os fariseus (cf. Lc 7:34).

Nos textos paulinos algumas frases indicam a diatribe “de modo algum”, “de modo algum”, “de fato não ”, ou “de forma alguma”. Geralmente são precedidos por peguntas retóricas ou declarações que depois serão disputadas pelo próprio Paulo.

Tradicionalmente fazia parte da oratória popular de filósofos cínicos e estóicos.

BIBLIOGRAFIA

Bultmann, Rudolf Karl. Der Stil der paulinischen Predigt und die kynisch-stoische Diatribe. 1910.

Burk, Denny. “Discerning Corinthian Slogans through Paul’s Use of the Diatribe in 1 Corinthians 6:12–20.” Bulletin for Biblical Research 18, no. 1 (2008): 99-121.

Schmeller, T. “Paulus und die ‘Diatribe’,” NTA 19, Münster, Aschendorff, 1987.

Stowers, Stanley K. The Diatribe and Paul’s Letter to the Romans. SBLDS 57; Chico Ca.: Scholars Press, 1981.

Hendíade

Hendíade é uma figura de retórica que usa duas palavras para referir-se a um único conceito. Morfologicamente consiste em dois nomes ou substantivos coordenados em vez de um substantivo e seu atributo. Por extensão, é o uso de duas palavras para expressar um só conceito. Em português a expressão “barba e bigode” para expressar completude é um exemplo de hendíade.

E servirá de sinal e de testemunho ao Senhor dos Exércitos na terra do Egito, porque ao Senhor clamarão por causa dos opressores, e ele lhes enviará um Redentor e Protetor que os livrará. Is 19:20

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Regra de Granville Sharp

Alloiosis

Alloiosis, em grego “troca”, é tanto um recurso retórico quanto um modelo cristológico desenvolvido por Ulrico Zwingli.

(1) Como um termo retórico e figura de linguagem da classe das metáforas chama a atenção da audiência por notar as alterações qualitativas de um sujeito ou assunto. Esse recurso destaca as diferenças ao dividir um assunto em alternativas.

Um exemplo: “Tício, injustiçado, reclamou ‘o pau que bate em Chico não bate em Francisco’ “.

No exemplo dado há dois casos de alloiosis, uma para pau e outra para Chico/Francisco. No primeiro, o mesmo referente (pau) aparece com diferença qualitativa em diferente situação de referência. Chico/Francisco, sendo equivalentes, é apresentado como forçosamente diferentes.

(2) Doutrina de comunicação de propriedades (comunicatio idiomatum) de como Jesus Cristo manteve seus atributos divinos e humanos. Zwingli explicou a comunicação de atributos entre as naturezas divina e humana de Cristo como similar ao dispositivo retórico de alloiosis para expressar a unidade das duas naturezas de Cristo em uma pessoa e não para significar uma troca real das propriedades entre as duas naturezas. Essa doutrina foi basilar para o desenvolvimento da visão memorialista e de testemunho dos sacramentos.