Edição crítica

As edições críticas de manuscritos são publicações acadêmicas que visam fornecer uma representação confiável e precisa de um texto. Essas edições são normalmente produzidas por meio de um processo de crítica textual, que envolve a comparação de diferentes versões manuscritas de um texto e a tomada de decisões editoriais sobre como apresentar o texto da forma mais precisa e autêntica possível. Acompanham notas e aparatos que subsidiam a leitura adotada.

Existem dois tipos principais de edições críticas: as diplomáticas e as ecléticas.

Uma edição diplomática é um tipo de edição crítica que visa reproduzir um manuscrito o mais fielmente possível, incluindo sua ortografia, pontuação e formatação. O editor de uma edição diplomática normalmente transcreve o manuscrito usando um sistema padrão de símbolos para representar leituras variantes, abreviações e outras características do texto. O objetivo de uma edição diplomática é fornecer aos estudiosos uma representação clara e precisa do conteúdo du manuscrito. As variantes e alternativas de leituras vão anotadas no aparato crítico. A Bíblia Hebraica Kittel é uma edição diplomática do manuscrito massorético de Lenigrado.

Uma edição eclética, por outro lado, é um tipo de edição crítica que usa uma combinação de diferentes versões manuscritas para criar um novo texto que representa o melhor julgamento filológico sobre um original imaginado. Edições ecléticas normalmente envolvem um processo de comparação e avaliação de diferentes versões manuscritas, identificação de leituras variantes e tomada de decisões editoriais sobre quais leituras incluir no texto final. Apesar dos nomes, tanto o Texto Receptus (baseado originalmente em seis manuscritos) e o contemporâneo Texto Crítico (baseado em milhares de fontes) são edições ecléticas.

Quanto à extensão, uma edição crítica classifica-se em editio minor ou edição manual e editio major. A editio minor é destinada a ser em um só volume, portanto, com menor número de notas a aparatos críticos. A Bíblia Hebraica Stuttgartensia e o Novum Testamentum Graece são exemplos de edições manuais. Uma edição maior busca reunir um número maior de detalhes, como a transformação do texto ao longo da história. Está em curso a publicação da Editio Critica Maior do Novo Testamento Grego.

Partes do texto

Inscriptio, normalmente com a função de identificar o texto, como os títulos. Podem ser repetidos no final do manuscrito, quando recebe o nome de suscriptio.

O incipit, por vezes, faz o papel do inscriptio, sendo as primeiras palavras de um texto, dando-lhe seu título.

O corpo do texto pode estar organizado em colunas, com sinais de leitura, como a cola e commata, bem como aparatos textuais, como óbolo. Na idade média floresceu o uso de glosas e marginálias, as quais são anotações acima ou às margens do texto.

Fórmulas de conclusão do texto são chamados de inclusio.

Colofão é a ficha editorial do copista, com detalhes de quem e onde foi feito a cópia, bem como a data de conclusão.

Esses elementos podem ser textuais quando já fornecidos por seus autores ou paratextuais, acrescentados por copistas ou editores.

Colometria

Colometria em crítica textual descreve um método de divisão de textos escritos em seções ou unidades lógicas, chamadas de cola. A palavra “colometria” vem da palavra grega “kolon”, que significa “unidade” ou “cláusula”.

As escolas de retórica anotavam os manuscritos para faciltar a leitura pública com uma divisão texto por frases longas (cola) ou curtos (commata). É uma forma antiga de pontuação baseada no leiaute da página, per cola et commata, ‘de acordo com cláusulas e frases’.

O método colométrico envolve a identificação de quebras ou divisões naturais no texto, como pausas na narrativa ou mudanças de assunto, e o agrupamento de cláusulas ou frases relacionadas em unidades. Essas unidades, chamadas de cola, podem variar em comprimento, de algumas palavras a várias linhas de texto.

A colometria fornece informações sobre a forma original e o significado de uma obra, especialmente nos casos em que o texto foi danificado, corrompido ou alterado ao longo do tempo. Ao analisar a estrutura colométrica de um manuscrito, facilita identificar possíveis erros, interpolações ou seções ausentes do texto.

A colometria é particularmente útil para o estudo de textos antigos, como o Antigo e o Novo Testamento da Bíblia, originalmente escritos em hebraico, aramaico e grego. Nesses textos, a estrutura colométrica pode ajudar a identificar mudanças no estilo, vocabulário ou autoria de diferentes seções do texto. Também pode fornecer pistas sobre o contexto original e o público-alvo da obra.

O Códex Beza possui essas anotações.

Estequiometria 

Estequiometria é um termo usado em crítica textual para descrever um método de medir o número das linhas de escrita em manuscritos antigos. A palavra “esticometria” ou “estequiometria” vem das palavras gregas “stychos” (que significa “linha” ou “verso”) e “metron” (que significa “medida”).

O método esticométrico envolve a contagem do número de letras ou palavras em uma linha de escrita e o uso dessa informação para reconstruir as partes ausentes ou danificadas do texto. Ao medir o comprimento das linhas em um manuscrito, os estudiosos também podem comparar diferentes versões de um texto e identificar possíveis variações ou erros.

A esticometria é importante para a crítica textualporque pode ajudar a reconstruir o texto original de uma obra e a identificar erros ou interpolações que possam ter sido introduzidas ao longo do tempo. Por exemplo, se um manuscrito contém uma longa linha que parece ser uma interpolação, pode ser possível remover essa linha e reconstruir o texto original usando a crítica textual para determinar o comprimento correto do texto ausente.

A crítica textual é particularmente útil para estudar manuscritos gregos e latinos antigos, que muitas vezes tinham comprimentos de linha e espaçamento irregulares. Ao medir cuidadosamente as linhas de escrita e compará-las com outros manuscritos, é possível obter informações sobre a transmissão e interpretação de textos antigos.

Nomina Sacra

Nomina sacra é um termo latino que significa “nomes sagrados”. Na crítica textual, o termo se refere às abreviações dos antigos manuscritos gregos do Novo Testamento. de certas palavras-chave no texto, como “Deus”, “Jesus”, “Cristo”, “Senhor” e “Espírito”.

As formas abreviadas são geralmente indicadas por uma linha horizontal acima ou através das letras, como em θ̅ς (para “Deus”), ἰ̅η̅υ̅ (para “Jesus”) e χ̅ς (para “Cristo”).

O uso de nomina sacra era uma prática comum nos primeiros manuscritos cristãos do Novo Testamento grego, começando no II ou III século dC. Acredita-se que o uso dessas abreviaturas serviu tanto a um propósito prático quanto a um propósito simbólico. Em nível prático, eles ajudaram a economizar espaço em materiais de escrita caros, como papiro ou pergaminho. Em nível simbólico, enfatizavam a importância e a sacralidade das palavras que representavam.

Na crítica textual, o uso de nomina sacra é importante porque pode ajudar a datar e classificar os manuscritos do Novo Testamento. Por exemplo, a presença ou ausência de certos nomina sacra pode indicar se um manuscrito é de um período anterior ou posterior, ou se pertence a uma determinada tradição textual ou grupo de manuscritos. Nomina sacra também pode fornecer evidências das maneiras pelas quais o texto bíblico foi transmitido e interpretado na igreja cristã primitiva.