Epístolas da prisão

As Epístolas da Prisão referem-se a quatro cartas do Novo Testamento atribuídas ao Apóstolo Paulo: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filémon.

Compostas durante o aprisionamento de Paulo — provavelmente em uma prisão domiciliar em Éfeso, Cesareia ou Romas — são cartas de encorajamento, instrução e breves considerações teológicas.

Apesar do confinamento de Paulo, as suas palavras inspiradas transmitiam liberdade espiritual, abordando vários aspectos da vida e dos relacionamentos cristãos.

As cartas transmitem um tom pastoral, pois Paulo oferece encorajamento, exortação e orientação aos seus destinatários. O investimento pessoal de Paulo na vida de seus destinatários é evidente. Nesses escritos aborda situações, indivíduos e preocupações específicas dentro de cada comunidade. Embora sejam de natureza doutrinária, as cartas também oferecem conselhos práticos para a vida cristã diária, abordando questões relevantes para as comunidades para as quais foram escritas.

Efésios destaca a natureza da Igreja e a sua unidade. Filipenses enfatiza a alegria em Cristo em meio à adversidade. Colossenses exalta a supremacia de Cristo e aborda falsos ensinamentos. Filémon defende o perdão e a reconciliação, numa situação envolvendo um escravo fugitivo.

Os temas comuns entre as Epístolas da Prisão incluem:

  1. Supremacia de Cristo: Cada carta enfatiza a preeminência de Cristo como figura central da fé cristã, destacando seu papel na criação, na redenção e como cabeça da Igreja.
  2. Unidade Cristã: Paulo sublinha a importância da unidade entre os crentes, exortando-os a manter a harmonia e a comunhão dentro da Igreja.
  3. Alegria em Meio à Adversidade: Apesar da prisão de Paulo, as cartas exalam uma sensação de alegria e contentamento em Cristo, enfatizando que a verdadeira felicidade transcende as circunstâncias externas.
  4. Vida Cristã: orientações práticas para viver a fé cristã, incluindo instruções sobre humildade, auto-sacrifício, perdão e conduta ética.
  5. Combate ao falso ensino: Paulo confronta várias formas de falso ensino e exorta os crentes a permanecerem firmes na verdadeira mensagem do evangelho, enraizada na pessoa e na obra de Jesus Cristo.

Epístola a Tito

Essa epístola paulina é uma das três “Epístolas Pastorais”. Apregoa que a mudança pelo poder do evangelho transforma vidas, assim encoraja o exercício das funções ministeriais, inclusive na correção dos enganos de falsos mestres e e legitimiza a autoridade do ministério da igreja em coibir erros morais e doutrinários.

Epístola aos Filipenses

Uma apresentação da beleza da vida no evangelho, nessa epístola paulina destinada aos cristãos de Filipos, na Macedônia, possui um notório tom de alegria e regozijo, apesar de ter sido escrito por Paulo da prisão.

A epístola contém fragmentos de antigos hinos cristãos antigo. O mais reconhecido é o sobre a Kenosis, (Fp 2:6-11), a humildade de Cristo em tornar-se servo.

Epístola aos Colossenses

Nessa epístola paulina a identificação do crente com a morte em Cristo serve de advertência contra erros legalistas (Colossenses 2:8).

INTRODUÇÃO

Não há registros que Paulo tenha então estado em Colossos. É provável que a autoridade do apóstolo foi requisitada para resolver problemas doutrinários. Saber especificamente quais seriam os problemas da igreja em Colossos permanece um mistério, mas são certos que incluíam elementos de misticismo, legalismo, asceticismo e formalismo ritual.

Há semelhanças notáveis ​​com a epístola aos Efésios. Ambas cartas foram direcionadas à mesma região na Ásia menor (Colossos está cerca de 100 km de Éfeso). Ambas enfocam o senhorio de Cristo e já retratam os crentes com co-participantes de seu domínio e ambas possuem a Haustafeln (regras de convívio familiar). Em contraste, Efésios há uma ênfase na Igreja como o corpo de Cristo, enquanto em Colossenses a ênfase está em Cristo como a cabeça desse corpo.

Em uma leitura sob a perspectiva da Hausftafeln de ambas epístolas dá a entender que a comunidade de cristãos seria a Casa de Cristo. No Mediterrâneo da Antiguidade Clássica, um pater familias ou patrono morava em vilas e tinha um séquito de clientes, servos e parentes. Sua autoridade (domínio) sobre sua casa era absoluta na esfera doméstica.

Em Roma os clientes (pessoas livres, mas com obrigações morais ou econômicas), não importava o quanto rico ou poderoso fosse, tinha que prestar homenagem, se possível diariamente, na casa do patrono. A amicitia (amizade) era um tipo de relacionamento que somente ocorria entre iguais, nunca entre um patrono e cliente, senhor e servo. As relações eram tensas quando os clientes e servos por vezes tinham mais meios que os senhores. E muitos senhores tinham comportamentos não muito apreciáveis.

Tanto Colossenses e Efésios retratam uma relação de amor e fé dentre os membros da Casa de Cristo. Portanto, a relação interna da Casa não deveria ser por obrigação, aparência, como sicofantas (fazer obras para ganhar favor do Senhor), mas centrada em uma fé livre.

Na Epístola aos Colossenses, o apóstolo Paulo aborda a dinâmica entre maridos e esposas, empregando particularmente o termo ὑποτάσσω, hypotassō, algo como “estar sob a proteção” no que diz respeito ao relacionamento das esposas com seus maridos. No entanto, este termo contém nuances que vão além da mera autoridade hierárquica. Em vez disso, transmite a noção de acordo mútuo, em que o marido assume um papel protetor e de apoio semelhante a um abrigo ou escudo para a esposa. No contexto da sociedade greco-romana, caracterizada por estruturas patriarcais e pela necessidade de proteção em ambientes inseguros, tais dinâmicas relacionais não diziam respeito apenas à autoridade, mas também ao cuidado e salvaguarda recíprocos. Portanto, a ênfase está menos na submissão unilateral e mais no serviço e prestação mútuos dentro da unidade familiar.

A recepção teológica dessa epístola varia. A leitura tradicional dos sistemas teológicos agostinianos (luteranos e reformados principalmente) enfoca nessas epístolas o início da Ordo Salutis (a justificação). Já a leitura anabatista enfoca depois da justificação, a vida dos domésticos na fé, cujo senhorio da casa é de Cristo. Nessa perspectiva, a epístola centra-se em Cristo como cabeça e a Igreja como corpo. Assim, os crentes são chamados à santificação, fidelidade a Deus, dissipação de falsas doutrinas e práticas entre os já convertidos.

A posição da epístola no cânon paulino é antiga, classificando-a como uma das epístolas da prisão. Contudo, algumas pesquisas recentes colocam-na entre a antilegômena paulina. Como mencionado Colossenses possui paralelos com Efésios quanto a conteúdo e estrutura. Colossenses 4:9 menciona Onésimo, o escravo de Filémon, dentre outras pessoas também comuns a ambas epístolas.

ESBOÇO ESTRUTURADO

  1. Introdução
    • Saudação – Colossenses 1:1-2
    • Ação de graças pelos crentes em Colossos – Colossenses 1:3-8
    • Oração pela maturidade baseada na preeminência de Cristo – Colossenses 1:9-23
    • O sofrimento e o ministério de Paulo – Colossenses 1:24-29
  2. A vida em Cristo.
    • Cristo, o Mistério de Deus – Colossenses 2:1-5
      • Vivificados em Cristo – Colossenses 2:6-15
  3. Liberdade cristã
    • Não sejam julgados por regras religiosas humanas – Colossenses 2:16-23
      • Buscai as coisas que são de cima – Colossenses 3:1-4
      • Abandonem a conduta antiga – Colossenses 3:5-11
      • Apelo para uma Nova Conduta – Colossenses 3:12-17
      • Responsabilidades mútuas nas relações cristãs – Colossenses 3:18-4:1
      • Conselhos adicionais para a vida cristã – Colossenses 4:2-6
  4. Conclusão
    • Exortações aos colaboradores – Colossenses 4:7-17
    • Saudação final e bênção – Colossenses 4:18

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