Bardesanitas

Os bardesanitas constituíram uma seita que floresceu do século II ao XII. Bardesanes (c. 154 – c. 222 d.C.) foi um intelectual sírio, nascido em Edessa. Educado na corte real de Abgar VIII, converteu-se ao cristianismo, embora sua teologia tenha sido considerada heterodoxa por autores posteriores como Eusébio e Hipólito.

Bardesanes escreveu extensivamente em siríaco sobre uma variedade de temas, incluindo teologia, filosofia, cosmologia e astrologia. Fragmentos de seus escritos e relatos de seus ensinamentos sugerem um sistema complexo que incorporava elementos do pensamento cristão, do gnosticismo e da filosofia helenística. Debatia com diversas correntes de pensamento da época e atraiu um número significativo de seguidores, conhecidos como bardesanistas, desdobrando em vários grupos.

Harmônio, filho de Bardesanes e educado em Atenas, integrou à astrologia caldeia paterna conceitos gregos sobre a alma, o nascimento e a dissolução dos corpos, aventando uma forma de metempsicose. Marino, um adepto de Bardesanes e dualista previamente confrontado no “Diálogo sobre Adamâncio”, propagou a doutrina de um deus primordial dual, postulando que o diabo não teria sido criado por Deus. A seita adotava uma visão docetista, negando o nascimento de Cristo de uma mulher, e a configuração final do gnosticismo de Bardesanes exerceu influência sobre o gnosticismo em geral. Segundo Efrém, os bardesanitas de sua época nutriam ideias pueris e obscenas, venerando o Sol e a Lua como entidades masculina e feminina, com uma concepção celestial que denotava admiração pelos astros. Rábula de Edessa (431-432) encontrou a seita difundida. Sua existência no século VII foi confirmada por Tiago de Edessa e por Jorge, bispo dos árabes, no mesmo século. No século X, o historiador Almaçudi também atestou sua presença, assim como Xaxrastani no século XII. Este último descreveu os seguidores de Daisan (uma ramificação) como crentes em dois princípios, luz e escuridão. A luz seria a causa do bem, agindo deliberadamente e com livre arbítrio, enquanto a escuridão seria a origem do mal, operando através de forças naturais e da necessidade. A luz era concebida como viva, dotada de conhecimento, poder, percepção e entendimento, sendo a fonte do movimento e da vida. Em contraste, a escuridão era tida como morta, ignorante, frágil, rígida e inanimada, sem atividade ou discernimento, defendendo que o mal neles residia como resultado de sua natureza, fora de seu controle.

Status confessionis

Status confessionis é um termo latino que se traduz como “estado de confissão.” Refere-se a uma situação crítica na vida da igreja que exige uma afirmação coletiva de fé em resposta a ameaças percebidas ao evangelho. Esse conceito emergiu com destaque na tradição luterana durante a Reforma, sendo utilizado para tratar questões de pureza e integridade doutrinária diante de desafios heréticos. Ele está associado particularmente à Fórmula de Concórdia, um documento central do confessionalismo luterano que define quando questões tradicionalmente consideradas adiaphora (indiferentes) tornam-se essenciais para a fé e prática devido às suas implicações para a salvação e a doutrina.

O conceito de status confessionis tem suas raízes nos debates entre os primeiros luteranos sobre os adiaphora durante o século XVI. Foi articulado por teólogos como Matthias Flacius, que argumentou que, em tempos de confissão, questões tipicamente consideradas não essenciais poderiam se tornar centrais para a fé quando tratadas como necessárias para a salvação. Essa mudança indica um momento em que a igreja deve afirmar publicamente suas crenças contra ensinos errôneos. Durante o regime nazista, Dietrich Bonhoeffer utilizou esse conceito como uma estrutura para resistir a ideologias opressivas que ameaçavam a integridade da igreja. Sua aplicação enfatizava que, quando o evangelho está sob ataque, os cristãos são compelidos a manter firme sua confissão.

Na prática, declarar um status confessionis significa reconhecer que certas questões éticas ou doutrinárias atingiram um nível em que ameaçam a identidade e a missão da igreja. Essa declaração não é feita de forma leviana; ela exige o reconhecimento de que a integridade do evangelho está em jogo. Por exemplo, discussões contemporâneas em diversas denominações têm motivado chamadas para um status confessionis em questões como sexualidade humana e justiça social, refletindo tensões persistentes nas comunidades eclesiásticas sobre como responder a dilemas éticos modernos.

A aplicação do status confessionis evoluiu ao longo do tempo. Em anos recentes, ele foi invocado em discussões sobre questões éticas como o apartheid e iniciativas de justiça social nas igrejas. A Aliança Mundial de Igrejas Reformadas, por exemplo, utilizou esse conceito para abordar injustiças sistêmicas e convocar uma resposta unificada das congregações em todo o mundo. Muitos teólogos contemporâneos argumentam que declarar um status confessionis pode servir como um catalisador para a renovação dentro da igreja, levando as congregações a reexaminar seus compromissos e práticas à luz dos ensinamentos bíblicos. Esse processo muitas vezes envolve a identificação de erros específicos ou desvios de doutrinas fundamentais que exigem uma resposta clara e unificada da comunidade eclesial.

O status confessionis é uma ferramenta teológica vital dentro das tradições protestantes, particularmente no luteranismo. Ele destaca momentos em que a igreja deve afirmar coletivamente sua fé em resposta a desafios que ameaçam suas crenças centrais. Assim, permanece relevante nas discussões contemporâneas sobre fé, ética e o papel da igreja na sociedade, convocando os fiéis à discernimento e à ação em defesa de suas convicções.

Homoeanismo

O homoeanismo, também chamado de homoiousianismo, foi uma posição teológica dos primeiros séculos do cristianismo, surgida nos debates sobre a Trindade e a cristologia. Derivado do grego homoiousios (“de substância semelhante”), afirmava que o Filho (Jesus Cristo) era de substância semelhante ao Pai, mas não da mesma substância (homoousios), como declarado pelo Credo Niceno.

Embora reconhecesse a divindade de Cristo, o homoeanismo rejeitava a igualdade substancial entre Pai e Filho, enfatizando a semelhança em essência sem identidade plena. Essa posição teve destaque durante a controvérsia ariana, mas foi considerada heterodoxa após o Concílio de Niceia (325), que estabeleceu o homoousianismo como doutrina oficial.

O homoeanismo teve curta influência, sendo dominante por cerca de 20 anos. Durante esse período, imperadores buscaram usar concílios e credos, como os de Sirmium e Ariminum/Selêucia, para promover unidade religiosa entre igreja e estado.

Heresia

Heresia, em seu sentido grego original restringia-se à opinião, mas ganhou conotações de doutrinas infundadas ou contrárias à base apostólica encontrada nas Escrituras..

O termo “heresia” deriva da palavra grega “hairesis”, que significa “seita” ou “escola de pensamento”.

Contemporaneamente, seria a adesão insistente a uma crença falsa ou não ortodoxa que contradiga os ensinamentos fundamentais do cristianismo.

A heresia é muitas vezes distinguida do erro, que é um erro não intencional de crença ou compreensão. Embora os erros possam ser perdoados, a heresia é vista como uma rejeição intencional dos ensinamentos comumente aceitos pela Igreja.

Ao longo da história cristã, surgiram várias heresias, desafiando os ensinamentos da igreja sobre temas como a natureza de Deus, a pessoa de Cristo e a ação contínua do Espírito Santo.

Alguns exemplos notáveis de heresias na história cristã incluem:

  • Arianismo: negou a plena divindade de Cristo, alegando que ele seria um ser criado, subordinado e não um Deus encarnado.
  • Gnosticismo: diversos movimentos, grupos e tendência de pensamento que reivindicavam um conhecimento secreto, dualista, separando o reino espiritual do mundo material.
  • Marcionismo: seita e heresia surgida no século II que negava a bondade do Deus criador retratado no Antigo Testamento.