Ketef Hinnom

Ketef Hinnom é um sítio arqueológico localizado ao sudoeste da Cidade Antiga de Jerusalém. Este local adquiriu grande relevância nos campos da arqueologia e dos estudos bíblicos, em especial pela descoberta dos Rolos de Ketef Hinnom, considerados os textos mais antigos conhecidos da Bíblia Hebraica.

As escavações arqueológicas em Ketef Hinnom, iniciadas no final da década de 1970, revelaram um complexo de câmaras funerárias datadas do período do Primeiro Templo (c. século X–VI a.C.). Escavadas na rocha, essas tumbas fornecem informações valiosas sobre as práticas funerárias e as crenças religiosas dos habitantes da antiga Jerusalém. Artefatos diversos foram encontrados nos túmulos, incluindo cerâmica, joias e itens pessoais, lançando luz sobre os aspectos cotidianos da vida na época.

Entre os achados mais significativos estão os Rolos de Ketef Hinnom, descobertos em 1979 em um dos túmulos. Esses pequenos rolos de prata, datados do final do século VII ou início do século VI a.C., são um amuleto que contêm uma variação da Bênção Sacerdotal descrita no Livro de Números (Números 6:24-26). Por serem anteriores à destruição do Primeiro Templo, os rolos representam o mais antigo texto bíblico conhecido.

Os Rolos de Ketef Hinnom têm importância histórica e teológica significativa. Eles oferecem evidências sobre o uso inicial e a transmissão de textos bíblicos, além de ilustrar as crenças religiosas e práticas litúrgicas dos habitantes de Jerusalém durante o período do Primeiro Templo. A inscrição da Bênção Sacerdotal nos rolos, um pedido de proteção e favor divino, reflete a centralidade da relação com a divindade na vida dos antigos israelitas.

A localização do achado fora dos limites tradicionais da antiga Jerusalém leva a questionarsuposições anteriores sobre a extensão geográfica da tradição textual bíblica e das práticas religiosas associadas.

Bênção aarônica

Benção que aparece em Número 6:22-27. Chamada de bênção sacerdotal ou bênção aarônica por ser parte do ministério dos sacerdotes (Lv 9:22; Dt 10: 8; 21:5). Era uma declaração imperativa (os verbos estão no modo jussivo) do sacerdote depois de sair diante do altar para abençoar o povo.
Revolve em três temas sobrepostos: graça, paz e guarda.

E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala a Arão e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes:

‘O Senhor te abençoe e te guarde;

o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti

e tenha misericórdia de ti;

o Senhor sobre ti levante o seu rosto

e te dê a paz.’

Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.                               Nm 6:22-27

Sua mais antiga atestação aparece nos rolos de Ketaf Hinnom (c.650-587 a.C.), encontrado em Jerusalém em 1979.

Esta bênção faz parte do gênero imprecatório. Imprecações (bênção e maldição) são um cultural universal. Fórmulas imprecatórias do Antigo Oriente Próximo contêm frases referindo-se (1) ao semblante divino, (2) a elevação da face; (3) a guarda; e (4) concessão de paz (shalom). Colocar o nome de uma divindade em um lugar ou um povo a reivindicava-os para divindade e estabelecia sua presença.

A biblista Sharon Keller encontrou um “análogo egípcio” (c. 2134-2040) em uma carta:

“O Grande te louvará.

A face do Grande Deus será graciosa sobre ti.

Ele te dará pão puro com suas duas mãos.”

Não há consenso de qual contexto Nm 6:22-27 faça parte:

  • Talvez seja um perícope isolado e independente;
  • Pode ser a bênção dispensada a um nazireu (6:1-21);
  • Talvez faça parte das últimas leis dada no Sinai (5:1–10:10);
  • Pode ser o centro de uma estrutura quiástica de um contínuo de Lv 27:1 a Nm 10:10.

Duas expressões perdem sentido nas traduções literais, mas são elucidadas pelo contexto:

  • Resplandecer o rosto implica em concender benevolência e favor, (cf. Sl 4: 6; 31:16; 44:3; 67:1; 80:3,7,19; 119:135; Dn 9:17).
  • Elevar o rosto: O rosto caído conotava ira (cf. Gn 4:6,7) e o ocultar a face equivale a negar apoio, favor ou paz (cf. Dt 31:18; Sl 30:8; 44:25; Ex 33:14-15; Is 59:1-2; Mq 3:4).

A temática e a fraseologia dessa bênção (e da versão de Ketef Hinnon) ocorrem em vários salmos (Sl 31; Sl 71:3–5;  Sl 67:1–2).

Os salmos dos degraus 120–134 podem empregar a bênção aaraônica como pano de fundo. Essas alusões implicam em um recorrente uso dessa bênção no antigo culto do templo.

A fórmula de saudação das epístolas de Paulo “Graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” (1Co 1:3; 2Co 1:2; Gl 1:3; Ef 1:2; Fp 1: 2; 2 Ts 1:2) alude a algumas das mesmas palavras da versão da benção aarônica da Septuaginta.

Entre os israelitas samaritanos quando o rolo da Torá é trazido à congregação abre-se na Bênção Aarônica e os participantes beijam esse trecho.

No judaísmo rabínico a bênção sacerdotal – birkat kohanim– é realizada nos serviços da sinagogas quando haja alguém da linhagem sacerdotal (kohem). Possui um ritual complexo, sendo pronunciado com a cabeça coberta e as mãos dispostas em um gesto específico.

No cristianismo é uma das alternativas para a bênção final do culto.

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