A analogia das Escrituras ou Analogia scripturae é um princípio interpretativo de que a Bíblia deve ser explicada mediante o contexto formado pelo conjunto canônico dos escritos da própria Bíblia.
Esse princípio não exclui o uso de referências léxicas, linguísticas, literárias, socioculturais, históricas e filosóficas externas às Escrituras. Antes, enfatiza a necessidade de considerar o caráter intertextual das Escrituras, visto sua abundante autorreferência.
Por vezes, a analogia das Escrituras é resumida pela máxima: “As Escrituras interpretam a si mesma.” (cf. 2 Pedro 1:19-20).
Lucas Chranach, o velho. Pintura do altar de Wittenberg
A frase alemã was Christum treibet, “o que promove Cristo”, indica um princípio hermenêutico de Lutero.
A frase vem do prólogo de Lutero às Epístolas de Tiago e Judas, na sua edição alemã do Novo Testamento (1522):
E nisto todos os livros sagrados justos concordam, que todos pregam e praticam Cristo, e esse é o verdadeiro teste de censurar todos os livros, quer praticam Cristo ou não, pois toda a Escritura mostra Cristo, Romanos 3 e Paulo não quer saber nada mas Cristo 1 Cor. 2. O que Cristo não ensina não é apostólico, ainda que Pedro ou Paulo o ensinem. Novamente, o que Cristo prega é apostólico, mesmo que Judas, Anás, Pilatos e Herodes o tenham feito”.
As implicações desse princípio afetam no conceito de canonicidade, na interpretação bíblica e na homilética luteranas.
A tradição evangélica luterana nunca oficialmente fez um cânone das Escrituras. Nem seria necessário. Por esse princípio, tudo o que aponta para Cristo nas Escrituras hebraicas seriam canônicos e tudo que testificam o ministério de Cristo dentre os escritos apostólicos seria canônico. Em razão disso, Lutero questionou a canonicidade de Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse — os Antilegômenos de Lutero– ainda que os traduzisse e inserisse em seu Novo Testamento.
Quanto à interpretação, essa chave hermenêutica cristocêntrica poupou o luteranismo de muitas controvérsias teológicas. Isso porque passou ser uma hermenêutica centrada na totalidade da mensagem, não em detalhes. Consequentemente, o luteranismo mantém os mesmos documentos confessionais desde o século XVI: o livro de Concórdia.
Lutero entendia que a pregação deveria ser fundamentada nas Escrituras, apontando para Cristo e voltada para o povo. Pregar seria colocar as pessoas em contato com a mensagem de salvação em Jesus Cristo testemunhada pelas Escrituras.
Meurer, Siegfried. “Was Christum Treibet” : Martin Luther Und Seine Bibelübersetzung. Bibel Im Gespräch, 4. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1996.