Hipótese de proto-Marcos

A Hipótese Proto-Marcos propõe a existência de uma versão anterior e hipotética do Evangelho de Marcos, denominada “Proto-Marcos” ou “Ur-Marcos”. Essa hipótese se insere no debate sobre o Problema Sinótico, que busca explicar as relações entre os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Embora a prioridade de Marcos seja amplamente aceita entre os estudiosos, a Hipótese Proto-Marcos sugere que Mateus e Lucas podem ter utilizado uma versão mais antiga de Marcos, além de outras fontes como a Fonte Q e material próprio de cada evangelho.

A hipótese surgiu como uma tentativa de explicar algumas diferenças entre os evangelhos sinóticos, especialmente passagens presentes em Mateus e Lucas que parecem ter um paralelo em Marcos, mas com variações significativas. Defensores da hipótese argumentam que essas diferenças podem ser explicadas pela existência de um Proto-Marcos, que teria sido posteriormente expandido e revisado, resultando no Evangelho de Marcos que conhecemos hoje.

Alguns estudiosos apontam para evidências linguísticas e textuais que sugerem a existência de um Proto-Marcos. Eles argumentam que certas narrativas em Marcos parecem mais primitivas em comparação com Mateus e Lucas, indicando um processo de desenvolvimento do texto. No entanto, a Hipótese Proto-Marcos permanece controversa e não é universalmente aceita entre os estudiosos.

Críticos da hipótese argumentam que as diferenças entre os evangelhos sinóticos podem ser explicadas por outros fatores, como a influência da tradição oral, a liberdade editorial dos evangelistas e a utilização de diferentes fontes. Além disso, a falta de evidências manuscritas de um Proto-Marcos torna difícil comprovar sua existência.

Apesar das controvérsias, a Hipótese Proto-Marcos desempenha um papel importante nos estudos sinóticos, estimulando o debate sobre a formação e a transmissão dos evangelhos. Ela oferece uma perspectiva adicional para a compreensão do processo criativo dos evangelistas e da complexa relação entre os textos sinóticos.

BIBLIOGRAFIA

Burkett, Delbert. The case for Proto-Mark: a study in the synoptic problem. Vol. 399. Mohr Siebeck, 2018.

Farmer, William R. The Synoptic Problem: A Critical Analysis. Dillsboro, NC: Western North Carolina Press, 1976.

Gundry, Robert H. The Use of the Old Testament in St. Matthew’s Gospel: With Special Reference to the Messianic Hope. Leiden: Brill, 1967.1

Neirynck, Frans. “The Argument from Order and the Relationship between Matthew and Luke.” In The Synoptic Gospels: Source Criticism and the New Literary Criticism, edited by Camille Focant. Leuven: Leuven University Press,2 1993.

Tuckett, Christopher M. “The Existence of Proto-Mark.” In The Gospel Before the Gospels: The Hypothetical Words of Jesus, edited by R. W. Hoover. Atlanta: Scholars Press, 1990.

Problema Sinótico

O Problema Sinóptico ou Sinótico refere-se à investigação sobre a relação entre os três evangelhos sinópticos: Mateus, Marcos e Lucas. Esses três evangelhos compartilham uma quantidade significativa de versos, bem como semelhanças em palavras e temas.

O consenso acadêmico predominante é duplo. Primeiro, a primazia cronológica do Evangelho de Marcos é aceita. Marcos seria mais antigo dos Evangelhos Sinópticos, servindo como um texto fundamental no qual Mateus e Lucas se inspiraram. Segundo, é plausível a existência de uma fonte comum perdida, referida como “Q” (abreviação da palavra alemã “Quelle”, que significa “fonte”), que forneceu material adicional não encontrado em Marcos, mas compartilhado por Mateus e Lucas.

A hipótese das duas fontes, como é conhecida, propõe que Mateus e Lucas utilizaram independentemente duas fontes principais: o Evangelho de Marcos e a hipotética fonte Q. Essa hipótese foi desenvolvida principalmente na Alemanha do século XIX e ganhou apoio significativo entre os estudiosos. B. H. Streeter deu a expressão clássica a essa teoria, e desde então ela se tornou amplamente aceita na comunidade acadêmica.

De acordo com a hipótese das duas fontes, o Evangelho de Marcos serviu como modelo narrativo e estrutura tanto para Mateus quanto para Lucas. Esses dois livros adotaram muito do material de Marcos, incluindo seu relato da vida, ensinamentos e crucificação de Jesus, enquanto faziam suas próprias modificações e acréscimos. Além disso, Mateus e Lucas recorreram à fonte Q para complementar suas narrativas com ditos e ensinamentos compartilhados de Jesus. A existência de Q é inferida pela sobreposição substancial entre Mateus e Lucas nas passagens ausentes em Marcos.

No entanto, durante a segunda metade do século XX, surgiram várias complicações acerca do Problema Sinóptico. Alguns questionaram a prioridade de Marcos, sugerindo cenários alternativos para a ordem de composição. Outros negam a existência da fonte Q. Essas perspectivas divergentes provocaram debates e teorias alternativas sobre a interdependência dos Evangelhos Sinópticos.

BIBLIOGRAFIA

Streeter, Burnett Hillman. The Four Gospels: A Study of Origins, Treating of the Manuscript Tradition, Sources, Authorship, & Dates. Wipf and Stock Publishers, 2008.

Longstaff, Thomas RW, and Page A. Thomas. The synoptic problem: a bibliography, 1716-1988. Vol. 4. Mercer, 1988.