Codex de Aleppo

O Codex de Aleppo, também conhecido como “Coroa de Damasco” (כתר ארם צובה), é um manuscrito medieval da Bíblia Hebraica, concluído por volta de 930 d.C. em Tiberíades. Considerado o manuscrito massorético mais antigo e mais meticulosamente trabalhado, é amplamente reconhecido como o mais preciso e autorizado exemplar do Texto Massorético. Sua confecção foi realizada por Aaron ben Moses ben Asher, renomado escriba massorético, que aplicou com rigor seu sistema de vocalização e acentuação.

Originalmente, o códice continha a Bíblia Hebraica completa, possivelmente reunida em um único volume pela primeira vez em formato de códice (encadernado). No entanto, sofreu perdas significativas após o incêndio da sinagoga de Aleppo durante os tumultos antijudaicos de 1947. Durante décadas, acreditou-se que ele havia sido destruído, mas uma parte significativa foi recuperada e transportada para Israel. Dos 487 fólios originais, cerca de 295 sobrevivem, incluindo a maior parte da Torá.

O Codex de Aleppo foi reverenciado ao longo dos séculos e influenciou profundamente os estudos bíblicos. Maimônides, importante rabino e filósofo do século XII, utilizou-o como referência principal para codificar as leis de escrita de rolos da Torá em sua obra Mishneh Torah (Hilkhot Sefer Torah). Apesar de incompleto, ele continua sendo uma fonte inestimável para a compreensão da transmissão do texto bíblico e das práticas dos escribas medievais.

Comparado ao Codex de Leningrado, que é completo, mas ligeiramente posterior, o Codex de Aleppo se destaca pela precisão de seu texto consonantal e por sua meticulosa elaboração. Sua importância é tão grande que serviu como base para o texto do Hebrew University Bible Project, passado por uma digitalização dos fragmentos sobreviventes.

BIBLIOGRAFIA
http://www.aleppocodex.org
Hayim Tawil and Bernard Schneider. Crown of Aleppo: The Mystery of the Oldest Hebrew Bible Codex. Jewish Publication Society, 2010.

Massorético, Texto

O Texto Massorético é uma família textual da Bíblia Hebraica editada meticulosamente por um grupo de copistas medievais chamados massoretas.

Quando o hebraico deixava de ser uma língua falada, os massoretas codificaram regras de cópia e desenvolveram sinais diacríticos para permitir a pronúncia das vogais. Também anotavam questões textuais, variantes, grafias estranhas, gramática incomum, discrepâncias, sinais para cantilação, além de dois comentários de referências cruzadas, a massorá. Também providenciaram listas com contagens de palavras, letras e linhas para uma edição padronizada, compilando extensas listas léxicas.

Esta obra monumental foi iniciada por volta do século VI d.C e concluída no século X nas academias talmúdicas da Babilônia e da Palestina. Duas escolas principais (ou famílias) de massoretas, ben Naftali e ben Asher, criaram versões do Textos Massoréticos ligeiramente diferentes.

Entre os massoretas destacam-se as cinco gerações da família Asher, uma família aparentemente de tendências caraítas de Tiberíades. Essa dinastia de copista iniciou-se com Asher, o Ancião (VIII d.C.) , vieram Nehemias Ben Asher, Asher Ben Nehemias, Moses Ben Asher e, finalmente, Aaron Ben Moisés Ben Asher, (X d.C.). Aaron compilou a gramática “Sefer Dikdukei ha-Te’amim”. A versão de Ben Asher prevaleceu e forma a base dos textos bíblicos recebidos como padrão.

O texto base é o Proto-Massorético. Esse texto hipotético consiste de consoantes e elementos para-textuais que aparentemente estavam estabilizando-se na época dos Manuscritos do Mar Morto. O EgLev é o primeiro exemplar a corresponder totalmente às formas consonantais encontradas nos Textos Massoréticos.

Mesmo entre os massoretas havia diferentes edições e leituras da Bíblia. Por exemplo, o códice dos Profetas, copiado em Tiberíades em 897 por Moisés Ben Asher e pertencente à sinagoga caraíta no Cairo, contém apenas um terço de vocalização e a cantilação similar ao texto produzido de seu filho Aaron Ben Moisés, cujo método é a base do moderno Texto Massorético. No entanto, mais da metade das leituras concordam com Moisés ben David ben Naftali, de outra família massorética tiberiana.

Os massoretas adotaram o formato códice para fazer cópias-matrizes e, a partir delas, copiar os rolos para uso litúrgico. Ben Asher compilou o Códice de Aleppo. Ben Naftali provavelmente também tenha feito um texto padrão, embora não tenha sobrevivido.

A fonte mais famosa do Texto Massorético é o célebre Códice de Aleppo (c. 925 d.C.). Possui uma história peculiar de sobrevivência, pois perdeu-se de quase todo o Pentateuco. O manuscrito completo mais antigo é o Códice de Leningrado B 19A (codex L) de 1009 a.C.

As edições impressas da Bíblia Hebraica seguem uma abordagem diplomática, ou seja, partem de um manuscrito real e anota-se as divergências e leituras alternativas. (Em contraposição ao modelo de edição eclética adotada no Novo Testamento). No caso do Texto Massorético, o Códice de Leningrado serve de base para a Biblia Hebraica Kittel, Biblia Hebraica Stuttgartensia e a Biblia Hebraica Quinta. Já o Códice de Aleppo é o texto base para a Hebrew Bible University Project.

Já na era da imprensa, a segunda edição da Grande Bíblia Rabínica (1525), editada em Veneza por Daniel Bomberg e Jacob ben Hayyim ibn Adonias, tornou-se a mais popular. Trata-se de um texto eclético. Esta foi a base para a tradução das versões dos Reformadores. Outras edições do Texto Massorético, notavelmente a Poliglota Complutense e a versão latina e hebraica de Pagninus, também serviram de fontes para as traduções da era da Reforma.

BIBLIOGRAFIA

Khan, Geoffrey. “The Role of the Karaites in the Transmission of the Hebrew Bible and Their Practice of Transcribing It into Arabic Script.” Intellectual History of the Islamicate World 8.2-3 (2020): 233-264.

Francisco, Edson de F. . Edições Impressas da Bíblia Hebraica: do Século XV até Hoje. Caminhando, v. 11, p. 9-36, 2003.

Francisco, Edson de F. Manual da Bíblia hebraica: introdução ao texto massorético: guia introdutório para a Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Edições Vida Nova, 2005.

Friedman, Matti. The Aleppo Codex: In Pursuit of One of the World’s Most Coveted, Sacred, and Mysterious Books. Algonquin Books, 2013.

Tawil, Hayim, and Bernard Schneider. Crown of Aleppo: The Mystery of the Oldest Hebrew Bible Codex. Jewish Publication Society, 2010.

Tov, Emanuel. Textual Criticism of the Hebrew Bible: Revised and Expanded. Fourth Edition. ‎Fortress Press, 2022.