Pentateuco de Damasco

O Pentateuco de Damasco, conhecido também como Codex Sassoon 507, datado do século X, quase completo dos cinco livros da Torá na versão massorética. Produzido por um escriba anônimo, é distinto do Documento de Damasco, um texto relacionado à comunidade de Qumran.

Codex de Leningrado

O Codex de Leningrado, o manuscrito completo mais antigo da Bíblia Hebraica datado de cerca de 1008 d.C., é a base para a maioria das edições críticas modernas e um testemunho relevante da tradição do Texto Massorético. Atualmente, ele se encontra na Biblioteca Nacional da Rússia em São Petersburgo.

O códice, escrito em pergaminho com tinta marrom escura, contém os 24 livros da Bíblia Hebraica em escrita quadrada hebraica, com três colunas por página, vocalização e notas massoréticas. As decorações são limitadas, incluindo a micrografia. Acredita-se que tenha sido copiado no Cairo, Egito, e pertencido a uma comunidade caraíta no Cairo Antigo até ser adquirido por Abraham Firkovich no século XIX e transferido para a Biblioteca Pública Imperial em São Petersburgo.

O Codex de Leningrado preserva o Texto Massorético, incluindo a vocalização e a acentuação, e serve como uma fonte primária para comparar diferentes manuscritos bíblicos, reconstruindo de um texto original. É inestimável para estudos linguísticos e históricos. Registra a evolução do hebraico e as práticas dos escribas. Embora acessível a estudiosos na Biblioteca Nacional da Rússia, o códice foi totalmente digitalizado, facilitando o acesso e a pesquisa.

Comparado a outros códices importantes como o Codex de Aleppo, mais antigo, porém incompleto, e o Codex Cairensis, que contém os Profetas e os Escritos, o Codex de Leningrado se destaca por sua integridade e influência. O Codex de Aleppo, datado do século X d.C., contém o texto consonantal sem vocalização ou acentuação massorética, enquanto o Codex Cairensis, do século IX d.C., apresenta um sistema de vocalização diferente do de Leningrado.

Edições massoréticas

Essas são as principais edições impressas do Texto Massorético.

  • Pentateuco de Bolonha (1482): Marco inicial, com vogais e acentos aprimorados por Abraham b. Ḥayyim di Tintori.
  • Bíblia de Soncino (1488): Primeira Bíblia completa impressa, com vogais e acentos, produzida pela família Soncino.
  • Bíblia de Nápoles (1491-93): Edição com melhor posicionamento de vogais e acentos, também pelos Soncino.
  • Bíblia de Brescia (1495): Edição de bolso, baseada na Bíblia de Soncino, para judeus em constante movimento.
  • Pentateuco de Hijar (1490): Com Targum e Rashi, impressa por Solomon Salmatic b. Maimon.
  • Pentateuco de Faro (1487): Edição portuguesa com limitações na impressão do dagesh.
  • Pentateuco de Lisboa (1491): Em dois volumes, com Targum e comentário de Rashi.
  • Isaías e Jeremias de Lisboa (1492): Edições individuais dos livros proféticos.
  • Provérbios de Leira (1492): Edição individual do livro de Provérbios.
  • Salmos, Provérbios, Jó e Daniel de Salonica (1514): Edição com patronato de Don Judah Gedaliah.
  • Políglota Complutense (1514-17): Primeira Bíblia impressa na Espanha, com texto hebraico, grego e latino.
  • Primeira Bíblia Rabínica de Bomberg (1516-17): Em quatro volumes, com Targum e comentários, editada por Felix Pratensis.
  • Segunda Bíblia Rabínica de Bomberg (1524-25): Texto massorético padrão por 400 anos, editada por Jacob b. Ḥayyim ibn Adonijah.
  • Terceira Bíblia Rabínica de Bomberg (1525-28): Combinação dos textos de Pratensis e Jacob b. Ḥayyim.
  • Bíblia de Elias Levita (1527 em diante): Edições posteriores de Bomberg, seguindo o texto de Jacob b. Ḥayyim.
  • Sanctus Pagninus Veteris et Novi Testamenti nova translatio, publicada em Lyon em 1527. Latim-Hebraico.
  • Edição de Muenster Latim-Hebraico de 1535.
  • Bíblia de Buxtorf (1611 e 1618-19): Influenciada por tradições sefaraditas.
  • Bíblia de Jablonski (1699): Baseada no texto de Buxtorf.
  • Bíblia de Michaelis (1720): Edição crítica com base em edições impressas e manuscritos.
  • Benjamin Kennicott (Kennicott Edition, 1776-1780): Produzida pelo teólogo de Oxford Benjamin Kennicott com o auxílio de uma equipe. A edição inclui um aparato que reflete variantes do texto consonantal em mais de 600 manuscritos, 52 edições do texto hebraico e 16 manuscritos do Pentateuco Samaritano.
  • Giovanni Bernardo de Rossi (de Rossi Edition, 1784-1798): Baseada em cerca de 1.475 manuscritos e edições, esta publicação oferece uma lista de variantes consonantais, em vez de uma edição completa. A edição original foi publicada entre 1784-1788, com uma versão suplementada em 1798, e foi reimpressa em 1969-1970 devido à sua relevância contínua.
  • S. Baer (BHK, 1869-1895): Samuel Baer e Franz Delitzsch trabalharam para reconstruir o Texto Massorético, excluindo os livros de Êxodo a Deuteronômio, com base em edições e manuscritos antigos. Embora tenha sido um esforço importante, o tratamento idiossincrático de Baer em relação à Massorá comprometeu a precisão da edição.
  • Christian D. Ginsburg (Ginsburg Edition, 1908-1926): Produzida por Christian D. Ginsburg e sua equipe em Londres, a edição baseou-se principalmente na edição de ben Chayyim e em manuscritos do século XIII em diante, localizados na Biblioteca Britânica. Apesar do extenso material, foi criticada por sua inconsistência e falta de esforço em avaliar ou agrupar os manuscritos.
  • Pentateuco de Roedelheim: Edição popular sem notas.
  • Biblia Hebraica Kittel (BHK): Texto baseado no Códice de Leningrado. Edição crítica.
  • Biblia Hebraica Stuttgartensia (BHS, 1977): Edição revisada da BH3. Incorpora anotações de leituras dos Manuscritos do Mar Morto.
  • Biblia Hebraica Quinta (BHQ): Em andamento, com base em diversos manuscritos.
  • Hebrew University Bible Project (HUBP): projeto em curso de uma edição multivolume, baseado no Codex de Aleppo. Possuirá um aparato crítico substancial.
  • Jerusalem Crown (2000): Combina os Códices de Alepo e Leningrado.
  • Oxford Hebrew Bible (OHB): projeto em curso de uma edição crítica.

Benjamin Kennicott

Benjamin Kennicott (1718-1783) foi um estudioso inglês que publicou, em 1776, a obra Vetus Testamentum Hebraicum cum Variis Lectionibus. Este trabalho, ainda utilizado, registra variantes do texto hebraico do Antigo Testamento, baseando-se em 615 manuscritos hebraicos medievais e 52 edições impressas do texto hebraico. As variantes estão registradas em notas de rodapé do texto principal e foram apresentadas em dois volumes, publicados em 1776 e 1780.

Nascido em Totnes, Devon, Kennicott era filho de um barbeiro e secretário paroquial. Estudou na Totnes Grammar School antes de ingressar no Wadham College, Oxford, em 1744, onde destacou-se nos estudos de hebraico sob a orientação do professor Thomas Hunt. Tornou-se membro do Exeter College em 1747 e alcançou o título de Doutor em Divindade (D.D.) em 1761.

Kennicott ocupou diversas posições eclesiásticas ao longo de sua vida. Foi mestre de uma escola de caridade em Totnes antes de se tornar vigário de Culham, Oxfordshire, em 1753. Em 1767, foi nomeado responsável pela Biblioteca Radcliffe em Oxford, e, em 1770, tornou-se cônego da Christ Church. Seu trabalho acadêmico contou com o apoio de figuras como o bispo Robert Lowth, que incentivou Kennicott a empreender um estudo abrangente da Bíblia Hebraica.

A obra Vetus Testamentum Hebraicum cum Variis Lectionibus representou um marco no campo da crítica textual bíblica. Com o objetivo de oferecer uma edição crítica da Bíblia Hebraica, Kennicott realizou uma análise sistemática de uma ampla gama de fontes. No primeiro volume, publicado em 1776, ele apresentou variantes textuais com base nos manuscritos e edições impressas examinados. O segundo volume, lançado em 1780, foi acompanhado por uma Dissertatio Generalis, que discutia os manuscritos utilizados e detalhava sua metodologia. O trabalho buscava estabelecer um texto mais preciso e contribuir para a compreensão das transmissões e variações textuais na Bíblia Hebraica.

Kennicott faleceu e foi enterrado na Catedral de Christ Church, em Oxford. Sua contribuição à crítica textual da Bíblia lançou bases importantes para estudos futuros e consolidou sua posição como figura central nesse campo. A obra Vetus Testamentum Hebraicum continua sendo referência entre estudiosos por sua documentação detalhada de variantes textuais e por sua abordagem crítica aos manuscritos bíblicos.

Edição crítica

As edições críticas de manuscritos são publicações acadêmicas que visam fornecer uma representação confiável e precisa de um texto. Essas edições são normalmente produzidas por meio de um processo de crítica textual, que envolve a comparação de diferentes versões manuscritas de um texto e a tomada de decisões editoriais sobre como apresentar o texto da forma mais precisa e autêntica possível. Acompanham notas e aparatos que subsidiam a leitura adotada.

Existem dois tipos principais de edições críticas: as diplomáticas e as ecléticas.

Uma edição diplomática é um tipo de edição crítica que visa reproduzir um manuscrito o mais fielmente possível, incluindo sua ortografia, pontuação e formatação. O editor de uma edição diplomática normalmente transcreve o manuscrito usando um sistema padrão de símbolos para representar leituras variantes, abreviações e outras características do texto. O objetivo de uma edição diplomática é fornecer aos estudiosos uma representação clara e precisa do conteúdo du manuscrito. As variantes e alternativas de leituras vão anotadas no aparato crítico. A Bíblia Hebraica Kittel é uma edição diplomática do manuscrito massorético de Lenigrado.

Uma edição eclética, por outro lado, é um tipo de edição crítica que usa uma combinação de diferentes versões manuscritas para criar um novo texto que representa o melhor julgamento filológico sobre um original imaginado. Edições ecléticas normalmente envolvem um processo de comparação e avaliação de diferentes versões manuscritas, identificação de leituras variantes e tomada de decisões editoriais sobre quais leituras incluir no texto final. Apesar dos nomes, tanto o Texto Receptus (baseado originalmente em seis manuscritos) e o contemporâneo Texto Crítico (baseado em milhares de fontes) são edições ecléticas.

Quanto à extensão, uma edição crítica classifica-se em editio minor ou edição manual e editio major. A editio minor é destinada a ser em um só volume, portanto, com menor número de notas a aparatos críticos. A Bíblia Hebraica Stuttgartensia e o Novum Testamentum Graece são exemplos de edições manuais. Uma edição maior busca reunir um número maior de detalhes, como a transformação do texto ao longo da história. Está em curso a publicação da Editio Critica Maior do Novo Testamento Grego.