Hirão de Tiro

Hiram I, também conhecido como Hirão de Tiro, foi um rei fenício que governou Tiro no século X a.C. Manteve relação diplomática e comercial com os reis israelitas Davi e Salomão, conforme relatado na Bíblia em livros como 1 Reis e 2 Crônicas.

A Bíblia apresenta Hirão como amigo e aliado de Davi e Salomão. Forneceu madeira de cedro do Líbano e artesãos qualificados para a construção do palácio de Davi e, mais notoriamente, do Templo de Salomão em Jerusalém. Também manteve relações comerciais com Salomão, trocando materiais como madeira, ouro e pedras preciosas.

O historiador judeu Flávio Josefo, escrevendo no século I, menciona Hirão em seus relatos, baseando-se em fontes bíblicas e fenícias. Josefo descreve projetos arquitetônicos em Tiro e a expansão do porto da cidade, atribuídos ao reinado de Hirão.

Inscrições fenícias, embora limitadas, oferecem evidências sobre as atividades de construção de Hirão e corroboram sua relação com os israelitas.

Hirão desempenhou um papel diplomático crucial, promovendo relações pacíficas e comerciais entre Israel e os fenícios, beneficiando economicamente ambos os reinos. Sua colaboração na construção do Templo de Jerusalém, apesar de ser adepto de outras divindades, reflete uma postura de cooperação e tolerância religiosa. Além disso, o comércio conduzido sob seu reinado facilitou o intercâmbio de bens, técnicas e ideias culturais. A habilidade artesanal e a arquitetura fenícia influenciaram significativamente a cultura material israelita.

Aferidor de medidas

Ezequiel 28:12 descreve o rei de Tiro como “selo da perfeição” (חֹתָם תָּכְנִית, ḥotam takhnit). A Almeida Revista e Corrigida verte como “aferidor de medidas”. A frase é complexa e tem sido interpretada de diversas maneiras.

O selo (חֹתָם, ḥotam) denota autenticidade, completude, e autoridade. No antigo Oriente Próximo, selos eram usados para marcar propriedade, validar documentos e indicar posição de poder. O selo do rei de Tiro sugere que ele personificava um ideal de perfeição ou completude, talvez em termos de beleza, sabedoria, ou poder.

Já perfeição (תָּכְנִית, takhnit) é uma palavra é menos comum e seu significado exato é debatido. Pode se referir a um plano, modelo, padrão, ou estrutura. Talvez takhnit se refere ao modelo ideal de um rei, ou mesmo à própria criação. O rei de Tiro, portanto, seria o representante terreno desse ideal.

Juntas, as palavras “selo da perfeição” podem indicar que o rei de Tiro era considerado a encarnação de um modelo ideal de realeza, beleza, ou sabedoria. Ele não era apenas um rei, mas a própria representação da perfeição em sua forma. Essa interpretação é reforçada pela descrição subsequente do rei no mesmo capítulo, onde ele é retratado com grande beleza, sabedoria e riqueza, chegando a ser comparado a um querubim e a habitar o jardim do Éden.

No entanto, a frase também pode ter uma nuance irônica. O contexto do capítulo 28 é uma condenação do orgulho do rei de Tiro, que se exaltou acima de sua condição humana e se considerou um deus. Nesse sentido, a descrição do rei como “selo da perfeição” pode ser uma forma de ridicularizar suas pretensões, mostrando a discrepância entre sua percepção de si mesmo e a realidade de sua finitude e pecado. Sua queda subsequente demonstra a fragilidade de sua suposta perfeição.

BIBLIOGRAFIA

Greenberg, Moshe. Ezekiel: A New Translation with Introduction and Commentary. Vol. 22 of The Anchor Bible. New York: Doubleday, 1997. 2:580–81.

Tiro

Tiro (em fenício: 𐤑𐤓, romanizado: Ṣūr, em hebraico Tzor, significa “rocha”, grego Τύρος) no Líbano é uma das cidades continuamente habitadas mais antigas do mundo. (Cf. Is 23: 5-7).

Na idade do Ferro tornou-se um importante centro comercial e cidade-estado. Teve colônias pelo Mar Mediterrâneo, frequentemente chamado de Mar Tírio: ilhas do mar Egeu, Cartago, Sicília e na Córsega, na Espanha em Tartesso e em Gadeira (Cádiz). Junto do comércio floresceu uma indústria artesanal.

A cidade é elencada como parte da herança da tribo de Asser (Js 19:24–31). Contudo, os israelitas nunca a conquistaram (Js 13:3-4; 2 Sm 24:7). Durante a monarquia, Davi e Salomão tiveram uma aliança amigável com Hirão, rei de Tiro. (2 Sm 5:11; 1 Re 5:1-14; 9:11; 2 Cr 2: 3).

Antes da época de Hirão (cerca de 960 aC), Tiro tinha sido duas ilhas, mas ele uniu-as (Flávio Josefo).

Tiro recebeu várias denúncias dos profetas que predisseram sua destruição (Is 23: 1; Jr 25:22; Ez 26; 28: 1-19; Joel 3:4 ; Am 1:9–10; Zc 9: 2–4).

Após a restauração, no tempo de Neemias o povo de Tiro fazia comércio no mercado de Jerusalém (Ne 13:16).

Embora hoje seja uma península, já foi uma ilha, cuja ponte terrestre foi construída no verão de 332 a.C. na conquista pelas forças de Alexandre, o Grande. A insularidade é atestada em Ez 27:32, que diz: “Quem era como Tiro, quando foi silenciada no meio do mar?”

No Novo Testamento, Jesus refere-se a Tiro como um exemplo de cidade impenitente (Mt 11: 21–22; Lc 10:13), mas ministrou à sua população, como a mulher cananeia (Mt 15: 21–28).

A igreja foi estabelecida em Tiro (At 11:19). Paulo esteve por uma semana com os discípulos no retorno de sua terceira viagem missionária (At 21:2–4).

BIBLIOGRAFIA

Katzenstein, H. J. “Tyre (Place)” Anchor Bible Dictionary, Vol. VI, pp. 686-692.