Versões etíopes

As versões etíopes da Bíblia, escritas em ge’ez, antiga língua litúrgica da Etiópia, e no moderno amárico, são adotadas pela Igreja Ortodoxa Tewahedo Etíope.

Lendas a associam suas origens na conversão do eunuco etíope em Atos 8:26-27, mas o Novo Testamento ainda não existia na época. Ademais, o termo “etíope” era usado genericamente pelos antigos para se referir a qualquer região ao sul do Egito.

As versões etíopes emergiram no Reino de Axum, que controlava rotas comerciais entre o Império Romano e a Índia no século III. A corte real falava grego, mas a população letrada usava o ge’ez, língua semítica aparentada ao árabe meridional. Com a conversão ao cristianismo em meados do século IV, os axumitas adotaram o termo “etíopes” (Αἰθίοπες), possivelmente por uma leitura errônea de Atos, onde a versão etíope menciona a “terra dos ge’ez” (ግዕዝ) em vez de Gaza (Γάζα).

O ge’ez, escrito em um alfabeto próprio que evoluiu de um sistema consonantal para um vocalizado, tornou-se a língua da Bíblia etíope. Textos informais em ge’ez, como grafites, usavam esse alfabeto. Ge’ez significa “língua”, enquanto “etíope” se refere à escrita. O ge’ez deixou de ser usado no dia a dia por volta do século X, mas permaneceu como língua litúrgica. A partir do século XIII, obras religiosas em árabe copta foram traduzidas para o ge’ez, o que levou a uma florescente tradição literária.

O rei Ezana converteu seu reino Axum ao cristianismo por volta de 340 d.C., evidenciado por símbolos da cruz em moedas e inscrições em grego invocando a Trindade. Ezana enviou Frumêncio, um grego de Tiro, para ser consagrado bispo por Atanásio de Alexandria. A versão ge’ez da inscrição, no entanto, omite as referências cristãs.

Em 356, o imperador bizantino Constâncio II substituiu Atanásio pelo ariano Jorge da Capadócia, solicitando a Ezana que Frumêncio fosse reeducado. Ezana ignorou o pedido e isolou Axum das controvérsias cristológicas do período. Esse isolamento pode ter motivado a tradução da Bíblia para o ge’ez. No final da década de 380, João Crisóstomo afirmou que o Evangelho de João havia sido traduzido.

A tradução, provavelmente iniciada com os Evangelhos e Salmos, foi prejudicada pelo conhecimento limitado do grego. Por exemplo, Atos 27 e 28 possuem terminologia náutica e foram omitidos. Os tradutores parafraseavam, adivinhavam ou omitiam trechos que não entendiam, resultando em leituras peculiares. A divisão incorreta de palavras e frases, o pouco domínio das partículas e dos casos gregos também geraram problemas.

A versão etíope, traduzida sem a influência de missionários ou do patriarcado alexandrino, incluiu todos os livros canônicos, além de obras como 1 Enoque, Jubileus, Ascensão de Isaías e Paralipômenos de Jeremias, e neotestamentárias como Pastor de Hermas e Atos de Marcos.

O debate sobre a conclusão da tradução se concentra na tradição dos “Nove Santos”, monges que cristianizaram áreas rurais de Axum nos séculos V e VI. Alguns estudiosos os consideravam tradutores, influenciados pela Peshitta siríaca. No entanto, essa narrativa não encontra respaldo nas fontes etíopes.

A hipótese mais aceita é que a Bíblia completa já existia em ge’ez no final do século V. Inscrições de 525 d.C. do rei Kaleb contêm citações de Êxodo, Salmos, Isaías e Mateus. Além disso, livros como 1 Enoque e Ascensão de Isaías, condenados por Atanásio em 367, só poderiam ter sido traduzidos durante o período de isolamento.

O cânone etíope, com 81 livros, é peculiar. A falta de clareza sobre quais livros o compõem e a flexibilidade do conceito de cânone na Igreja Ortodoxa Etíope dificultam sua definição.

A escassez de manuscritos medievais, devido à destruição causada por Ahmad Gragn entre 1531 e 1543, e a pouca qualidade das edições impressas ocidentais, dificultam o estudo da versão etíope. Edições críticas publicadas nos últimos cinquenta anos revelaram três tipos de textos: A-textos (descendentes da versão axumita), Ab-textos (A-textos corrigidos com base em manuscritos árabe-coptas) e B-textos (revisões do século XV/XVI influenciadas por modelos coptas).

Os Evangelhos de Garima, datados do século VI, são os manuscritos mais antigos e fornecem acesso ao texto-base axumita. A comparação com manuscritos medievais confirma que a tradução dos Evangelhos foi realizada de uma só vez.

Os A-textos apresentam características como: adição de sujeitos e objetos explícitos, intensificadores como “tudo” e “muito”, harmonização entre textos sinóticos e narrativas com contextos semelhantes, e dupla ou múltipla tradução do mesmo termo grego.

Os A-textos dos Evangelhos são considerados como um primeiro rascunho, com linguagem livre e simplificada, enquanto os outros textos do Novo Testamento são mais literais. Grande parte do Antigo Testamento é extremamente literal em relação à Septuaginta.

A versão etíope foi traduzida exclusivamente do grego, mas raramente é possível reconstruir o texto grego original com base nos A-textos. Os B-textos podem ter origem em versões árabes literais do siríaco, como no caso de Atos.

A comparação dos A-textos com variantes gregas do Novo Testamento revela afinidade com o texto alexandrino, especialmente em Atos, Apocalipse, cartas paulinas e católicas. Nos Evangelhos, a situação é mais variada, com maior proximidade ao texto bizantino em Mateus e João, e ao Codex Washingtonensis nos primeiros capítulos de Marcos.

O A-texto sempre apresenta o final longo de Marcos, Mateus 16:2-3 e 24:36 (incluindo “nem o Filho”), e omite a Pericope Adulterae em João 7:53-8:11. Uma leitura inesperada em João 5:3-4 inclui os versículos 3b e 4a, omitindo o restante do versículo 4.

Em Mateus 27:49, o A-texto apoia a leitura alexandrina, com Garima 2 apresentando a ordem “água e sangue” e Garima 1 e o restante da tradição A “sangue e água”. Essa leitura, ausente em versões ocidentais, era comum no Egito no século IV.

Bíblia Biestkens

A Bíblia Biestkens, também conhecida como Biestkensbijbel e Dooperbibel, é uma tradução holandesa da Bíblia publicada em 1558. Foi publicada por Steven Mierdman e Jan Gheylliart e reimpressa em 1560 por um tal Nicolaes Biestkens, um impressor da cidade de Emden do qual nada se sabe, para a comunidade anabatista, sendo bem-recebida entre mennonitas e luteranos holandeses.

A tradução da Biestkens Bijbel baseou-se em versões anteriores. Foi baseada em uma edição alemã de Lutero, impressa em Magdeburg em 1554, na Bíblia holandesa de Liesveldt e, além das partes faltantes, na Bíblia de Zurique de Zwingli. Esta versão incluiu os livros deuterocanônicos ou Apócrifos, frequentemente omitidos em outras versões protestantes. A Bíblia também apresentou a Epístola de Laodicenses. Outro aspecto inovador foi a divisão do texto em versículos, algo inédito nas edições holandesas da época e que se tornou um modelo para as versões subsequentes. Isso facilitou a ter um índice remissivo com temas organizados em ordem alfabética. Foi impressa em formato in-quarto em vez do formato fólio que era comum até então, facilitando o transporte.

A Biestkens Bijbel teve grande influência sobre as edições posteriores, como a Statenvertaling, publicada em 1637. Sua importância vai além do aspecto religioso, contribuindo para o desenvolvimento da língua e literatura holandesas, ao tornar os textos religiosos acessíveis a um público mais amplo. Esta tradução foi amplamente utilizada em comunidades menonitas e luteranas. Entre essa última comunidade foi utilizada até ser substituída pela Bíblia Visscher. A Biestkens Bijbel também foi um marco na promoção da alfabetização bíblica e das práticas de culto.

A Bíblia de Biestkens se distingue por sua ênfase nas crenças dos anabatistas, que defendiam temas como o batismo de adultos e a ética comunitária. Em comparação com outras versões protestantes, como as de Lutero e a Reformada (que então utilizavam a Bíblia Deux-Aes, primeira edição de 1562), a Biestkens Bijbel apresenta variações textuais que se alinham mais estreitamente com a doutrina anabatista, favorecendo leituras de passagens doutrinariamente sensíveis para refletir diferentes perspectivas teológicas.

Com sua popularidade, a Biestkens Bijbel foi impressa por cerca de uma centena de edições entre 1560 e 1721 e foi utilizada até a década de 1830 por mennonitas alemães e holandeses. Sua longa circulação e adoção por comunidades protestantes em sua época demonstram sua importância no desenvolvimento da identidade religiosa protestante nos Países Baixos. Embora tenha sido gradualmente substituída por outras versões, sua relevância histórica permanece reconhecida no estudo das traduções bíblicas e da história dos anabatistas.

CÂNON

Foi, talvez, a edição protestante com o cânon mais amplo a ser publicada e amplamente utilizada. A ordem e a lista dos livros são os seguintes:

  • Genesis, Dat eerste Boeck Mose – Gênesis
  • Exodus, Dat tweede Boeck Mose – Êxodo
  • Leuiticus, Dat derde Boeck Mose – Levítico
  • Numeri, Dat vierde Boeck Mose – Números
  • Deuteronomium. Dat vijfde Boeck Mose – Deuteronômio
  • Dat Boeck Iosua – Josué
  • Iudicum, Dat Boeck der Rechteren – Juízes
  • Dat Boeck Ruth – Rute
  • Dat Eerste Boeck Samuel –1 Samuel
  • Dat tweede Boeck Samuel –2 Samuel
  • Regum, Dat Eerste Boeck vanden Coninghen -1 Reis
  • Regum, Dat tweede Boeck der Coninghen – 2 Reis
  • Dat Eerste Boeck der Chronika. Datmen heet Paralipomenon. – 1 Crônicas
  • Dat tweede Boeck der Cronijcken. – 2 Crônicas
  • Dat Boeck Esra – Esdras
  • Dat Boeck Nehemia – Neemias
  • Dat Boeck Esther- Ester
  • Dat Boeck Hiob-
  • Den Psalter Dauids- Salmos
  • De spruecken Salomonis- Provérbios
  • Ecclesiastes, De Prediker Salomo- Eclesiastes
  • Dat hooge Liet Salomo- Cânticos dos Cânticos
  • De Prophetien der Propheten – Profecias
  • De Propheet Iesaia- Isaías
  • De Propheet Ieremia- Jeremias
  • De Claechlieden Ieremie- Lamentações
  • De Propheet Hesekiel- Ezequiel
  • De Propheet Daniel- Daniel
  • De Propheet Hozea- Oseias
  • De Propheet Ioel- Joel
  • De Propheet Amos- Amós
  • De Propheet Obadia- Obadias
  • De Propheet Iona- Jonas
  • De Propheet Micha- Miqueias
  • De Propheet Nahum- Naum
  • De Propheet Habacuc- Habacuque
  • De Propheet Sephania- Sofonias
  • De Propheet Haggai- Ageu
  • De Propheet Sacharia- Zacarias
  • De Propheet Maleachi- Malaquias
  • Apocrypha, Dit zijn de Boecken, die der heyligher Schriftuere niet ghelijck ghehouden (Ende doch goet ende nut te lesen) zijn. – Apócrifa, estes são os livros que não foram guardados nas Sagradas Escrituras (entretanto, bons e úteis para ler)
  • Dat Boeck Iudith. – Judite
  • Sapientia Dat Boeck der Wijsheyt – Sabedoria
  • Dat Boeck Tobie. – Tobias
  • Uoorreden Iesus Syrach, op zijn Boeck. Ecclesiasticus. Dat Boeck Iesus Syrach. – Siraque
  • De Propheet Baruch.- Baruque
  • Dat Eerste Boeck der Machabeen. – 1 Macabeus
  • Dat tweede Boeck der Machabeen. – 2 Macabeus
  • De ouergebleuen stucken des Boecx Esther, wt den Griecschen. –Ester Grego
  • Dat Ghebet Asarie, Danielis .iij. wt den Griecschen – Oração de Azarias
  • Den Lofsanck der drie Mannen in dat Vyer – Cântico dos três jovens
  • De Historie van Susanna ende Daniel – Susana
  • Vanden Bel te Babel – Daniel e Bel
  • Vanden Draeck te Babel – Daniel e o Dragão
  • Een schoon aendachtich ghebet Manasse, des Conincx Iuda, als hy te Babylon geuanghen lach – Oração de Manassés
  • Dat derde Boeck Esdre, dat de Hebreen niet en hebben – 3 Esdras
  • Dat vierde Boec Esdre, dat de Hebreen niet en hebben – 4 Esdras
  • Dat derde Boeck der Machabeen- 4 Macabeus
  • Nieuwe Testament – Novo Testamento
  • Euangelium S. Mattheus – Mateus
  • Euangelium S. Marci – Marcos
  • Euangelium S. Luce – Lucas
  • Euangelium S. Iohannis – João
  • Dat tweede deel, des Euangelij S. Lucas, Van de Wercken der Apostelen – Atos
  • De Epistel S. Pauli, aen den Romeynen. – Romanos
  • De eerste Epistel S. Pauli aen den Corintheren. – 1 Coríntios
  • De tweede Epistel S. Pauli aen de Corintheren. – 2 Coríntios
  • De Epistel S. Pauli aen den Galateren. – Gálatas
  • De Epistel S. Pauli, tot den Epheseren. – Efésios
  • De Epistel S. Pauli tot den Philippensen. – Filipenses
  • De Epistel S. Pauli tot den Colossensen. – Colossenses
  • De eerste Epistel S. Pauli, tot den Thessalonicensen. – 1 Tessalonicenses
  • De tweede Epistel S. Pauli, tot den Thessalonicensen. – 2 Tessalonicenses
  • De eerste Epistel S. Pauli, aen Timotheum. – 1 Timóteo
  • De tweede Epistel S. Pauli aen Timotheum. – 2 Timóteo
  • De Epistel S. Pauli, aen Titum. – Tito
  • De Epistel S. Pauli aen Philemon – Filemon
  • De Epistel S. Pauli tot den Laodicenzen – Laodicenses
  • De eerste Epistel S. Peters. 1 Pedro
  • De tweede Epistel S. Peters. – 2 Pedro
  • De eerste Epistel S. Ioannis. – 1 João
  • De tweede Epistel S. Ioannis. – 2 João
  • De derde Epistel S. Ioannis. – 3 João
  • De Epistel aen de Hebreen. – Hebreus
  • De Epistel S. Iacobs. – Tiago
  • De Epistel S. Iudas. – Judas
  • De Openbaringhe S. Iohannis des Theologen, die men noemt Apocalipsis. – Apocalipse

BIBLIOGRAFIA

François, Wim. “Mattheus Jacobszoon’s New Testament and the Addition of Registers and the Epistle to the Laodiceans to Dutch Mennonite Bibles.” Religious Minorities and Cultural Diversity in the Dutch Republic. Brill, 2014. 73-88.

Versões gregas impressas

As Bíblias impressas em grego para uso de falantes nativos ou para a Igreja Ortodoxa coincide com o desenvolvimento dos estudos bíblicos e helênicos do mundo Ocidental. Por vezes, a relação entre os publicadores com a erudição bíblica ocidental foi conflituosa.

Primeiras Tentativas (Séculos XVI a XVIII)

  • Enquanto prisioneiro dos venezianos, em 1536, Ioannikios Kartanos compilou uma obra didática com traduções de passagens bíblicas no grego moderno.
  • Agápio de Creta publicou em 1543 com uma tradução dos Salmos.
  • Uma edição poliglota única do Pentateuco, publicada em Constantinopla em 1547, apresentava hebraico, aramaico e grego ao lado de uma tradução em espanhol.
  • Maximos de Gallipoli produziu um Novo Testamento vernáculo em 1629, impresso em Genebra em 1638. Esta iniciativa do Patriarca Cirilo Lucaris refletia uma tendência pró-Reforma dentro da Igreja Ortodoxa.

Controvérsia e Inovação (Séculos XVIII a XIX)

  • O Novo Testamento em grego moderno de Serafim de Mitilene, publicado em Londres em 1703, enfrentou rápida condenação pela Igreja Ortodoxa pelo uso da linguagem vernacular. Este episódio destaca a tensão entre tradição e acessibilidade, resultando no exílio de Serafim na Sibéria.
  • O Novo Testamento de Vamvas (1833-1850) aderiu ao Textus Receptus ocidental, mas usou uma forma de grego katharevousa (um registro literário arcaico). Não foi adotado pela Igreja Ortodoxa, mas se tornou a versão oficial de muitas igrejas evangélicas gregas.

O tumultuado século XX

  • O início do século XX teve um período de intensa atividade e controvérsia. Três novas traduções em grego moderno – a Paráfrase de Anaplasis, a Tradução da Rainha Olga e a Evangélica de Pallis (a primeira tradução demótica) – apareceram quase simultaneamente.
  • O trabalho de Pallis, baseado no emergente Texto Crítico, provocou os “motins do evangelho” devido à suspeita pública de sua conexão com o projeto da Rainha Olga. Este evento resultou tragicamente em mortes e, por fim, levou à proibição de traduções da Bíblia em grego moderno.
  • A edição do Texto Patriarcal em 1904 tornou-se padrão para a Igreja Ortodoxa.
  • A proibição foi finalmente suspensa no final do século XX. A Versão Grega de Hoje (1985), baseada no Texto Antoniadis e aprovada pela Igreja Ortodoxa, marcou uma virada e maior aceitação das ciências bíblicas.
  • Desde então, várias traduções demóticas, incluindo as de Spyros Filos e Antonis Malliaris, aumentaram a disponibilidade das Bíblias impressas em grego. A versão de Malliaris, no entanto, gerou debate devido à sua interpretação livre do texto fonte.

Almeida Revista e Corrigida

A Bíblia Almeida Revista e Corrigida (ARC) é uma versão da Bíblia em português. Consiste em diversas impressões com algumas poucas variações textuais. Pertence à família de versões da Bíblia Almeida.

A linhagem da Almeida Revista e Corrigida são as edições das sociedades bíblicas britânicas e americana. Em 1840, o capelão anglicano inglês Edward Whiteley coordenou a Almeida edição Revista e Emendada, publicada na cidade do Porto, sendo uma ligeira revisão da edição de 1693. Em 1847, esse texto passaria por outra revisão, designada Revista e Reformada, coordenada por Thomas Boy da Sociedade Bíblica Trinitariana. Em 1875, surge a edição Revista e Correcta, que corrigiu a ortografia e outros erros, revisão liderada pelo português João Nunes Chaves. Em 1894 apareceu a Edição Revista, publicada em Londres.

Em 1898 surgiu a versão Revista e Corrigida, feita em Lisboa. Combina as revisões de 1875 e 1894. Teve participação de revisores brasileiros, mas pouco se sabe sobre essa revisão, quais foram os textos bases e os critérios, como bem nota Herculano Alves. Considerando o ambiente britânico, é possível que tenha tido influências da Revised Version (RV), revisão inglesa da King James Version publicada em 1881 (Novo Testamento) e 1885 (Velho Testamento).

Seria publicada pela primeira vez no Brasil em 1944 pela Imprensa Bíblica Brasileira da Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira (JUERP). A primeira impressão teve tiragem de cerca de 22.000 exemplares. Passou por revisões ortográficas em 1966, 1995 e 2009.

Hoje há três variantes brasileiras. Uma é publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil e outra pela editora Geográfica, esta última com copyright da Imprensa Bíblica Brasileira. Outra edição é feita pela Casa Publicadora Paulista. Essas edições são virtualmente idênticas, com notável exceção em 1 João 1 e 1 Coríntios 13. Há ainda a edição da Sociedade Bíblica de Portugal.

A Almeida Revista e Corrigida serviu de base para as versões Almeida Revista e Atualizada (1959), Almeida Revisada de acordo com os Melhores Textos em Hebraico e Grego (1968, 1986), a Almeida Edição Contemporânea (1990), Almeida Corrigida e Fiel (1994), Almeida 21 e Nova Almeida Atualizada. Essas novas versões ganharam seus públicos, mas a Almeida Revista e Corrigida ainda mantém sua audiência, sendo a versão distribuída pela Congregação Cristã no Brasil.

Versões italianas

As versões italianas da Bíblia têm uma história longa e variada.

No início do século XIII, Giacomo da Viraggio, arcebispo de Gênova, teria feito uma das primeiras traduções da Bíblia para o italiano. Essas e outras primeiras traduções eram geralmente traduções livres de livros individuais, muitas vezes contendo notas e quase sempre anônimas. Dessa época apareceu a versão dominicano Domenico Cavalca do livro de Atos. Todas elas foram baseadas na Vulgata.

A primeira Bíblia italiana impressa foi a de Nicolo di Malermi, um monge beneditino veneziano. Foi publicada em Veneza em 1º de agosto de 1471, chamada de Bibbia d’Agosto, baseada na Vulgata. No mesmo ano, outra Bíblia vernacular foi lançada, com base nos textos do século XIII da tradição toscana. Esta edição foi apelidada de Bibbia Jensoniana ou Bibbia d’Ottobre.

Em 1530, Bruccioli publicou sua tradução do Novo Testamento. Mais tarde, em 1532, veio a edição de toda a Bíblia. Mas em 1555 sua tradução foi colocada no Índice de Livros Proibidos pelo papa Paulo IV. Foi julgado por heresia, condenado e forçado a se retratar, apesar de nunca ter oficialmente deixando o catolicismo. Sua versão serviu de base para a versão Diodati. Embora reivindique ter traduzido a partir dos originais, parece que utilizou as versões latinas de Sante Pagnini para o Antigo Testamento e de Erasmo para o Novo.

Em 1536, o frade dominicano Zaccheria de Florença produziu seu Novo Testamento, que consistia apenas em um simples retoque do texto de Brucioli, ao qual aplicava variações quase exclusivamente estilísticas e formais. Em 1538, La Bibbia nuouamente tradotta dalla hebraica verità in lingua thoscana foi publicado sob a supervisão do frade dominicano Santi Marmochino, também baseada em Sante Pagnini, Brucioli e Zaccherie.

Em 1551, Il Nuouo ed Eterno Testamento di Giesu Christo foi publicado em Lyon pelo frade beneditino Massimo Theofilo Fiorentino, que traduziu diretamente do grego original. Em 1555, uma edição bilíngue em italiano e francês do Novo Testamento foi publicada sob a supervisão do valdense Giovan Luigi Pascale. Esta foi a primeira versão italiana a incluir a subdivisão em versos, além de ser a primeira declaradamente protestante.

A partir de 1559, como mencionado, o papa Paulo IV mandou compilar o Index Librorum Prohibitorum, que continha proibições de impressão, leitura e posse de versões da Bíblia em línguas vernáculas sem prévia autorização pessoal e por escrito do bispo, do inquisidor ou mesmo do papa. Como consequência dessas disposições, a produção de Bíblias em italiano foi interrompida abruptamente.

No século XVII, Giovanni Diodati publicou sua versão em Genebra em 1607 em uma tradução diretamente dos textos originais grego e hebraico, embora também tenha consultado o texto de Brucioli.

Em 1757, o papa Bento XIV incentivou a tradução da Bíblia em italiano. O abade Antonio Martini publicou primeiro o Novo Testamento em seis volumes (1769-1771) e, posteriormente, também o Antigo Testamento em dezessete volumes (1776-1781). Martini traduziu da Vulgata latina e colocou ao lado do texto italiano em uma coluna paralela. Esta tradução teve grande sucesso entre os católicos de língua italiana e até ganhou a aprovação do papa Pio VI.

No final do século XIX, o crescimento do evangelismo italiano demandou novas publicações da Bíblia. Assim, foi revisada a Diodati em 1894. Mas em 1924, a tradução de Diodati foi atualizada quanto à língua e ao texto-base pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. O trabalho liderado pelo valdense Giovanni Luzzi.

Duas outras importantes edições da Bíblia católica italiana anteriores ao Vaticano II são a de Giuseppe Ricciotti e a de Eusebio Tintori. A Bíblia de Ricciotti é uma obra erudita com notas extensivas, sendo uma tradução acadêmica direta dos textos originais. Por sua vez, a Bíblia de Tintori (publicada a partir de 1931 pela San Paolo) era mais direcionada à acessibilidade para o fiel comum.

Em 1968, a editora Mondadori publicou a Bibbia Condordata. Foi traduzida das línguas originais, com notas, produzida pela Sociedade Bíblica Italiana e em colaboração com biblistas católicos, protestantes, ortodoxos e judeus.

Em 1971, seguindo as diretrizes do Concílio Vaticano II (1965), a Conferenza Episcopale Italiana produziu a Versione CEI, o texto oficial da Igreja Católica para usos litúrgicos.

Utilizando uma equivalência dinâmica, a Parola del Signore – Traduzione Interconfessionale in Lingua Corrente foi publicada em 1985 em parceria entre organizações católicas e protestantes, destinada a um público jovem.

Em 1991, a editora La Buona Novella publicou La Nuova Diodati. Trata-se de uma versão do Diodati revisada apenas quanto à linguagem. Seu texto base do Novo Testamento foi o Textus Receptus. Seguiu-se uma edição revisada em 2003.

Em 1994, a Sociedade Bíblica de Genebra publicou a versão Nuova Riveduta, com a atualização linguística e textual da Luzzi e Diodati. Em 2006, foi publicada uma nova versão ligeiramente revista (a Nuova Riveduta 2006). A ADI-Media, a editora das Assemblee di Dio in Italia, lançou a Riveduta 2020, com atualizações linguísticas.