O Inferno é a tradução em português e outras línguas latinas para diversas palavras nos textos bíblicos:
- O seol em hebraico é o lugar dos mortos.
- O correspondente grego ao seol é o hades (Mt 11:23 e Lc 10:15).
- Na visão de mundo dos gregos, o tartaros é um local de sofrimento dos mortos. (2 Pedro 2:4).
- Em Grego Gehenna e hebraico ge-hinnom (vale de Hinom), um vale perto de Jerusalém. Apesar da escassa evidência, este lugar tem sido associado ao sacrifício de crianças a Moloque (2 Crônicas 28:3; 33:6) ou a um lixão e um lugar de queima. No Novo Testamento usa-o como uma metáfora ou símbolo para o lugar onde os pecadores serão enviados para o seu justo castigo.
É chamado de lugar de escuridão (Mt 25:30; 2 Pe 2:17), bem como de lugar de fogo (Mt 5:22; 13:30-50).
PERSPECTIVAS TEOLÓGICAS
A partir desses termos, diversas posições teológicas são aplicadas ao inferno.
- Inferno punitivo e eterno: a punição é física, emocional e mental, com tortura por fogo real, separação irremediável, sofrimento eterno e justa retribuição. É a leitura dominante na teologia ocidental desde Agostinho para passagens como Is 66:22-24; Dn 12: 2-3; Mt 18: 6-9; 25: 31-46; Mc 9: 42-48; 2 Ts 1: 6-10; Jd 7, 13; Ap 14: 9-11; 20:10, 14-15. É criticada em termos de moralidade (Deus criar pessoas para a condenação eterna) e pelas leituras de passagens aniquilacionistas (2 Sm 14:14; Sl 37:10; 92:7; Ml 4:1-3)
- Inferno simbólico: interpretação que as referências bíblicas a fogo, dor, sede, escuridão, escravidão não devem ser interpretadas literalmente. O fogo e as trevas são antíteses, por isso ao menos uma delas deveria ser interpretada simbolicamente ou ambos são simbólicos.
- Inferno temporal ou purgatório. Duas subperspectivas. Uma é o purgatório, que para o catolicismo romano, quando as pessoas que morrem com ‘pecado mortal’ não perdoado (pecado grave que rompe um relacionamento com Deus) vão para o inferno, mas os crentes com ‘pecado venial’ (menos grave) vão para o purgatório para punição e limpeza pelo fogo. Depois de completamente purificados do pecado, as pessoas são liberta do purgatório e entram no céu em perfeição e assim evitam o inferno. A ênfase sobre essa doutrina diminuiu desde o Concílio Vaticano II e, em 1999, o Papa João Paulo II declarou que ‘o purgatório não indica um lugar, mas uma condição de existência’. Geymonat, C.S. Lewis e George MacDonald são alguns pensadores que conceberam alguma forma limitada de inferno. Alguns pensam que depois do purgatório as pessoas seriam ou admitidas no reino ou aniquiladas.
- Aniquilacionismo ou mortalismo. A posição da maioria dentro desta visão é que os não salvos são punidos no inferno por um período de tempo – pode ser um período de tempo muito longo – dependendo do grau de seu pecado, mas eventualmente eles perecem (morrem) no inferno. O fogo é eterno (queima para sempre) e o castigo do pecador é eterno (final). Uma posição minoritária é que os não salvos deixam de existir no momento da morte terrena e que o inferno é apenas para Satanás e seus demônios (Mt 25:41).
BIBLIOGRAFIA
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