Wolfgang Vondey

Wolfgang Vondey (1970) é um teólogo sistemático e historiador do cristianismo, nascido na Alemanha, dedicado aos estudos pentecostais e carismáticos. Vondey é Professor de Teologia Cristã e Estudos Pentecostais na Universidade de Birmingham, no Reino Unido, onde também dirige o Centro de Estudos Pentecostais e Carismáticos.

Antes de sua carreira teológica, Vondey obteve seu mestrado na Universidade Philipps Marburg, na Alemanha, em Estudos Japoneses, Linguística Japonesa e Mídia. Ele viveu no Japão na década de 1990, onde estudou na Universidade Keio em Tóquio e trabalhou como Coordenador de Relações Internacionais em Okinawa. Em 1996, ele se mudou para os Estados Unidos para iniciar seus estudos teológicos, obtendo o Mestrado em Divindade no Pentecostal Theological Seminary (1999) e o doutorado em Teologia Sistemática e Ética na Marquette University (2003). Após uma bolsa de pós-doutorado no Boston College, ele se juntou à Regent University em 2005, onde fundou e dirigiu o Centro de Estudos de Renovação.

Vondey é um membro ativo da Society for Pentecostal Studies e da American Academy of Religion. Também é o presidente fundador do grupo de estudos ecumênicos da Society for Pentecostal Studies. Sua pesquisa é interdisciplinar, integrando teologia, história, sociologia e filosofia.

O pensamento teológico de Wolfgang Vondey concentra-se na pneumatologia, na eclesiologia, na teologia ecumênica e na interseção entre teologia e ciência. Sua abordagem é a de um teólogo sistemático classicamente treinado que aplica seus conhecimentos aos movimentos pentecostais e carismáticos. Explora a teologia desses movimentos a partir de uma perspectiva mais ampla, focando em temas como a teologia da dádiva, a eclesiologia e o papel do Espírito Santo na vida da igreja e na esfera pública.

Vondey argumenta que o pentecostalismo não é apenas um fenômeno religioso, mas uma força teológica e cultural global que oferece uma perspectiva única para a teologia contemporânea. Demostra como a experiência do Espírito Santo pode informar e enriquecer o diálogo teológico e a prática da igreja, contribuindo para a reconciliação e a unidade em um mundo fragmentado.

Sinopse de suas principais obras

The Scandal of Pentecost: A Theology of the Public Church (Bloomsbury, 2023) discute a relevância pública do pentecostalismo. O movimento, muitas vezes marginalizado ou incompreendido, tem a capacidade de atuar como uma “igreja pública”, engajada em questões sociais e políticas a partir de sua teologia da experiência e dos dons do Espírito Santo. O livro explora a teologia política da glossolalia e como o pentecostalismo pode reconciliar as “línguas de Babel, Jerusalém e Corinto”.

The Liturgy of the Gospel: Theological Hermeneutics in Pentecostal Perspective (Cascade Books, 2025) explora a teologia pentecostal a partir da perspectiva da hermenêutica litúrgica. Vondey argumenta que a liturgia pentecostal, centrada na experiência do Evangelho, oferece uma maneira única de interpretar e viver a fé cristã.

Pentecostalism: A Guide for the Perplexed (Bloomsbury, 2013), uma das obras mais conhecidas de Vondey e serve como uma introdução acessível à teologia do movimento pentecostal. O livro aborda a complexidade e a diversidade do pentecostalismo global, explorando suas origens, sua teologia e sua prática de forma concisa e esclarecedora para estudantes e pesquisadores. O livro foi objeto de uma discussão em mesa-redonda em 2023.

The Cambridge Companion to Pentecostalism (Cambridge University Press, 2014), que editou, é um guia acadêmico que reúne contribuições de diversos estudiosos para apresentar uma visão completa do movimento pentecostal. A obra abrange tópicos como a história, a teologia, a liturgia e a dimensão social do pentecostalismo em diferentes partes do mundo.

Bibliografia


Vondey, Wolfgang. The Scandal of Pentecost: A Theology of the Public Church. Bloomsbury Publishing, 2023.

Vondey, Wolfgang. The Liturgy of the Gospel: Theological Hermeneutics in Pentecostal Perspective. Cascade Books, 2025.

Vondey, Wolfgang. Pentecostalism: A Guide for the Perplexed. Bloomsbury/T&T Clark, 2013.

Vondey, Wolfgang, ed. The Cambridge Companion to Pentecostalism. Cambridge University Press, 2014.

Vondey, Wolfgang. “A Political Theology of Glossolalia: Reconciling the Tongues of Babel, Jerusalem, and Corinth”. Journal of Pentecostal Theology, 2024.

Vondey, Wolfgang. “Synodality and Charisms: A Pentecostal Perspective on Hierarchical and Spiritual Gifts in the Life and Mission of the Church”. Theological Studies, 2024.

Vondey, Wolfgang. “Baptism in the Holy Spirit”. In The Brill Encyclopedia of Global Pentecostalism. Brill, 2020.

Valentinianismo

O Valentinianismo, um sistema gnóstico do cristianismo primitivo, floresceu principalmente no século II d.C., derivado dos ensinamentos de Valentino de Roma. Embora nunca tenha constituído uma igreja separada no sentido estrito, seus adeptos formavam escolas de pensamento que ofereciam uma interpretação esotérica e mais completa da doutrina cristã, reivindicando uma linhagem de ensino que remontava ao apóstolo Paulo através de mestres como Teudas.

A cosmologia valentiniana era complexa, postulando um reino espiritual superior, o Pleroma, habitado por éons divinos. A criação do mundo material imperfeito era vista como resultado de uma falha ou paixão de Sofia, um dos éons. Um demiurgo ignorante, embora não inerentemente mau, era considerado o criador deste mundo inferior, inconsciente do Pleroma superior. A humanidade, nessa visão, continha uma centelha divina (pneuma) aprisionada na matéria (hyle) e na alma psíquica (psychē). A salvação, ou libertação dessa centelha, era alcançada através da gnose, um conhecimento intuitivo e espiritual das realidades divinas, trazido por Cristo, um ser superior do Pleroma.

As práticas valentinianas incluíam rituais de iniciação e uma compreensão distinta dos sacramentos cristãos, com alguns textos sugerindo diferentes tipos de batismo e eucaristia para os iniciados. A ética valentiniana variava, com alguns grupos tendendo ao ascetismo como forma de negar a matéria, enquanto outros supostamente adotavam uma postura mais libertina, argumentando que o espiritual estava imune à corrupção material.

O Valentinianismo foi combatido pela patrística, como Irineu de Lyon em sua obra “Contra as Heresias”, que viam suas doutrinas como desvios perigosos do cristianismo ortodoxo. Apesar da controvérsia e da eventual supressão, o Valentinianismo exerceu influência significativa no desenvolvimento do pensamento cristão primitivo. Seus textos, descobertos em Nag Hammadi, continuam a fornecer informações sobre a diversidade das crenças religiosas nos primeiros séculos da era cristã.

Versões etíopes

As versões etíopes da Bíblia, escritas em ge’ez, antiga língua litúrgica da Etiópia, e no moderno amárico, são adotadas pela Igreja Ortodoxa Tewahedo Etíope.

Lendas a associam suas origens na conversão do eunuco etíope em Atos 8:26-27, mas o Novo Testamento ainda não existia na época. Ademais, o termo “etíope” era usado genericamente pelos antigos para se referir a qualquer região ao sul do Egito.

As versões etíopes emergiram no Reino de Axum, que controlava rotas comerciais entre o Império Romano e a Índia no século III. A corte real falava grego, mas a população letrada usava o ge’ez, língua semítica aparentada ao árabe meridional. Com a conversão ao cristianismo em meados do século IV, os axumitas adotaram o termo “etíopes” (Αἰθίοπες), possivelmente por uma leitura errônea de Atos, onde a versão etíope menciona a “terra dos ge’ez” (ግዕዝ) em vez de Gaza (Γάζα).

O ge’ez, escrito em um alfabeto próprio que evoluiu de um sistema consonantal para um vocalizado, tornou-se a língua da Bíblia etíope. Textos informais em ge’ez, como grafites, usavam esse alfabeto. Ge’ez significa “língua”, enquanto “etíope” se refere à escrita. O ge’ez deixou de ser usado no dia a dia por volta do século X, mas permaneceu como língua litúrgica. A partir do século XIII, obras religiosas em árabe copta foram traduzidas para o ge’ez, o que levou a uma florescente tradição literária.

O rei Ezana converteu seu reino Axum ao cristianismo por volta de 340 d.C., evidenciado por símbolos da cruz em moedas e inscrições em grego invocando a Trindade. Ezana enviou Frumêncio, um grego de Tiro, para ser consagrado bispo por Atanásio de Alexandria. A versão ge’ez da inscrição, no entanto, omite as referências cristãs.

Em 356, o imperador bizantino Constâncio II substituiu Atanásio pelo ariano Jorge da Capadócia, solicitando a Ezana que Frumêncio fosse reeducado. Ezana ignorou o pedido e isolou Axum das controvérsias cristológicas do período. Esse isolamento pode ter motivado a tradução da Bíblia para o ge’ez. No final da década de 380, João Crisóstomo afirmou que o Evangelho de João havia sido traduzido.

A tradução, provavelmente iniciada com os Evangelhos e Salmos, foi prejudicada pelo conhecimento limitado do grego. Por exemplo, Atos 27 e 28 possuem terminologia náutica e foram omitidos. Os tradutores parafraseavam, adivinhavam ou omitiam trechos que não entendiam, resultando em leituras peculiares. A divisão incorreta de palavras e frases, o pouco domínio das partículas e dos casos gregos também geraram problemas.

A versão etíope, traduzida sem a influência de missionários ou do patriarcado alexandrino, incluiu todos os livros canônicos, além de obras como 1 Enoque, Jubileus, Ascensão de Isaías e Paralipômenos de Jeremias, e neotestamentárias como Pastor de Hermas e Atos de Marcos.

O debate sobre a conclusão da tradução se concentra na tradição dos “Nove Santos”, monges que cristianizaram áreas rurais de Axum nos séculos V e VI. Alguns estudiosos os consideravam tradutores, influenciados pela Peshitta siríaca. No entanto, essa narrativa não encontra respaldo nas fontes etíopes.

A hipótese mais aceita é que a Bíblia completa já existia em ge’ez no final do século V. Inscrições de 525 d.C. do rei Kaleb contêm citações de Êxodo, Salmos, Isaías e Mateus. Além disso, livros como 1 Enoque e Ascensão de Isaías, condenados por Atanásio em 367, só poderiam ter sido traduzidos durante o período de isolamento.

O cânone etíope, com 81 livros, é peculiar. A falta de clareza sobre quais livros o compõem e a flexibilidade do conceito de cânone na Igreja Ortodoxa Etíope dificultam sua definição.

A escassez de manuscritos medievais, devido à destruição causada por Ahmad Gragn entre 1531 e 1543, e a pouca qualidade das edições impressas ocidentais, dificultam o estudo da versão etíope. Edições críticas publicadas nos últimos cinquenta anos revelaram três tipos de textos: A-textos (descendentes da versão axumita), Ab-textos (A-textos corrigidos com base em manuscritos árabe-coptas) e B-textos (revisões do século XV/XVI influenciadas por modelos coptas).

Os Evangelhos de Garima, datados do século VI, são os manuscritos mais antigos e fornecem acesso ao texto-base axumita. A comparação com manuscritos medievais confirma que a tradução dos Evangelhos foi realizada de uma só vez.

Os A-textos apresentam características como: adição de sujeitos e objetos explícitos, intensificadores como “tudo” e “muito”, harmonização entre textos sinóticos e narrativas com contextos semelhantes, e dupla ou múltipla tradução do mesmo termo grego.

Os A-textos dos Evangelhos são considerados como um primeiro rascunho, com linguagem livre e simplificada, enquanto os outros textos do Novo Testamento são mais literais. Grande parte do Antigo Testamento é extremamente literal em relação à Septuaginta.

A versão etíope foi traduzida exclusivamente do grego, mas raramente é possível reconstruir o texto grego original com base nos A-textos. Os B-textos podem ter origem em versões árabes literais do siríaco, como no caso de Atos.

A comparação dos A-textos com variantes gregas do Novo Testamento revela afinidade com o texto alexandrino, especialmente em Atos, Apocalipse, cartas paulinas e católicas. Nos Evangelhos, a situação é mais variada, com maior proximidade ao texto bizantino em Mateus e João, e ao Codex Washingtonensis nos primeiros capítulos de Marcos.

O A-texto sempre apresenta o final longo de Marcos, Mateus 16:2-3 e 24:36 (incluindo “nem o Filho”), e omite a Pericope Adulterae em João 7:53-8:11. Uma leitura inesperada em João 5:3-4 inclui os versículos 3b e 4a, omitindo o restante do versículo 4.

Em Mateus 27:49, o A-texto apoia a leitura alexandrina, com Garima 2 apresentando a ordem “água e sangue” e Garima 1 e o restante da tradição A “sangue e água”. Essa leitura, ausente em versões ocidentais, era comum no Egito no século IV.

Vale do Escol

O Vale do Escol, cujo nome em hebraico significa “cacho de uvas”, é um vale fértil situado a sudoeste de Jerusalém, próximo a Hebrom (Nm 13:23-24). Teria uma abundância de frutas, como uvas, romãs e figos. Aparece quando Moisés enviou espias de Cades-Barnéia para reconhecer a terra de Canaã (Nm 13:17).

Ao retornarem, os espias trouxeram consigo frutos da região, incluindo um cacho de uvas tão grande que precisou ser carregado por dois homens em uma vara (Nm 13:23).

Três vias

A teologia cristã desenvolveu diferentes abordagens para descrever a natureza de Deus, reconhecendo a transcendência divina e as limitações da linguagem humana. Três vias clássicas se destacam: a via eminentiae, a via negativa e a via causalitatis.

A via eminentiae (via da eminência) atribui a Deus qualidades em grau superlativo, baseando-se na perfeição divina. Deus é descrito como onisciente (Sl 139:1-4), onipotente (Jr 32:17) e sumamente bom (Sl 100:5). Essa via enfatiza os atributos divinos de forma positiva, afirmando a grandeza e majestade de Deus.

A via negativa (via da negação) busca definir Deus pelo que Ele não é, negando limitações e imperfeições humanas. Deus é descrito como incorruptível (1 Tm 1:17), imutável (Ml 3:6) e infinito (1 Rs 8:27). Essa via reconhece a incapacidade humana de compreender plenamente a Deus, ressaltando sua alteridade e mistério.

A via causalitatis (via da causalidade) relaciona os efeitos observados no mundo à sua causa primeira, Deus. A criação (Gn 1:1), a providência divina (Mt 6:26) e a redenção (Ef 1:7) são vistas como manifestações do poder e do amor de Deus. Essa via busca compreender Deus através de suas ações no mundo.

Embora distintas, essas três vias se complementam, oferecendo diferentes perspectivas sobre a natureza de Deus. A via eminentiae celebra a glória divina, a via negativa preserva o mistério transcendente, e a via causalitatis reconhece a ação de Deus na história.

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