Apoftegma

O termo apoftegma (do grego apophthegma, que significa “algo dito”) refere-se a uma expressão breve, memorável e frequentemente atribuída a uma figura respeitada ou a um mestre. São narrativas concisas que encapsulam um ensinamento ou ilustram um ponto específico, sendo descritas como “histórias de sabedoria” em formato compacto.

Os apoftegmas apresentam características marcantes que incluem a memorabilidade e uma conclusão impactante. Sua estrutura frequentemente segue três partes: situação, questão e resposta. A situação estabelece o contexto e introduz os personagens envolvidos; a questão cria tensão ou um desafio; a resposta, muitas vezes espirituosa ou perspicaz, fornece a resolução ou o ensinamento pretendido.

A função dos apoftegmas inclui esclarecer questões controversas, justificar comportamentos inesperados e transmitir ensinamentos de maneira sucinta. Um exemplo bíblico clássico está em Marcos 2:15-17, onde Jesus compartilha uma refeição com publicanos e pecadores, gerando questionamentos. Os fariseus indagam por que Ele se associa a essas pessoas, e Jesus responde: “Os sãos não precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores.” Este apoftegma justifica o comportamento de Jesus e esclarece sua missão.

Kening

O kening é uma figura de linguagem, uma variação das metáforas, que consiste em uma frase com múltiplos substantivos para referir-se a algo notório.

Embora seja típico das literaturas germânicas, este recurso perifrástico aparece também na Bíblia. Ocorre em passagens como Gênesis 49:11, em que “sangue de uvas” é usado como termo para “vinho”. E em Jó 15:14, “nascido de mulher” refere-se a “homem”, bem como “qualquer um que mije contra a parede” . (1 Sm 25:22; 1 Re 16:11).

Assíndeto

Assíndeto ou asyndeton, grego para “desconectado, solto”, é uma figura retórica caracterizada pela ausência de conjunção coordenativa. A maioria das orações gregas são ligadas por uma partícula de conexão. Assim, quando aparece um assíndeto, indica um efeito retórico (como Atos 20:17-35) ou um semitismo (como em João 5:3).

Quiasmo

Quiasmo, do grego, “cruz” ou “x”, um padrão literário no qual o autor introduz palavras ou conceitos em uma ordem particular e depois repete esses termos ou outros semelhantes em ordem inversa ou reversa.

É chamado também de epanodos, paralelismo introvertido, introversão estendida, concentrismo, forma chi, palístrofe, construção em envelope, forma delta e recursão. Pode ser uma figura de linguagem ou algo maior, como a estrutura de um livro todo.

O quiasmo é uma forma complexa de paralelismo. Diferente do paralelismo comum, os dois pares de elementos correspondentes dispostos não em paralelo (a-b-a-b), mas em ordem inversa ou concêntrica (a-b-b-a). Os elementos podem ser fonéticos, lexicais, rítmicos ou temáticos.

Um exemplo em Marcos 2:27:
“O sábado foi feito (A)
para a humanidade (B),
e não a humanidade (B’)
para o sábado (A’).”

E um exemplo dentro de um livro:

A. Jonas afasta de Deus (Jn 1:1-3)
B. Desastre de Jonas (Jn 1:4-16)
C. Salmo de ação de graças (Jn 2:1-11)
B’. Nínive escapa do desastre (Jn 3:1-10)
A’. Deus aproxima de Jonas (Jn 4:1-11)

E dentro de uma passagem, no caso o desastre de Jonas (Jn 1:4-16):

A. Risco de naufrágio. (1:4)
B. Confissão de responsabilidade (1:8)
C. Palavras de Jonas (1:9)
D. Palavras do viajantes (1:10a)
E. Conclusão da causa do risco (1:10b)
D’. Palavras dos viajantes (1:11)
C’. Palavras de Jonas (1:12)
B’. Responsabilidade dos viajantes (1:14)
A’. Fim dos riscos (1:15).

A estrutra quiástica permite reconhecer lacunas e problemas de interpretação ou transmissão textual.

Alguns estudiosos da literatura e antropólogos argumentam que o quiasmo é um parâmetro amplamente presente em narrativas orais.

BIBLIOGRAFIA

Breck, John. The Shape of Biblical Language: Chiasmus in the Scriptures and Beyond. Crestwood, NY: St. Vladimir’s Seminary Press, 1994.

Yehuda T. Radday, “A Chiasmus in Hebrew Biblical Narrative,” in J. H. Welch, ed. Chiasmus in Antiquity: Structures, Analyses, Exegesis. Provo: Neal A. Maxwell Institute for Religious Scholarship, 1998.

Metonímia

A metonímia é uma figura de linguagem na qual uma palavra ou frase é substituída por outra palavra ou frase com a qual está intimamente associada, geralmente para transmitir uma ideia complexa ou evocar uma emoção específica.

Um exemplo de metonímia na Bíblia pode ser encontrado em João 6:27: “Não trabalhem pela comida que estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna.” Neste versículo, a palavra “comida” é uma metonímia para todas as coisas que sustentam a vida humana, incluindo nutrição física e sustento espiritual.

Outro exemplo de metonímia em Lucas 16:29 diz: “Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.” Neste versículo, “Moisés e os Profetas” são usados ​​como uma metonímia para todo o corpo das escrituras hebraicas, hoje chamadas de Tanakh (Torah, ou seja Lei de Moisés, Neviim ou os Profetas, com a coleção dos Khetuvim, Escritos, ausentes).

A metonímia é uma ferramenta literária poderosa que pode ser usada para evocar emoções fortes e transmitir ideias complexas de forma concisa e memorável.