Epicurismo

O epicurismo foi a doutrina filosófica elaborada por Epicuro (341-270 a.C.) que prezava por maximizar a felicidade e minizar a dor como grande Bem a ser buscado.

Epicuro acreditava que o prazer é a soma total da felicidade, mas o prazer não se limitava a uma indulgência sensual, como acusavam seus oponentes, mas como uma tranquilidade.

Os epicuristas alegavam que os deuses não exerciam supervisão providencial nos assuntos humanos. As pessoas, portanto, não precisam temer os deuses, nem precisam temer a morte, pois ela simplesmente marca o fim da existência humana.

Os epicuristas buscavam segurança em comunidades onde, na companhia de amigos, incluindo mulheres e escravos, procuravam “viver despercebidos” retirando-se da sociedade, que desprezavam.

Por não acreditarem nos deuses populares, eram chamados de ateus ou crentes em deuses ociosos ou adormecidos. Eram tidos como antissociais, misantrópicos e irresponsáveis.

Os epicuristas estavam associados a Gadara, Gaza e Cesareia. Há elementos epicuristas em textos bíblicos e outros escritos judaicos que datam do século III aC. Entretanto, o epicurismo não foi uma ponte entre a filosofia grega e o cristianismo e o judaísmo rabínico.

A visão pessimista da morte em Eclesiastes e o conselho de comer, beber e encontrar prazer nesta vida refletem a influência epicurista, apesar da convicção expressa de que é Deus quem torna o prazer possível e similaridade com o corpus de textos bíblico tidos como “pessimistas” como Jó.

A única referência explícita aos epicuristas na Bíblia é Atos 17.18, onde Paulo é descrito como tendo encontrado epicuristas e estóicos em Atenas. Essas eram as duas principais seitas filosóficas da época e apresentavam visões radicalmente opostas.

Paulo também usa linguagem derivada da polêmica anti-epicurista em 1 Coríntios 15.32-34, onde esclarece a esperança da ressurreição e se opõe à libertinagem. O ataque em 2 Pedro aos mestres que rejeitam a providência divina reflete semelhante polêmica, particularmente na negação de que o Senhor é lento e que sua destruição por Deus está adormecida. Apesar desses pontos de vista, a ênfase dos cristãos no amor entre os membros de suas comunidades, sua oposição à religião popular e sua reputação de comportamento anti-social fizeram com que eles às vezes fossem agrupados com os epicuristas.

Na Mishná, um dos documentos do judaísmo rabínico, há uma declaração notável no tratado Sinédrio que define a religião judaica em relação ao epicurismo:

“Todo o Israel tem uma parte no mundo vindouro, como disse Isaías: E todo o teu povo que é justo merecerá a eternidade e herdará a terra. E este é o povo que não merece o mundo vindouro: Os que dizem que não há ressurreição dos mortos, e aqueles que negam a Torá é dos céus, e epicuristas (‘Apikorsim’).”

Os judeus modernos usam “apikoros” como um termo genérico para um incrédulo, mas os autores do Talmud estavam claramente destacando os seguidores de Epicuro.

Pessoa

Pessoa (do latim persona) traduz os termos gregos Hipóstase (ὑπόστασις), Prosopon (πρόσωπον; plural: πρόσωπα), os quais no sentido bíblico não tem significado ordinário de um indivíduo dotado de um corpo, mas significa um modo de existência distinta (Hb 1:3).

É o entendimento do cristianismo trintário que Deus nas Escrituras está manifesto como três pessoas distintas e unidas, com perfeita comunhão em suas ações (Mt 3:16-17; Jo14:26; At 7:55-56).

O significado de Pessoa altera-se tanto em diferentes contextos de uso quanto no tempo. Hipóstase é o estado ou substância subjacente (Ousía) e é a realidade fundamental que sustenta tudo. Prosopon indica a aparência, aspecto exterior visível, de um ser humano, animal ou coisa. Por esse motivo também é traduzido como rosto ou face externa do que seria o ser, uma pessoa ou coisa. Porém, prosopon é distinto de personalidade como caráter ou psique, o cerne da apresentação do ser.

Pessoa denota a automanifestação de algo que pode ser estendido por meio de outras coisas. Por exemplo, a hipóstese de um escritor expressa sua prosopon mediante as palavras.

Ousía

O termo grego οὐσία, ousía, é um substantivo abstrato associado ao verbo ser (εἰμί). Apesar de referir-se a diversos conceitos, é tradicionalmente traduzido para o latim como substantia ou essentia. Na filosofia, ousía ou substância geralmente denota o que é constante em contraste com a variação de suas condições e atributos, os quais são chamados de acidentes em relação à substância (ousía).

Ousía aparece três vezes na Bíblia e na Apócrifa, em Tobias 14:13 e em Lucas 15: 12-13 no sentido comum de “posse” ou “propriedade”.

O sentido de posses ou propriedades para ousía era empregado no grego cotidiano para falar das riquezas de uma pessoa. Mais tarde, ousía ganhou um significado técnico filosófico com Platão (Eutífron 1a4 – b1). A distinção Substância (Ousia) e Acidente (συμβεβηκός, symbekēkós) foi percebida por Platão (por exemplo, República 534b), mas seria Aristóteles quem explicou as diferenças conceituais (Metafísica VII 3, 1028b 36-37; VII 11, 1037a 29-30; VII 7, 1032b 14).

Nos fragmentos atribuídos à Maria Hebreia (século I a III d.C.), ousía aparece como o componente constante de um elemento que, conforme a variação de densidade e quantidade, transmutava-se em outro elemento.

Como em latim substantia traduziu inicialmente a palavra ὑπόστασις (hypóstasis), surgiu uma confusão conceitual e terminológica. Hypóstasis era usada filosoficamente apenas no grego pós-clássico, denotando existência duradoura ou simplesmente um modo de ser. Esse uso se assemelhava ao uso de ousía, mas também hypóstasis denotava um modo de existência próprio ou subjacente a algo.

A adoção do termo ousía ou substantia para dizer que Deus é um só ser (ou um em sua essência) causou várias controvérsias no século IV d.C., principalmente a questão do arianismo.

“O termo ‘substância’ deve ser entendido aqui, não num sentido metafísico, e sim num sentido legal. Dentro deste contexto, ‘substância’ é a propriedade e o direito que uma pessoa tem de fazer uso dessa propriedade. No caso da monarquia, a substância do Imperador é o Império, e é isto que torna possível para o Imperador partilhar sua substância com seu filho – como de fato era comum no Império Romano. ‘Pessoa’, por outro lado, deve ser entendida como ‘pessoa jurídica’ e não no sentido comum. ” Gonzalez, 2004, pp. 174-175.

BIBLIOGRAFIA

González, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão. Cultura Cristã, 2004.

Edith Stein

Edith Stein (1891-1942) foi uma teóloga católica e mártir alemã.

Nascida em uma família judia ortodoxa, a caçula de onze crianças aderiu ao ateísmo na adolescência. Durante a Primeira Guerra Mundial, Stein foi voluntária da Cruz Vermelha. Estudou e doutorou-se em filosofia (a primeira mulher a receber tal doutorado na Alemanha), sob influência de Edmund Husserl, interessando-se pela fenomenologia.

Em 1922 converteu-se a Cristo ao ler Teresa d’Ávila, sendo batizada como católica. Banida da universidade pelos nazistas, entrou para a ordem das Carmelitas Descalças em Colônia. Foi presa nos Países-Baixos pela Gestapo e deportada para o campo de extermínio em Birkenau.

Desenvolveu uma teologia sobre as mulheres, defendendo o direito feminino ao acesso à educação e sua vocação profissional. Sua teologia parte da unidade do ser humano e na diferenciação dos gêneros. À mulher deveria ser garantido seu desenvolvimento humano, feminino e individual. Tomou como modelo a pessoa de Maria.

Stein foi pioneira de uma teologia que considera o judaísmo de Jesus Cristo e da Igreja Primitiva. Denunciou e rejeitou o antissemitismo. Sua teologia da cruz visava a união com Cristo.

Como filósofa, estudou a empatia como um meio de compreender o Outro através de si. Desse modo, a apreensão da realidade ocorre mediante a empatia.

Pedro Abelardo

Pedro Aberlardo (em francês Pierre Abélard; Latim: Petrus Abaelardus ou Abailardus) (c. 1079 – 1142) foi um filósofo escolástico francês medieval.

Nascido na Bretanha, tornou-se um professor popular em Paris, marcando a transição da teologia como uma atividade monástica para um contexto universitário.

Tratou os autores da antiguidade clássica com respeito em tempos que eram desconsiderados por serem “pagãos”.

Promoveu o conceitualismo como solução para o problema dos universais. Em sua ética, passou a considerar a intenção ao invés dos resultados ou dos atos em si.

Ficou conhecido por seu caso de amor trágico com sua brilhante aluna e eventual esposa, Heloísa (Héloïse d’Argenteuil). Defendia os direitos das mulheres, inclusive seu acesso à educação. Foi castrado por ordem do tio abusivo de Heloísa. Depois disso, o casal passou a viver separadamente em um vida monástica.

Dentre suas doutrinas estão o conceito de limbo e a teoria da influência moral da expiação.

Sua obra mais famosa é “Sic et Non”, que apresenta opiniões conflitantes sobre questões teológicas e filosóficas.

SAIBA MAIS

Abelardo, Pedro. Ética de Pedro Abelardo. Traduzido, editado e anotado por Marcio Chaves-Tannús. Edufu, 2015.

Numênio

Numênio foi um filósofo grego nativo de Apamea, na Síria, e possivelmente lecionou em Roma durante a última metade do século II d.C. Talvez seja o único filósofo grego que tenha estudado explicitamente Moisés, os profetas e a vida de Jesus.

Familiarizado com as ideias dos gregos, egípcios, brâmanes e magos; Numênio tratou as Escrituras hebraicas e os ensinos cristãos com respeito. Ele se refere a Moisés simplesmente como “o profeta”, tal como Homero é “o poeta”. Descreve Platão como um Moisés grego.

Apesar do caráter eclético de Numênio, seus escritos o situam no médio-platonismo e no neo-pitagorismo. Seu impacto na filosofia foi considerável no platonismo posterior, mais notavelmente em Plotino (III d.C.) e Porfírio (III e IV d. C.). Sua obra só resta em fragmentos citados por outros filósofos e autores patrísticos.

A familiariedade de Numênio com as escrituras hebraicas e cristãs atesta a circulação e disponibilidade delas já nos meados do século II d.C. fora do âmbito cristão e judeu.

Epicurismo

Uma escola filosófica iniciada por Epicuro (341–270 aC). Ensinava que o objetivo da vida deveria ser maximização do prazer e da minimização da dor. Assim, seria possível atingir a ataraxia, “tranquilidade”.

Os epicuristas acreditavam que a tranquilidade era alcançada por meio do aprendizado e da prática daquilo que constitui uma vida virtuosa: ter amigos íntimos, evitar pessoas negativas e não ter medo dos deuses distantes, do julgamento ou da vida após a morte.

No período helenista o epicurismo teve suas inserção no judaísmo. Talvez fossem os saduceus a versão judaica do epicurismo.

No Novo Testamento, a única mençã9 explícita aos epicuristas acontece em At 17, quando Paulo debateu com alguns deles em Atenas.

Filosofia

A filosofia, em grego “o amor à sabedoria”, assume uma diversidade muito ampla de significados e conotações.

No mundo greco-romano, “a filosofia foi dividida em três ciências: física (lidando com o cosmológico e o mundo natural), ética e lógica (incluindo um pouco a dialética e outras atividades de fala).

Embora como disciplina, pensadores mesopotâmicos, egípcios, indianos e chineses tenham desenvolvido uma forma institucionalizada de busca da Sabedoria, os gregos a sistematizaram e transmitiram à civilização ocidental.

A literatura sapiencial no Antigo Testamento, a filosofia de Fílon de Alexandria, o corpus joanino e paulino no Novo Testamento. No entanto, em Cl 2:9, Paulo se refere a algo tão prejudicial ao cristianismo como “filosofia”. Isso está alinhado com a crítica que Paulo faz à sabedoria humana quando comparada com a revelação divina (cf. 1 Co 1:18-25; 2 Co 2:6-16; At 17:16-34).

Durante o período patrístico, a recepção cristã da filosofia era ambígua (Justino Mártir e Clemente de Alexandria viam o pensamento cristão como uma filosofia superior, Tertuliano o desprezava).

Durante a idade média, as igrejas foram responsáveis por preservar a filosofia greco-romana, que se confundiu com a teologia.

O Renascimento e a Reforma marcaram uma separação entre filosofia e teologia.

Atualmente, muitos filósofos discutem as implicações da doutrina cristã com um raciocínio filosófico.