Alfabeto grego

O alfabeto grego, um sistema de escrita composto por 24 letras. Cada letra possui um nome e um valor numérico, o que confere ao sistema uma dimensão simbólica e mística. As letras são usadas não apenas para registrar a língua grega, mas também em práticas matemáticas, científicas e filosóficas. Para a Bíblia, sua importância aparece em seu uso na Septuaginta e no Novo Testamento.

A forma como conhecemos o alfabeto grego hoje é resultado de um longo processo de evolução. Esse alfabeto deriva-se do alfabeto fenício, que por sua vez influenciou outros sistemas de escrita, como o alfabeto latino.

Evidências como a similaridade entre os primeiros sinais gregos e monumentos semíticos como a inscrição de Ahiram comprovam essa origem. Os nomes das letras gregas, sem significado em grego, mas com correspondentes semíticos claros, reforçam essa conexão. Inicialmente, a escrita grega seguia o padrão semítico, da direita para a esquerda, evoluindo para o “boustrophedon” (alternando o sentido das linhas) e, finalmente, adotando a escrita da esquerda para a direita.

A principal inovação grega foi a incorporação de vogais, ausentes no alfabeto semítico. Letras semíticas que representavam sons guturais inexistentes em grego, como aleph, he e ayin, foram adaptadas para as vogais “a”, “e” e “o”, enquanto um novo sinal foi criado para “u”. Inicialmente, o alfabeto grego possuía 23 letras, uma a mais que o semítico, com a adição de um sinal no final. Com o tempo, novas letras foram incorporadas, como phi, chi e psi, chegando ao alfabeto de 24 letras conhecido hoje.

Manuscritos gregos utilizavam duas formas principais: uncial (letras maiúsculas), predominante em textos literários até o século XII d.C., e cursiva, inicialmente usada em correspondências e posteriormente adaptada para textos literários (minúscula) a partir do século IX d.C. A forma impressa do grego deriva dessa última.

Tabela do Alfabeto Grego

Letra GregaNome em GregoTransliteraçãoLetra aproximada em português Valor Numérico
ΑAlfaAA1
ΒBetaBB2
ΓGamaGG3
ΔDeltaDD4
ΕÉpsilonEE5
ΖZetaZZ7
ΗEtaHE8
ΘTetaThT9
ΙIotaII10
ΚKappaKC20
ΛLambdaLL30
ΜMiMM40
ΝNiNN50
ΞXiXX60
ΟÓmicronOO70
ΠPiPP80
ΡRoRR100
ΣSigmaSS200
ΤTauTT300
ΥÍpsilonYU400
ΦFiPhF500
ΧQuiChC600
ΨPsiPsPS700
ΩÓmegaOO800

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Alfa e Ômega

Regra de Granville Sharp

O reformador político, abolicionista e helenista inglês Granville Sharp (1735–1813) em 1798.

Notou o um fenômeno gramatical no grego similar à hendíade. Quando dois substantivos comuns singulares descrevem uma pessoa, sendo unidos por uma conjunção aditiva, possuíndo um artigo definido antes do primeiro substantivo, mas não o segundo, então ambos os substantivos se referem para à mesma pessoa.

A relevância dogmática dessa relação sintática foi encontrar uma alta cristologia em Tito 2:13 e 2 Pedro 1:1.

Léxico de Hesíquio

O Léxico de Hesíquio de Alexandria (c.380-c450 d.C.) foi um gramático e estudioso greco-egípcio, filólogo e lexicógrafo ativo no século IV dC. Não deve ser confundido com seu homônimo, o exegeta Hesíquio de Alexandria.

Hesíquio escreveu um dicionário enciclopédico da língua grega e seus dialetos. Compilou o maior mais de 51.000 verbetes. Listou palavras, formas e frases peculiares, com uma explicação de seu significado. Às vezes referencia o autor ou a região da Grécia que empregam um termo.

Em sua introdução, Hesíquio credita que sua enciclopédia teve influência de outras. Uma foi a de Diogenianos, que por sua vez baseou-se em uma obra anterior de Pânfilo de Alexandria. Outras foram do gramático Aristarco de Samotrácia, Ápion, Amerias e de outros.

As notas sobre epítetos e frases também elucidam sobre a sociedade antiga e a vida social e religiosa.

Sua obra sobreviveu em um único manuscrito praticamente intacto do século XV assinado Marciano graecus 622 preservado na biblioteca de San Marco, Veneza (Marc. Gr. 622). Foi impressa pela primeira vez por Marcus Musurus (edição Aldina) em Veneza em 1514, reeditado em 1520 e 1521. Desde então, somente no século XIX foi reeditada por Moriz Wilhelm Constantin Schmidt (1858–1868) em 5 volumes. A Real Academia Dinamarquesa de Belas Artes de Copenhague subsidiou uma edição moderna. Sob a direção de Kurt Latte, teve dois volumes publicados, o primeiro em 1953, e postumamente em 1987. Posteriormente, o filólogo britânico Allan Peter Hansen completou um terceiro volume em 2005.

Teologúmena

Teologúmena, teolegômena, teolegúmena ou teologômeno é um termo do grego antigo, θεολογούμενον (theologoumenon) “o que é dito sobre Deus” e seu plural “theologoumena” denota “algo que é teologizado” ou “o que se diz de Deus ou das coisas divinas”.

Nos sentidos contemporâneos de teologia, teologúmena denota doutrinas inferidas, tanto logicamente ou a partir das Escrituras, mas não direto e explicitamente presente na Bíblia. São exemplos de teologúmena o Credo Apostólico, a doutrina da Trindade, a doutrina da Queda, as teorias de expiação e reconciliação, as teorias que harmonizam esquemas escatológicos, dentre outras.

Apesar de seu uso escasso nos escritos patrísticos, era entendido como um declaração teológica que é de opinião individual e não de doutrina. (cf. Adiáfora). Na ortodoxia grega o termo ganhou sentido de opinião que, certa ou errada, pode ser proveitável para avançar o entendimento.

No final do século XIX o conceito de teologúmena ganhou novos contornos com Adolf von Harnack (1851-1930). Esse historiador da teologia traçou a ascensão do dogma, o qual ele entendia como o sistema doutrinário autoritário na Igreja institucional e seu desenvolvimento desde o século IV até a Reforma Protestante. O historiador alemão notou que desde as origens do cristianismo a filosofia grega misturou e resultou em um sistema com muitas crenças e práticas que não eram autenticamente cristãs. Para ele, o protestantismo deveria ser entendido como uma rejeição desse dogma e um retorno à fé pura da Igreja. Adicionalmente, a doutrina deveria ter um caráter de teologúmena, não dogmática, sendo provisória e expressão limitada pelas circunstâncias de sua formulação.

Na teologia católica a teologúmena são proposições teológicas sem base explícita nas Escrituras ou sem endosso oficial do magistério. Portanto, não a teologúmena não é dogmaticamente vinculante , mas vale a pena considerar porque auxiliam nas doutrinas oriundas da revelação.

Apesar da primazia das Escrituras, no protestantismo há duas tendências. Uma, principalmente em sistemas teológicos confessionais, é atribuir autoridade à teologúmena. Já em abordagens não confessionais, a teologúmena é admitida como o entendimento concordante da Igreja, mas que não se torna critério de comunhão e participação nela.

Enquanto no protestantismo tradicional há distinção entre revelação e teologúmena, em grupos fundamentalistas cristãos várias teologúmena igualam-se à revelação, dogma e ortodoxia. Nesses últimos grupos há a pretensão de uma suposta leitura imediata das Escrituras, sustentando suas doutrinas, normalmente com a técnica de dicta probantia.

Enquanto a Igreja Católica considera alguns dogmas como revelados, a ortodoxia grega rejeita a ideia de que expressões teológicas em si possam ser reveladas, mas que se mantém em um nível de teologúmena. Em comum, ambas tradições consideram a teologúmena como fonte teológica enquanto parte da tradição, sobor e magistério da Igreja.

Similarmente, em ciências bíblicas é o raciocínio conjectural. A midrash, a harmonização entre passagens, as reconstruções históricas, a consideração de textos disputados, as tradições interpretativas são exemplos de teologúmena.

BIBLIOGRAFIA

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Hirsch, Emanuel. “Siebente Gruppe: Neutestamentliche Theologoumena.” In Predigerfibel, Predigerfibel, 1964. United States: De Gruyter, 1964. 

Roberts, Jason P. “Emerging in the image of god to know good and evil.” Zygon 46, no. 2 (2011): 471-81.

Sviridov, Ioan. “Hérésie, Théologoumène Et Opinion Théologique Dans La Tradition Orthodoxe.” Istina 44 (1999): 237.

Wright, David F. “Donatist Theologoumena in Augustine? Baptism, Reviviscence of Sins, and Unworthy Ministers.” In Infant Baptism in Historical Perspective, Infant Baptism in Historical Perspective, 2007. United States: Authentic Media, 2007.