Ousía

O termo grego οὐσία, ousía, é um substantivo abstrato associado ao verbo ser (εἰμί). Apesar de referir-se a diversos conceitos, é tradicionalmente traduzido para o latim como substantia ou essentia. Na filosofia, ousía ou substância geralmente denota o que é constante em contraste com a variação de suas condições e atributos, os quais são chamados de acidentes em relação à substância (ousía).

Ousía aparece três vezes na Bíblia e na Apócrifa, em Tobias 14:13 e em Lucas 15: 12-13 no sentido comum de “posse” ou “propriedade”.

O sentido de posses ou propriedades para ousía era empregado no grego cotidiano para falar das riquezas de uma pessoa. Mais tarde, ousía ganhou um significado técnico filosófico com Platão (Eutífron 1a4 – b1). A distinção Substância (Ousia) e Acidente (συμβεβηκός, symbekēkós) foi percebida por Platão (por exemplo, República 534b), mas seria Aristóteles quem explicou as diferenças conceituais (Metafísica VII 3, 1028b 36-37; VII 11, 1037a 29-30; VII 7, 1032b 14).

Nos fragmentos atribuídos à Maria Hebreia (século I a III d.C.), ousía aparece como o componente constante de um elemento que, conforme a variação de densidade e quantidade, transmutava-se em outro elemento.

Como em latim substantia traduziu inicialmente a palavra ὑπόστασις (hypóstasis), surgiu uma confusão conceitual e terminológica. Hypóstasis era usada filosoficamente apenas no grego pós-clássico, denotando existência duradoura ou simplesmente um modo de ser. Esse uso se assemelhava ao uso de ousía, mas também hypóstasis denotava um modo de existência próprio ou subjacente a algo.

A adoção do termo ousía ou substantia para dizer que Deus é um só ser (ou um em sua essência) causou várias controvérsias no século IV d.C., principalmente a questão do arianismo.

“O termo ‘substância’ deve ser entendido aqui, não num sentido metafísico, e sim num sentido legal. Dentro deste contexto, ‘substância’ é a propriedade e o direito que uma pessoa tem de fazer uso dessa propriedade. No caso da monarquia, a substância do Imperador é o Império, e é isto que torna possível para o Imperador partilhar sua substância com seu filho – como de fato era comum no Império Romano. ‘Pessoa’, por outro lado, deve ser entendida como ‘pessoa jurídica’ e não no sentido comum. ” Gonzalez, 2004, pp. 174-175.

BIBLIOGRAFIA

González, Justo L. Uma História do Pensamento Cristão. Cultura Cristã, 2004.

Línguas bíblicas

A maior parte da Bíblia foi escrita em hebraico, alguns trechos em aramaico e o Novo Testamento em grego koiné. As duas primeiras línguas descendem do Proto-Semítico, um conjunto de dialetos que teria sido falado entre 3750 e 2800 a.C., constituindo um ramo do Proto-Afro-Asiático, outro proto-língua que foi falada entre 16.000 e 10.000 a.C., provavelmente no noroeste da África. Por sua vez, o grego descende do Proto-Indo-europeu, o qual foi falado por pastoralistas que viviam próximo ao Mar Negro entre 4500 e 3500 a.C. Outras línguas indo-europeias com relevância bíblica são o hitita (provavelmente os mesmos heteus bíblicos) e o persa.

Grego

O grego bíblico ou grego koiné é uma forma de língua grega que foi usada na escrita do Novo Testamento, bem como em outros textos cristãos primitivos e a Septuaginta.

Trata-se de uma fase do grego falado no período helenístico, sendo atestado desde o século III.

O vocabulário usado no grego bíblico é semelhante ao usado em outras formas de grego, mas com algumas palavras e frases únicas. Muitas das palavras usadas no Novo Testamento são emprestadas do hebraico e do aramaico.

A sintaxe do grego bíblico possui muitas frases mais longas e complexas. Há um frequente uso de particípios e infinitivos para transmitir várias nuances de significado.

Tempos verbais: Uma das características mais distintivas do grego bíblico é seu complexo sistema de tempos verbais, que inclui os tempos aoristo, imperfeito, futuro e perfeito, bem como vários particípios e infinitivos.

Além da literatura sacra, os escritos do historiador Josefo, do filósofo Filo, a do historiador Políbio, do historiador Diodoro Sículo, do geógrafo Estrabão e do escritor Plutarco atestam o grego koiné. Também vários papiros e inscrições dão informações do uso não literário dessa linguagem.

No século XIX popularizou-se a hipótese aramaica com língua de Jesus. Essa hipótese — de que o aramaico era a língua cotidiana do ambiente do Novo Testamento, havia um efetivo monolinguismo e que o hebraico era já língua morta — hoje é obsoleta, com evidências literárias, históricas e arqueológicas apontando para um ambiente linguístico poliglota. Certamente, Jesus e seus discípulos usavam o koiné intercambiavelmente com o aramaico. Nazaré distava de poucos kilómetros de uma série de cidades helenísticas — Seforis, Caparnaum e Tiberíades. Notavelmente, o koiné do Novo Testamento é cheio de hebraísmos.