Revelação progressiva

Revelação progressiva é um princípio hermenêutico e uma doutrina de que as passagens das Escrituras posteriores contêm uma revelação mais completa de Deus do que as passagens anteriores. Alguns teólogos e religiões aplicam o conceito também para a história.

Relacionada com a doutrina da acomodação, a teoria da revelação progressiva argumenta que Deus não ensinou ou divulgou pleno conhecimento teológico, legal, moral ou científico à humanidade desde o início de sua revelação especial. Em vez disso, Deus gradualmente revelou verdades durante um longo período, de acordo com suas necessidades, e em um ritmo lento o suficiente dentro da medida humana para absorvê-las completamente.

A ideia de revelação progressiva é proposta por um espectro amplo de pensadores religiosos. Alguns representantes reivindicam um veículo de revelação final, quer na pessoa de um profeta, quer definitivamente em uma escritura sagrada em um estágio final.

Uma das mais antigas formulações de revelação progressiva aparece no zoroastrismo. O zoroastrismo postula a crença que de tempo em tempo haverá uma pessoa que comunicará as verdades divinas de forma mais ampla, mais profunda e mais plena que a comunicação anterior.

Nesse sentido, apareceu no maniqueísmo, no islã, na fé baha’i, na ahmadiyy, ano mormonismo, bem como suas variantes no cristianismo, principalmente liberal, reformado e dispensacionalista.

Na teologia liberal, aparece no ensaio “Sobre a interpretação das escrituras” de Benjamin Jowett. Como adepto da revelação progressiva, Jowett considerava que os livros da Bíblia escritos mais tarde estariam mais próximos da revelação final de Deus em Jesus Cristo, conforme revelado nos Evangelhos. As epístolas e outros escritos do Novo Testamento deveriam ser vistos em retrospectiva a figura do Jesus dos evangelhos. Assim, a revelação estaria em andamento e as Escrituras estariam sempre sujeitas a reinterpretação à cada geração.

Entre algumas vertentes reformadas, principalmente na Escola de Princeton e no Novo Calvinismo, a idea de revelação progressiva é vista como aplicação do conhecimento disponível em uma aliança não necessariamente seria a mesma na próxima aliança. Nesses termos, Geerhardus Vos dizia que revelação seria “a atividade divina, não um produto finalizado dessa atividade”. Em termos similares o dispensacionalismo apresenta um desabrochar progressivo da verdade. Contudo, ambas vertentes rejeitam a ideia de revelação continuada extracanônica.

Proponentes da revelação progressiva pode restringí-la às Escrituras ou à história da Igreja, utilizando essa doutrina para justificar doutrinas desenvolvidas teologicamente.

O cristianismo tradicional normalmente tende a rejeitar a teoria de revelação progressiva. Há nas diversas tradições cristãs históricas algumas doutrinas com traços semelhantes, porém distintas da revelação progressiva.

A doutrina da Heilsgeschichte (história de salvação) considera aspectos fenomenológicos ou de acomodação das pessoas que experimentaram os eventos da revelação especial de Deus registrada nas Escrituras.

O luteranismo e o pensamento de Barth enfocam na revelação plena em Jesus Cristo como um único evento, sobre o qual as Escrituras dão testemunhos.

No catolicismo romano há a noção de magistério eclesiástico e revelação privada. Na ortodoxia grega há o conceito de sobor, ou revelação situacional no corpo da Igreja em consenso. Em comum, consideram a revelação completa em Cristo, mas com estágios para se tornara explícitas para a fé cristã.

No pentecostalismo as revelações carismáticas (profecias, sonhos, visões, palavra do conhecimento, interpretação de línguas) são circunscritas às audiências específicas da comunidade ligada a Cristo, enquanto a revelação especial de Jesus Cristo nas Escrituras é recebida de forma sincrônica. Assim, no pentecostalismo clássico rejeita-se tanto a esquemas de revelação progressiva diacrônica, quanto de novidades de revelações particulares contradizentes ao que já é compreendido pelo Espírito Santo como revelado nas Escrituras canônicas. Alguns teólogos acadêmicos pentecostais (como Yong), tende a ver as Escrituras e a Criação como polifônicas. Assim, sendo a obra consumada de Cristo sua plena e final revelação até seu retorno, o que há na Igreja é um desenrolar de entendimento. Vale atentar, todavia, que em alguns meios pentecostais o termo “revelação” possui uma campo de significações amplas, por vezes igualado com “entendimento” ou “carismata”. Há também muitos pentecostais que aderem às ideias dispensacionalistas de revelação progressiva.

VEJA TAMBEM

Acomodação

Dispensacionalismo

Alicancismo

Heilsgeschichte

BIBLIOGRAFIA

Catecismo da Igreja Católica.

Boyce, Mary. A History of Zoroastrianism. Vol. I, Leiden: Brill, 1975.

Hodge, Charles. Systematic Theology, vol. 1, Peabody: Hendrickson, 2003, p. 446.

Jowett, Benjamin “On the Interpretation of Scripture” , Essays and Reviews. Londres: Longman, Green, Longman and Roberts, 1861, pp. 330-433

Kärkkäinen, Veli-Matti. Trinity and revelation: A constructive Christian theology for the pluralistic world; v. 2. Grand Rapids: Eerdmans, 2014.

Niebuhr, H. Richard; Ottati, Douglas F. The Meaning of Revelation. Library of Theological Ethics. Louisville, KY: John Knox Press, 2006.

Packer, J. I. “Evangelical view of progressive revelation”. Honouring the Written Word of God. The Collected Shorter Writings of J.i. Packer, V.3. Carlisle: Paternoster, 1999.

Sproul, R.C. “Progressive Revelation”, Ligonier, 2016. https://www.ligonier.org/learn/devotionals/progressive-revelation

Vos, Geerhardus. Biblical Theology: Old and New Testament. Grand Rapids: Eedmans, 1948, p.5.

Wright, George Ernest. “Progressive Revelation.” The Christian Scholar 39, no. 1 (1956): 61–65.

Falácia do dicionário

A falácia do dicionário ou apelo à definição é um erro exegético que pressupõe que um dicionário liste todos significados hoje conhecidos ou todos os sentidos possíveis de uma palavra utilizada em um texto.

Um dicionário ou outro instrumento lexical é o ponto de partida para inferir o sentido no contexto pragmático, mas não a tira-teima.

Uma palavra no contexto do dicionário terá um sentido diferente daquele do usado em um texto. Uma das razões disso é que a definição em um dicionário também será sempre embutida no contexto do lexicógrafo e limitada por seu horizonte interpretativo.

O Mito do assim chamado “point meaning” é uma variante da falácia do dicionário na qual se supõe que mesmo que haja uma variedade de significados de uma palavra, haveria sempre um único sentido “básico”. O hebraísta e professor de tradução bíblica Gerhard Tauberschmidt aponta que essa falácia afeta muitas traduções feitas por especialistas.

Muitos estudiosos (e, portanto, seus alunos) ainda adotam uma abordagem na qual as palavras hebraicas ou gregas são tratadas como tendo significados fixos, e, portanto, entender textos é essencialmente um processo de somar um significado de dicionário adequado de todas as palavras de suas frases.
Ainda é novidade para muitos que a unidade semântica fundamental não é a “palavra”, mas a sentença, e que as “palavras” (entradas lexicais) adquirem um significado específico quando desdobradas em sentenças.

Larry Hurtado

Um modo de contornar essa falácia é examinar os usos cognatos da palavra em outros contextos, línguas próximas, mesmo gênero textual, outras partes das Escrituras canônicas bem como em documentos contemporâneos ao texto em estudo. Por vezes, a etimologia (mas não necessariamente) auxilia, bem como o contexto histórico e cultural da produção do texto. Aliada a essas informações, as análises semântica e pragmática elucidam o termo em contexto.

BIBLIOGRAFIA

Barr, James. The Semantics of Biblical Language. Wipf and Stock , 2004 [1961].

Tauberschmidt, Gerhard. “Polysemy and Homonymy in Biblical Hebrew Journal of Translation”, v 14, n 1 (2018) 29.

https://larryhurtado.wordpress.com/2011/10/18/50th-anniversary-barrs-semantics-of-biblical-language/

Leitura Mântica

A leitura mântica é uma prática de leitura que consiste em abrir aleatoriamente a Bíblia para encontrar inspiração, resposta ou conforto em um versículo específico. Esta prática popular, conhecida também como sortes biblicae, sustenta uma abordagem sincrônica da leitura bíblica, em que o contexto histórico do texto é considerado irrelevante, e busca uma recepção imediata, sem a necessidade de replicar interpretações ou aplicações teológicas tradicionalmente associadas ao texto.

Características da Leitura Mântica

  • Sincronicidade: O foco está na interpretação imediata, desconsiderando o contexto original.
  • Inspiração instantânea: Busca-se uma mensagem direta e aplicável ao momento presente.
  • Estímulo à memorização: Comumente praticada em momentos de dúvida, a leitura mântica contribui para a retenção e associação de trechos bíblicos a questões pessoais.

Problemas Associados

  • Superstição: A prática pode se aproximar de formas supersticiosas de adivinhação, as quais são condenadas nas Escrituras (cf. Deuteronômio 18).
  • Responsabilidade e Ética: Atribuir ao acaso, ou a Deus, a resolução de problemas pessoais sem reflexão mais profunda pode projetar uma imagem simplificada da relação divina com os fiéis.
  • Descontextualização: Ao ignorar o contexto histórico e teológico, essa prática oferece interpretações que podem ser distorcidas em relação ao sentido plausível do texto.

Raízes e Desenvolvimento

A leitura mântica encontra raízes em tradições pietistas, especialmente entre alemães e escandinavos, onde surgiram as “caixinhas de promessas” — caixas com versículos bíblicos que se consultam aleatoriamente para obter orientação.

Um exemplo icônico dessa prática é narrado nas Confissões 8.12.29 de Agostinho de Hipona, quando, em um momento de desespero, ele interpretou o cântico infantil “toma e lê” como um chamado divino. Ao abrir a Bíblia, leu Romanos 13:13, que desencadeou uma profunda transformação espiritual. Contudo, o próprio Agostinho mais tarde desaconselharia essa prática, considerando-a preferível à adivinhação, mas inferior à busca de entendimento contextual das Escrituras (Epístola 55.20.37).

Às vezes, as pessoas anotava as questões ou as interpretações (hermeneia) de suas causas nas margens dos livros. O Codex Bezae é um exemplar possui várias dessas hermeneia.

A leitura mântica encontrou resistência oficial em diversos períodos. Sínodos do século IV e V a condenaram. Carlos Magno a proibiu em 789 d.C., sob o Duplex Legationis Edictum 2, que proibia consultas mânticas de qualquer tipo: “Concernente inquirições por meio de tabelas e livros, e que ninguém presuma que [possa] lançar sortes no Saltério ou no Evangelho ou em outras coisas, ou realizar adivinhações.”

No século XV, os morávios, um grupo pietista com origens hussitas, empregraram amplamente a leitura mântica. Eles consultavam a Bíblia para decisões importantes, como casamentos, ordenações e missões, acreditando que essa prática ajudava a manter a unidade da comunidade. Ainda hoje, o devocional diário Losungen, utilizado pela comunidade, é composto por versos selecionados aleatoriamente em um evento anual.

Com a ascensão do humanismo e do Iluminismo, a prática foi criticada pela sua falta de racionalidade, embora permaneça presente na religiosidade popular. John Wesley, por exemplo, utilizou a leitura mântica em 1775, durante uma grave doença, interpretando uma passagem de 2 Reis 20:6 como sinal de sua recuperação. Essa prática perdura em grupos pietistas e anabatistas, que utilizam textos aleatórios para pregações, acreditando ser uma forma de evitar influências externas e assegurar a pureza do sermão.

Apesar de suas raízes populares, a leitura mântica contribuiu para o desenvolvimento hermenêutico ao incentivar a distinção entre interpretação e aplicação, bem como a relação entre o texto sagrado e a experiência pessoal. Os puritanos empregavam largamente esse método. Como viam esses textos como profeciam, partiram para o inverso: encontrar sinais na história e na vida pessoal que relacionassem com  textos bíblicos. Assim, As leituras historicistas também são associadas com comunidades interpretativas que aceitam essa prática. Comunidades que adotaram esse método desenvolveram formas de atribuir significado a passagens específicas de forma adaptada ao cotidiano, explorando novas dimensões da interpretação bíblica.

Bibliografia

  • Alvarsson, Jan-Åke. “The Bible, Pentecostalism, and ‘Magic’.” JEPTA 27, no. 2 (2007): 183-196.
  • Bartlett, Laura. “Consulting the Oracle: Sortes Biblicae in Evangelicalism to 1900,” Scottish Bulletin of Evangelical Theology 29.2 (Autumn 2011): 205-218.
  • Chalcraft, David J. Toward a Sociology of Bible Promise Box Use. In Jewish and Christian Scripture as Artifact and Canon, ed. Craig A. Evans and H. Daniel Zacharias. Bloomsbury, 2009.
  • Cryer, Frederick H. Divination in Ancient Israel and its Near Eastern Environment: A Socio-Historical Investigation. A&C Black, 1994.
  • Metzger, B. “Sortes Biblicae,” in The Oxford Companion to the Bible, ed. B. Metzger and M. Coogan. New York: Oxford University Press, 1993, pp. 713-714.
  • Tigay, J. “An Early Technique of Aggadic Exegesis,” in History, Historiography, and Interpretation, ed. H. Tadmor and M. Weinfeld. Jerusalem: Magnes Press, 1983, pp. 175-176.

Acomodação

Acomodação é um princípio, doutrina hermenêutica e teológica de que Deus acomodou a expressão de suas revelações ao entendimento disponível às audiências.

A doutrina da acomodação foi empregada por Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes. Foi desenvolvida por Agostinho e reutilizada por Calvino, Descartes, Spinoza, Balthasar Bekker, Semler e Hamman. Constitui uma doutrina alternativa às doutrinas de autoridade que pressupõe inerrância verbal ou ontológica quanto a detalhes do texto bíblicos.

A acomodação dirime muitos problemas interpretativos, pois permite conciliar os textos das Escrituras com informações tanto internas quanto externas — linguísticas, históricas, científicas e teológicas. No entanto, a conclusão lógica de que Deus estaria comunicando algo explicitamente mas com o real significado implicitamente diverso gerou controvérsias.

Utilizando-se desse conceito da retórica clássica, Agostinho interpretava as analogias do Criador na natureza como eloquência divina.

A partir de Agostinho surgem duas linhagens acerca da acomodação. Uma seria Deus acomodando-se à limitação humana. Outra vertente enfatizava o incapacidade humana dos autores bíblicos de conterem a revelação inefável.

Nessa primeira linha, Hilário de Poitiers defendia que Deus acomodava-se à fraqueza do intelecto humano. Na Reforma, considerando as limitações da linguagem humana, Matthias Flacius chama o uso de Deus da linguagem humana como meio de revelação um exemplo de acomodação divina. Johannes Andreas Quenstedt explicava as diferenças gramaticais e estilísticas entre os livros da Bíblia como uma acomodação do Espírito Santo à linguagem e estilo de cada autor.

Na segunda postura, Descartes, Spinoza, J. Kepler, Galileu, os racionalistas e os neólogos (especialamente Semler) seriam os próprios autores bíblicos que empregaram a acomodação, como recursos estilísticos como o antropomorfismo ou conforme a ciência disponível em seu tempo. Uma formulação do conceito foi proposta por Christophorus Wittichius (1625-1690) “Em questões da natureza, as Escrituras muitas vezes falam de acordo com as opiniões das pessoas comuns e não de acordo com a verdade exata”. O teólogo holandês Balthasar Bekker empregou a teoria da acomodação para explicar passagens consideradas embaraçosas ou supersticiosas enquanto mantinha uma respeitabilidade racionalizada do cristianismo.

Nem todos os teólogos da escolástica protestante aceitavam a teoria da acomodação. O teólogo pietista e teórico da hermenêutica Johann Jakob Rambach (1693- 1735) em seu Hypothesis de Scriptura sacra ad erroneos vulgi conceptus adcomodata (1729) fez contudentes críticas à teoria da acomodação. A ideia de Deus intencionalmente dizer algo, mas comunicar outra coisa para simplificar parecia a Rambach uma condescendência e uma blasfêmia. Embora adepto da doutrina dos “dois livros” — natureza e Escrituras como revelações divinas que não se contradiziam — Rambach defendia uma abordagem fenomenológica. Os registros bíblicos seriam conforme os autores e audiências perceberam a revelação divina. Desse modo, o sentido das Escrituras seria simples, sem haver um significado mais elevado por trás das palavras do texto. A obra de Rambach antecedeu o conceito de perspicuidade bíblica conforme adotado posteriormente pelos fundadores do método histórico-gramatical.

A controvérsia sobre a acomodação atingiu o pico no final do século XVIII. Uma síntese entre as duas teorias de acomodação e a abordagem de Rambach aparece formulado por Johann Georg Hamman (1730 – 1788). Influenciado por Kant, Hamman partiu da teologia da encarnação para interpretar a da Bíblia como uma indulgência da parte de Deus, na “acomodação” como sinônimo de “condescendência”.

Com o advento das revoluções científicas a partir do século XIX, a acomodação ganhou adicional aceitação. Análogo à kenosis, a teologia luterana do século XIX empregou a acomodação para manter a fé diante de críticas. No século XX, o tópico da acomodação aparece no debate sobre a desmitologização de Bultmann. Contemporaneamente, é um princípio empregado em argumentos apologéticos.

BIBLIOGRAFIA

Benin, Stephen D. The Footprints of God: Divine Accommodation in Jewish and Christian Thought. Albany: State University of New York Press, 1993.

Buisman, Jan Wim.”Bekkers Wraak Balthasar Bekker (1634-1698), de accommodatietheorie en Nederlandse protestantse theologen, 1750-1800″ In: De Achttiende Eeuw. Jaargang, 1998.

Lee, Hoon J. The Biblical Accommodation Debate in Germany: Interpretation and the Enlightenment. Springer, 2017.

Tinker, Michael. “John Calvin’s Concept of Divine Accommodation: A Hermeneutical Corrective.” Churchman 118.4 (2004): 325-358.

Sitz im Leben

Sitz im Leben é um termo em exegese bíblica que se refere às circunstâncias em que ocorreu uma frase, um história ou um gênero textual. O termo foi cunhado pelo biblista Hermann Gunkel (1862 – 1932) para seu estudo de crítica formal.

É um termo mais restrito que contexto, discorrendo sobre os meios e condições em que um texto foi criado, preservado e transmitido. Considera ainda o papel social e o momento dos interlocutores, tanto o emitente quanto a audiência.

Um exemplo ilustra o conceito. Uma genealogia foi recitada pelos membros de uma família incrementalmente por gerações. Em dado momento, talvez em uma disputa de terras ou sucessão pode ter sido vertida em escrita. A forma escrita teria sido guardada em arquivos, os quais poderiam ter sido consultados na composição de livros como 1 Crônicas. O Sitz im Leben preocupa-se com a funcionalidade original de um texto antes de sua escrituralização. No caso, o foco estaria na transmissão oral da genealogia, tentando desvendar como era composta, repassada e utilizada as listas genealógicas para a sociedade camponesa de uma vila no Antigo Israel.

O conceito foi expandido por Paul Minear para analisar os relatos do nascimento de Jesus na Igreja primitiva. Além de Sitz im Leben (“situação da vida”), Minear chama atenção para o Sitz im Glauben (“situação de fé”) e Sitz im Loben (“situação de adoração”) das comunidades que produziram e recepcionaram tais textos bíblicos. Outra expansão do conceito foi proposto por Gesché para Sitz im Schrift (a situação da passagem dentro do texto).

BIBLIOGRAFIA

Gesché, Adolphe, “Pour une identité narrative de Jésus”, in Revue Théologique
de Louvain, 30 (1999), pp. 153-179 e 336-356.

Gunkel, Hermann. Die Psalmen. Übersetzt und erklärt von Hermann Gunkel. Göttingen 1926.

Minear, Paul Sevier. “The Interpreter and the Birth Narratives,” in Symbolae Biblicae Upsalienses, Supplementhäften Till Svensk Exegetisk Årsbok, 13, 1950.