Halacá

Halacá ou Halakhah são os ensinamentos rabínicos quanto à conduta. Halakhah, derivada da raiz hebraica que significa “ir” ou “caminhar”, refere-se ao sistema abrangente de leis judaicas que regula a observância religiosa e a vida cotidiana dos judeus. Esse conjunto de normas engloba diretrizes legais, rituais e éticas que evoluíram desde os tempos bíblicos. Comumente traduzida como “lei judaica”, Halakhah também pode ser entendida como “o caminho a ser seguido”, destacando sua função como um guia para o comportamento em diversas áreas da vida, incluindo aspectos espirituais e cotidianos.

As fontes de Halakhah são classificadas em três principais categorias. A Torah Escrita, constituída pelos cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica, contém os mandamentos e leis fundamentais. A Torah Oral, composta por interpretações e ensinamentos desenvolvidos ao longo do tempo, é considerada uma revelação paralela à Torah Escrita no Monte Sinai e inclui interpretações rabínicas e decisões legais. A legislação rabínica, elaborada ao longo da história, aborda circunstâncias e necessidades sociais que surgiram após o período bíblico. Essas leis podem ser subdivididas em mitzvot d’oraita, derivadas diretamente da Torah, e mitzvot d’rabbanan, instituídas pelos rabinos para aprimorar ou esclarecer a observância das leis da Torah.

O desenvolvimento da Halakhah é um processo dinâmico no qual os rabinos interpretam e adaptam as leis em resposta a mudanças nas circunstâncias. Esse processo é guiado por princípios hermenêuticos estabelecidos na era talmúdica. O Talmude registra debates entre sábios sobre decisões legais, resultando em consensos que moldam a prática haláchica contemporânea.

Ao longo dos séculos, textos fundamentais codificaram a Halakhah. O Mishneh Torah, de Maimônides, apresenta uma compilação abrangente da lei judaica. O Shulchan Aruch organiza as decisões haláchicas em formatos acessíveis para estudo e prática. O Mishnah Berurah fornece comentários ao Shulchan Aruch, oferecendo maior clareza sobre a observância. A Halakhah, assim, permanece como uma estrutura essencial para orientar a vida e os valores da comunidade judaica.

Beta Israel

Os Beta Israel (Casa de Israel) são um povo e comunidade de religão abraâmica originária da Etiópia.

Até recentemente chamados derrogatoriamente de falasha (exilados, em ge’ez), a religião dos Beta Israel é chamada de haymanot, sendo distinta do judaísmo rabínico.

Migrantes judeus vieram para a região da atual Etiópia em várias ondas, especialmente entre os séculos I e VI d.C. Apesar de lendas de um reino judaico na região, as evidências indicam que em cerca de 500 vilas nas montanhas do noroeste da Etiópia, os Beta Israel viveram praticamente lado a lado com etíopes cristãos e muçulmanos — com poucas regiões sendo predominantemente judias. Há uma diversidade interna grande entre as diferentes comunidades.

Suas escrituras sagradas consiste no Orit (possivelmente do termo aramaico para a Torá, Oraita), que corresponde ao Pentateuco, Josué, Juízes e Rute. Diferente dos outros judeus, o formato não é em rolo, mas em códex. Porém, leem outras escrituras, mas não com caráter canônico. Uma excepcionalidade entre os israelitas contemporâneos, há entre eles uma ordem monástica. Suas congregações são lideradas por um grupo de anciãos, os kessim.

Desconhecem a tradição rabínica e o talmud, possuem um calendário próprio e tradições que os vinculam tanto às comunidades judias egípcias quanto do sul da Arábia.

Celebraram Sigd, o da entrega da Torá. É celebrado com jejuns e subida a montanha mais alta da região e ouviam as passagens do canto kessim, particularmente o Livro de Neemias. À tarde, eles desciam para um banquete.

O consumo de carne era reservado para ocasiões especiais, como feriados e comemorações dos ciclos da vida. Os principais responsáveis ​​pelo abate de animais eram os sacerdotes (Qesotch ou Kessoch), seguidos pelos homens casados ​ familiarizados com as leis do abate ritual. O animal abatido é pendurado em uma árvore para remover seu sangue.

Vítimas de fome, proselitismo forçado e guerras, tentaram várias vezes realizar um êxodo rumo à terra prometida, mas quase sempre resultando em jornadas desastrosas.

Na década de 1970 foram reconhecidos como judeus por autoridades civis e religiosa do Estado de Israel. Várias operações levaram em massa a comunidade Beta Israel para evadir-se da guerra civil e da fome. Em Israel, políticas assimilacionistas geraram conflitos internos. No entanto, a comunidade se reestabeleceu. No começo do século XXI, viviam cerca de 160 mil em Israel e 12 mil na Etiópia.

BIBLIOGRAFIA

Salamon, Hagar. “Cutting into the Flesh of the Community: Ritual Slaughter, Meat Consumption, and the Transition from Ethiopia to Israel.” Studies in Contemporary Jewry 28 (2016): 110-125.

Callinicum

Antiga cidade na Síria na margem nordeste do rio Eufrates, cerca de 160 quilômetrosa leste de Alepo. É hoje Raqqa.

Foi fundada como uma cidade helenística com o nome Nicéforo pelo rei selêucida Seleuco I Nicator (reinou 301-281 aC). Seu sucessor, Seleuco II Calínico (r. 246–225 aC), ampliou a cidade e a renomeou como Kallinikos. Seria conquistada pelos romanos e grafada como Callinicum e a incorporou à província de Osroene.

Em 1.º de agosto de 388 EC, uma turba de cristãos incendiou uma sinagoga de Callinicum. Seria talvez o primeiro ataque de cristãos contra sinagogas e um dos primeiros progroms. Também foi destruída uma igreja de outro grupo cristão, possivelmente adeptos de Valenciano.

No início, o imperador Teodósio apoiou o administrador local que exigiu que o bispo reconstruísse a sinagoga. Porém, o bispo Ambrósio de Milão pressionou
Teodósio contra tal reparação. O bispo de Callinicum foi exonerado dede qualquer responsabilidade e depois rescindiu qualquer exigência de restituição.

BIBLIOGRAFIA

Ambrósio. Epístola 64.

Chin, Catherine M. “Built from the Plunder of Christians”: Words, Places, and Competing Powers in Milan and Callinicum’.” Religious Competition in the Greco-Roman World 10 (2016): 63.

Figueroa, Gregory Francis. The Church and the Synagogue in St. Ambrose. Catholic University of America Press, 1949.

Jacobs, Andrew. “Christians, Jews, and Judaism in the Eastern Mediterranean and Near East, c. 150–400 CE.” The Cambridge Companion to Antisemitism: 83-99.

Sinagoga

As sinagogas eram locais e instituições sociais e religiosas dos israelitas na Antiguidade. Sua existência é atestada a partir do período helenista (do século III a.C. em diante), tanto na Diáspora quanto na Palestina.

Hipóteses outrora acreditadas de que a sinagoga surgiu durante o cativeiro babilônico como substituição do culto do templo ou que no final do século I d.C. houve uma separação entre cristãos — que ficaram com a Igreja — e os judeus, que permaneceram na Sinagoga, não são hoje consideradas válidas.

As sinagogas na Antiguidade eram instituições multifuncionais para leitura das Escrituras, orações, jejuns e festividades bem como fórum, escola, tribunal, tesouraria e arquivos públicos de sua comunidade. Seu culto incluia confissão de fé, oração, leitura das Escrituras, sermão e bênção. Análogos de organizações voluntárias e cultuais existiam em ambientes greco-romanos (collegia) e egípcio (per ankh). Os registros literários, epigráficos e arqueológicos apontam que, de fato, no século I d.C. houve uma profusão de sinagogas ou casas de oração (proseuche). Contudo, há registros arqueológicos anteriores como Schedia (Egito, século III a.C.), Delos (Grécia, século II a.C., congregando samaritanos) e Óstia (próximo a Roma, século I d.C), que atestam a distribuição pela Diáspora e sua antiguidade.

O Novo Testamento registra como as sinagogas foram locais para a pregação de Jesus e depois de seus discípulos, favorecendo a propagação do cristianismo na Diáspora. As homílias anti-judaicas de João Crisóstomos e a legislação anti-sinagoga no século V d.C. indicam que as sinagogas continuaram como local conjunto de vida social e cúltica dos cristãos e judeus por muito tempo.

BIBLIOGRAFIA

Levine, Lee I. The Ancient Synagogue: The First Thousand Years. New Haven: Yale University Press, 2005.

Runnesson, Anders, Donald D. Binder, and Birger Olsson. The Ancient Synagogue from Its Origins to 200 C.E.: A Source Book. Leiden: Brill, 2008.