Sitra Achra na Cabala é o termo aramaico סִטְרָא אַחְרָא para outro lado, o domínio do mal. Contrasta com Sitra D’Kedushah, o lado da santidade.
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Beta Israel
Os Beta Israel (Casa de Israel) são um povo e comunidade de religão abraâmica originária da Etiópia.
Até recentemente chamados derrogatoriamente de falasha (exilados, em ge’ez), a religião dos Beta Israel é chamada de haymanot, sendo distinta do judaísmo rabínico.
Migrantes judeus vieram para a região da atual Etiópia em várias ondas, especialmente entre os séculos I e VI d.C. Apesar de lendas de um reino judaico na região, as evidências indicam que em cerca de 500 vilas nas montanhas do noroeste da Etiópia, os Beta Israel viveram praticamente lado a lado com etíopes cristãos e muçulmanos — com poucas regiões sendo predominantemente judias. Há uma diversidade interna grande entre as diferentes comunidades.
Suas escrituras sagradas consiste no Orit (possivelmente do termo aramaico para a Torá, Oraita), que corresponde ao Pentateuco, Josué, Juízes e Rute. Diferente dos outros judeus, o formato não é em rolo, mas em códex. Porém, leem outras escrituras, mas não com caráter canônico. Uma excepcionalidade entre os israelitas contemporâneos, há entre eles uma ordem monástica. Suas congregações são lideradas por um grupo de anciãos, os kessim.
Desconhecem a tradição rabínica e o talmud, possuem um calendário próprio e tradições que os vinculam tanto às comunidades judias egípcias quanto do sul da Arábia.
Celebraram Sigd, o da entrega da Torá. É celebrado com jejuns e subida a montanha mais alta da região e ouviam as passagens do canto kessim, particularmente o Livro de Neemias. À tarde, eles desciam para um banquete.
O consumo de carne era reservado para ocasiões especiais, como feriados e comemorações dos ciclos da vida. Os principais responsáveis pelo abate de animais eram os sacerdotes (Qesotch ou Kessoch), seguidos pelos homens casados familiarizados com as leis do abate ritual. O animal abatido é pendurado em uma árvore para remover seu sangue.
Vítimas de fome, proselitismo forçado e guerras, tentaram várias vezes realizar um êxodo rumo à terra prometida, mas quase sempre resultando em jornadas desastrosas.
Na década de 1970 foram reconhecidos como judeus por autoridades civis e religiosa do Estado de Israel. Várias operações levaram em massa a comunidade Beta Israel para evadir-se da guerra civil e da fome. Em Israel, políticas assimilacionistas geraram conflitos internos. No entanto, a comunidade se reestabeleceu. No começo do século XXI, viviam cerca de 160 mil em Israel e 12 mil na Etiópia.
BIBLIOGRAFIA
Salamon, Hagar. “Cutting into the Flesh of the Community: Ritual Slaughter, Meat Consumption, and the Transition from Ethiopia to Israel.” Studies in Contemporary Jewry 28 (2016): 110-125.
Callinicum
Antiga cidade na Síria na margem nordeste do rio Eufrates, cerca de 160 quilômetrosa leste de Alepo. É hoje Raqqa.
Foi fundada como uma cidade helenística com o nome Nicéforo pelo rei selêucida Seleuco I Nicator (reinou 301-281 aC). Seu sucessor, Seleuco II Calínico (r. 246–225 aC), ampliou a cidade e a renomeou como Kallinikos. Seria conquistada pelos romanos e grafada como Callinicum e a incorporou à província de Osroene.
Em 1.º de agosto de 388 EC, uma turba de cristãos incendiou uma sinagoga de Callinicum. Seria talvez o primeiro ataque de cristãos contra sinagogas e um dos primeiros progroms. Também foi destruída uma igreja de outro grupo cristão, possivelmente adeptos de Valenciano.
No início, o imperador Teodósio apoiou o administrador local que exigiu que o bispo reconstruísse a sinagoga. Porém, o bispo Ambrósio de Milão pressionou
Teodósio contra tal reparação. O bispo de Callinicum foi exonerado dede qualquer responsabilidade e depois rescindiu qualquer exigência de restituição.
BIBLIOGRAFIA
Ambrósio. Epístola 64.
Chin, Catherine M. “Built from the Plunder of Christians”: Words, Places, and Competing Powers in Milan and Callinicum’.” Religious Competition in the Greco-Roman World 10 (2016): 63.
Figueroa, Gregory Francis. The Church and the Synagogue in St. Ambrose. Catholic University of America Press, 1949.
Jacobs, Andrew. “Christians, Jews, and Judaism in the Eastern Mediterranean and Near East, c. 150–400 CE.” The Cambridge Companion to Antisemitism: 83-99.
Sinagoga
As sinagogas eram locais e instituições sociais e religiosas dos israelitas na Antiguidade. Sua existência é atestada a partir do período helenista (do século III a.C. em diante), tanto na Diáspora quanto na Palestina.
Hipóteses outrora acreditadas de que a sinagoga surgiu durante o cativeiro babilônico como substituição do culto do templo ou que no final do século I d.C. houve uma separação entre cristãos — que ficaram com a Igreja — e os judeus, que permaneceram na Sinagoga, não são hoje consideradas válidas.
As sinagogas na Antiguidade eram instituições multifuncionais para leitura das Escrituras, orações, jejuns e festividades bem como fórum, escola, tribunal, tesouraria e arquivos públicos de sua comunidade. Seu culto incluia confissão de fé, oração, leitura das Escrituras, sermão e bênção. Análogos de organizações voluntárias e cultuais existiam em ambientes greco-romanos (collegia) e egípcio (per ankh). Os registros literários, epigráficos e arqueológicos apontam que, de fato, no século I d.C. houve uma profusão de sinagogas ou casas de oração (proseuche). Contudo, há registros arqueológicos anteriores como Schedia (Egito, século III a.C.), Delos (Grécia, século II a.C., congregando samaritanos) e Óstia (próximo a Roma, século I d.C), que atestam a distribuição pela Diáspora e sua antiguidade.
O Novo Testamento registra como as sinagogas foram locais para a pregação de Jesus e depois de seus discípulos, favorecendo a propagação do cristianismo na Diáspora. As homílias anti-judaicas de João Crisóstomos e a legislação anti-sinagoga no século V d.C. indicam que as sinagogas continuaram como local conjunto de vida social e cúltica dos cristãos e judeus por muito tempo.
BIBLIOGRAFIA
Levine, Lee I. The Ancient Synagogue: The First Thousand Years. New Haven: Yale University Press, 2005.
Runnesson, Anders, Donald D. Binder, and Birger Olsson. The Ancient Synagogue from Its Origins to 200 C.E.: A Source Book. Leiden: Brill, 2008.
Amoraita
Os amoraítas ou amoraim foram um grupo de estudiosos judeus que viveram e na antiga Palestina e Babilônia durante 200 d.C. a 500 d.C. Suas discussões e comentários do Mishná resultaram no Talmude, uma coleção de leis e tradições judaicas que continua sendo um texto central do judaísmo até hoje. Seus debates e discussões sobre a lei e prática judaica, e seus ensinamentos continuam a moldar o judaísmo normativo desde então.
Judaísmo Rabínico
A religião abraâmica chamada de judaísmo, mais precisamente judaísmo rabínico, é fundamentada em uma relação de aliança entre o povo israelita e Deus, conforme transmitida pela Torá escrita e oral preservada pelos rabinos.
Após a destruição do Segundo Templo de Jerusalém pelos romanos em 70 a.C, emergiu o judaísmo rabínico ou normativo. Com os remanescentes dos fariseus, o judaísmo encontrou na preservação da Lei (Torá) o meio de substituir o Templo destruído. Assim, a Lei Oral, ou a tradição dos anciãos, foi desenvolvida e compilada no Talmude.
O período dos diferentes sábios da era rabínica pode ser dividido em Zugot (século II aC), Tannaim (século II a III dC), Amoraim (século III a V dC), Savoraim (século V a VII dC), Geonim (século VII a XI século d.C), Rishonim (séculos XI a XV d.C) e Acharonim (séculos XVI a XIX d.C).
Ao longo de sua história, o judaísmo desenvolveu diferentes correntes denominacionais, incluindo ortodoxos, reformistas, conservadores e reconstrucionistas. O misticismo judaico também desempenhou um papel significativo, com o surgimento da Cabala na Idade Média e do hassidismo em contrapartida ao Iluminismo.
Os princípios centrais do judaísmo incluem a crença em um Deus, a importância da Torá e seus mandamentos e o conceito de Tikkun Olam ou consertar o mundo. A vida social e ritual do judaísmo inclui a observância semanal do sábado, oração diária, leis dietéticas kosher, circuncisão e vários festivais e feriados, como a Páscoa e o Yom Kippur.
O judaísmo tem uma longa história de enfrentamento do anti-semitismo, desde os tempos antigos até os incidentes modernos. Isso levou à perseguição, discriminação e violência contra as comunidades judaicas, culminando no Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. A perseguição serviu também para definir a identidade e distinção entre judeus e gentios (não judeus).
Apesar de suas diferenças, o judaísmo compartilha muitos pontos em comum com outras religiões abraâmicas, como o cristianismo e o islã. Isso inclui a crença em um Deus, a importância dos textos religiosos e uma história compartilhada no Oriente Médio.
Helenismo
O helenismo refere-se às ideias culturais, filosóficas e artísticas que surgiram na Grécia antiga e se espalharam para outras partes do mundo através das conquistas de Alexandre, o Grande.
O termo “helenístico” é usado para descrever o período desde a morte de Alexandre em 323 aC até a conquista romana da Grécia em 146 aC.
O helenismo teve um impacto profundo no judaísmo, particularmente na diáspora. Após a conquista da Palestina por Alexandre em 332 aC, a influência grega começou a se espalhar por toda a região e muitos judeus foram expostos à cultura e ideias helenísticas. Alguns judeus abraçaram o helenismo e adotaram a língua, costumes e crenças gregas, enquanto outros resistiram e se entricheiram-se em uma identidade judia, mas com assimilação seletiva de elementos do helenismo.
A influência do helenismo pode ser vista nos escritos do filósofo judeu Filo de Alexandria. Filo tentou reconciliar a filosofia grega com a religião israelita e argumentou que as ideias gregas poderiam ser usadas para apoiar as crenças judaicas. Ele acreditava que a razão e a fé eram complementares e que o conhecimento do mundo natural poderia levar a uma compreensão mais profunda de Deus.
O helenismo também teve um impacto significativo no cristianismo primitivo, que surgiu no mundo helenístico. O Novo Testamento foi escrito em grego, e muitas das ideias e conceitos encontrados no cristianismo, como o conceito de Logos (Palavra), foram influenciados pela filosofia grega. O apóstolo Paulo, que era um judeu helenizado, usou a linguagem e as ideias gregas para espalhar a mensagem do cristianismo para o público gentio.
O helenismo também influenciou o judaísmo rabínico primitivo, particularmente na área da interpretação bíblica. Os rabinos do período talmúdico (aproximadamente 200-500 aC) usavam a linguagem e os conceitos gregos para interpretar e explicar os textos judaicos, e muitos de seus ensinamentos foram influenciados pela filosofia helenística da Segunda Sofística. Por exemplo, o conceito midráshico de “pardes”, que se refere aos quatro níveis de interpretação da Torá, foi comparado à ideia grega de alegoria.