éctese

A éctese (em grego: Ἔκθεσις) refere-se a um método antigo de paragrafação, utilizado especialmente em manuscritos gregos e outros textos antigos, no qual a primeira linha de uma nova seção ou parágrafo se projeta para a margem esquerda, destacando-se visualmente do corpo do texto. Essa técnica tinha uma função prática e estética, servindo tanto para estruturar o texto quanto para facilitar a leitura e a localização de trechos específicos.

Diferentemente das práticas modernas de indentação, onde a primeira linha de um parágrafo geralmente é recuada, a éctese enfatizava a separação entre as seções através do alinhamento avançado, criando um contraste claro com o restante do texto, que permanecia justificado. Esse recurso é particularmente observado em manuscritos literários, documentos religiosos e outros registros escritos antes da popularização da impressão tipográfica.

O uso da éctese reflete as limitações e convenções gráficas das épocas em que foi empregada, quando os textos eram copiados manualmente por escribas. Além disso, sua aplicação variava conforme o estilo do manuscrito, o idioma e a tradição cultural, sendo uma prática distinta que também evidencia a evolução histórica da organização visual dos textos escritos.

J. Rendel Harris

J. Rendel Harris (1852–1941) foi um acadêmico britânico com contribuições à matemática, aos estudos clássicos e bíblicos, bem como por sua dedicação à fé quaker.

Nascido em Plymouth, Inglaterra, Harris iniciou seus estudos no Clare College, Cambridge, onde se destacou como matemático. Posteriormente, ampliou seus interesses para as línguas antigas e o cristianismo primitivo. Ocupou posições acadêmicas na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e no Haverford College, onde aprofundou a análise de textos do Novo Testamento e da literatura cristã primitiva.

Uma das marcas de sua carreira foi sua dedicação à busca de manuscritos antigos. Harris realizou expedições ao Oriente Médio, adquirindo uma coleção substancial de documentos, incluindo manuscritos em siríaco e grego. Suas descobertas trouxeram contribuições importantes para os estudos bíblicos e para a compreensão da história da igreja primitiva.

Sua fé quaker teve impacto significativo em sua vida e trabalho. Harris foi um defensor da paz e da justiça social, participando ativamente de reuniões e iniciativas quaker. Ele foi o primeiro Diretor de Estudos do Woodbrooke Quaker Study Centre, em Birmingham, onde promoveu um ambiente de investigação intelectual e espiritual.

Emenda conjectural

A emenda conjectural, nos campos da filologia e dos estudos bíblicos, refere-se ao ato de fazer correções especulativas ou hipotéticas ou alterações em um texto para resolver erros, inconsistências ou dificuldades percebidas.

Envolve propor emendas ao texto original com base no julgamento do estudioso, no conhecimento do idioma e no contexto, em vez de confiar apenas nas evidências existentes no manuscrito.

A emenda conjectural é normalmente empregada quando a evidência disponível do manuscrito contém erros, omissões ou passagens ininteligíveis que impedem uma interpretação ou compreensão satisfatória do texto.

O propósito das emendas conjecturais é para tornar o texto mais coerente, significativo ou alinhado com a gramática, sintaxe ou estilo esperado da linguagem. No entanto, a emenda conjectural é uma prática altamente especulativa e subjetiva. Envolve a introdução de mudanças no texto original sem evidências manuscritas diretas para apoiá-las. Consequentemente, as emendas conjecturais devem ser abordadas com cautela e consideradas como propostas hipotéticas e não como soluções definitivas.

Exemplos de emenda conjectural em estudos bíblicos abundam. Na produção do Textus Receptus, Erasmo retroverteu da Vulgata parte do Apocalipse, visto que não dispunha manuscritos gregos completos. A única emenda conjectural na edição grega Nestlé-Aland 28 é em 2 Pedro 3:10.

Tipologia Textual

Tipologia Textual são agrupamentos de leituras e características de certos grupos de textos. Como os manuscritos na Antiguidade e Idade Média eram copiados de manuscritos fontes semelhantes, tendem a repetir leituras semelhantes e erros semelhantes. Esses manuscritos são agrupados em famílias de texto ou tipos de texto.

Uma abordagem já obsoleta pressupunha linhagens estáveis e distintas de manuscritos para cada tipo de texto. Hoje, constata-se que, por vezes, no mesmo manuscrito ocorrem vários tipos de leituras, ainda que um ou outro tipo tenda a ser predominante.

Entre os séculos II e IV, quatro tipos principais de textos antigos emergiram para o Novo Testamento. São chamados de Alexandrino, Ocidental, Cesariano e Bizantino. Entrentanto, não se pode restringir seus nomes com a geografia correspondente, ou seja, uma passagem em tipo alexandrino pode ter tido origem em Antioquia, Roma, Bizâncio, Cartago, Síria, e outros. Entre os papiros e textos anteriores ao século IV não há uma tipologia distinta e discernível. Contudo, com as atividades editoriais presentes nos grandes códices firmam-se as famílias de tipos textuais distintas a partir de por volta do ano 300.

O tipo alexandrino contém leituras mais curtas do que os outros tipos. Evita adições ou paráfrases. Há relativa ausência de harmonizações ou interpolações. São exemplos os grandes códices Sinaiticus, Alexandrinus (alexandrino não nos Evangelhos, mas no resto do Novo Testamento) e Vaticanus. A maioria dos críticos textuais hoje considera esta o tipo mais confiável.

O tipo ocidental é expansivo, com uma tendência a parafrasear as leituras, adicionar material e, às vezes, omitir material. As traduções latinas, incluindo a Vulgata, geralmente seguem esse tipo de texto antigo, ainda que às vezes siga uma leitura alexandrina. É tido como o menos confiável, mas surgiu muito cedo na cópia do Novo Testamento. A versão de Atos nesse tipo é cerca de 10% maior que o alexandrino. Contudo, quando o ocidental e o alexandrino concordam, há uma forte possibilidade de que seja uma leitura mais antiga disponível.

O tipo cesariano ocorre apenas para os Evangelhos. Apesar do nome, sua origem não está necessariamente ligada à Cesareia. É uma forma intermediária entre os tipos alexandrino e ocidental, com uma tendência à harmonização das passagens e leituras únicas que não se encontram em outros tipos. Sua presença em manuscritos como o Codex Koridethi e o Codex Washingtonianus sugere a possibilidade de representar uma tradição textual antiga ou o resultado de um processo editorial posterior que combina elementos de diferentes tradições.

O tipo bizantino tende a ser encontrado em manuscritos mais recentes. Aparentemente, resulta da tendência a combinar leituras dos outros tipos de texto e formar uma recensão harmonizada. Tornou-se o texto padrão para a igreja ortodoxa grega da Idade Média. Aparece nos Evangelhos do Códex Alexandrino.

Partes do texto

Inscriptio, normalmente com a função de identificar o texto, como os títulos. Podem ser repetidos no final do manuscrito, quando recebe o nome de suscriptio.

O incipit, por vezes, faz o papel do inscriptio, sendo as primeiras palavras de um texto, dando-lhe seu título.

O corpo do texto pode estar organizado em colunas, com sinais de leitura, como a cola e commata, bem como aparatos textuais, como óbolo. Na idade média floresceu o uso de glosas e marginálias, as quais são anotações acima ou às margens do texto.

Fórmulas de conclusão do texto são chamados de inclusio.

Colofão é a ficha editorial do copista, com detalhes de quem e onde foi feito a cópia, bem como a data de conclusão.

Esses elementos podem ser textuais quando já fornecidos por seus autores ou paratextuais, acrescentados por copistas ou editores.