O mistério dos manuscritos valdenses

Os Valdenses praticavam sua religião em segredo, escondidos nas montanhas e grutas para cultuar a Deus de acordo com as Escrituras. Pregadores itinerantes, conhecidos como barbas, memorizavam partes da Bíblia no inverno e viajavam disfarçados de mercadores para edificar as famílias valdenses espalhadas pela Europa.

Em 1530, quando a Reforma Protestante começou a ganhar força na Europa, os Valdenses ficaram apreensivos. Anteriormente, haviam se aliado aos hussitas que desafiavam o poder papal, mas a repressão foi dura e a consequência desastrosa. Com medo de sofrerem novamente decidiram investigar a Reforma

Prudentemente, os barbas valdenses se reuniram em um sínodo em Méridol em 1530 e enviaram dois representantes, George Morel de Freissinières e Pierre Masson de Burgogne, inquirir sobre esse movimento protestante entre os suíços. Os dois entraram em contato com os reformadores Guillaume Farel, Oecolampadio e Bucer. Pierre Masson acabou preso e Morel escreveu um longo relato aos seus irmãos.

Depois de uma visita de Farel e Olivetan (que traduziria a Bíblia ao francês) aos Alpes, os valdenses se reuniram em um sínodo sob os castanhais de Chanforans (hoje em Angrogna, Itália). Por seis dias discutiram os temas da reforma, principalmente sobre assumir publicamente a fé reformada. Em 12 de setembro de 1532 concluíram o sínodo com uma declaração de fé que resumia as seguintes crenças:

  • Que o culto divino deva ser realizado em espírito e verdade.
  • Que todos os salvos do passado e presente foram eleitos por Deus antes da fundação do mundo.
  • Que os cristãos não deveriam jurar.
  • Que a confissão auricular não tem base nas Escrituras.
  • Que o cristão não deva fazer vinganças.
  • Que o cristão pode exercer o ofício de magistrado sobre outros cristãos
  • Que as Escrituras não ordena tempos para jejuns.
  • Que o matrimônio [dos ministros] não é proibido.
  • Que não é incompatível para os ministros terem bens para sustentar suas famílias.
  • Que os sacramentos das Escrituras são o batismo e a santa ceia.

E, principalmente, os valdenses unir-se-iam à Reforma. Em razão disso, depois do sínodo, Daniel de Valence e Jean de Molines, dois barbas que discordaram dos resultados foram consultar os valdenses que viviam no Reino da Boêmia.

Visando manter a união, os valdenses boêmios recomendaram que fizessem um novo sínodo. No verão de 1533 foi realizado outro sínodo, em Prali. Para desgosto de Daniel de Valence e Jean de Molines o sínodo de Prali confirmou as decisões de Chafforan e uniria o movimento valdense definitivamente com a Reforma.

Desapontados, Daniel de Valence e Jean de Molines recolheram os manuscritos valdenses. Saíram dos vales e nunca mais se ouviu falar deles.

BIBLIOGRAFIA

Gay, Jules. “Equisses d’Histoire Vaudoises.” Bulletin de la Société de l’Histoire du Protestantisme Français (BSHPF) (1907): 16.

Muston, Alexis. A Complete History of the Waldenses and Their Colonies, Vol. I. London: Religious Tract Society, 1838, 131.

Perrin, J. N. History of the Waldenses. Philadelphia: Griffith and Simon, 1847, 102.

Codex de Aleppo

O Codex de Aleppo, também conhecido como “Coroa de Damasco” (כתר ארם צובה), é um manuscrito medieval da Bíblia Hebraica, concluído por volta de 930 d.C. em Tiberíades. Considerado o manuscrito massorético mais antigo e mais meticulosamente trabalhado, é amplamente reconhecido como o mais preciso e autorizado exemplar do Texto Massorético. Sua confecção foi realizada por Aaron ben Moses ben Asher, renomado escriba massorético, que aplicou com rigor seu sistema de vocalização e acentuação.

Originalmente, o códice continha a Bíblia Hebraica completa, possivelmente reunida em um único volume pela primeira vez em formato de códice (encadernado). No entanto, sofreu perdas significativas após o incêndio da sinagoga de Aleppo durante os tumultos antijudaicos de 1947. Durante décadas, acreditou-se que ele havia sido destruído, mas uma parte significativa foi recuperada e transportada para Israel. Dos 487 fólios originais, cerca de 295 sobrevivem, incluindo a maior parte da Torá.

O Codex de Aleppo foi reverenciado ao longo dos séculos e influenciou profundamente os estudos bíblicos. Maimônides, importante rabino e filósofo do século XII, utilizou-o como referência principal para codificar as leis de escrita de rolos da Torá em sua obra Mishneh Torah (Hilkhot Sefer Torah). Apesar de incompleto, ele continua sendo uma fonte inestimável para a compreensão da transmissão do texto bíblico e das práticas dos escribas medievais.

Comparado ao Codex de Leningrado, que é completo, mas ligeiramente posterior, o Codex de Aleppo se destaca pela precisão de seu texto consonantal e por sua meticulosa elaboração. Sua importância é tão grande que serviu como base para o texto do Hebrew University Bible Project, passado por uma digitalização dos fragmentos sobreviventes.

BIBLIOGRAFIA
http://www.aleppocodex.org
Hayim Tawil and Bernard Schneider. Crown of Aleppo: The Mystery of the Oldest Hebrew Bible Codex. Jewish Publication Society, 2010.

Codex Wizanburgensis

Codex Wizanburgensis, ou mais apropriadamente, Codex Guelferbytanus 99 Weissenburgensis, é um manuscrito medieval com trechos da Vulgata latina e homílias de Agostinho.

Os defensores da inclusão da Comma Johanneum afirmam que existe um manuscrito grego chamado “Codex Wizanburgensis” com essa passagem. Porém, é um manuscrito da Vulgata Latina do século VIII, não grego. Jan Krans-Plaisier (2014) localizou o manuscrito, o qual se trata do manuscrito nr. 99 da coleção Weissenburg na biblioteca Herzog August em Wolfenbüttel, Alemanha. O volume contém homílias de Agostinho, as Epístolas universais, as cartas a Timóteo, Tito e Filémon.

A origem dessa informação inacurada vem de uma edição de Lachmann do NT grego e latino (Berlim, 1842 e 1850) e de um artigo de Robert Lewis Dabney de 1871. No entanto, no manuscrito em questão aparece a seguinte leitura:

“E o espírito é a verdade, porque há três que dão testemunho, o espírito, a água e o sangue. E os três são um. Como também no céu há três o pai, a palavra e o espírito. E os três são um.”

SAIBA MAIS

Herzog August Bibliothek 

http://www.hab.de/ausstellung/weissenburg/expo-15.htm

Krans-Plaisier, Jan. Wizanburgensis Revisited. The Amsterdam NT Weblog. 28 de março de 2014. http://vuntblog.blogspot.com/2014/03/wizanburgensis-revisited.html

Crosby-Schøyen Codex

O Crosby-Schøyen Codex é um dos mais antigos códice existentes, oriundo do Egito.

É datado de cerca de 250, o que indica a ampla adoção do formato de códice para os livros dos primeiros cristãos a partir do século III.

O volume de papiros encadernado foi escrito no dialeto saídico da língua copta de Alexandria, Egito. O Códice consiste em 52 folhas, das quais 16 estão faltando. Em média, cada página mede 15×15 cm e constam 2 colunas de 11 -18 linhas de texto em escrita uncial copta.

O Crosby-Schøyen Codex é contado entre a coleção dos papiros Bodmer, no entando, foi descoberto por camponeses egípcios em 1952, a 12 km a leste do sítio de Nag Hammadi. Pertence à coleção dos papéis de Dishna, que contém 38 livros (rolos e códices). Talvez pertencesse à biblioteca do Mosteiro de São Pacômio.

O códice representa o texto completo mais antigo conhecido de dois livros da Bíblia, Jonas e 1 Pedro. Contém, adicionalmente, a relação dos Mártires Judeus (2 Macabeus 5:27 – 7:41), um texto de Melito de Sardes (Peri Pascha 47 – 105) uma Homilia para a manhã de Páscoa, talvez o mais antigo sermão encontrado.

SAIBA MAIS

https://www.schoyencollection.com/bible-collection-foreword/coptic-bible/crosby-schoyen-codex-ms-193

Codex Bezae

O Codex Bezae Cantabrigensis, designado pela sigla Dea or 05 δ 5 é um importante códice do Novo Testamento datado do século V.

Foi escrito em caligrafia uncial em pergaminho e contém, em grego e latim (versão Vetus Latina), a maioria dos quatro Evangelhos e Atos, com um pequeno fragmento da Terceira Epístola de João.

Está diagramado com uma coluna por página, tem 406 folhas de pergaminho (26 por 21,5 cm), talvez de um original 534, e as páginas gregas à esquerda são latinas à direita.

Acredita-se que o manuscrito tenha sido reparado em Lyon no século IX, onde esteve por muitos séculos na biblioteca monástica de Santo Irineu em Lyon. Durante as Guerras Religiosas da Reforma, o manuscrito foi retirado de Lyon em 1562 e dado a Theodore Beza. Beza doou-o à Universidade de Cambridge.

Textualmente, é muito próximo ao Codex Glazier. O texto grego do Codex Bezae é notável por suas numerosas interpolações, ausências e reformulações de frases, características que o distinguem de todos os outros manuscritos. Cunnington (1926) catalogou algumas leituras mais peculiares, demonstrando a extensão das variações textuais. O texto latino também apresenta suas peculiaridades, e a relação entre os textos grego e latino é um ponto de debate. O texto grego teria se desenvolvido independentemente e precedeu o latim, embora ocasionalmente tenha sido posteriormente adaptado a ele. O texto latino, por sua vez, é frequentemente considerado uma tentativa de tradução do grego, e uma tradução de qualidade inferior.

A avaliação da confiabilidade do Codex Bezae é complexa. O texto grego, em particular, é geralmente considerado uma testemunha não confiável. Suas interpolações e outras peculiaridades textuais sugerem um texto que se afastou consideravelmente da tradição textual principal. Essa avaliação, embora justificada, não deve levar à rejeição total do Codex Bezae.

A própria peculiaridade do Codex Bezae, paradoxalmente, confere-lhe um valor único. O manuscrito descende de um ramo antigo e distinto da tradição manuscrita. Portanto, embora não seja confiável como testemunha primária do texto original, o Codex Bezae se torna um importante testemunho corroborativo onde concorda com outros manuscritos antigos. Nesses casos, sua concordância com outras testemunhas de peso empresta maior credibilidade à leitura em questão, reforçando a probabilidade de que ela represente uma forma muito antiga do texto.