Torá

Torá, Torah ou תּוֹרָה em hebraico significa em sua forma mais básica “instrução ou lei”. Entretanto, as nuances e conjunto de pressupostos que o termo Torá carrega são distintos daqueles que portam o termo Pentateuco. Torá pode ter os sentidos

  1. um termo genérico para instrução (cf. Pv 1:8; 4:2);
  2. uma norma ou lei (Lv 10:11);
  3. o decálogo (Ex 24:12);
  4. o conteúdo do Pentateuco (At 13:15, At 24:14); ou
  5. toda a Bíblia Hebraica/Antigo Testamento (por exemplo, Jesus referencia Sl 82:6 como Torá em Jo 10:34).

Pentateuco

O Pentateuco (“cinco livros”) é o título da coleção dos primeiros cinco livros da Bíblia na tradução grega Septuaginta: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Seu conteúdo textual corresponde à Torá, que em hebraico significa em sua forma mais básica “instrução ou lei”. Entretanto, as nuances e conjunto de pressupostos que o termo Torá carrega são distintos daqueles que portam o termo Pentateuco. Torá pode ter sentido genérico de instrução (cf. Pv 1:8; 4:2), uma norma ou lei (Lv 10:11), o decálogo (Ex 24:12), mesmo o conteúdo do Pentateuco (At 13:15, At 24:14) ou de toda a Bíblia Hebraica/Antigo Testamento (por exemplo, Jesus referencia Sl 82:6 como Torá em Jo 10:34).

A composição do Pentateuco é anônima, embora haja alguns trechos que impliquem a autoria de Moisés ( Êxodo 15:1-18; 17:8-14; 19-24; 34:10-28; Números 33:1-49; Deuteronômio 4:44-49; 5:1-22; 12-26; 31:9-13, 16-22, 24-26; 31:22; 32:1-43; o sobrescrito do Salmo 90). A partir do período helenístico começa uma tendência de atribuir sua autoria a Moisés e revisão a Esdras. De certa forma, esse foi o consenso tácito por cerca de um milênio e meio. Quando as questões das fontes e autoria passaram a ser levantadas, surgiram vários modelos de composição como a autoria única em um único evento por Moisés ou outra pessoa, a hipótese documentária, a teoria suplementar e a teoria fragmentária.

O surgimento de práticas editoriais em Alexandria e a padronização dos pergaminhos no século III a.C. afetaram a materialidade do Pentateuco. Enquanto na Septuaginta a divisão do Pentateuco seja em cinco livros, o Pentateuco hebraico — tanto o samaritano quanto o dos judeus — é um só livro, um rolo contínuo. Porém, as convenções editoriais hebraicas, como a separação de cada livro com quatro linhas em branco, refletem influências alexandrinas. Outros manuscritos da Antiguidade, sobretudo os Manuscritos do Mar Morto, estão em estado demasiadamente fragmentário para inferir sobre a divisão dos livros.

Vale ressaltar que a divisão da Torá em cinco livros não é mencionada explicitamente em qualquer lugar da Bíblia.

A mais antiga menção de que a Torá estava dividida em vários livros vem da pseudoepígrafa Carta de Aristeas (século II ou I a.C.) que menciona os “rolos” (ta teuche) dos judeus no plural, sem dizer qual número. A divisão em cinco partes aparece mencionada pela primeira vez por Filo de Alexandria (ca. 25 a.C-50 d.C.) no início de seu livro Sobre Abraão. Cerca de 20 anos depois de Filo, Josefo diz que nas Escrituras israelitas estão cinco livros que pertencem a Moisés (Contra Apion 1.8). Já o termo Pentateuco aparece em sua atestação mais remota na Carta de Ptolomeu a Flora (século II d.C.) preservada por Epifânio de Salamina (século V d.C.) em seu Panarion 33.3-7, no qual consta:

Primeiro, você deve aprender que toda a Lei contida no Pentateuco de Moisés não foi ordenada por um legislador – quero dizer, não apenas por Deus, alguns mandamentos são de Moisés, e alguns foram dados por outros homens.

Nas versões fixadas a partir das recensões do século II d.C. em diante (Hexapla, Vulgata, Peshitta, Texto Massorético) atesta uma padronização da divisão do Pentateuco em cinco partes. Talvez o suporte material explique tal divisão. No Egito, onde a recensão da Septuaginta se desenvolveu, havia abundante disponibilidade de papiro, mas tal suporte requer rolos menores. Já na Palestina e Mesopotâmia o uso de pergaminho — o qual costurado permite volumes maiores — favoreceu a compilação em um único livro.

Moisés

Em hebraico מֹשֶׁ֔ה Moshê, em grego Μωυσῆς Moyses. Foi o líder da libertação dos israelitas do Egito e recipiente das instruções que constituem a Lei (Torá).

Irmão de Aarão e Miriam, era da tribo de Levi.

O significado incerto. A relação proposta em Êxodo 2:6, 10 para o nome não é clara. Foi sugerido que se deriva do verbo raro em hebraico mashah, que ocorre apenas em 2 Sm 22:17 e Sl 18:16. Pode ser derivado do egípcio ms que aparece como sufixo “filho” em vários nomes como por exemplo Tutemés ou Ramsés. Ainda outra possibilidade em egípcio seria mw-s (“filho da água”).

Números

Números é o livro do Pentateuco que relata parte da peregrinação dos israelitas do Sinai até a planície de Moabe, antes da entrada na Terra Prometida.

O título remete ao censo com o qual o livro começa (1-4). No entanto, o livro possui gêneros textuais diversos. Há prescrições de purificação (5:1⁠–⁠10:10 ), as quais incluem as regras do voto de nazireado (6:1-21) e da bênção sacerdotal (6:22-27). Continua com as narrativas da peregrinação até Parã (10:11-12), o envio de espiões  (13:1⁠–⁠15:41 ), uma coleção de passagens diversas entre Parã e Moabe (16-36), incluindo os eventos e profecias de Balaão (22:1-25:18).

BIBLIOGRAFIA

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Ashley, Timothy R. The Book of Numbers. New International Commentary on the Old Testament. 2nd ed. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2022.

Levine, Baruch A. Numbers 1–20: A New Translation with Introduction and Commentary. Anchor Yale Bible. New Haven, CT: Yale University Press, 1993.

Milgrom, Jacob. Numbers. The JPS Torah Commentary. Philadelphia: The Jewish Publication Society, 1990.

Olson, Dennis T. Numbers. Interpretation: A Bible Commentary for Teaching and Preaching. Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2004.

Levítico

Levítico, cujo nome refere-se aos assistentes do santuário membros da tribo de Levi não contados entre as famílias sacerdotais, registra os regulamentos dos sacrifícios, das leis de pureza e da prática de santidade para o povo de Israel.

Notavelmente, apresenta uma das antigas versões da regra áurea ou do grande mandamento: “Como o natural, entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o Senhor, vosso Deus”. (Lv 19:34).

Tematicamente, o livro de Levítico situa-se na construção do santuário quando o povo de Israel estava acampado no Sinai. O livro continua com as instruções já apresentadas acerca do santuário desde Êxodo 25 e é continuado por outras instruções até Números 10. Estruturalmente são cinco grandes blocos:

  1. capítulos 1 a 7: o sistema sacrificial.
  2. capítulos 8 a 10: o papel sacerdotal de Aarão e dos aarônidas.
  3. capítulos 11 a 15: as purezas alimentar e ritual.
  4. capítulo 16: procedimentos para o Dia da Expiação (Yom Kippur).
  5. capítulos 17 a 26, o “código de santidade” por sua ênfase na santificação e pureza.

BIBLIOGRAFIA

Hannah S. An, “Reading Matthew’s Account of the Baptism and Temptation of
Jesus (Matt. 3:5-4:1) with the Scapegoat Rite on the Day of Atonement (Lev. 16:20-22),” Canon & Culture 12, no. 1 (2018): 11-13.

Douglas, Mary. Purity and Danger: An Analysis of Concepts of Pollution and Taboo. Routledge Classics; London: Routledge, 2002

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Milgrom, Jacob. Leviticus: A Book of Ritual and Ethics. Continental Commentaries. Minneapolis: Fortress, 2004.

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Rendtorff, Rolf; Robert A. Kugler; Sarah Smith Bartlet, eds. The book of Leviticus: composition and reception. Vol. 3. Brill, 2003.

Schwartz, Baruch J. “Leviticus.” In The Jewish Study Bible. Edited by A. Berlin and M. Z. Brettler, 203–280. New York: Oxford University Press, 2004.