Macabeus

Macabeu, “martelo”, era o apelido dado à família dos Hasmoneus. A designação serve ao conjunto de livros com esse título e à família de líderes desse período (167-64 a.C.).

Durante o período helenista (332-64 a.C.), a Judeia esteve alternada vezes sob o controle dos selêucidas da Síria e ptolomeus do Egito — estados sucessores de Alexandre, o Grande. No final do século II, o rei selêucida Antíoco IV Epifânio, impôs uma política de culto oficial contrária ao monoteísmo israelita, como parte de uma política de homogeneização sociocultural chamada de “helenismo”.

A família dos Macabeus liderou a resistência militar, política e religiosa na Judeia. A revolta teve início quando de oficiais vieram cumprir os decretos de Antíoco na aldeia de Modein. Lá, um sacerdote idoso chamado Matatias vivia com seus cinco filhos: João “Gadi”, Simão “Thassi”, Judas “Macabeu”, Eleazar “Avaran” e Jônatas “Afo”. Matatias reagiu espotaneamente, dando início de uma revolta que se tornaria uma guerra. Eventualmente, a independência foi conquistada. A Judeia foi governada pela dinastia Hasmoneana, descendentes de Simão, o único filho de Matatias a sobreviver à guerra.

LIVROS DOS MACABEUS

Os livros dos Macabeus são importantes para a reconstrução histórica e da mentalidade desse período. Não integram o cânone judeu ou protestante, mas alguns deles são aceitos como deuterocanônicos em diversas denominações católica e ortodoxas orientais. Registram o início da Festa das Luzes (1 Macabeus 4:36–4:59; 2 Macabeus 1:18–1:36) ou da Dedicação (Jo 10:22-25), quando o Templo foi reconsagrado depois de ter sido profanado e feito “abominação da desolação”.

1 Macabeus: relata a revolta dos macabeus desde a ascensão de Antíoco IV Epifânio ao trono selêucida (Síria) em 175 aC até a morte de Simão, um dos líderes da resistência judaica e, em seguida, sumo sacerdote e etnarca, em 132 a.C.

2 Macabeus: outra versão da revolta dos Macabeus, escrita de uma perspectiva da profanação ao Templo e seu culto, culpando os judeus que abraçaram o helenismo como responsáveis.

3 Macabeus: apesar do nome, narra a perseguição aos judeus na época anterior aos macabeus quando o faraó  Ptolomeu IV Filopator (221–203 a.C.) de perseguir os judeus em todo o território sob controle do Egito.

4 Macabeus: registra uma oração memorial dos mártires mencionados em 2 Macabeus 6-7. Defende as motivações religiosas e as quatro virtudes cardeais – prudência, temperança, coragem e justiça – sobre as emoções. A família de Eleazar e os sete irmãos com sua mãe são primeiros exemplos.

Alexandre Janeu

Sumo-sacerdote e rei Hasmoneu da Judeia (103-76 a.C.), notório por liderar o maior e mais forte período de um estado judaico fora da Bíblia.

Filho de João Hircano, herdou o trono de seu irmão Aristóbulo I, além de ter casado com sua viúva, Salomé Alexandra.

Expandiu o reino de Judá por toda a região costeira do Monte Carmelo até a fronteira egípcia. Durante seu reinado, houve anos de agitação causada por ataques nabateus e muito do território sob seu reino foi perdido. Contudo, recuperou grande parte de seu território mais tarde, incluindo o Golã (Gamla) em 81 a.C. e a região da margem oriental do Jordão. Forçou a conversão das populações conquistadas ao judaísmo.

Entre 93 e 87 a.C., apoiado pelos saduceus, entrou em conflito com os fariseus na Guerra Civil Judia.

Samaritanos

Samaritanismo, em hebraico: שומרונים, shomronim, os guardiões, é uma religião abraâmica e povo originário dos antigos israelitas, cujo culto se concentra no Monte Gerizim (perto de Nablus e da antiga Siquém), orientado exclusivamente pela Torá (Pentateuco).

Nome e história

Os samaritanos são distintos dos samarianos (habitantes de Samaria, em hebraico shomerim). Conforme mencionado, seu centro fica ao redor do monte Gerizim, a meio caminho entre Jerusalém e a antiga Samaria. Samaritanos (em hebraico, shomronim) significa “guardiões”, no sentido de observadores da Torá. Embora os samaritanos historicamente nunca tenham considerado Samaria como seu centro político ou lugar sagrado, nas línguas ocidentais, houve uma fusão dos termos samaritano e samaritano desde que a Septuaginta traduziu ambas as palavras como οἱ Σαμαρῖται.

A história da origem dos samaritanos e da rivalidade com os judeus é cheia de dificuldades e bastante complexa.

A tradição samaritana traça suas origens nas tribos israelitas do norte que ocuparam a região desde a época de Josué. Segundo as crônicas samaritanas, o cisma entre o samaritanismo e o judaísmo foi causado quando o sacerdote Eli criou um santuário alternativo em Siló em oposição ao sacerdote Uzi, descendente de Fineias, o qual continuou com um tabernáculo no Monte Gerizim. As evidências arqueológicas atestam uma continuidade populacional que os fazem remanescentes das tribos do norte que sobreviveram a deportação pelo Império Neo-Assírio após a destruição do Reino de Israel. Em contraste com as linhagens zadoquitas em Jerusalém, seus sacerdotes eram aarônicos. Com a drástica redução de sua população e a extinção da linhagem aarônica de Eleazar em 1624, todos os samaritanos hoje são descendentes da linhagem de Itamar, filho de Aarão. No entanto, os três clãs também traçam suas linhagens paternas até as tribos de Manassés e Efraim.

No período do Segundo Templo, surgiu uma interpretação de 2 Rs 17:24-41, que dizia que os samaritanos serem um grupo étnico misto e culto idólatra originário dos povos trazidos pelos assírios no antigo reino do norte de Israel. No entanto, 2 Re 17:29 refere-se a “samarianos” e não a “samaritanos”. Além disso, é longa a história da presença de povos mistos e convertidos entre os judeus (por exemplo, Calebe, Rute, o povo que acompanhou os israelitas no Egito e os filhos de Moisés). Por fim, as evidências bíblicas indicam a continuidade do culto a Deus entre os povos do norte tanto no período de Josias (1 Cr 34:9) como no exílio (Jr 41:5); portanto, a divisão e hostilidade entre samaritanos e judeus são posteriores.

Evidências históricas apontam para uma divisão nos períodos persa e helenístico, consolidada no período asmoneu. Provavelmente houve um período de colaboração e reconhecimento mútuo, inferido pelas correspondências elefantinas e das recensões do Pentateuco dos judeus e dos samaritanos logo após o exílio. Algumas leituras do livro de Neemias e Esdras (Ne 13:28; Ed 4:2) permitem imaginar que por volta de 445 a.C. ocorreram conflitos entre os remanescentes da terra e os retornados do exílio que reconstituíram a comunidade de Jerusalém. A rivalidade era visível desde os períodos helenístico e macabeu, acentuada pela destruição do santuário e da cidade no monte Gerizim no ano 110 a.C. movida por João Hicarno.

O Novo Testamento atesta uma atitude ambivalente em relação aos samaritanos, mas deseja incluí-los na comunidade cristã (Mt 10:5, Lc 9:51-55; 10:25-37; Jo 4:9; At 8:4 -40). No século I, Josefo acusou os samaritanos de perseguir peregrinos judeus; espalhando ossos humanos no santuário de Jerusalém; e os judeus, por sua vez, de queimarem aldeias samaritanas.

Na Guerra de Kochba, os registros e livros samaritanos foram destruídos. A insinuação de que eram um povo mestiço e com um culto derivado da mistura com outras religiões fez com que os samaritanos desenvolvessem uma estrita endogamia.

Epifânio, João de Damasco e Nicetas mencionam a existência de quatro seitas samaritanas: essênios, sebuaeanos, gortenianos e dositeus. No entanto, quase nada se sabe sobre eles e, no 2º milênio, a comunidade aparece unificada.

A sinagoga mais antiga encontrada, a de Delos na Grécia (século II a.C.), tem uma inscrição que a associa ao Monte Gerizim, tornando-a uma sinagoga samaritana. A diáspora samaritana estava presente na Ásia Menor, Itália, Síria e Egito. Em algumas ocasiões, o número de samaritanos na Síria e no delta do Egito superou o de judeus, como comprovam os tributos arrecadados por comunidades religiosas.

Os séculos IV e V d.C. foram o apogeu numérico e político samaritano. No início do século IV, um sacerdote, Baba Rabba, liderou um renascimento religioso e social. Exceto por um breve período de independência durante a guerra contra os bizantinos, os samaritanos viveram sob a vontade de seus governantes. As guerras de 484, 529 e 566 contra os bizantinos resultaram em pesadas perdas para os samaritanos. Durante o período islâmico e as cruzadas, a comunidade samaritana diminuiu à beira da extinção, embora geralmente protegida pelos muçulmanos. A última comunidade significativa da diáspora, a de Damasco, se converteu ao Islã, enquanto algumas famílias se mudaram para Siquém no século XVII.

O censo da Palestina Britânica de 1922 registrou 163 samaritanos. Em 2021, 840 samaritanos viviam ao redor do Monte Gerizim e em Ḥolon perto de Tel Aviv. Eles são as únicas pessoas elegíveis para ter dupla cidadania israelense e palestina. Na década de 2010, devido a problemas genéticos, as autoridades dos samaritanas autorizaram a conversão e o casamento de pessoas não nascidas como samaritanas. Consequentemente, a comunidade aceitou alguns indivíduos da Itália e do Brasil.

Escrituras e Religião

Os samaritanos não aceitam nenhum texto bíblico além do Pentateuco. Notoriamente, a versão samaritana tem um mandamento do Decálogo para construir um altar no Monte Gerizim. Uma versão de Josué e duas crônicas samaritanas são essenciais para a comunidade, mas sem autoridade canônica. Uma coleção de reflexões didáticas, Tibåt Mårqe, também contém interpretações midráshicas do Pentateuco e eventos samaritanos.

A escrita é derivada do paleo-hebraico, diferente da escrita assurith (“quadrada”) adotada pelos judeus.Como resultado, existem diferenças de pronúncia entre o hebraico samaritano e o massorético e o hebraico moderno.

Eles observam os sacrifícios e festas do Pentateuco no Monte Gerizim. Os samaritanos acreditam na ressurreição e na vinda de um profeta (mas não é um messias ou divino), o Tahib.

BIBLIOGRAFIA

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“Exploring Samaritanism” Special Issue of Religions (ISSN 2077-1444), 2021.

Macabeus

Os macabeus foram uma família do II e I séc. BC que lideraram a restauraçãopolítica e religiosa judaica. Também são chamados de Hasmoneus.

Os livros que levam seus nomes e os registros de Flávio Josefo constituem as principais fontes sobre eles.

No período helenístico depois da morte de Alexandre, Judá e Samaria passaram de mãos sucessivas vezes entre os ptolomeus do Egito e os selêucidas da Síria.

Na década de 180 d.C. a região estava controlada pelos selêucidas e o rei Antíoco IV. No entanto, para consolidar sua autoridade impôs uma política de aliança religiosa que implicava na adesão aos cultos tidos como idólatras. Muitos judeus aceitaram tais imposições, mas um velho sacerdote, Matatias, recusou a fazer o sacrifício requerido, matou o oficial selêucida e fugiu para as montanhas com seus cinco filhos. Acompanhados dos ‘piedosos’ (hassidim), iniciaram uma guerra de guerrilha que resultou na independência de um estado judeu liderado pela família dos macabeus.

Mais tarde, com a chegada do poder romano na região e dada as disputas internas na própria família dos macabeus e o oportunismo político dos herodianos, a dinastia sucumbiu.