Collegiantes

Os collegiantes foram uma denominação protestante radical na era áurea neerlandesa (séculos XVII ao XVIII).

Originários de uma congregação reformada na Holanda que não quis apoiar os partidos gomarista ou arminiano, os collegiantes apregoavam a liberdade de consciência.

Seus cultos eram abertos à manifestação livre das falas dos participantes, tanto homem quanto mulheres. Os critérios de comunhão era a crença na Bíblia como base para a fé e nos ensinamentos de Cristo como válidos para a humanidade. Fora isso, qualquer formulação doutrinária ou atos sacramentais não conferia efeitos para a participação em suas comunidades. Apesar disso, realizavam batismos por imersão e santa ceias bianuais.

Como um fórum de tolerância e culto, atraiu simpatizantes e visitantes famosos como John Locke, Baruch Spinoza, Jan Comenius, além de pioneiros batistas e quakers.

BIBLIOGRAFIA

Quatrini, Francesco. Adam Boreel (1602-1665): A Collegiant’s Attempt to Reform Christianity. Netherlands, Brill, 2021.

Gabriel Ascherham

Gabriel Ascherham (Kürschner) (morto em 1545) foi líder de um dos primeiros grupos anabatistas na Morávia e Silésia, os chamados gabrielitas.

Gabriel nasceu em Nürnberg, Baviera, e trabalhou em Schärding (Áustria), onde possivelmente envolveu-se com os anabatistas.

Defensor de uma vertente espiritual dos anabatistas, seus ensinos constrastam com o hutteritas, denominação cujos membros viviam na mesma região que os gabrielitas. Defensor da revelação direta do Espírito Santo, seus ensinos foram resumidos na seguinte forma:
(1) ninguém tem o direito de batizar e estabelecer ordenanças da igreja (regulamentos), a menos que esteja na igreja cristã;

(2) ninguém está na igreja cristã a menos que tenha o Espírito Santo;

(3) nem a fé nem o Espírito podem ser obtidos das Escrituras;

(4) nem é a fé o fundamento e a origem de nossa salvação.


Só quem tem o Espírito Santo pode distinguir entre o bem e o mal, e não quem tem apenas a letra da Bíblia. Aqueles que pregam sem o Espírito logo se tornam “literalistas”, e isso leva ao erro e à falsa aparência. O Reino de Deus é apenas interior. A organização externa e os regulamentos (ou ordenanças) não têm valor algum para a salvação.

“Todo batismo que ocorre fora do Espírito Santo não beneficia a ninguém. Como o batismo não pode trazer o Espírito Santo, ninguém na igreja cristã pode ser melhorado ou pior por ele (wird gebessert oder gebösert). Portanto, não é certo condenar alguém por causa do batismo. Como o batismo não pode produzir homens piedosos, as pessoas não devem ser obrigadas a se submeter a ele, a menos que tenham entendimento [divino]. O batismo não é uma lei, mas pressupõe liberdade, como todas as ordenanças cristãs (Ordnungen). Como a razão tem tal liberdade, seria muito melhor deixar que as criancinhas, que não podem nem falar, cheguem a essa liberdade. Como são batizadas, não têm nada encontrado nem perdido… mas se alguém me perguntar se o batismo infantil é pecado, a ele eu respondo que não. Mas para evitar desordem e superstição, é bom omitir o batismo infantil, já que tanto abuso surgiu dele.” “Onde há o Espírito Santo, há também o batismo, a lembrança de Cristo [Ceia do Senhor] e uma vida santa. Os irmãos autointitulados, no entanto, dizem: ‘Esta é a nossa ordem, insistimos nisso mesmo que seja machucar alguém.’ Isso eles chamam de zelo e testemunho cristão. Mas o Espírito Santo não precisa de tais provas externas”. “Não é possível morrer por causa do batismo, pois isso significa perder a graça de Deus em Cristo Jesus, por quem todos os homens são salvos pela morte de Cristo e não por sua própria morte.”

Com relação à Ceia do Senhor, Gabriel não aderia à corrente simbólica predominante entre os grupos anabatistas. Sua perspectiva era sacramental, semelhante a qual Calvino ensinou. Em uma celebração digna o crente realmente participa do corpo e sangue de Cristo de maneira espiritual.

BIBLIOGRAFIA

Friedmann, Robert. “Ascherham, Gabriel (d. 1545).” Global Anabaptist Mennonite Encyclopedia Online. 1953. Web. 1 Sep 2022. https://gameo.org/index.php?title=Ascherham,_Gabriel_(d._1545)&oldid=122341.

Killian Aurbacher

Killian Aurbacher (?-1534?), foi um dos primeiros líderes anabatistas em Austerlitz, Morávia.

Aurbacher argumentava que seguir a Jesus Cristo era questão de fé. Ser cristão seria uma questão de livre vontade, não uma imposição forçada. Tolerante, em uma carta a Martim Bucer em 1534 escreveu:

Nunca é certo obrigar alguém em questões de fé, seja o que for que ele acredite, seja ele judeu ou turco [muçulmano].

Mesmo que se alguém não creia de forma correta ou queira crer assim, isto é, se ele não possui ou não queira ter o correto entendimento da salvação e não confie em Deus ou se submeta a Ele, mas confia na criatura e ame-a, ele portará sua própria culpa e ninguém o apoiará no juízo.

E assim nos conduzimos de acordo com o exemplo de Cristo e dos apóstolos e proclamamos o evangelho segundo a graça que Ele nos confiou. Não obrigamos ninguém.

Mas quem está disposto e pronto, deixe segui-Lo, como Lucas nos mostra em Atos. Que isso então também é uma verdade aberta, que o povo de Cristo é constituído de pessoas livres, não forçadas e não compelidas, que recebem a Cristo com desejo e coração disposto. Acerca disso as Escrituras testificam.

Aurbacher, Hulshof, 247.

BIBLIOGRAFIA

Bender, Harold S. “The Anabaptists and Religious Liberty in the 16th century.” Archiv für Reformationsgeschichte 44.jg (1953): 32-51.

Hillerbrand, Hans J. Die politische Ethik der oberdeutschen Täufer. Ein Beitrag zur Religions- und Geistesgeschichte des Reformationszeitalters. Köln 1963. A famosa citação de Aubarcher aparece na página 22.