Al-Tachete

Embora Al-Tachete, em hebraico  אַל-תַּשְׁחֵת, seja um termo que aparece no título do Salmo 57, seu significado e origem permanecem obscuros. A palavra Al-Tachete não possui um sentido claro no hebraico, levando a diferentes interpretações e especulações. Uma tradução mais comum seria “não destruas”.

Algumas hipóteses sugerem que Al-Tachete possa ser uma expressão musical, indicando uma melodia específica ou um estilo de execução para o Salmo 57. A indicação de que este salmo deveria ser cantado com a melodia de “não destruas” reforça essa possibilidade. No entanto, a natureza precisa da melodia “não destruas” se perdeu ao longo da história.

Outra interpretação propõe que Al-Tachete seja uma palavra ou frase em uma língua estrangeira, possivelmente aramaico ou outra língua semítica, incorporada ao texto hebraico. Essa hipótese se baseia na presença de termos estrangeiros em outros textos bíblicos, refletindo o contato cultural e linguístico entre os israelitas e outros povos da região.

BIBLIOGRAFIA
Kraus, Hans-Joachim. Psalms 1-59: A Commentary. Minneapolis: Augsburg, 1988.

Aijelete-Hás-Saar

Aijelete-Hás-Saar (em hebraico: אַיֶּלֶת הַשַּׁחַר) é uma expressão enigmática que aparece no título do Salmo 22 na Bíblia Hebraica. A tradução mais comum é “A Corça da Manhã”, embora o significado preciso e a função dessa frase no contexto do salmo sejam objeto de debate entre estudiosos.

Interpretações:

Existem diversas interpretações para Aijelete-Hás-Saar:

  • Indicação musical: A interpretação mais aceita é que a frase se refere a uma melodia ou estilo musical conhecido na época. “A Corça da Manhã” pode ter sido uma canção popular ou uma melodia específica à qual o Salmo 22 deveria ser cantado. Essa interpretação encontra paralelo em outros salmos que também mencionam melodias nos seus títulos, como o Salmo 56 (“A Pomba Silenciosa em Terras Distantes”) e o Salmo 57 (“Não Destruais”).
  • Referência simbólica: Alguns estudiosos sugerem que “A Corça da Manhã” possui um significado simbólico. A corça, um animal ágil e gracioso, pode representar a inocência, a pureza ou a busca por Deus. O amanhecer, por sua vez, simboliza a esperança, a renovação e a vitória sobre as trevas. Nessa interpretação, o título prenuncia o tema do salmo, que se inicia com lamento e sofrimento, mas termina com confiança na salvação divina.
  • Título litúrgico: Outra possibilidade é que Aijelete-Hás-Saar seja um título litúrgico ou uma referência a um contexto específico de uso do salmo no culto. Alguns estudiosos associam a expressão à “Shekinah”, a presença divina que habitava o Tabernáculo e o Templo.

Relação com o Salmo 22:

O Salmo 22 é um salmo de lamento individual que expressa profunda angústia e sofrimento. O salmista se sente abandonado por Deus e cercado por inimigos. No entanto, a segunda parte do salmo apresenta uma mudança de tom, com o salmista expressando confiança na libertação divina e louvando a Deus por sua fidelidade.

A relação entre o título “A Corça da Manhã” e o conteúdo do Salmo 22 é complexa. Se a frase se referir a uma melodia, a escolha pode parecer inadequada para um salmo de lamento. Por outro lado, se a interpretação simbólica for correta, o título pode indicar que o sofrimento do salmista é temporário, como a escuridão da noite que precede o amanhecer.

Antífona

Antífona é um verso ou sentença das Escrituras utilizado para introduzir e, frequentemente, expressar o pensamento do salmo que o segue. A antífona é repetida após o salmo. O termo “antífona” deriva do grego antiphonon e refere-se a uma forma de canto ou recitação responsiva em que dois grupos alternam os versos. Essa prática encontra-se em diversas formas na Bíblia e possui significativas implicações litúrgicas no culto cristão.

No contexto bíblico, o canto antifonal pode ser observado em passagens que evidenciam uma estrutura organizada de adoração. Um exemplo está em Esdras 3:11, que descreve o canto antifonal entre os israelitas durante a reconstrução do templo: “Com resposta antifonal, cantaram, louvando e glorificando ao Senhor: ‘Porque Ele é bom, e Sua misericórdia para com Israel é para sempre.'” Essa passagem sugere uma forma estruturada de louvor em que os participantes alternavam seus cânticos em exaltação a Deus.

Nos Salmos, algumas composições são notórias por sua estrutura antifonal. Os Salmos 24, 118 e 136 são frequentemente citados como exemplos em que os versos podem ser cantados de maneira responsiva por diferentes grupos, intensificando o caráter comunitário do culto por meio de vozes alternadas.

Classificação dos Salmos

O Livro dos Salmos, uma parte integral da Bíblia Hebraica e do Antigo Testamento cristão, é uma antologia de 150 poemas, classificados de formas diversas em subgêneros literários. As classificações mais comuns são as seguintes.

Salmos de Louvor: uma parte significativa do Saltério, incorporando expressões celebrativas de adoração e culto ao divino. Esses salmos exaltam a grandeza de Deus, sua misericórdia e seu poder criativo, servindo como hinos de louvor jubiloso. Exemplos incluem os Salmos 8, 19, 29, 104 e 148, nos quais Deus é louvado como Criador e Libertador. Além disso, os Cânticos de Sião, como os Salmos 46, 48 e 122, exaltam o Monte Sião como o lugar sagrado da presença de Deus.

Salmos de Lamento: manifestam expressões sinceras de tristeza e aflição, oferecem uma plataforma para que indivíduos derramem suas emoções enquanto buscam consolo e conforto em Deus. Mais de um terço dos Salmos pertence a esse gênero, apresentando lamentos pessoais e comunitários. Exemplos incluem os Salmos 3, 12 e 51, nos quais os salmistas expressam luto, queixa e arrependimento, transitando eventualmente para expressões de confiança na fidelidade de Deus.

Salmos de Ação de Graças: oferecem expressões de gratidão pelas bênçãos e atos de bondade de Deus. Esses salmos relatam orações respondidas e livramentos da adversidade, servindo como lembretes da fidelidade de Deus. Exemplos incluem os Salmos 32, 65 e 124, nos quais indivíduos e comunidades agradecem pelo perdão, proteção e livramento dos inimigos.

Salmos Reais e de Aliança: focam em temas de realeza, destacando a soberania de Deus e a aliança divina com a dinastia davídica. Divididos em categorias de realeza divina, realeza teocrática e renovação da aliança, esses salmos celebram o domínio de Deus sobre o universo e afirmam a lealdade ao rei davídico. Exemplos incluem os Salmos 2, 18 e 72, que enfatizam o papel de Deus como soberano supremo e o estabelecimento da linhagem davídica.

Salmos de Sabedoria: transmitem ensinamentos práticos e morais, dando a importância de viver uma vida justa de acordo com a lei de Deus. Esses salmos contrastam os estilos de vida dos justos e dos ímpios, frequentemente empregando dispositivos retóricos como bênçãos e comparações. Exemplos incluem os Salmos 1, 37 e 119, que exaltam as virtudes da sabedoria e da obediência aos mandamentos de Deus.

Salmos Imprecatórios: expressam o desejo pela justiça e intervenção de Deus, muitas vezes invocando maldições sobre os inimigos do salmista. Embora esses salmos apresentem desafios para a interpretação, refletem as lutas dos salmistas com as complexidades da retribuição divina. Exemplos incluem os Salmos 35, 69 e 109, nos quais os salmistas clamam a Deus por julgamento sobre seus adversários.

Salmos Penitenciais: são expressões de remorso e busca pelo perdão e misericórdia de Deus. Esses salmos reconhecem a fragilidade humana e a necessidade da graça divina, oferecendo orações de arrependimento e contrição. Exemplos incluem os Salmos 6, 32 e 51, nos quais os salmistas suplicam pela misericórdia e cura de Deus diante do pecado e do sofrimento.

Salmos de Confiança: enfatizam a confiança na providência e proteção de Deus, mesmo no meio da adversidade. Esses salmos transmitem confiança na fidelidade de Deus e servem como expressões de fé inabalável. Exemplos incluem os Salmos 11, 23 e 121, nos quais os salmistas encontram segurança e refúgio no cuidado de Deus.

Salmos Messiânicos: antecipam a vinda de um messias e encontram cumprimento na pessoa de Jesus Cristo na interpretação cristã. Esses salmos contêm elementos proféticos que apontam para o futuro reinado de um rei divino. Exemplos incluem os Salmos 2, 22 e 110, que preveem o estabelecimento do reino de Deus e o reinado de um governante justo.

Salmos de Ascensão: compreendendo os Salmos 120-134, eram cantados pelos israelitas peregrinos enquanto ascendiam a Jerusalém para as festas anuais. Esses salmos refletem temas de peregrinação, unidade e adoração, servindo como expressões de devoção comunitária e anseio pela presença de Deus.

Salmos de Hallel: incluem o Hallel Egípcio (Salmos 113-118) e o Grande Hallel (Salmos 120-136), são coleções de salmos usados na liturgia judaica para louvor e ação de graças nas três festas anuais às quais todos os homens tinham que comparecer: Páscoa, Pentecostes e Tabernáculos. Esses salmos celebram a libertação, a providência e a fidelidade de Deus, servindo como expressões de adoração e adoração comunitária. A maioria dos salmos do “Grande Hallel” são canções de peregrinação. Uma terceira coleção de salmos Hallel (146-150) foi incorporado às orações diárias do culto na sinagoga após o destruição de Jerusalém em 70 d.C.

Crítica dos gêneros e das formas aplicada aos Salmos

O estudo da classificação de gêneros para os Salmos evoluiu significativamente no século XX. Foram elaboradas por biblistas que empregavam a crítica literária e crítica das formas.

Hermann Gunkel, em colaboração com J. Begrich, fez esforços pioneiros nesse campo com sua obra “Introduction to the Psalms: The Genres of the Religious Lyric of Israel” (1933), onde classificaram os Salmos com base em seus supostos contextos de vida, frequentemente atribuindo-os ao contexto cultual. Embora a ideia de Gunkel de um único contexto de vida para cada tipo de salmo seja agora considerada desatualizada, suas categorias críticas de forma ainda influenciam as discussões contemporâneas, embora com revisões.

Clause Westermann, em “Praise and Lament in the Psalms” (1981), questionu as distinções tradicionais entre os Salmos de louvor e de ação de graças, argumentando que todos os Salmos contêm elementos de louvor. Ele os categorizou como louvor descritivo ou narrativo/declarativo, com até os Salmos de lamento sendo vistos como expressões de louvor em meio à adversidade. Baseando-se nisso, Walter Brueggemann, em “The Message of the Psalms” (1984), propôs uma categorização funcional, dividindo os Salmos em orientação, desorientação e reorientação, com base em seu papel na jornada de fé do crente

Outros estudiosos, como Erhard S. Gerstenberger, têm se concentrado nos contextos sociais dos Salmos, destacando a dinâmica entre contextos de grupo interno e externo.

Outras abordagens inclueem obras como “Out of the Depths: The Psalms Speak to Us Today” de Bernard W. Anderson e as contribuições de Douglas Stuart para “How to Read the Bible for All It’s Worth”.