Supererrogação

Supererrogação é o ato de fazer mais do que o exigido pelo dever, obrigação ou necessidade. Também pode significar pagar mais do que o devido.

Historicamente enraizado na teologia católica romana, o conceito enfrentou críticas durante a Reforma, mas recuperou destaque na teoria ética. O debate sobre a supererrogação aborda se as ações além do dever possuem um valor moral distinto e como elas se relacionam com as principais teorias éticas.

Perspectivas Modernas se dividem em três variedades:

Anti-supererrogacionismo: Argumenta que todas as ações moralmente boas são obrigatórias, negando uma classe separada de ações moralmente boas além do dever.

Supererrogacionismo qualificado: reconhece ações além do dever, mas postula seu valor como derivado de deveres hipotéticos ou subjetivos, permitindo omissões desculpáveis.

Supererrogacionismo não qualificado: Afirma que as ações supererrogatórias superam inteiramente os requisitos morais, enfatizando seu valor único.

As três visões respondem ao paradoxo de como o bem moral pode existir além do dever. O anti-supererrogacionismo nega a possibilidade, o supererrogacionismo qualificado introduz condições para a força prescritiva do dever e o supererrogacionismo não qualificado afirma que a lacuna entre o “bom” e o “deve” permite uma categoria distinta de ações supererrogatórias.

O debate contemporâneo, embora desprovido do fervor das disputas religiosas históricas, centra-se na relação entre o “bom” e o “deve”. Embora não estejam envolvidos interesses políticos ou institucionais directos, as discussões aprofundam a natureza e a justificação dos actos supererrogatórios em vários contextos éticos.

A supererrogação desafia as principais teorias éticas, questionando se os utilitaristas podem aceitar ações obrigatórias abaixo do ideal, se os deontologistas podem reconhecer o valor moral das ações além do dever e como os especialistas em ética da virtude podem relacionar ações supererrogatórias a disposições de caráter específicas.

Sinterese

Sinterese, Sinteresia ou sintérese (συντήρησιν) é um termo teológico para descrever um aspecto da consciência de alguém pelo qual se pode julgar o certo do errado e decidir o que constitui uma boa conduta em oposição à sineidese.

Aparece no Comentário sobre Ezequiel de Jerônimo. A sinterese seria um dos poderes da alma e é descrita como a centelha da consciência (scintilla conscientiae). O conceito de Jerônimo foi debatido por Alberto Magno e Tomás de Aquino com bases aristotélicas. Boaventura a considerou como a inclinação natural da vontade para o bem moral.

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Yetzer ha-Ra’

Santificação

A doutrina da santificação ou hagiologia é o estudo da transformação pessoal e social proporcionada pela fé em Jesus Cristo pela agência progressiva do Espírito Santo.

Individualmente, a santificação é um processo ao longo da vida que envolve o crente crescendo em maturidade espiritual e tornando-se mais semelhante a Cristo. Coletivamente, as várias formas da igreja cumprem o mandado de santificação ao espelhar-se em Cristo e buscar cumprir seus mandamentos conforme os ensinos nos evangelhos.

Geralmente são temas com maior importância em teologias da tradição ortodoxa grega e oriental, na tradição wesleyana (especialmente no movimento de santidade), pietista, anabatista e do movimento de Keswick.

Os tópicos típicos estudados na disciplina teológica da santificação incluem:

  • Os fundamentos bíblicos da santificação incluindo os papéis da fé, da graça e do Espírito Santo no processo. Como as Escrituras servem para o crescimento de fé e conduta (2 Tm 3:15-17), é natural busca nelas bases para subsidiar decisões éticas que afetem a santificação.
  • A natureza da santificação ou como como a santificação é alcançada, como é o processo e qual é o objetivo da santificação.
  • As concepções errôneas de santificação, tais como separatismo, legalismo, elitismo, falso moralismo, individualismo, egoísmo, buscar santificação pelo própri esforço, negligenciar o próximo e a criação na santificação.
  • A relação entre justificação e santificação, explora a conexão entre a retidão (ser justificado) pela fé e ser santificado pelo Espírito Santo.
  • Os meios da graça pelos quais os crentes podem crescer em santificação, incluindo oração, estudo da Bíblia, adoração, comunhão e serviço.
  • Os desafios da santificação que são os obstáculos e dificuldades que os crentes enfrentam no processo de santificação, incluindo pecado, tentação e conflito espiritual.
  • A santificação e ética ou das maneiras pelas quais a santificação molda o comportamento moral e ético dos crentes, enquanto buscam viver em comunhão e obediência à vontade de Deus.
  • A dimensão escatológica da santificação envolve explorar a relação entre a santificação e a esperança futura do crente, incluindo a ressurreição e a vida eterna.

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Inteira Santificação

Simul iustus et peccator

Anátema

Anátema é um termo que denota maldição porque foi separado. Deriva do grego ἀνάθεμα, anáthema, que significa “uma oferenda” ou “qualquer coisa dedicada”.

No Antigo Testamento, a Septuaginta referia-se tanto aos objetos irremissíveis consagrados ao uso divino (Corbã) quanto aos destinados à destruição em nome do Senhor, como os inimigos e suas armas durante as guerras religiosas (herem). Portanto, tais objetos seriam maldidos para a apropriação pessoal. Cf. Lv 27:28.

No Novo Testamento o termo aparece seis vezes (1 Co 12:3; 16:22; Gl 1:8,9; Rm 9:3; At 23:14), indicando um desfavor divino. O termo “anátema” no Novo Testamento mantém essa ideia de separação e consagração absoluta, mas geralmente com um sentido de exclusão da comunidade dos fiéis. Paulo, por exemplo, usa a palavra para se referir àqueles que pregam um evangelho diferente (Gálatas 1:8-9) ou que não amam o Senhor (1 Coríntios 16:22). Nesses casos, o anátema representa uma forma de excomunhão espiritual, uma separação definitiva da comunhão com Deus e com a Igreja.

Mais tarde, na história do cristianismo o termo ganhou conotação de amaldiçoamento formal.

Simul iustus et peccator

Em latim, Simul iustus et peccator “simultaneamente justo e pecador” descreve o paradoxo de como uma pessoa pode estar plenamente justificada diante de Deus e ainda assim enfrentar o pecado continuante. É um conceito desenvolvido principalmente na teologia luterana.

BASES BÍBLICAS

Os salmos penitenciais, os escritos paulino (Romanos 6:18, 22) e joanino (1 Jo 3:9) afirmam que o justo não está sob o domínio do pecado, mas descrevem também a falibilidade humana.

Paulo descreve a existência humana como um conflito entre a vontade de fazer o bem e a incapacidade de realizá-lo (Romanos 7:7-25), mas também como um conflito entre a vida antiga e a nova alcançada pela fé (Romanos 6:1-4). Além disso, Paulo levanta a questão sobre as consequências dos efeitos contínuos do pecado sobre aqueles que já foram justificados, embora sem oferecer qualquer solução para esse conflito exceto a exclusão temporária do pecador da comunidade (1 Coríntios 5). Em Gálatas, é dito que o cristão ainda deve resistir aos “desejos da carne” que ainda permanecem na pessoa justificadoa (Gálatas 5: 16-17). Na epístola de 1 João diz “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos” (1:8).

Várias tentativas teológicas e exegéticas foram feitas para contornar essa dificuldade. Uma tentativa, por exemplo, entendia que Paulo estava falando de si mesmo (Romanos 7:17-19) e não dos crentes em geral. Outra interpretação entende que Paulo estava falando de sua vida pré-conversão em Romanos 7. Por fim, há exegetas que consideram Romanos 7:14-25 seja não sobre a vida cristã, mas a vida sob a Lei.

SIMULTANEIDADE DE JUSTO E PECADOR NO PROTESTANTISMO

A teologia escolástica sustentava que o batismo lavava o pecado original, mas permaneceria uma inclinação para o pecado, a chamada “concupiscência”. Porém, os pecados só seriam imputados quando praticados, mas não a concupiscência em si uma pessoa seria julgada.

Lutero rejeitou essa associação de que pecado somente seria quando houvesse uma trangressão, considerando a concupiscência como o próprio pecado. O crente é ao mesmo tempo justo e pecador. Justo porque a graça é eficaz e o sacrifício de Cristo foi suficiente, pecador porque o ser humano na prática não tem a capacidade plena de viver em justiça. Assim, há uma existência dialética até glorificação.

Diante disso, duas perspectivas tentam explicar essa relação simultânea:

  1. O ser humano é totalmente pecador e totalmente justificado por Cristo.
  2. O ser humano é parcialmente pecador e parcialmente justificado.

Na teologia luterana, essa condição simultânea de pecador e justificado não é leniente com o pecado. Antes é o reconhecimento da necessidade da graça para se santificar. Essa mesma condição se estende à Igreja e é intimamente ligada à santificação e agência do Espírito Santo.

55 Tudo, portanto, na Igreja Cristã é ordenado para que não obtenhamos diariamente nada além do perdão dos pecados através da Palavra e dos sinais, para confortar e encorajar nossas consciências enquanto vivermos aqui. Assim, embora tenhamos pecados, a [graça do] Espírito Santo não permite que eles nos prejudiquem, porque estamos na Igreja Cristã, onde não há nada além de [contínuo, ininterrupto] perdão dos pecados, tanto em que Deus perdoa nós, e nisso perdoamos, suportamos e ajudamos uns aos outros.

56 Mas fora desta Igreja Cristã, onde não há Evangelho, não há perdão, como também não pode haver santidade [santificação]. Portanto, todos os que buscam e desejam merecer a santidade [santificação], não pelo Evangelho e perdão dos pecados, mas por suas obras, se expulsaram e se separaram [desta Igreja].

Catecismo Maior

A perspectiva luterana de “pecador e justificado” difere de outras perspectivas protestantes. Por exemplo, na tradição reformada esta fórmula seria resumida em “pecador ainda que justificado”. Na tradição wesleyana seria “pecador, porém já justificado”. No novo calvinismo seria “pecador instrisicamente, ainda que extrinsicamente (judicialmente) justificado”. Já na teologia folk do protestantismo persiste o “pecador ainda, depois justificado”, ou seja, a ideia de que o crente será sempre pecador até que seja vindicado no tribunal de Cristo. Bem ilustra essa posição o seguinte trecho:

Alguns anos atrás, no estudo bíblico, liderei uma discussão que, como cristãos, somos simul iustus et peccator. Os membros do estudos reconheceram pronta e sinceramente que eram pecadores. Mas o grupo lutou para se ver como santos e se recusava a se chamarem assim. Os santos, eles raciocinaram, eram puros, enquanto eram pecadores. Eles não conseguiam olhar além de seus pecados para ver a justiça de Cristo que é deles pela fé, a justiça pela qual eles são considerados santos. Ao confessar apenas metade da equação, eles demonstraram que não haviam internalizado o conceito de ser simul.

Moldenhauer, 2016

Na soteriologia e antropologia anabatista, o conceito de simul iustus et peccator (justo e pecador ao mesmo tempo) é irrelevante e inexistente. Isso ocorre porque a Reforma Radical se concentrou na ideia de que tornar-se justo no poder do Cristo ressuscitado constitui a salvação. A salvação é vista como uma jornada de progressiva superação do pecado e crescimento à semelhança de Cristo. Embora a perfeição não seja alcançável nesta vida, os crentes são chamados a lutar por uma santidade maior. O poder do Cristo ressuscitado, operando através do Espírito Santo, capacita os crentes a vencer o pecado e viver em justiça. Isso enfatiza um relacionamento dinâmico com Deus e uma busca ativa pela santidade. Nesse contexto, a responsabilidade mútua e o discipulado são essenciais para o crescimento espiritual.

Já o pensamento wesleyano é a alternativa para a doutrina do Simul iustus et peccator por sua defesa da doutrina da perfeição cristã ou inteira santificação. Onde Lutero via os cristãos como simultaneamente justos e pecadores, incapazes de escapar do pecado nesta vida, Wesley ensinou que, pela graça, os cristãos podem alcançar um estado de amor perfeito e liberdade do pecado. De acordo com Wesley, esse estado não era meramente imputado ou forense, mas uma transformação real do caráter moral. Na teologia de Wesley, a inteira santificação é uma segunda obra da graça, após a justificação, que permite aos crentes serem santificados em todo o seu ser – espírito, alma e corpo – libertando-os da escravidão do pecado. O objetivo não é a perfeição sem pecado, mas um coração purificado de intenções pecaminosas e uma capacidade aumentada de amar a Deus e ao próximo. Isso é acompanhado pela obra interior do Espírito Santo, testemunhando a santidade do crente e capacitando-o a viver uma vida santa. Essa perspectiva não significa que a pessoa não vá mais pecar, mas que não terá desejo ou prazer no pecado. Assim, enquanto Lutero enfatizou a tensão entre a justiça imputada e a pecaminosidade contínua, Wesley enfatizou o poder transformador da graça que capacita os crentes a alcançar a santidade. É a perspectiva adotada por grupos e denominações de herança metodista e de Santidade.

Dada a diversidade no pentecostalismo, bem como a utilização de diferentes origens teológicas por pentecostais, não há uma postura uniforme.

No cenário diversificado do pentecostalismo americano, a doutrina da santificação se apresenta sob diferentes matizes, refletindo as diversas influências teológicas e as experiências particulares de cada grupo. Um segmento importante, representado por denominações como a Church of God (Cleveland) e a Apostolic Faith Portland, herdeiras do movimento de santidade do século XIX, tradicionalmente enfatiza a santificação como uma segunda obra da graça, distinta da justificação. Para estes, a experiência de purificação do coração, conhecida como inteira santificação, capacita o crente a viver em perfeição cristã e a servir a Deus de forma mais plena. A santidade, nesse contexto, é vista como um estado a ser alcançado, uma transformação interior que liberta o crente do pecado e o equipa para uma vida de retidão.

Em contraposição a essa visão, denominações como as Assembleias de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular adotam uma perspectiva de santificação progressiva ou gradual. Embora reconheçam a importância da santidade e da obra do Espírito Santo na vida do crente, não necessariamente a definem como uma segunda obra distinta da justificação. A santidade, nesta ótica, é um processo contínuo de crescimento em Cristo, possibilitado pela ação do Espírito Santo. O crente, justificado pela fé, é chamado a buscar a santidade em sua vida diária, num caminho de constante aprendizado e conformidade aos princípios bíblicos. É uma postura herdeira da tradição de Keswick, especialmente pelas reformulações de A. S. Copley e William H. Durham. A ênfase recai sobre o desenvolvimento do caráter cristão e a progressiva vitória sobre o pecado, sem necessariamente definir um momento específico de “inteira santificação”.

Entre os pentecostais afro-americanos trinitarianos, a santificação como segunda obra da graça, influenciada pela teologia wesleyana, encontra forte eco. A Church of God in Christ (COGIC), uma das maiores denominações pentecostais afro-americanas, é um exemplo proeminente dessa ênfase. A santidade pessoal e a separação do mundo são aspectos cruciais da fé para muitos pentecostais afro-americanos, refletindo uma busca por uma vida de integridade e compromisso com os valores cristãos. A santidade, nesse contexto, pode ser vista como um distintivo da identidade crente, uma marca de transformação e consagração a Deus.

EXCURSO: Pentecostalismo da Obra Consumada e a tradição de Keswick

No pentecotalismo da Obra Consumada ou do Evangelho Pleno há uma continuidade com o entendimento de Keswick. Como no luteranismo, a soteriologia de Keswick considera a simultânea a tensão de ser justificado e pecador. Entretanto, enquanto o luteranismo enfatiza a tensão entre a justificação e a pecaminosidade contínua do crente, Keswick enfatiza a possibilidade de uma vida de vitória sobre o pecado através da obra do Espírito Santo. Como considera a obra plena de salvação (justificação e santificação) foi consumada no calvário e disponibilizada pelo Espírito Santo, a obra de salvação atua de forma que “uma vez justificado/santificado e uma vez pecador”. Desse modo, diverge do modelo luterano de separar a justificação como ato forense e santificação como ato gradual. Ao invés, disso no pentecostalismo da obra consumada considera que a obra de graça pelo Espírito Santo justifica e santifica subsequentes à regeneração. Essa postura pode ser explicada na seguinte maneira:

A abordagem em torno do movimento Keswick representa uma categoria própria, que não pode ser encaixada nas precedentes. Faz lembrar a primeira categoria pelo lugar central que atribui à pessoa de Cristo. E, no entanto, essa comparação falha assim que notamos o cristocentrismo de Keswick. Pois, não há movimento circular contínuo da lei para o evangelho, e mesmo o movimento único e vitalício da lei para o evangelho é ofuscado por uma passagem imediata da lei para o evangelho que exige que toda lembrança da lei e, junto com ela, uma mortificatio contínua seja descartada. Embora o Catecismo de Heidelberg tenha insistido que é importante tornar-se consciente da própria natureza pecaminosa por causa da salvação, e enquanto a Confissão de Westminster entende que a velha natureza enfraquece cada vez mais, Keswick insiste que a velha realidade do pecado não deve ser tomada muito a sério. Embora, por um lado, a teologia de Keswick não comece com o enfraquecimento da velha natureza e ainda reconheça plenamente a pecaminosidade dessa velha natureza, essa realidade deve, por outro lado, ser superada por nossa reivindicação de fé em nossa posição em Cristo. Em Keswick, a justificação e a santificação assumiram uma estrutura semelhante, de tal forma que o simul iustus et peccator de Lutero foi transformado em um simul sanctitus et peccator (‘uma vez santificado, uma vez pecador’).

van Vlastuin (2014, p. 152).

As tradições teológicas luterana e pentecostal, embora distintas em suas ênfases, compartilham a crença na centralidade da obra do Espírito Santo na santificação dos crentes.

No luteranismo, a santificação é compreendida como um processo contínuo de crescimento na graça, impulsionado pelo Espírito Santo. Através da justificação pela fé, o crente é declarado justo por Deus, e o Espírito Santo capacita-o a viver de acordo com a vontade divina, combatendo o pecado e buscando a santidade. A teologia luterana enfatiza a tensão entre a justiça imputada ao crente e a persistência da pecaminosidade em sua vida terrena, conforme expresso na fórmula simul justus et peccator (justo e pecador ao mesmo tempo).

O pentecostalismo, por sua vez, enfatiza a obra completa de Cristo na salvação, incluindo a justificação e a santificação. A experiência do batismo no Espírito Santo, frequentemente acompanhada por dons espirituais, é vista como um revestimento de poder que capacita o crente para o serviço e testemunho. Embora valorize a obra do Espírito Santo na santificação, o pentecostalismo não se concentra na tensão entre justificação e pecaminosidade como o luteranismo, enfatizando a transformação do crente pelo poder do Espírito Santo.

Por sustentar esse posicionamento, os pentecostais da Obra Plena não veem suas boas obras como “trapos de imundície”, mas sim como atos de serviço realizados através do poder do Espírito Santo. Após a conversão e o batismo no Espírito Santo, o crente recebe poder para viver uma vida de acordo com a vontade de Deus. As boas obras, portanto, não são vistas como meros esforços humanos, mas sim como frutos do Espírito Santo (Gálatas 5:22-23). Os “trapos de imundície” (Isaías 64:6) seriam as obras realizadas sem fé e com motivações impuras. São ações que, apesar de parecerem justas externamente, não brotam de um coração transformado por Deus. Essas obras não têm mérito algum para a salvação nem servem para recompensas ou galardões, os quais são unicamente recebidos pela graça de Deus em Cristo. No entanto, quando o crente é habitado pelo Espírito Santo, suas ações são transformadas. O Espírito Santo capacita o crente a amar, servir e praticar a justiça de Deus. Essas obras, frutos da ação do Espírito, são um testemunho da obra de regeneração e uma expressão da gratidão a Deus.

A frase “o ser humano é em Cristo morto para a velha natureza e caminha em novidade de vida” expressa uma verdade bíblica fundamental, compartilhada por diversas tradições cristãs. No entanto, a interpretação dessa “morte” e “novidade” pode variar entre as diferentes teologias.

A busca pela “estatura de varão perfeito em Cristo” expressa o objetivo da santificação em ambas as tradições, embora seus caminhos e ênfases possam diferir.

Em conclusão, o luteranismo e o pentecostalismo valorizam a obra do Espírito Santo na santificação, mas com ênfases distintas. Por isso, é necessário analisar cada tradição em seus próprios termos, considerando suas nuances teológicas e históricas. A ideia de um “revestimento de poder” pelo Espírito Santo é mais característica do pentecostalismo do que do luteranismo.

BIBLIOGRAFIA

Apologia da Confissão de Augsburgo 2.38-41.

Catecismo Maior. Credo dos Apóstolos, III, 55-56

Moldenhauer, Aaron. “Simul justus et peccator,” Logia 25 n. 4 (2016). https://logia.org/logia-online/issue-25-4-simul-justus-et-peccator2016

Laato, Timo. “Simul Iustus Et Peccator Through the Lenses of Paul,” Journal of the Evangelical Theological Society 61, no. 4 (2018): 735–766.

Storms, Sam. “10 things you should know about justification”. 2016. http://www.samstorms.org

Trueman, Carl “Simul Peccator Et Justus: Martin Luther and Justification,” in Justification in Perspective: Historical Developments and Contemporary Challenges, ed. Bruce McCormack. Grand Rapids: Baker Academic, 2006, pp. 73–98.

van Vlastuin, Willem. Be Renewed: A Theology of Personal Renewal. Reformed Historical Theology, vol. 26. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 2014, p. 152.

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Santificação