Adversário

Adversário traduz termos como o hebraico sar e o grego antikeimenos e antidikos, expressando a ideia de oposição, inimizade ou antagonismo.

No Antigo Testamento, sar se refere principalmente aos inimigos de Israel (Êxodo 23:22; Jeremias 50:7), mas também a rivais pessoais (1 Samuel 1:6) ou mesmo a judeus pecadores (Isaías 1:24). Esses adversários, por vezes, servem como instrumentos da ira divina (Salmos 89:42; Amós 3:11), mas no final serão derrotados (Salmos 81:13,14; Jeremias 30:16). O termo hebraico satan (Satanás) pode designar tanto um adversário humano (1 Samuel 19:4; 2 Samuel 19:22) quanto um anjo do Senhor (Números 22:22).

No Novo Testamento, antikeimenos significa simplesmente “oponente” (Lucas 13:17; 21:15), enquanto antidikos se refere a oponentes em julgamento (Mateus 5:25; Lucas 12:58) e, mais comumente, ao diabo (Lucas 18:3; 1 Pedro 5:8).

A figura do adversário na Bíblia representa as forças que se opõem a Deus e ao seu povo, sejam elas humanas ou espirituais. A superação dos adversários, porém, revela a soberania de Deus e a vitória final do bem sobre o mal.

Processus Sathanae

O Processus Sathanae ou Processo de Satanás é uma fábula medieval dos séculos XIII ou XIV. Satanás acusa a humanidade por seus pecados, enquanto a Virgem Maria atua como defensora. Jesus Cristo, juiz do caso, concede misericórdia à humanidade. A narrativa simboliza a redenção pela ressurreição de Cristo, vencendo o poder do diabo.

Samael

Samael, em hebraico como סַמָּאֵל “Veneno de Deus”, é uma figura malévola no judaísmo rabínico, gnosticismo e demonologia islâmica. Em muitas tradições esotéricas e, em grande parte do primeiro milênio, Samael seria o nome do Acusador ou Satanás — não Lúcifer. Várias formas do nome, incluindo Samael, Sammuel e outras, foram usadas ao longo da antiguidade e da Idade Média.

Como acusador ou adversário, seria o satanás do Livro de Jó. Essa identificação com Satanás ocorria entre os gnósticos ofitas, que se referiam à serpente com um nome duplo, Miguel e Samael. O conflito entre Samael e Miguel, que serve como o anjo guardião de Israel, culminará no fim dos tempos.

Samael também desempenha os papéis de sedutor e destruidor. Por isso, às vezes é chamado Mashḥit (Êxodo 12:23; Isaías 54:16), o Destruidor. Seria membro da assembleia divina, chefe dos demônios. Também seria o principal anjo da morte.

Em algumas escrituras gnósticas, como “Sobre a Origem do Mundo”, Samael é um dos três nomes de Yaldabaoth. Esta criatura cega imaginou que seria o único ser divino. A associação com a cegueira aparece também na versão grega de Enoque, cujo nome como Σαμιέλ (Samiel) deriva de sami, “cego”.

No Livro Etíope de Enoque o nome de Samael aparece como um líder proeminente entre os anjos que se rebelaram contra Deus. As versões gregas desse texto hebraico chamam-no de Σαμμανή (Sammane) e Σεμιέλ (Semiel).

Apesar de ser associado à malevolência, as funções de Samael não são necessariamente más, visto que o castigo dos ímpios seria justo e bom

O papel de Samael na tradição rabínica varia. Em algumas instâncias, ele é retratado como um acusador e defensor, aparecendo perante a Shechiná durante o êxodo. Samael aparece na luta entre Jacó e o anjo. Também seria o anjo guardião de Esaú.

Na Cabala e na literatura mágica, Samael é considerado uma entidade poderosa, frequentemente maligna. Está associado ao anjo da morte e e magia de amuletos.

BIBLIOGRAFIA

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Schwab, Moïse. Vocabulaire de l’Angélologie. Paris: Maisonneuve Frères, 1897.

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https://www.jewishencyclopedia.com/articles/13055-samael

https://www.jewishvirtuallibrary.org/samael

Conflito de Adão e Eva com Satanás

Conflito de Adão e Eva com Satanás (O Livro de Adão e Eva) é um obra cristã parabíblica do século VI em Ge’ez, traduzida de um original árabe O Conflito de Adão e Eva com Satanás, também conhecido como O Livro de Adão e Eva.

Esta obra é notável por seu retrato dos acontecimentos imediatamente após a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden.

No Livro 1, o foco é a profunda tristeza e sensação de desamparo de Adão ao entrar no mundo além do Éden. Esta seção descreve a punição da serpente, suas tentativas fúteis de prejudicar Adão e Eva e a intervenção de Deus, que deixa a serpente muda e a bane para a Índia. Um incidente memorável envolve Satanás atirando-lhes uma pedra, apenas para que Deus intervenha, prenunciando assim a futura Ressurreição de Cristo. Além disso, as declarações proféticas de Deus neste livro predizem eventos futuros significativos, incluindo Noé e o Grande Dilúvio.

O Livro 2 investiga as identidades dos “filhos de Deus” mencionados em Gênesis 6:2 como descendentes de Sete, e das “filhas dos homens” como mulheres descendentes de Caim. A narrativa descreve a sedução bem-sucedida dos descendentes de Sete para descerem de sua morada montanhosa e se juntarem aos Cainitas no vale abaixo, orquestrada por Genun, filho de Lameque. Genun é creditado por inventar instrumentos musicais e armas de guerra, atributos tipicamente associados a Jubal e Tubal-Caim, respectivamente. Os Cainitas, conhecidos por sua maldade, envolvem-se em atos hediondos como assassinato e incesto. Os descendentes dessas uniões tornam-se os Nefilim, os “homens poderosos” de Gênesis 6, que morrem no Dilúvio, um tema também explorado em outras obras antigas como 1 Enoque e Jubileus. Mas, contrárias às interpretações de que os “filhos de Deus” seriam seres angelicais, essa obra assegura uma linhagem humana.

Os livros 3 e 4 continuam a narrativa, narrando a vida de figuras bíblicas como Noé, Sem e Melquisedeque. A história prossegue através de eventos significativos, culminando na destruição de Jerusalém por Tito no ano 70 d.C. De particular interesse é a genealogia de Adão a Jesus, espelhando a estrutura encontrada nos Evangelhos. No entanto, este texto distingue-se por também nomear as esposas de cada um dos antepassados de Jesus, uma característica distintiva raramente encontrada em outros relatos.

O Conflito de Adão e Eva com Satanás é digno de nota por se afastar das versões hebraicas e siríacas conhecidas dos textos bíblicos. Apresenta aspectos únicos, como a oferta de sacrifícios de animais por Caim, em oposição às ofertas agrícolas de Abel, e variações nas idades dos patriarcas pré-diluvianos, diferenciando-o de outras versões contemporâneas.

Vida de Adão e Eva

A Vida de Adão e Eva, também conhecida como o Apocalipse de Moisés, é um grupo de escritos apócrifos judaicos, bem como uma expansão parabíblica dos primeiros capítulos de Gênesis oriundos da antiguidade tardia.

Narra a vida de Adão e Eva após sua expulsão do Jardim do Éden até a morte. O texto investiga as consequências da Queda do Homem, incluindo doença e morte. Os temas explorados incluem a exaltação de Adão no Jardim, a queda de Satanás e a promessa de uma ressurreição para Adão e seus descendentes.

É o testemunho mais antigo da ideia de que Satanás e seus anjos foram expulsos do céu por seu orgulho e decidiram se vingar em Adão e Eva. Contudo, Satanás da Vida de Adão e Eva é principalmente um rival de Adão, e não de Deus.

A Vida de Adão e Eva existe em várias versões, como o Apocalipse grego de Moisés, a Vida latina de Adão e Eva, a Vida eslava de Adão e Eva, a Penitência armênia de Adão e o Livro georgiano de Adão. Essas versões contêm material tanto exclusivo quanto conteúdo compartilhado. As versões sobreviventes datam dos séculos III a V d.C., o que leva a pensar de uma fonte comum de uma composição no século I dC.