Hemerobatistas

Os hemerobatistas (em grego, “imersionistas diários”, em hebraico Tovelei Shaḥarit) eram uma comunidade religiosa no período final do Segundo Templo e Antiguidade tardia que praticava imersões diárias para purificações rituais.

Seriam uma provável divisão de essênios que se banhavam todas as manhãs antes da hora da oração para pronunciar o nome de Deus com o corpo limpo.

As fontes sobre os hemerobatistas são escassas. Aparecem mencionados em escritos judaicos e cristãos a partir do século I e até o século III e IV d.C. Uma das primeiras menções deles seria sobre um hemerobatista, Banus. Ele teria sido professor de Josefo (Vita, § 2). Era um ascético que vivia no deserto e comia o que a natureza providenciava, tendo vivido no início do século I d.C. No tempo de Josué ben Levi no século III d.C. um remanescente ainda existia (Ber. 22a).

No Talmude aparecem os hemerobatistas acusando os fariseus de “errarem ao pronunciar o Nome pela manhã sem ter tomado o banho ritual; ao que os fariseus responderam: ‘Nós os acusamos de erro ao pronunciar o Nome com um corpo impuro por dentro'”.(Tosef., Yad., final)

A literatura clementina identifica de João Batista e seus discípulos como um hemerobatistas, e os discípulos de João são chamados de “Hemerobatistas” (Homilias, 3. 23; Reconhecimentos 1. 54). É possível que haja uma conexão com os mandeus.

Hegésipo, mencionado por Eusébio (História Eclesiástica 4. 22) conta os hemerobatistas como uma das sete seitas ou divisões dos judeus contrárias aos cristãos. Justino Mártir (Diálogo com Trifão § 80) chama-os simplesmente de “batistas”. Epifânio (Panarion 1:11:1:1-11:2:5.) diz que os hemerobatistas negam a salvação futura àquele que não se submete ao batismo diariamente.

A Didascalia (Constituições Apostólicas, 6. 6) diz que os hemerobatistas “não comem antes de tomarem banho, e não fazem uso de suas camas, mesas e pratos antes de limpá-los”. Nessas duas fontes, os hemerobatistas são expressamente diferenciados dos essênios. A descoberta da Comunidade de Qumran e dos Manuscritos do Mar Morto reacendeu o debate sobre a identificação dos hemerobatistas. A Comunidade do Mar Morto praticava abluções rituais frequentes, como atestada pelas piscinas de banhos rituais, mas nada foi encontrado nos manuscritos que os associassem aos hemerobatistas.

BIBLIOGRAFIA
Kohler, Kaufmann. “Hemerobaptists”. Jewish Encyclopedia, 1906. V. 6, p.344.

Herodianos

Em grego Ἡρῳδιανοί, “seguidores de Herodes”. Talvez um partido ou facção político-religiosa que apoiavam Herodes Antipas.

Aparecem junto dos fariseus na questão do pagamento de impostos a César (Mt 22: 15-22; Mc 12: 13-17).

Aparece em um só outro lugar em Marcos (3:6). Embora em muitas variantes de Marcos 8:15, ao invés “de Herodes” apareça “dos herodianos” (NA28 lista p45 G W Θ f1 f13 28 205 565 1365 l76 l673 l813 l1223 iti itk vgms copsa(mss) arm geo).

Há uma hipótese de que os herodianos seriam os mesmos que os betusianos ou boetusianos, um ramo dos saduceus. Simão filho de Boeto de Alexandria ou o próprio Boeto foi feito sumo sacerdote por volta de 25 ou 24 a.C. por Herodes, o Grande, para casar-se com sua filha Mariamne (Josefo, Antiguidades Judaicas 15.9.3; 19.6.2.

Fariseus

Fariseus (possivelmente do hebraico para “separatistas”) partido associado aos escribas judeus piedosos no período do Segundo Templo dedicados ao estudo detalhado do texto bíblico, especialmente à luz da “lei oral” (tradições de interpretações bíblicas) (cf Mc7: 3).

Os fariseus foram os precursores do judaísmo rabínico. As controvérsias entre os fariseus e Jesus, em vez de refletir grandes diferenças em suas visões religiosas e sociais, na verdade sugerem semelhanças significativas entre os dois lados. Esses tipos de conflitos geralmente ocorrem entre grupos que têm muitas coisas em comum e, portanto, se chocam com as pequenas questões que os separam (ver Mt 23).

Origem dos fariseus

As origens dos fariseus são um tópico de estudo complexo, pois os registros históricos e religiosos da época não oferecem um relato claro de sua fundação. As primeiras menções de um grupo distinto de fariseus, ou Perushim, aparecem em textos da antiguidade que os retratam como uma seita religiosa e uma força política influente, mas não como uma entidade recém-criada. A ausência de um “momento fundador” nos registros antigos levou os historiadores modernos a reconstruir suas origens a partir de menções fragmentadas e contextos sociopolíticos da época.

Os primeiros relatos históricos que nos dão alguma pista sobre os fariseus vêm de Flávio Josefo (c. 37-100 d.C.), historiador judeu e ex-fariseu. Ele introduz os fariseus, saduceus e essênios como as três “escolas filosóficas” do judaísmo durante o reinado do sumo sacerdote hasmoneu Jônatas (c. 160-143 a.C.), em sua obra Antiguidades Judaicas (13.171-173). Josefo observa que os fariseus viviam de forma simples e eram altamente respeitados pelo povo por sua interpretação precisa das leis, e que eles possuíam “regulamentos transmitidos por gerações anteriores e não registrados nas Leis de Moisés”, uma referência à Lei Oral. Embora Josefo não forneça uma história de sua origem, sua menção durante o reinado de Jônatas sugere que eles já eram um grupo estabelecido em meados do século II a.C. Também narra um episódio durante o reinado de João Hircano (135-104 a.C.), onde o fariseu Eleazar confronta o sumo sacerdote (Antiquidades 13.288) por ter assumido o título de rei e sumo sacerdote, o que leva a um conflito e a aliança de Hircano com os saduceus. Mais tarde, os fariseus ascenderiam ao poder político sob a rainha Salomé Alexandra (76-67 a.C.), conforme relatado por Josefo.

Outras fontes contemporâneas também testemunham a presença dos fariseus sem detalhar sua fundação. O Novo Testamento apresenta-os como um grupo proeminente, definido por sua estrita adesão à “tradição dos anciãos” (Lei Oral) e à Torá Escrita (Marcos 7:3, Mateus 15:2), seu foco na pureza ritual, dízimos e observância do sábado, e suas crenças na ressurreição dos mortos, anjos e espíritos (Atos 23:8), que os colocavam em oposição aos saduceus. De maneira similar, o filósofo judeu helenístico Fílon de Alexandria (c. 20 a.C. – 50 d.C.), em sua obra Cada Homem Bom é Livre, descreve as “escolas” filosóficas judaicas, mencionando os essênios e, indiretamente, o grupo que os estudiosos identificam como fariseus. Fílon não se aprofunda na origem histórica deles, mas os apresenta positivamente como judeus devotos e filosóficos. A ausência de uma história de fundação nestas fontes sugere que os fariseus já eram uma presença estabelecida no cenário religioso judaico.

As fontes rabínicas, como o Talmude (séculos III-VI d.C.), que se veem como herdeiros intelectuais e espirituais dos fariseus (Perushim), também não narram sua origem histórica. O Talmude assume a existência deles e, no tratado Avot (1:1-16), estabelece uma cadeia de transmissão da Lei Oral desde Moisés até uma série de “pares” de líderes (os Zugot, como Hillel e Shammai), que são entendidos como sábios farisaicos. Esta genealogia rabínica estabelece sua autoridade, rastreando-a até o Monte Sinai, e não a um evento histórico específico. Textos posteriores, como Avot de-Rabbi Natan (c. século X d.C.), contêm lendas sobre o conflito entre os fariseus e os saduceus, mas essas narrativas são consideradas fábulas morais e não registros históricos confiáveis. A patrística doséculos II-IV d.C., como Orígenes e Jerônimo, também não oferecem informações novas sobre as origens dos fariseus, reiterando o que leram em Josefo e no Novo Testamento.

Dada a falta de um relato claro nas fontes primárias, os historiadores modernos sintetizam as evidências para formular uma origem plausível. A maioria dos estudiosos sugere que a emergência formal dos fariseus como um grupo distinto ocorreu durante a Revolta Hasmoneana (meados do século II a.C.). Eles são frequentemente vistos como os descendentes espirituais dos Hasidim (“os Piedosos”), um grupo que inicialmente apoiou a revolta dos macabeus por liberdade religiosa, mas que mais tarde se retirou quando os hasmoneus assumiram o reinado político e o sumo sacerdócio, o que eles consideravam uma violação da tradição.

Sobrevivência e desenvolvimento do judaísmo rabínico

Dos principais grupos judaicos da época do Segundo Templo — os saduceus, os essênios e os zelotes —, os fariseus foram os mais bem posicionados para sobreviver. Os saduceus, cuja base de poder era o Templo e o sacerdócio, desapareceram com a destruição de seu centro de culto e poder político. Os essênios, isolados em Qumran, foram provavelmente aniquilados pelos romanos, e sua visão de mundo apocalíptica era inadequada à nova realidade. Já os zelotes foram militar e ideologicamente dizimados, pois sua rebelião contra Roma havia resultado em desastre. A sobrevivência dos fariseus se deu porque não dependiam do Templo; sua autoridade se baseava no conhecimento da Lei Oral e Escrita, não na linhagem sacerdotal. Suas práticas, como a oração, o estudo e a observância dos mandamentos (mitzvot), podiam ser realizadas em qualquer lugar, na sinagoga ou em casa. Além disso, eles já eram um movimento descentralizado, com líderes (rabbis) e discípulos espalhados por toda a Judeia e Galileia.

Após 70 d.C., a designação “fariseu” (Perushim, que significa “separados”) perdeu o sentido, já que seus principais concorrentes haviam desaparecido. Eles então adotaram o termo mais genérico e honorífico “Rabino” (“Meu Mestre” ou “Meu Professor”), sinalizando seu novo papel como líderes. O evento central para essa transformação foi o estabelecimento de um centro de estudos judaicos em Yavneh (Jamnia). Segundo a lenda talmúdica (Guittin 56b), o líder farisaico Rabban Yohanan ben Zakkai foi contrabandeado para fora de Jerusalém sitiada e, ao profetizar que o general romano Vespasiano se tornaria imperador, obteve dele a permissão para fundar um centro de ensino em Yavneh. Embora os detalhes possam ser lendários, a verdade histórica é que os romanos permitiram a criação de um conselho acadêmico e judicial em Yavneh, que se tornou a nova capital espiritual do judaísmo.

Em Yavneh, os sábios, liderados por ben Zakkai e, posteriormente, por Rabban Gamaliel II, empreenderam a monumental tarefa de redefinir o judaísmo sem o Templo. Eles padronizaram as orações, como a Amidá, que passou a substituir os sacrifícios, e formalizaram a lei judaica (Halakha) para a nova realidade. A canonização da Bíblia Hebraica também foi finalizada nesse período. A partir de Yavneh, o modelo do líder comunitário passou a ser o rabino, cuja autoridade derivava do aprendizado e da piedade, e não do nascimento. O que antes era uma prática farisaica se tornou o padrão para todos os judeus, e o judaísmo rabínico se apresentou não como uma seita, mas como a continuação autêntica do judaísmo bíblico. O trabalho iniciado em Yavneh resultou na codificação dos debates e das opiniões legais dos rabinos, conhecidos como Tannaim (“professores”), na Mishná (c. 200 d.C.), o texto legal fundamental do judaísmo rabínico. Os debates sobre a Mixná, por sua vez, levaram à criação dos Talmudes de Jerusalém (c. 400 d.C.) e Babilônico (c. 500 d.C.)

Boetusianos

Os boetusianos eram uma facção política e religiosa judaica da Antiguidade Tardia, associada aos saduceus e aos herodianos. Não aparecem na Bíblia, mas segundo uma tradição rabínica, Boeto ou Boetus era contemporâneo de Zadoque e rejeitou a crença da vida após a morte e a ressurreição.

Durante o período herodiano, é possível que os boetusianos detonasse os seguidores de uma linhagem sacerdotal arrivista. Simão, filho de Boetus de Alexandria foi nomeado sumo sacerdote por volta de 25 aC por Herodes, o Grande, para que seu casamento com a filha de Boetus, Mariamne, não fosse considerado um casamento com uma pessoa considerada inadequada.

Ainda que com muitas mudanças de ventos políticos, outros sumo sacerdotes boetusianos continuaram.

Joazar, filho de Boetus (4 aC – antes de 6 dC), impopular e defensor do cumprimento do Censo de Quirino.

Eleazar, filho de Boetus (4-3 aC), mencionado no Livro Mandeu de João.

Simão Canteras, filho de Boetus, (41-43 d.C.) e Eliouneu, Filho de SImão Canteras 43-44 d.C.), Marta esposa de Josué filho de Gamla (sacerdote em 64 d.C.

Há outra associação, que lê o termo grego Boethus com a forma semítica Bt ‘esya (“casa dos essenos”).

Menções tardias, após a destruição do Templo, indica um possível uso genérico dos termos “boetusiano” ou “saduceu” no sentido de “sectário”.

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