Calebe

Em hebraico “cachorro”, nome de dois personagens bíblicos.

1.Calebe, filho de Jefoné (Números 13: 6), um dos doze espias enviados a colher informações sobre Canaã. Somente Calebe e Josué deram um relato positivo.

Jefoné era um quenizeu (Números 32:12, Josué 14: 6,14). Os quenizeus aparecem como um dos povos em Canaã na época de Abraão (Gênesis 15:19) e como um clã edomita (Gênesis 36:40-43). No entanto, em 1 Crônicas 4:15 e Números 13: 6, a família de Calebe aparece assimilada na tribo de Judá.

Na partição da terra, Josué dá Hebrom à família de Calebe (Josué 14). Calebe prometeu sua filha Acsa em casamento a quem conquistasse a terra de Debir dos gigantes, realizada por Otniel filho de Quenaz, sobrinho de Calebe (Juízes 1:13), que também se tornou genro de Calebe (Josué 15: 16,17).

Em 1 Samuel 25:3 refere-se a Nabal, marido de Abigail antes de Davi, como “um calebita”.

2. Calebe, bisneto de Judá por meio de Tamar (1 Crônicas 2:3-9) filho de Hezrom, cuja esposa era Azuba (1 Crônicas 2: 18,19).

Canaã

1. Nome de um dos filhos de Cam e neto de Noé. Aparece pela primeira vez no perícope da embriaguez de Noé (Gn 9: 18-27), depois na Tabela das Nações (Gn 10: 6; Gn 15-20: 6) como irmão de Pute (Líbia), Cuche (Etiópia) e Egito.

2. Território ocupado pelos descendentes do epônimo Canaã, no Líbano e entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. Os limites de Canaã aparecem como termos de Sidon a Gerar, perto de Gaza, e do leste, até Sodoma, Gomorra, Admapa e Zeboim até Lassa (Gn 10:19).

Vistos como inimigos e idólatras na conquista israelitas (Dt 20: 16-18), várias comunidades parecem ter sobrevivido junto dos hebreus, além dos fenícios da costa. Em (Mt 15:22), Jesus encontra uma mulher cananeia.

A civilização sírio-cananeia ou semítica ocidental deixou vários legados culturais, como a escrita alfabética.

VEJA TAMBÉM

Caraísmo

O Judaísmo caraíta ou caraísmo é uma religião israelita que reconhece como autoridade somente as Escrituras Hebraicas (Tanakh). É distinto do judaísmo rabínico ou rabanita, que considera a tradição ou Torá Oral, conforme codificada no Talmud e obras subsequentes, como de proveniência divina.

Desde o Segundo Templo o judaísmo estava dividido entre aqueles que aceitavam ou não a tradição oral como de origem divina. A compilação dessas tradições na Mishná e da Gemará entre os séculos III e VI d.C. contribuiu para a emergência do judaísmo rabínico, que ganhou hegemonia depois das últimas revoltas samaritanas de 630 d.C. e da unificação política proporcionada pelo advento do islã. Contudo, nem todas comunidades aceitaram a autoridade rabínica. Um exemplo de reação foi o movimento de Anan ben David (715-795), no califado abássida. No século IV d.C., vários grupos que rejeitavam a Torá Oral passaram ser conhecidas como caraítas.

Segundo algumas tradições, o judaísmo chegou a contar com 40% dos judeus do mundo do Mediterrâneo em sua fase áurea (séc. IX-XI). Teve centros significantes no Egito, Espanha, Rússia, Ucrânia, Mesopotâmia e Palestina. Na Crimeia a comunidade caraíta de língua turca, os Karaims ou Qarays mantém uma longa história distinta. Um de seus hakham, Abraham Firkovich (1786-1874), foi um erudito bíblico, escritor e colecionador de manuscritos antigos. Outro membro dessa comunidade, Seraya Shapshal (1873–1961), tentou argumentar a origem turca dos caraítas diante do panturquismo e do antissemitismo.

Os caraítas tem suas próprias tradições — embora sujeitas à validação do texto escrito da Bíblia. Suas congregações (kenessa) são lideradas por anciãos leigos (hakham). Os serviços consistem em recitações de trechos bíblicos e orações com complexos rituais de genuflexão. Comem um cordeiro assado na páscoa. Não usam filactérios (tefilin) ou mezuzá. Normalmente não acendem luzes nos sábados.

Atualmente, existem cerca de 50 mil caraítas, a maior parte vivendo em Israel.

Congregação Cristã no Brasil

A Congregação Cristã é uma denominação cristã evangélica brasileira. Apesar de origem, práticas e teologia pentecostal, não utiliza essa identidade como autodesignação. Esposa uma eclesiologia das Igrejas Livres, típicas do Avivamento Continental e uma soteriologia do pentecostalismo clássico da obra consumada, além de um ideal primitivista.

Sua origem no Brasil, no início do século XX, resulta da vinda de missionários leigos ítalo-americanos. Comissionados por várias igrejas na América do Norte, Louis Francescon, Lucia Menna, Agostino Lencioni, Giuseppe Petrelli e Luigi Terragnoli plantaram as sementes que fruiriam em várias conversões no Brasil. Cresceu originalmente nas colônias italianas do estado de São Paulo e Paraná, mas logo ganhou adesão de outros povos, notoriamente de uma origem migrante, tanto na capital paulista quanto na fronteira agrícola. Nos anos 1930 abrasileirou-se, realizando sua primeira convenção em 1936, bem como iniciou uma política de manter-se afastada de relacionamento interdenominacional e rejeição de mídia de massa. Nos anos 1950 e 1960 acompanhou o crescimento das grandes cidades brasileiras, ciclos migratórios internos. Nessa época alcançou todos os estados, além de iniciar congregações em comunhão no exterior.

Apresentou uma queda de membresia no início do século XXI. Em reação, adotou medidas para um aggiornamento. Essas medidas incluem escolas bíblicas infantis (espaço infantil), um novo hinário, uma nova reestruturação administrativa (com a formação de várias instâncias regionais e centrais em um regime presbítero-sinodal), atenção a surdos, missões em presídios, universidades e aldeias indígenas, bem como migrantes (falantes de espanhol e haitianos).

Sua teologia é centrada na Bíblia e acredita no batismo pelo Espírito Santo, na doutrina da trindade, na ressurreição e no retorno de Jesus. Crê que a salvação é mediante a graça, manifesta pela fé na obra redendora de Jesus Cristo. Pratica o batismo por imersão a partir da idade de consentimento de doze anos e a santa ceia. Crê na atualidade dos dons do Espírito Santo — com ênfase no falar em línguas como sinal do batismo no Espírito. Pratica a unção dos enfermos com o azeite, crendo em cura divina e na agência da medicina humana.

Considera que o Espírito Santo compele individualmente e guia coletivamente a Igreja. Em razão disso, valoriza aspectos de uma igreja livre e voluntária:

A Igreja acredita que é necessário um chamado celestial para aceitar e viver de acordo com sua fé e doutrina. Isso ocorre através da resposta interior de um indivíduo à iluminação e inspiração divinas; portanto, a Igreja respeita a liberdade de determinação do indivíduo. A adesão à doutrinada Igreja deve ser voluntária, livre de coerção do indivíduo.

CCUS, by-laws 1998

O lócus de sua teologia e prática ocorre nos cultos. Alternando hinos com atividades de oração, testemunhos, pregação, valoriza sua orquestra e o canto congregacional. Combina uma ordem rígida de sequência de eventos no culto com uma livre participação extemporânea, com a escolha dos hinos e as manifestações discursivas sem prévio preparo.

BIBLIOGRAFIA

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Corrêa, Manoel Luiz Gonçalves. “Ritual e representação: o discurso religioso da Congregação Cristã no Brasil.” Mestrado em linguística, Universidade Estadual de Campinas, 1986.

Foerster, Norbert Hans Christoph. “A Congregação Cristã No Brasil Numa Área de Alta Vulnerabilidade Social No ABC Paulista: Aspectos de Sua Tradição e Transmissão Religiosa – a Instituição e Os Sujeitos.” Tese de doutorado em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo, 2010.

Hollenweger, Walter J. The Pentecostals. Minneapolis: Ausburg Publishing House, 1972.

Monteiro, Yara Nogueira. “Congregação Cristã No Brasil: Da Fundação Ao Centenário – A Trajetória de Uma Igreja Brasileira.” Estudos de Religião 24, no. 39 (December 31, 2010): 122–163.

Valente, Rubia R. “Christian Congregation in Brazil, Congregação Cristã No Brasil.” In Encyclopedia of Latin American Religions, edited by Henri Gooren, 1–8. Cham: Springer International Publishing, 2018.