Guerra no Céu

A Guerra no Céu teria sido um conflito primordial entre entidades divinas, muitas vezes retratadas como anjos, resultando na rebelião e expulsão de seres celestiais do céu. Esta guerra serve de pano de fundo para várias teodiceias que visam compreender a origem do mal e a subsequente queda da humanidade.

Vale ressaltar que este conceito só é expresso explicitamente uma vez na Bíblia em Apocalipse 12:7-9. Esta passagem descreve uma guerra no céu entre Miguel e seus anjos e o dragão (frequentemente identificado com Satanás) e seus anjos. O dragão e seus anjos são derrotados e lançados à terra. Esta passagem não está situada em uma linha cronológica da história cósmica, com alguns intérpretes localizando-a em eventos futuros, pretéritos (durante o ministério terreno de Jesus) ou antes da criação do mundo.

Outra menção possível é 2 Pedro 2:4 que menciona anjos que pecaram e foram lançados no inferno, o que alguns interpretam como uma referência à Guerra no Céu e ao subsequente castigo dos anjos rebeldes.

Com paralelos mesopotâmicos, semíticos, zoroastrianos e gregos — tal como os conceitos de chaoskampf, teomaquia e titanomaquia — a Guerra no Céu integrava o imaginário do período do Segundo Templo.

O Livro de Enoque (c. 220 a.C.) particularmente o Livro dos Vigilantes, detalha a descida dos anjos à terra e sua interação com a humanidade. Apresenta a figura de Azazel, associada ao ensino de conhecimentos proibidos e à corrupção da humanidade. Aparece nos Manuscritos do Mar Morto: a Guerra dos Filhos da Luz Contra os Filhos das Trevas (também conhecido como Rolo de Guerra; 1QM e 4Q491–497), Cântico 5 dos Cânticos do Sacrifício do Sábado (4Q402) e o Documento de Melquisedeque (11Q13). Outros textos, como A Vida de Adão e Eva e o Encômio Copta sobre Miguel, elaboram ainda mais o papel dos anjos e sua rebelião contra Deus, contribuindo para o desenvolvimento da escatologia cristã.

Os primeiros teólogos patrísticos como Orígenes, Tertuliano e Afraates tinham interpretações de passagens bíblicas em termos de uma Guerra no Céu. Discutiram a natureza dos anjos, as consequências da sua rebelião e as implicações para a salvação humana, moldando o discurso teológico sobre o assunto.

Obras como A Divina Comédia de Dante e Paraíso Perdido de Milton expandiram o imaginário ocidental cristão acerca da Guerra no Céu, incorporando temas teológicos em narrativas épicas.

Guerra dos Filhos da Luz Contra os Filhos das Trevas

A Guerra dos Filhos da Luz Contra os Filhos das Trevas ou Regra da Guerra, Regra da Guerra e Manuscrito da Guerra é um manual militar com conteúdo apocalíptico descoberto entre os Manuscritos do Mar Morto.

O documento é formado por vários rolos e fragmentos, incluindo 1QM e 4Q491–49.

Trata-se de uma descrição apocalíptica da guerra entre os Filhos da Luz e os Filhos das Trevas. É centrado nas batalhas escatológicas dos Filhos da Luz.

A guerra é descrita em duas fases distintas, a primeira é a Guerra contra os Quitim. Os Filhos da Luz, composta pelos filhos de Levi, os filhos de Judá e os filhos de Benjamim, e os exilados dos deserto enfrentarão Edom, Moabe, os filhos de Amom, os amalequitas e a Filístia e seus aliados, os Quitim de Assur (referidos coletivamente como o exército de Belial).

A segunda parte da guerra ou a Guerra das Divisões será quando os Filhos da Luz, agora as doze tribos unidas de Israel, conquistando as nações da vaidade, durante quarenta anos de combate..

Essas duas guerras guerras aparecem no início do documento. Depois seguem instruções litúrgicas, rituais e apotropaicas para as flâmulas, trombetas, dardos. Por fim, descreve a batalha em sete etapas, liderada pelos sacerdotes, entre a Luz e as Trevas, a Guerra contra os quitim. A batalha é finalmente vencida por intervenção divina.