Sulamita

Sulamita, termo que designa uma habitante ou natural de Sulém (ou Suném), evoca a figura feminina central do Cântico dos Cânticos, um livro poético que celebra o amor e o desejo.

Embora o nome da Sulamita não seja explicitamente mencionado no texto, ela é apresentada como uma jovem bela e apaixonada, que expressa seus sentimentos pelo amado em linguagem poética e sensual.

Alguns intérpretes associam a Sulamita a uma pastora ou camponesa. O nome “Sulamita” ainda pode ser uma variação de “Salomão”, o que sugere uma possível conexão entre a personagem e o rei.

Apônio

Apônio, em latim Apponius, é um autor patrístico latino e comentarista bíblico sobre o qual quase nada se sabe.

Provavelmente baseado em Roma, Apônio escreveu por volta de 405-415 d.C. um comentário sobre o Cântico dos Cânticos, Expositio in Cantica Canticorum ou Veri Amoris. A obra existe em manuscritos do século VIII ao início do século XVI. Teve uma recepção na França, Irlanda, na Renânia e nos Países Baixos, sendo citado pelo Venerável Beda e por Gregório Magno.

Sua exposição pode ser chamada de místico-profética, com uma exegese cristológica. Considera que Cântico dos Cânticos como um quadro contínuo da história da revelação, desde a criação até o juízo final.

Os doze livros da Explanatio baseiam-se no texto da Vulgata de Jerônimo, além de ser familiar com o comentário dos Cantares atribuído a Hipólito de Roma.

Enredo de salvação

  • Cantares 1:1-2:6 — Israel sob a antiga dispensação;
  • Cantares 2:7-15 — encarnação;
  • Cantares 2:16-3:11 — a crucificação, a ressurreição, a conversão da Igreja de Jerusalém e a introdução do evangelho aos gentios por Paulo.
  • Cantares 2:16-3:11 4-6 perdem o fio cronológico, mas falam de um tempo de perseguição e martírio, e de uma queda na heresia por parte da Igreja.
  • O tema cronológico é retomado em Cantares 7:1-9, que é visto como uma referência à conversão de Roma ao cristianismo.
  • Os capítulos 7:10-8:4 tratam das invasões bárbaras do Império Romano, encaradas de uma forma positiva, uma vez que permitiram que os bárbaros se convertessem a Cristo.
  • Fica pendente apenas a conversão dos judeus, e Apônio antecipa esse evento na exposição de Cant. 8:5-14, depois de muito sofrimento.

A Expositio foi impressa pela primeira vez em Freiburg em 1538 e novamente em Lyon em 1677.

BIBLIOGRAFIA

Bottino and Martini “Aponii scriptoris vetustissimi in Canticum Canticorum explanationis libri 12 / Quorum alias editi, emendati et aucti, inediti vero hactenus desiderati e codice Sessoriano monachorum Cisterciensium S. Crucis in Jerusalem Urbis nunc primum vulgantur. Curantibus Hieronymo Bottino [Bottino, Gerolamo], Josepho Martini [Martini, Giuseppe]. Romae 1843: Typ. S. Congregationis de propaganda fide. XIX, 256 S., 1 Taf.” Archive.org here.

Matter, Ann. The Voice of My Beloved: The Song of Songs in Western Medieval Christianity. Philadelphia: 1990.

Turner, Denys. Eros and Allegory: Medieval Exegesis of the Song of Songs. Kalamazoo, MI: 1995.

Filha de Sião

Filha de Sião, em hebraico bat Tzion, é uma personificação da cidade e povo de Jerusalém. Há menção no plural que só ocorre em Cantares 3:11, livro onde também aparece a locução “filhas de Jerusalém. A expressão é usada em 26 lugares nas Escrituras Hebraicas e talvez corresponda à palavra de Jesus no caminho do calvário (Lucas 23:28).

Cinco Megillot

Os Cinco Pergaminhos, também conhecidos como Megillot, são uma coleção de cinco livros da Bíblia hebraica que são tradicionalmente lidos durante os festivais judaicos ao longo do ano. Esses pergaminhos, com suas respectivas ocasiões tradicionais de leitura, incluem o Cântico dos Cânticos (Sábado da Páscoa), Rute (Festa das Semanas), Lamentações (Nove de Av), Eclesiastes (Sucote) e Ester (Purim). Embora cada um desses pergaminhos tenha seus próprios temas e mensagens exclusivos, todos eles têm conexões importantes com temas e experiências femininas.

O Cântico dos Cânticos, por exemplo, é um poema de amor que celebra as alegrias e prazeres do amor romântico. É único na Bíblia por suas descrições francas e sensuais de amor e desejo físico, e por retratar uma amante que ativamente busca sua contraparte masculina. O poema desafia os papéis subordinacionistas de gênero e celebra a agência e o desejo das mulheres. Na história da recepção, seu sentido sexual foi diminuído e passou-se a ser lido como uma alegoria das bodas com Israel ou com a Igreja.

O livro de Rute conta a história de uma mulher moabita que migra para Judá e se torna ancestral do rei Davi. A narrativa celebra a lealdade, coragem e desenvoltura das mulheres. Opõe-se a um exclusivismo de etnia e nacionalidade. A fidelidade de Rute para com sua sogra, Noemi, e sua determinação de prover o sustento de ambos por meio de trabalho árduo e perseverança são exemplos de força e resiliência femininas.

O livro de Lamentações fala sobre as experiências dos que sofreram perda e luto. A queda de Jerusalém e do Reino de Judá é referida como filha de Sião (Lm 2:11-15). Os poemas expressam a dor e a angústia de um povo que perdeu suas casas, suas famílias e seu senso de identidade. O conjunto de poemas expressam o luto e a lamentação daqueles que sofreram violência, opressão e injustiça.

O Livro de Eclesiastes discorre sobre o significado e o propósito da vida. Questiona o senso-comum vigente acerca de poder e sucesso na época associada como anseios masculinos. Ao contrário, incentiva a encontrar alegria e contentamento em prazeres e relacionamentos simples, em vez de riqueza material ou status social.

Por fim, o livro de Ester conta a história de uma judia que se torna rainha da Pérsia e usa sua posição para salvar seu povo de uma trama genocida. A bravura, inteligência e desenvoltura de Esther são celebradas como liderança e heroísmo.