Marsílio de Pádua

Marsílio de Pádua ou Marsílio Mainardino (1270-1342) foi um pensador político, clérigo e acadêmico que antecedeu muito da Reforma e da democracia ocidental.

Marsílio nasceu em Pádua, estudou medicina, tornou-se reitor da Universidade de Paris em 1312. Aderente ao partido dos ghibelinos — os apoiadores do poder secular sobre o papal — apoiou o imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Luís IV da Bavária (de quem era médico pessoal) em seu conflito com o papa João XXII.

Manifestou seu pensamento político e eclesiástico através do seu tratado político, o Defensor Pacis (1324). Escrita em dois meses com a ajuda de João de Jandun, o livro desafiou o sistema eclesiástico prevalecente e defendeu uma nova ordem baseada na autoridade secular e na soberania popular. O papa João XXII rotulou-o de herege.

Marsílio acreditava na soberania do povo como fundamento da autoridade eclesiástica e secular. Defendeu a convocação de concílios gerais compostos por clérigos e leigos eleitos pelo povo para governar a Igreja, mesmo assim sujeitos a erros. O seu tratado rejeitou as reivindicações papais de supremacia temporal e espiritual, argumentando que a autoridade final cabia ao povo, expressa através de órgãos representativos.

Quanto à disciplina eclesiástica, o clero poderia identificar a heresia, mas competia à Igreja em sua autoridade civil e leiga processá-los e puní-los. Iso devia-se ao fato de que Cristo teria dito que se seu irmão pecar contra ti, apresente-o à Igreja, não ao padre.

No Defensor Pacis desafiou a estrutura hierárquica da Igreja. Afirmava que era uma invenção humana e não um mandato divino, sendo os bispos e presbíteros iguais. Marsílio rejeitou a reivindicação do papado de supremacia sobre os governantes seculares e sobre outros bispos.

Afirmava que os clérigos são responsáveis perante a autoridade civil em questões civis. Argumentava que o poder de perdoar pecados e punir pertence somente a Deus. Defendia uma visão mais igualitária do sacerdócio, com os bispos derivando autoridade imediatamente de Cristo. Enfatizava a importância das Escrituras como a autoridade final, sendo aos concílios de leigos e clérigos doutos a competência de interpretá-la em questões disputadas.

Trusteísmo

O trusteísmo no catolicismo romano nos Estados Unidos era uma prática em que administradores leigos, em vez do clero ou da hierarquia, tinham controle sobre os assuntos temporais de uma paróquia.

O trusteísmo foi controverso porque no século XIX gerou conflitos entre os curadores leigos e e o clero. A Santa Sé interveio por vezes para restaurar a paz, impor a autoridade da hierarquia contra as pretensões dos administradores.

Congregacionalistas

Congregacionalismo é tanto (a) uma estrutura eclesiológica e política de organização denominacional que enfatiza a autonomia da igreja local, bem como (b) as denominações de origem angloamericanas que adotam tal estrutura.

A tradição denominacional congregacionalista

Originárias reuniões puritanas e separatistas na Inglaterra do século XVI, os congregacionalistas velam pela autonomia das congregações locais sob a liderança imediata de Cristo. Esta abordagem enfatiza o cuidado mútuo entre as igrejas, inicialmente expresso em associações locais e posteriormente evoluindo para uma denominação nacional.

Entre seus pioneiros estavam os puritanos Robert Browne e John Robinson. A congregação de Robinson mais tarde viriam ser os Peregrinos que migraram para Plymouth, Massachusetts.

O congregacionalismo segue tradição teológica reformada, evoluindo a partir de suas raízes calvinistas para abraçar a diversidade teológica. Ao invés do confessionalismo, adota pactos doutrinários. A Plataforma Cambridge define a igreja como um corpo reunido de crentes, com uma natureza pactual influenciando tanto a eclesiologia como os sistemas políticos.

Figuras notáveis incluem Horace Bushnell, Nathaniel Taylor e outros.
Expressões nacionais são a União das Igrejas Congregacionais na Inglaterra e o Conselho Nacional das Igrejas Congregacionais na América, surgiram nos séculos XIX e XX. Fusões incluem a formação da Igreja Unida de Cristo nos EUA, a Igreja Unida do Canadá e a Igreja Reformada Unida do Reino Unido.

A International Congregational Fellowship, criada em 1974, serve como um órgão global não representativo para congregacionalistas de várias nações.

Congregacionalismo no Brasil

O congregacionalismo é a mais antiga tradição denominacional a fazer cultos em português e realizar missões entre brasileiros. O congregacionalismo brasileiro tem suas origens históricas não no congregacionalismo britânico ou norteamericano, mas no trabalho missionário indenominacional do médico-missionário escocês Robert Reid Kalley e de sua esposa Sarah Poulton Kalley.

Chegando ao Brasil em 1855, fundaram a Igreja Evangélica Fluminense no Rio de Janeiro. Igrejas semelhantes surgiram em Recife e Niterói, todas independentes de laços denominacionais no exterior.

Embora batizado na Igreja Livre da Escócia, Kalley distanciou-se da afiliação denominacional, enfatizando a unidade entre os cristãos, independentemente da denominação. Esta abordagem, divergindo do denominacionalismo estrito do presbiterianismo, introduziu uma estrutura congregacionalista onde cada igreja local era autônoma.

Os principais grupos são.

  1. União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB) – Formada em 1913, representa igrejas congregacionalistas estabelecidas através dos esforços missionários de Robert Reid Kalley e enfatiza a autonomia congregacional.
  2. Igreja Cristã Evangélica do Brasil – Originada da missão de Kalley, fundiu-se com a UIECB em 1942 e reflete sua abordagem indenominacional do Cristianismo.
  3. Igreja Evangélica Congregacional do Brasil – Influenciada pelo pietismo alemão, surgiu separada do trabalho missionário de Kalley e mantém presença principalmente no Sul do Brasil.
  4. Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil – Formada em 1967, representa igrejas congregacionalistas com ênfase na doutrina pentecostal e movimentos de renovação dentro de igrejas protestantes históricas.

Robert Haldane

Robert Haldane (1764 –1842) foi um missionário, líder do avivamento continental e britânico, teólogo e fundador de várias organizações evangélicas.

Nascido em Londres em uma familia afluente escocesa, foi educado em Dundee e Edimburgo. Após uma carreira na marinha, Haldane passou a morar e administrar a propriedade familiar em Airthrey, perto de Stirling, por dez anos.

Em 1795, Robert converteu-se logo após seu irmão James. Nesse mesmo ano, Robert, decidido a abandonar suas riquezas para viver para o evangelho, ofereceu ao governo britânico e à Companhia das Índias Orientais a propriedade de Airthrey para financiar uma sociedade missionária. A oferta foi recusada, porém três mais tarde venderia sua propriedade e com esse dinheiro financiou suas ações evangelísticas.

Com seu irmão fundou a “Sociedade para a Propagação do Evangelho Domesticamente”. Ela apoiava a construção de capelas ou “tabernáculos” e pregadores itinerantes. Os missionários viajam através da Escócia, formando congregações avivadas e reanimando paróquias da Igreja da Escócia e outras congregações livres. No entanto, encontrou oposição dos pastores da Igreja da Escócia.

Ao entrar em contato com os glassitas, Haldane deixou a Igreja da Escócia em 1798. Desde então, adotou várias práticas e doutrinas dos glassitas ou sandemanianos, como eram conhecidos: congregações locais independentes, recusa de distinguir entre ministros e membros, pregação e ministério leigo dos anciãos e diáconos, comunhão semanal, recusa de credos e confissões de fé, recusa de uma burocracia denominacional ou envolvimento com o Estado.

Os Haldanes abriram um grande tabernáculo e escola bíblica em Leith Walk, Edinburgh, com capacidade de 3.200 pessoas. Contudo, deixariam os glassitas em 1808, quando James Haldane e mais duzentos membros de sua congregação foram imersos no batismo, depois de ler um panfleto de Archibald McLean, um Scotch Baptist.

Entre 1816 e 1819 viajou para Genebra e Montauban para evangelizar. O fruto foi avivamento continental. Para apoiar o avivamento, fundou e dirigiu por um tempo a Sociedade Missionária Continental.

Ao retornar à Escócia, dedicou-se na publicação das Escrituras. Contudo, em 1824, passou por uma controvérsia com Sociedade Bíblica acerca da inclusão dos Apócrifos.

Escreveu um comentário sobre a Epístola aos Romanos; livros sobre a autoridade, inspiração e canonicidade das Escrituras.

O movimento inciado pelos irmãos haldanes foi chamados de haldanitas. Caracterizou-se pelo seu intenso evangelismo, primitivismo eclesiológico, valorização da participação leiga e democrática. Seus sucessores e grupos influenciados incluem os congregacionalistas, batistas, movimento dos irmãos, a Igreja Livre da Escócia, os batistas alemães, os Neutaufer, o movimento das Igrejas de Cristo nos Estados Unidos e outros.

BIBLIOGRAFIA

Daughrity, Dyron B. “Glasite versus Haldanite: Scottish divergence on the question of missions.” Restoration quarterly 53.2 (2011): 65-79.

Haldane, Alexander. The Lives of Robert Haldane of Airthrey, and of His Brother, James Alexander Haldane. Carlisle PE: First Banner of Truth, 1990.

Haldane, Robert, Malan César, and Edward Bickersteth. Revival of Religion on the Continent. London: Printed by Macintosh, 1839.

Ridholls, Joe. “Spark of Grace” : The Story of the Haldane Revival. Geneva: 1967.