Alfabeto hebraico

O alfabeto hebraico, conhecido como alef-beit, é um sistema de escrita composto por 22 letras, sendo um abjad – um tipo de escrita que registra apenas as consoantes, cabendo ao leitor inferir as vogais. O alef-beit é escrito da direita para a esquerda.

Cada letra do alfabeto hebraico possui um nome e um valor numérico, o que confere ao sistema uma dimensão simbólica e mística. As letras são usadas não apenas para registrar a língua hebraica, mas também em práticas religiosas, estudos cabalísticos e outras formas de expressão cultural.

Letra HebraicaNome TransliteradoLetra Equivalente em Português (Aproximado)
אAlef(Sem som, ou som de “a” fraco)
בBetB (com ponto) / V (sem ponto)
גGuímelG
דDáletD
הHeH (fraco)
וVavV / U
זZayinZ
חChet(Som gutural, como o “ch” em “Bach”)
טTetT
יYodY
כKafK (com ponto) / Kh (sem ponto)
לLamedL
מMemM
נNunN
סSamechS
עAyin(Som gutural, como uma pausa glotal)
פPeP (com ponto) / F (sem ponto)
צTzadiTz
קQofQ
רReshR (forte)
שShinSh
תTavT

A forma como conhecemos o alfabeto hebraico hoje é resultado de um longo processo de evolução. Esse alfabeto deriva-se das Inscrições proto-alfabéticas do Levante. Alguns abecedários atestam sua propagação na Idade do Ferro II. Durante o período do Segundo Templo, o alfabeto hebraico começou a assumir sua forma “quadrada”, “constrita” ou “assurith”, que é a forma mais comum usada atualmente.

Em várias versões vernáculas, o alfabeto hebraico aparece como subdivisão em textos com acrósticos. No Salmo 119, cada uma das 22 letras hebraicas encabeça um grupo de oito versículos. Semelhantemente, a seção final do Livro de Provérbios (31:10-31), um poema sobre a mulher virtuosa, utiliza as letras do alfabeto hebraico para cada versículo. O Livro de Lamentações emprega o alfabeto hebraico de maneira ainda mais elaborada: nos capítulos 1, 2 e 4, cada versículo se inicia com uma letra da sequência alfabética, enquanto o capítulo 3 apresenta três versículos por letra.

Línguas bíblicas

A maior parte da Bíblia foi escrita em hebraico, alguns trechos em aramaico e o Novo Testamento em grego koiné. As duas primeiras línguas descendem do Proto-Semítico, um conjunto de dialetos que teria sido falado entre 3750 e 2800 a.C., constituindo um ramo do Proto-Afro-Asiático, outro proto-língua que foi falada entre 16.000 e 10.000 a.C., provavelmente no noroeste da África. Por sua vez, o grego descende do Proto-Indo-europeu, o qual foi falado por pastoralistas que viviam próximo ao Mar Negro entre 4500 e 3500 a.C. Outras línguas indo-europeias com relevância bíblica são o hitita (provavelmente os mesmos heteus bíblicos) e o persa.

Ḥerem (genocídio)

O ḥerem (hebraico חרם) era uma prática sacrifical na qual toda presa viva — quer pessoa, quer animal — é condenada à morte e devotada a um deus.

Antes, destruí-las-ás [ḥerem] totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos ferezeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor, teu Deus,

Dt 20:16

O termo ḥerem aparece nas línguas semíticas como algo interdito por razões religiosas. No entanto, em Dt 20:16; Js 10:40; na Estela de Mesa, o conceito de ḥerem indica aniquilação total da população apreendida. É nesse sentido de destruição que aparece a última palavra de Malaquias, no final do Antigo Testamento do cânone cristão.

O ḥerem oferece um dilema ético e moral, bem como uma dificuldade bíblica. O teólogo anabatista John Howard Yoder sugere de que o ḥerem evitava que a guerra se tornasse uma fonte de enriquecimento por meio de pilhagem. Assim, seria uma forma incipiente de conter a escalada de violência.

BIBLIOGRAFIA
Hofreiter, Christian. Making Sense of Old Testament Genocide: Christian Interpretations of Herem Passages. Oxford University Press, 2018.

Stern, Philip D. The Biblical Herem: A Window on Israel’s Religious Experience. Brown Judaica Studies 211; Atlanta: Scholars Press, 1991.

Trimm, Charlie. The Destruction of the Canaanites: God, Genocide, and Biblical Interpretation. Wm. B. Eerdmans Publishing, 2022.

Hebraico

A língua hebraica, עִבְרִיט ou עברים , é uma língua semítica do ramo noroeste da família linguística afro-asiática.

Junto do moabita, fenício e do púnico constituem um grupo dialetal da língua cananeia, com similaridades com o ugarítico e, com menor grau, com o aramaico. Na Idade do Ferro, o hebraico ganhou uma literatura própria, o hebraico bíblico, também atestado por um corpus de inscrições da época.

O hebraico passou por diversas fases. O hebraico bíblico arcaico foi usado entre o período monárquico e o exílio babilônico com uma forma de escrita cananeia. O hebraico bíblico clássico foi usado durante o exílio na Babilônia e adotaria mais tarde a escrita imperial aramaica. O hebraico tardio foi usado durante o período persa e é representado por alguns textos da Bíblia Hebraica. O hebraico dos textos do Mar Morto foi usado durante o período helenístico e romano antes da destruição do Templo de Jerusalém e é representado pelos pergaminhos de Qumran. Finalmente, o hebraico mishnáico foi usado durante o período romano após a destruição do Templo de Jerusalém e é representado pelos textos da Mishná e do Talmud, bem como pelos manuscritos do deserto da Judeia.

Há questionamentos se o hebraico bíblico poder ser datado. Seguindo F.M. Cross e DN Freedman’s Studies in Ancient Yahwistic Poetry (1997), muitos estudiosos consideram que existem marcadores gramaticais que indicam fases distintas. Por outro lado, Ian Young e Robert Rezetko apresentam críticas sobre os métodos de datação. Tais críticas, por sua vez, foram respondidas por Ron Hendel (um aluno de Cross) e Jan Joosten em How Old is the Hebrew Bible? (2018). Com base em epigrafia e análise documental bíblica e extrabíblcia, hoje o pensamento prevalente é que há fases discerníveis do hebraico bíblico.

O hebraico gradativamente deixou de ser falado no cotidiano desde o exílio babilônico, mas ainda no século II d.C. há evidência que era uma língua viva. Contudo, na Idade Média deixou de ser falado, exceto em contextos cultuais, até que no século XX foi reavivado por Eliezer Ben-Yehuda (1858-1922).

A gramática hebraica é baseada em um sistema de raízes que consiste em três ou quatro consoantes que são combinadas com diferentes padrões de vogais para formar palavras em suas diferentes funções.

O hebraico é lido da direita para a esquerda. Normalmente não possui vogais escritas no texto, exceto por certas marcações de vogais com pontos diacríticos (nikud) e consoantes para indicar vogais (matres lectionis).

O hebraico tem três gêneros gramaticais (masculino, feminino e neutro). Suas conjugações verbais indicam tempo, aspecto e modo. Assim, os verbos derivam-se em simples qal (ativo) e niphal (passivo); intensivo piel (ativo), pual (passivo), hithpael (reflexivo); causativo hiphil (ativo) e hophal (passivo).

A ordem das palavras é flexível e o contexto desempenha um papel crucial na determinação do significado. O hebraico também tem um sistema complexo de declinações de substantivos e concordância de adjetivos, especialmente pela relação construto-absoluto, tornando-o um idioma altamente flexionado.