Interpretação histórico-redentora

O método histórico-redentivo é uma abordagem teológica que interpreta a Escritura considerando-a como uma narrativa unificada que revela a obra de redenção de Deus ao longo da história.

Essa perspectiva busca entender os textos bíblicos em seus contextos históricos e culturais, conectando-os ao tema central da redenção culminada em Cristo. Sidney Greidanus, um dos principais representantes dessa abordagem, defende que cada passagem bíblica deve ser interpretada como parte de um plano redentivo que aponta para Cristo. Greidanus propõe que essa conexão pode ser estabelecida por meio de elementos como tipologia, promessa e cumprimento, entre outros.

Greidanus, um especialista em homilética, critica a pregação exemplarista, que foca em lições morais a partir de personagens bíblicos, argumentando que essa prática não considera adequadamente a dimensão redentiva da Escritura. Para ele, os textos devem ser interpretados dentro de sua integridade histórica e conectados ao plano de redenção revelado nas Escrituras. Sua abordagem prioriza a unidade entre Antigo e Novo Testamentos, destacando como o tema da redenção permeia toda a narrativa bíblica.

Oscar Cullmann, em sua proposta da história da salvação, enfatiza a sequência de atos divinos ao longo do tempo, culminando na figura de Jesus Cristo. Para Cullmann, a história da salvação é vista como uma série de eventos históricos que demonstram a ação salvadora de Deus. Essa abordagem costuma ser apresentada em uma estrutura cronológica que sublinha os eventos históricos como manifestações da redenção.

O conceito de Heilsgeschichte, amplamente utilizado na teologia alemã, refere-se ao tema geral da obra redentiva de Deus ao longo da história. Embora compartilhe do enfoque na ação divina na história, não estabelece necessariamente uma conexão direta e sistemática entre os textos do Antigo Testamento e seu cumprimento no Novo Testamento. Greidanus, ao enfatizar a relação direta entre os Testamentos, oferece um método que busca integrar o significado histórico dos textos com a narrativa mais ampla da redenção.

Johann von Hofmann

Johann Christian Konrad von Hofmann (1810-1877) foi um teólogo, historiador e biblista luterano alemão. Foi expoente do neoluteranismo ou a escola de Erlangen, um movimento teologicamente conservador.

Filho de pais aderentes ao Avivamento Continental que emergiu do pietismo suábio de Johann Albrecht Bengel, teve uma educação humanística e científica. Lecionou nas universidades de Friedrich-Alexander- Erlangen-Nuremberg e de Universidade de Rostock.

O trabalho de Von Hofmann sobre hermenêutica bíblica enfatizou a importância de entender o contexto histórico e cultural dos textos bíblicos. Treinado na historiografia de Leopold von Ranke, que o significado da Bíblia só poderia ser totalmente compreendido pela compreensão do contexto em que foi escrita, incluindo o idioma, a cultura e o contexto histórico. Também enfatizou a importância de interpretar a Bíblia como um todo coerente, com cada parte contribuindo para a história geral da salvação. Como teórico da hermenêutica, antecede Martin Heidegger, Hans-Georg Gadamer, Rudolf Bultmann e Paul Ricoeur quando situa as historicidades da linguagem e do intérprete bíblico. Em sua abordagem, antecede a crítica canônica.

A compreensão de Von Hofmann da Bíblia como “Heilsgeschichte” ou “história da salvação” enfatizou a continuidade da obra salvadora de Deus ao longo da história, desde a criação até a redenção. A profecia não é primordialmente uma previsão de eventos futuros, mas a própria história na forma da palavra. Os fatos da história sagrada, a proclamação profética que deles surgiu e seu cumprimento no futuro são obra de um único e mesmo Espírito Santo e, portanto, um com o outro. No entanto, esposava um dispensacionalismo de duas fases: a Lei e o Evangelho. Considerando a inspiração das Escrituras localizada em sua totalidade narrativa, via a Bíblia como uma história unificada do plano de Deus para salvar a humanidade por meio da pessoa e obra de Jesus Cristo. Assim, dispensou modelos de inspiração atomística, como a inspiração do ditado ou das palavras.

A compreensão de Von Hofmann sobre a expiação enfatizou a centralidade da morte e ressurreição de Cristo como meio de salvação. A expiação seria como um evento único e irrepetível, no qual Cristo cumpriu todas as expectativas proféticas do plano de salvação. A exigência de satisfação ou de um pagamento do pecado pertencia à economia da Lei. Portanto, na graça é incorente conceber a expiação de Cristo por teorias de sastifação, forenses ou vicárias. Antes, pelo amor de Deus na graça, Cristo proporciona comunhão com Deus para alcançar o destino original do ser humano na história de Salvação.

Contribuiu para renovação da teologia trinitária quando apontou a importância de entender a natureza trina de Deus como um aspecto chave da história da salvação. O Pai, o Filho e o Espírito Santo trabalhando juntos em harmonia para realizar o plano de salvação de Deus, com cada pessoa da Trindade desempenhando um papel único no processo. A soteriologia trinitária de Hoffmann antecede os modelos pentecostais clássicos (Durham, Francescon) e contemporâneos (Macchia, Yong, Vondey) de doutrina de salvação cooperativa entre as pessoas divinas.

Ainda que pouco lembrando, foi influente nos pensamentos de Oscar Cullmann, Wolfhart Pannenberg, Gustaf Aulén e Gerhard Forde.

BIBLIOGRAFIA

Becker, Matthew L. The self-giving God and salvation history: The Trinitarian theology of Johannes von Hofmann. A&C Black, 2004.

Becker, Matthew. Appreciating Johannes von Hofmann. The Day Star Journal: Gospel Voices in and for the Lutheran Church–Missouri Synod. 2013.

Hofmann, J. Schutzschriften fur eine neue Weise, alle Wahr heit zu lehren (1856-59).