Cinco Megillot

Os Cinco Pergaminhos, também conhecidos como Megillot, são uma coleção de cinco livros da Bíblia hebraica que são tradicionalmente lidos durante os festivais judaicos ao longo do ano. Esses pergaminhos, com suas respectivas ocasiões tradicionais de leitura, incluem o Cântico dos Cânticos (Sábado da Páscoa), Rute (Festa das Semanas), Lamentações (Nove de Av), Eclesiastes (Sucote) e Ester (Purim). Embora cada um desses pergaminhos tenha seus próprios temas e mensagens exclusivos, todos eles têm conexões importantes com temas e experiências femininas.

O Cântico dos Cânticos, por exemplo, é um poema de amor que celebra as alegrias e prazeres do amor romântico. É único na Bíblia por suas descrições francas e sensuais de amor e desejo físico, e por retratar uma amante que ativamente busca sua contraparte masculina. O poema desafia os papéis subordinacionistas de gênero e celebra a agência e o desejo das mulheres. Na história da recepção, seu sentido sexual foi diminuído e passou-se a ser lido como uma alegoria das bodas com Israel ou com a Igreja.

O livro de Rute conta a história de uma mulher moabita que migra para Judá e se torna ancestral do rei Davi. A narrativa celebra a lealdade, coragem e desenvoltura das mulheres. Opõe-se a um exclusivismo de etnia e nacionalidade. A fidelidade de Rute para com sua sogra, Noemi, e sua determinação de prover o sustento de ambos por meio de trabalho árduo e perseverança são exemplos de força e resiliência femininas.

O livro de Lamentações fala sobre as experiências dos que sofreram perda e luto. A queda de Jerusalém e do Reino de Judá é referida como filha de Sião (Lm 2:11-15). Os poemas expressam a dor e a angústia de um povo que perdeu suas casas, suas famílias e seu senso de identidade. O conjunto de poemas expressam o luto e a lamentação daqueles que sofreram violência, opressão e injustiça.

O Livro de Eclesiastes discorre sobre o significado e o propósito da vida. Questiona o senso-comum vigente acerca de poder e sucesso na época associada como anseios masculinos. Ao contrário, incentiva a encontrar alegria e contentamento em prazeres e relacionamentos simples, em vez de riqueza material ou status social.

Por fim, o livro de Ester conta a história de uma judia que se torna rainha da Pérsia e usa sua posição para salvar seu povo de uma trama genocida. A bravura, inteligência e desenvoltura de Esther são celebradas como liderança e heroísmo.

Walter Brueggemann

Walter Brueggemann (1933-2025) foi um biblista e teólogo congregacionalista americano.

Como exegeta, Brueggemann investigou o Antigo Testamento. Escreveu vários comentários acerca de diversos livros do Antigo Testamento. Neles, combinou uma análise pela tradição profética hebraica e mediante a imaginação sociopolítica da Igreja.

Em sua teologia, Brueggeman enxerga na Igreja a missão de fornecer uma contra-narrativa para as forças dominantes do consumismo, militarismo e nacionalismo.

Central para o pensamento de Brueggemann é o conceito de imaginação profética, introduzido em seu livro de 1978, The Prophetic Imagination. Ele argumenta que os profetas bíblicos, como Moisés, Jeremias e Isaías, não eram meros adivinhos, mas vozes alternativas que se levantavam contra sistemas opressores dominantes, sejam eles o Faraó do Egito, a monarquia corrupta de Israel ou os impérios invasores.

A imaginação profética opera em duas frentes principais: primeiro, ela envolve a crítica da consciência dominante, desmascarando as ideologias desumanizadoras que sustentam o poder político e econômico. Segundo, ela canaliza a energia para a realidade alternativa, articulando esperança e novas possibilidades enraizadas na aliança e na justiça de Deus. Brueggemann salienta que a linguagem poética é fundamental para essa tarefa profética, pois as metáforas, lamentações e doxologias dos profetas rompem com o pensamento convencional e abrem espaço para novas visões.

Brueggemann consistentemente sublinha a centralidade da aliança na fé bíblica, seja a aliança abraâmica, mosaica ou davídica. Para ele, a aliança estabelece o fundamento relacional da conexão de Yahweh com Israel, caracterizada por fidelidade e obrigações mútuas.

Essa teologia da aliança não é meramente histórica; ela possui uma ética subversiva intrínseca. Ao priorizar a justiça para os vulneráveis — viúvas, órfãos e imigrantes — a aliança desafia e subverte sistemas exploradores. Consequentemente, a tensão com o império é uma característica recorrente da identidade da aliança de Israel, que frequentemente entra em conflito com potências imperiais como o Egito, a Babilônia e Roma.

Brueggemann aborda as Escrituras não como um texto estático, mas como uma conversa contínua. O biblista reconhece a presença de testemunho e contra-testemunho dentro da Bíblia, onde vozes diversas, por vezes conflitantes, apresentam diferentes facetas de Deus — justo e misterioso, presente e ausente.

Sua abordagem é marcada por uma interpretação pós-crítica, que integra métodos histórico-críticos com leituras literárias e teológicas, valorizando o poder transformador do texto. Para Brueggemann, a Escritura funciona como um roteiro, oferecendo um guia para uma vida fiel e convidando as comunidades a reimaginar suas próprias histórias dentro de sua vasta estrutura.

Brueggemann revitalizou a teologia do lamento, notavelmente em The Message of the Psalms (1984). Argumentava que o luto, expresso nos salmos de lamento, é necessário para perturbar um otimismo falso e superficial, abrindo caminho para uma esperança autêntica. Para ele, a esperança não é uma passividade, mas um ato de resistência contra o desespero, firmemente enraizado nas promessas e nos atos libertadores de Deus, como o Êxodo, o retorno do Exílio e a Ressurreição.

A teologia de Brueggemann não se restringe ao domínio acadêmico; ela se estende a um engajamento com questões sociais contemporâneas. Foi um crítico ferrenho da justiça econômica moderna, denunciando o neoliberalismo e o consumismo e defendendo uma redistribuição mais equitativa dos recursos, como explorado em God, Neighbor, Empire (2016).

Além disso, Brueggemann incorporou a ecoteologia em seu pensamento. Aliava o cuidado com a criação como uma responsabilidade intrínseca à aliança de Deus. Também promovia ativamente a promoção da paz, questionando o militarismo e a violência com base nas tradições proféticas da Bíblia.

A influência de Brueggemann se estende à pregação e ao ministério. Encorajava os pregadores a ver a pregação como subversão, desafiando as suposições culturais dominantes e capacitando as vozes marginalizadas. Sua teologia pastoral enfatiza o papel vital da igreja no cultivo de comunidades alternativas de esperança, onde a fidelidade a Deus se manifesta em práticas de justiça e compaixão.

BIBLIOGRAFIA SELETA
Brueggeman, Walter. The Prophetic Imagination (1978).

Brueggeman, Walter. Theology of the Old Testament (1997)

Brueggeman, Walter. The Message of the Psalms (1984)

Brueggeman, Walter. Sabbath as Resistance (2014).

Lamentações

Séries de poemas de lamentos acerca da queda de Jerusalém. Apesar de seu desesperador, renova esperanças de uma restauração vindicada por Deus.

Na homilética, uma frase resume o livro: “em sua justa ira, ó Senhor, lembre-se da misericórdia!”

Tradicionalmente atribuído a Jeremias, seu teor e linguagem é semelhante aos escritos da escola jeremíada, como o apócrifo livro de Baruque. No cânone hebraico, no entanto, é listado entre a hagiógrafa ou ketuvim (Escritos).