Bildade

Bildade foi um dos três amigos de Jó que o visitaram e o “consolaram” durante seu período de sofrimento intenso, conforme descrito no livro bíblico de Jó. Originário de Suá, terra dos caldeus, Bildade é apresentado como o segundo interlocutor nos diálogos com Jó, após Elifaz e antes de Zofar.

Seus discursos são marcados por uma retórica mais tradicional e conservadora do que a de Elifaz. Bildade se apoia fortemente na sabedoria ancestral e na teologia retributiva, argumentando que o sofrimento de Jó é consequência direta de seus pecados, mesmo que Jó insista em sua inocência. Ele apresenta uma visão rígida da justiça divina, onde a prosperidade é sinal de bênção e o sofrimento, de punição. Bildade chega a questionar a integridade de Jó e a sugerir que seus filhos foram punidos por Deus devido à sua própria maldade.

A insistência de Bildade na culpa de Jó e sua incapacidade de reconhecer a possibilidade de sofrimento injusto o colocam em uma posição de antagonismo em relação a Jó. Seus discursos, embora elaborados com eloquência e erudição, revelam uma teologia legalista e uma falta de compaixão genuína pelo sofrimento de seu amigo. No final do livro, Bildade, juntamente com Elifaz e Zofar, é repreendido por Deus por não ter falado a verdade sobre Ele, ao contrário de Jó.

Embora Bildade represente uma perspectiva teológica comum na época, sua figura serve como um alerta contra a rigidez religiosa e a tendência a julgar o sofrimento alheio sem compaixão e verdadeira compreensão. O livro de Jó questiona essa teologia simplista e aponta para a complexidade da relação entre Deus, o sofrimento e a justiça divina.

Eliú

Eliú (אֱלִיהוּא, “meu Deus é Ele”), nome teofórico que designa diferentes personagens na narrativa bíblica.

  1. Eliú filho de Semaías é um porteiro levita durante o reinado de Davi, incumbido de guardar o tesouro do templo. 1 Crônicas 26:7.

2. Eliú, filho de Baraquel, o buzita, em Jó 32:2-6 surge como um personagem intrigante no drama de Jó. Mais jovem que os demais debatedores, ele intervém com fervor e eloquência, criticando tanto a autojustificação de Jó quanto as respostas insatisfatórias de seus amigos. Sua teologia, centrada na soberania e justiça divinas, oferece uma nova perspectiva sobre o sofrimento humano (Jó 33:14-30; 36:8-12).

3. Eliú, mencionado em 1 Crônicas 12:20-21, é um guerreiro da tribo de Manassés que se junta ao exército de Davi em Ziclague, contribuindo para sua ascensão ao trono.

Elifaz

Elifaz, em hebraico: אֱלִיפַז/אֱלִיפָז, que significa “Meu Elohim é ouro”, são dois personagens bíblicos:

  1. Elifaz, filho de Esaú. Foi o primogênito de Esaú e sua esposa Ada. Ele teve seis filhos, dos quais Omar foi o primogênito; os outros foram Temã, Zefô, Gatã, Quenaz e, por fim, Amaleque, que nasceu de sua concubina Timna. O povo de Amaleque se tornou o inimigo ancestral dos israelitas (Êxodo 17:16; Deuteronômio 25:19; 1 Samuel 15:2-3).
  2. Elifaz é o primeiro amigo de Jó e principal representante da sabedoria edomita. Considerado um habitante de Temã, uma cidade importante em Edom, Elifaz aparece em várias passagens como porta-voz dos amigos de Jó, sempre defendendo a crença de que o sofrimento é uma punição divina por pecados ocultos. Em suas três falas registradas no Livro de Jó (capítulos 4-5, 15 e 22), Elifaz repreende e aconselha Jó, insistindo que apenas os perversos sofrem enquanto os justos são poupados. Na primeira fala, Elifaz tenta consolar Jó, sugerindo que ele aceite seu sofrimento como consequência de possíveis erros ocultos. No discurso seguinte, ele intensifica suas acusações, sugerindo que Jó só sofre por ser ímpio. Por fim, na terceira fala, ele acusa Jó de injustiça social, perdendo sua compostura inicial. Elifaz também relata uma revelação em sonho, que acredita ter sido uma mensagem de Deus, reforçando suas crenças sobre a justiça divina. Contudo, ao final do livro, Deus reprova Elifaz por sua falta de compaixão e compreensão, obrigando-o a buscar o perdão de Jó.

Rib (gênero textual)

O רִיב rib ou rîb é um gênero textual presente em denunciações proféticas que imita os procedimentos de uma corte de justiça.

Os profetas também pronunciaram maldições por violar os pactos na forma de ações judiciais.  O ofício do profeta apresenta características de uma parte reclamante em pactos violados. Nissinen argumenta que a advocacia surgiu como o ofício político-religioso do profeta na Mesopotâmia, Mari e Antigo Israel.

Abundam os exemplos do rib, tal como Oseias 4; Miqueias 6:1-16; as sete cartas do Apocalipse; Isaías 1:2–7; 5:1-7; 43; Amós 3:1—4:13, dentre outros. Muitos livros e trechos bíblicos que estão estruturados como um processo judicial (Jó, Rute, Naum), o que demonstra um polinização cruzada.

BIBLIOGRAFIA

De Roche, Michael. “Yahweh’s Rîb Against Israel: A Reassessment of the So-Called “Prophetic Lawsuit” in the Preexilic Prophets.” Journal of Biblical Literature 102, no. 4 (1983): 563-574. https://doi.org/10.2307/3260866.

Gemser, Berend. “The rîb-* or controversy-pattern in Hebrew mentality.” Wisdom in Israel and in the ancient Near East. Brill, 1969. 120-137.

Huffmon, Herbert B. “The covenant lawsuit in the prophets.” Journal of Biblical Literature (1959): 285-295.

Kensky, Meira Z. Trying man, trying God: The divine courtroom in early Jewish and Christian literature. Vol. 289. Mohr siebeck, 2010.

Nissinen, Martti, ed. Prophecy in Its Ancient Near Eastern Context: Mesopotamian, Biblical and Arabian Perspectives. SBL Symposium Series 13. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2000.