O Pentateuco de Damasco, conhecido também como Codex Sassoon 507, datado do século X, quase completo dos cinco livros da Torá na versão massorética. Produzido por um escriba anônimo, é distinto do Documento de Damasco, um texto relacionado à comunidade de Qumran.
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Bíblia Rorigo
A Bíblia Rorigo, atualmente preservada na Bibliothèque nationale de France como MS Latin 3, é uma Bíblia latina produzida em Tours por volta do ano 835 d.C., durante o auge das reformas carolíngias.
Composta em um único volume, possui 409 fólios, distribuídos em texto de duas colunas com 51 ou 52 linhas por página. Sua decoração inclui títulos e rubricas em prata ou ouro sobre fundos púrpura, além de iniciais pintadas e tabelas canônicas, refletindo a sofisticação artística da época. Fechada, a Bíblia mede 49,5 centímetros de altura por 38 centímetros de largura, sendo considerada um exemplar típico de volume de púlpito.
A produção da Bíblia Rorigo está intrinsecamente ligada ao contexto das reformas promovidas por Carlos Magno e seus sucessores, que enfatizavam a correctio, ou seja, a correção de erros textuais e a preservação da doutrina correta. O texto, baseado na Vulgata, foi cuidadosamente revisado para garantir sua exatidão, incluindo divisões por capítulos e marcas de kephaleia (κεφάλαια), elementos que evidenciam a preocupação com a organização e a clareza do texto sagrado.
A Bíblia recebeu esse nome devido à sua doação pelo conde Rorigo, um nobre franco que restaurou a abadia de Saint-Maur-de-Glanfeuil, próxima ao rio Loire, na década de 830. Conforme anotação do século X no manuscrito, Rorigo entregou pessoalmente o volume ao abade Gauzfred, seu irmão e monge da abadia de Saint-Maur-des-Fossés, pedindo orações por sua alma. Com a invasão viking no vale do Loire em 868, a comunidade de Glanfeuil transferiu-se para Saint-Maur-des-Fossés, levando a Bíblia consigo.
No século XVII, após o fechamento da abadia de Saint-Maur-des-Fossés, o manuscrito foi transferido para Saint-Germain-des-Prés, sobrevivendo à dissolução dessa abadia em 1789, durante a Revolução Francesa. Desde então, encontra-se preservado na Bibliothèque nationale de France.
A Bíblia inclui um acréscimo posterior de um caderno com dezesseis fólios contendo a Vida de São Mauro, fundador de Glanfeuil, e uma história da abadia.
Evangelhos de Garima
Os Evangelhos de Garima são um conjunto de manuscritos do Evangelho que consiste em dois volumes, guardados no Mosteiro de Abuna Garima, localizado em Tigray, no norte da Etiópia. Esses manuscritos antigos são escritos em ge’ez, a antiga escrita etíope, e apresentam iluminuras requintadas executadas no estilo bizantino. Os Evangelhos de Garima possui grande valor dentro da Igreja Ortodoxa Etíope e são reverenciados como relíquias sagradas pelos monges que residem no mosteiro.
A datação dos Evangelhos de Garima situa sua criação com base na análise de datação por carbono dos materiais usados para a escrita. O manuscrito Garima 2 data de aproximadamente 390 a 570 d.C., enquanto Garima 1 fica entre 530 e 660 d.C. Em razão disso, seria uma das mais antigas bíblias ilustradas. A idade e o valor histórico desses manuscritos contribuem para seu status estimado entre estudiosos e comunidades religiosas.
Lendas e folclore cercam os Evangelhos de Garima. De acordo com uma crença popular, o fundador do mosteiro, Abba Garima, é creditado por copiar e ilustrar sozinho esses textos sagrados em um período milagroso de um único dia.
Os Evangelhos Garima são valiosos não apenas por seu significado religioso e histórico, mas também por suas qualidades artísticas. As iluminuras encontradas nesses manuscritos exemplificam o estilo bizantino, com desenhos intrincados e elaborados, cores vivas e atenção meticulosa aos detalhes.
Manuscrito de Shapira
O Manuscrito de Shapira era um conjunto de tiras de couro com inscrições em grafia paleo-hebraica trazida a público pelo comerciante de antiguidades Moses Wilhelm Shapira em 1883. Seria uma versão distinta de Deuteronômio, mas na época foi considerado uma falsificação pela comunidade acadêmica. Shapira suicidou-se e o manuscrito desapareceu.
O manuscrito eram quinze tiras de couro provenientes em Wadi Mujib, região do Arnon, na Transjordânia, perto do Mar Morto.
Possuía uma variante nos Dez Mandamentos: “Não odiarás teu irmão em teu coração: Eu sou Deus, teu Deus.” Exceto no decálogo, as leis são ditas em terceira pessoa.
Depois da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto foram feitas análises posteriores dos fac-símiles sobreviventes. Biblistas como Menahem Mansoor (1959) e Idan Dershowitz (2021) argumentam que seria uma versão anterior ao Deuterônimo na versão massorética que chegou ao presente. Dershowitz argumenta que seria um discurso de despedida de Moisés, correspondente a Deuteronômio 1-11; 27-32.
BIBLIOGRAFIA
Dershowitz, Idan. The Valediction of Moses: New Evidence on the Shapira Deuteronomy Fragments. ZAW 133, 2021.
Mansoor, Menahem. The case of Shapira’s Dead Sea (Deuteronomy) scroll of 1883. Madison: University of Wisconsin, 1959.
Rollston, Christopher. “Deja Vu all over Again: The Antiquities Market, the Shapira Strips, Menahem Mansoor, and Idan Dershowitz” Rollston Epigraphy – 10 March, 2021.
Tigay, Chanan. The Lost Book of Moses: The Hunt for the World’s Oldest Bible. New York: Ecco, 2016.
Tigay, Chanan. O livro perdido de Moisés: a procura da Bíblia mais antiga do mundo. Lisboa: Temas e Debates, 2017.
Diálogo de Timóteo e Áquila
O Diálogo de Timóteo e Áquila é uma obra apologética cristã.
Em gênero textual de um diálogo, semelhante ao Diálogo de Trifão de Justino Mártir, registra um debate literário entre Timóteo, um cristão, e Áquila, um judeu. Foi escrito em grego na segunda metade do século VI, ou final do século V, sendo uma das últimas obras desse gênero de debate adversus Iudaeos da Antiguidade cristã. O debate é ambientado em Alexandria, durante o episcopado de Cirilo, entre 412 e 444.
Cânone
Este diálogo, atesta familiaridade com a Septuaginta, as versões gregas de Áquila, Teodotion e Símaco. Para fins de debate, estabelece (3.9-20) como dotados de autoridade (e pertencente ao cânone) os seguintes livros:
Livros Canônicos (Antigo Testamento):
- Gênese (ditado por Deus e escrito por Moisés)
- Êxodo (ditado por Deus e escrito por Moisés)
- Levítico (ditado por Deus e escrito por Moisés)
- Números (ditado por Deus e escrito por Moisés)
- Deuteronômio (diz que não foi ditado por Deus nem escrito por Moisés ou depositado na arca)
- Josué (Jesus filho de Num)
- Juízes com Rute
- 1 Crônicas e 2 Crônicas
- 1 Samuel (1 Reinos) e 2 Samuel (2 Reinos)
- 1 Reis (3 Reinos) e 2 Reis (4 Reinos)
- Jó
- Salmos (Saltério de David)
- Provérbios de Salomão com
- Eclesiastes com Cantares de Salomão (Cânticos)
- Os Doze Profetas (Profetas Menores)
- Isaías
- Jeremias
- Ezequiel
- Daniel
- Esdras (com Neemias?)
- Judite
- Ester
Considerados apócrifos, mas provavelmente aceito para o diálogo.
- Tobias
- Sabedoria de Salomão
- Siraque
Novo Testamento
- O Evangelho (um único livro?)
- Atos dos Santos Apóstolos
- Epístolas dos Apóstolos (seriam as epístolas católicas?)
- Epístolas do Apóstolo Paulo (conta como 15 delas, sem mencionar os títulos)
O diálogo sugere que estes livros são considerados canônicos. No entanto, é importante notar que o diálogo não especifica quais livros específicos estão incluídos em categorias como “Epístolas dos Apóstolos” e “Epístolas do Apóstolo Paulo”. A lista também reconhece a existência de livros apócrifos, que não são considerados parte dos textos canônicos. A ordem dos livros do Antigo Testamento também é incomum. Apesar de não considerar a origem divina ou mosaica de Deuteronômio, considera-o canônico.
Faz também uma das primeiras referências a manuscritos escondidos no Deserto da Judeia.
O cristão disse: Mencionei este assunto porque também existem outros livros apócrifos, pois eles também estão incluídos na aliança de Deus, traduzidos pelos 72 tradutores hebreus, assim como por Áquila, Símaco e Teodocião, além de outras duas versões encontradas escondidas em jarros, uma em Jericó e outra em Nicópolis (que é Emaús), embora não saibamos quem as traduziu, pois foram descobertas nos dias da desolação da Judeia sob Vespasiano. Diálogo de Timóteo e Áquila, 3.8-3.10.
BIBLIOGRAFIA
Rigolio, Alberto. Christians in Conversation: A Guide to Late Antique Dialogues in Greek and Syriac. Oxford University Press, 2019.
