Junilo Africano

Junílio, Junilo Africano ou Junilius Africanus (fl. 541–549) foi um autor patrístico bizantino de expressão latina.

Pouco se sabe sobre sua vida, incluindo datas de nascimento e morte. Vindo da África, alcançou um alto cargo no serviço imperial como questor do Palácio Sagrado sob o imperador Justiniano I, ocupando uma posição de destaque de 541 a 549.

Sua principal obra, “Instituta regularia divinae legis” (541), um diálogo de dois livros, serviu como tradução para o latim de um texto grego de Paulo, o Persa, um estudioso da Escola Síria de Nisibis. Influenciado por Teodoro de Mopsuéstia.

Lista um cânon das igrejas do oriente, similar ao atual Novo Testamento, exceto que não considera canônico Tiago, as pístolas joaninas e as petrinas, Judas e Apocalipse.

O trabalho de Junílio, embora elogiado por Cassiodoro, enfrentou um escrutínio por supostas tendências nestorianas. Desempenhou um papel significativo na formação da compreensão dos teólogos ocidentais sobre a exegese antioquena durante o início da Idade Média.

Constituições Apostólicas

As Constituições Apostólicas, também conhecidas como Constitutiones Apostolorum, são uma compilação cristã de Ordenanças da Igreja, um gênero literário que abrange diretrizes morais, disciplina, liturgia e organização eclesiástica. É a coleção mais extensa de leis eclesiásticas sobreviventes do início do cristianismo.

Data e Atribuição
Esta obra é considerada pseudoepigráfica, falsamente atribuída aos apóstolos, e geralmente acredita-se que tenha sido escrita ou substancialmente editada por Juliano de Antioquia, um teólogo pró-ariano, por volta dos anos 375 a 380 d.C. As versões em grego das Constituições provavelmente foram compiladas na Síria. Embora existam algumas atribuições aos apóstolos, é consensualmente aceito que a obra tenha uma autoria posterior.

Em partes ou totalmente foi traduzido para o siríaco, latim e ge’ez. A versão grega foi impressa no século XVI.

Conteúdo
As Constituições Apostólicas são compostas por oito livros:

  1. Livros 1 a 6 constituem uma versão reformulada da Didascalia Apostolorum, uma obra anterior do mesmo gênero.
  2. Livro 7 é parcialmente influenciado pela Didache, com capítulos 33-45 contendo orações reminiscentes das orações litúrgicas judaicas usadas em sinagogas.
  3. Livro 8 é mais intrincado e também foi circulado em uma versão editada como o “Epítome do oitavo livro das Constituições Apostólicas”, ou às vezes intitulado “As Constituições dos Santos Apóstolos sobre ordenação através de Hipólito” ou simplesmente “As Constituições através de Hipólito”. Este livro é composto por:
    • Capítulos 1-2, que incluem um trecho de um tratado perdido sobre os carismas.
    • Capítulos 3-46, com base na Tradição Apostólica, substancialmente expandida, juntamente com outro material.
    • Capítulo 47, conhecido como os “Cânones dos Apóstolos”, que teve uma circulação mais ampla do que o restante do livro. O Cânon 85, nesta seção, lista livros canônicos da Bíblia, omitindo o Livro do Apocalipse, mas incorporando as Constituições Apostólicas e as duas cartas de Clemente no cânon das Escrituras. Também lista três livros dos Macabeus, o Sirácida e, em alguns manuscritos, Judite.

Canonicidade
As Constituições Apostólicas foram rejeitadas como apócrifas pelo Decretum Gelasianum. O Concílio Quinissexto de Trullo em 692 rejeitou a maior parte da obra devido a interpolações heréticas. No entanto, a parte do Livro 8 referida como os Cânones dos Apóstolos foi aceita no Cristianismo Oriental. Foi reconhecida como canônica por João de Damasco e, em uma forma modificada, foi incluída no cânon mais amplo da Igreja Ortodoxa Etíope. Notavelmente, William Whiston a considerou autêntica e autoritativa.

Relevância
As Constituições Apostólicas servem como uma fonte significativa para compreender a história da liturgia no rito antioqueno. São reconhecidas como a liturgia divina completa mais antiga, fornecendo insights sobre as práticas litúrgicas do cristianismo primitivo. Além disso, seu conteúdo tem sido relevante para reformas litúrgicas, incluindo aquelas durante o Segundo Concílio do Vaticano.

Diálogo de Timóteo e Áquila

O Diálogo de Timóteo e Áquila é uma obra apologética cristã.

Em gênero textual de um diálogo, semelhante ao Diálogo de Trifão de Justino Mártir, registra um debate literário entre Timóteo, um cristão, e Áquila, um judeu. Foi escrito em grego na segunda metade do século VI, ou final do século V, sendo uma das últimas obras desse gênero de debate adversus Iudaeos da Antiguidade cristã. O debate é ambientado em Alexandria, durante o episcopado de Cirilo.

Cânone

Este diálogo, atesta familiaridade com a Septuaginta, as versões gregas de Áquila, Teodotion e Símaco. Para fins de debate, estabelece (3.9-20) como dotados de autoridade (e pertencente ao cânone) os seguintes livros:

Livros Canônicos (Antigo Testamento):

  1. Gênese (ditado por Deus e escrito por Moisés)
  2. Êxodo (ditado por Deus e escrito por Moisés)
  3. Levítico (ditado por Deus e escrito por Moisés)
  4. Números (ditado por Deus e escrito por Moisés)
  5. Deuteronômio (diz que não foi ditado por Deus nem escrito por Moisés ou depositado na arca)
  6. Josué (Jesus filho de Num)
  7. Juízes com Rute
  8. 1 Crônicas e 2 Crônicas
  9. 1 Samuel (1 Reinos) e 2 Samuel (2 Reinos)
  10. 1 Reis (3 Reinos) e 2 Reis (4 Reinos)
  11. Salmos (Saltério de David)
  12. Provérbios de Salomão com
  13. Eclesiastes com Cantares de Salomão (Cânticos)
  14. Os Doze Profetas (Profetas Menores)
  15. Isaías
  16. Jeremias
  17. Ezequiel
  18. Daniel
  19. Esdras (com Neemias?)
  20. Judite
  21. Ester

Considerados apócrifos, mas provavelmente aceito para o diálogo.

  1. Tobias
  2. Sabedoria de Salomão
  3. Siraque

Novo Testamento

  1. O Evangelho (um único livro?)
  2. Atos dos Santos Apóstolos
  3. Epístolas dos Apóstolos (seriam as epístolas católicas?)
  4. Epístolas do Apóstolo Paulo (conta como 15 delas, sem mencionar os títulos)

O diálogo sugere que estes livros são considerados canônicos. No entanto, é importante notar que o diálogo não especifica quais livros específicos estão incluídos em categorias como “Epístolas dos Apóstolos” e “Epístolas do Apóstolo Paulo”. A lista também reconhece a existência de livros apócrifos, que não são considerados parte dos textos canônicos. A ordem dos livros do Antigo Testamento também é incomum. Apesar de não considerar a origem divina ou mosaica de Deuteronômio, considera-o canônico.

BIBLIOGRAFIA

Rigolio, Alberto. Christians in Conversation: A Guide to Late Antique Dialogues in Greek and Syriac. Oxford University Press, 2019.

Antilegômena

Antilegomena, do grego ἀντιλεγόμενα, “falado contra” ou “controverso”, são escritos cuja autenticidade ou valor canônico foram contestado na história da Igreja.

Eusébio propôs uma classificação tríplice para os livros tidos como escrituras. Os homologoumenas seriam os livros aceitos por todos. Os apócrifos seriam os livros heréticos ou espúrios a serem rejeitados. Por fim, os antilegômenas seriam os livros disputados no cânon do Novo Testamento. Entre eles estavam Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 João, 3 João, Apocalipse de João, Hebreus, Apocalipse de Pedro, Atos de Paulo, Pastor de Hermas, a Epístola de Barnabé e a Didaquê.

Similar classificação tripla de autoridade foi empregada pelos bispos Julino Africano e Teodoro de Mopsuéstia, demonstrando que era essa a noção de canonicidade tanto no oriente quanto no ocidente nos meados do primeiro milênio. Mais tarde, no cristianismo ocidental desenvolveu-se o conceito de cânon como algo “ou tudo ou nada” enquanto no cristianismo oriental a canonicidade passou a ser primordialmente funcional. Os livros homolougoumenas são aqueles utilizados em culto e dos quais se pode fundamentar doutrina, devoção e guia para a Igreja. Sem seguida, há uma categoria de livros para devoção privada, mas não para uso na Igreja ou com uso limitado, como é o caso do Apocalipse de João na Igreja Ortodoxa Russa.

No cristianismo siríaco a antilegômena compreende 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse, livros ausentes em muitos manuscritos da Peshitta. Gradativamente esses livros passaram a ter aceitação nas igrejas siríacas somente a partir da adoção de edições impressas.

Com a difusão da imprensa e a Reforma, a questão da canonicidade voltou. Por exemplo, a antilegômena luterana. No início da Reforma, biblistas como Erasmo, Lefèvre d’Étaples, Lutero, Carlstadt, Chemnitz, Flácio e Cardeal Cajetano discutiram a canonicidade de vários escritos.

Na antilegômena da Bíblia de Lutero foi impressa em anexo os livros de Hebreus, Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 e 3 João, Apocalipse de João. Eventualmente, esses livros continuaram a fazer parte do cânone luterano, sendo citados como autoridade em teologia acadêmica, devocional e eclesiástica. No entanto, Martin Chemnitz insistia que a antilegômena não poderia ser empregada para avaliar doutrina, uma política seguida entre várias comunidades luteranas conservadoras, como fez até recentemente o Sínodo de Wisconsin.

Em estudos recentes antilegômena, por vezes, aparece para compreender os escritos paulinos disputados: 2 Tessalonicenses, Colossenses, Efésios e as Epístolas Pastorais — 1 e 2 Timóteo e Tito.

A antilegômena não deve ser interpretada como “falsa” ou “herética”. O conceito indica que houve desacordo na Igreja sobre se a textos mereciam ou não status canônico, bem como qual autoridade atribuir ao texto (uso litúrgico, doutrinário, devocional, histórico).

Antilegômena não se confunde com os conceitos de deuterocanônico, apócrifo ou cânon amplo.

BIBLIOGRAFIA

Birner, Benjamin J. “The Proper Distinction Between Antilegomena and Homologoumena: Its History and Application.” MDiv, Wisconsin Lutheran Seminary, 2019.

Bovon, François. “Beyond the Canonical and the Apocryphal Books, the Presence of a Third Category: The Books Useful for the Soul.” Harvard theological review 105.2 (2012): 125-137.

DeYoung, Stephen. Is the Book of Revelation Canonical in the Orthodox Church? Ancient Faith Ministries, 2018.

Hall, Isaac Hollister. “A Syriac Manuscript with the Antilegomena Epistles.” Journal of the Society of Biblical Literature and Exegesis 4.1/2 (1884): 37-49.

Lester, Hiram J. Relative clauses in the Pauline homologoumena and antilegomena. Yale University, 1973.

Melito de Sardes

Melito de Sardes ou Militão de Sardes (?-180 d.C.) foi bispo de Sardes, na Anatólia, e escritor patrístico da era dos apologistas.

Sua obra foi quase toda perdida, mas é citada por Jerônimo (via Tertuliano), Polícrates de Éfeso (citado por Eusébio) Clememente de Alexandria, Orígenes e Eusébio.

Fora os fragmentos, duas obras suas foram redescobertas. Educado na retórica, é possível que teve educação estoica e utilizou suas habilidades para a apologética. Escreveu uma Apologia do Cristianismo para Marco Aurélio. Judeu de nascimento e parte da comunidade judaico-cristã, envolveu-se na discussão da data da Páscoa em seu Peri Pascha. Nessa obra defendia que fosse celebrada a páscoa a 14 de Nisan (Quartodecimanismo), pois a Antiga Aliança teria sido cumprida em Cristo. Aparentemente, seguia uma cronologia joanina e associa Cristo com a tipologia de cordeiro pascal.

Na Apologia a Marco Aurélio, Melito descreve o Cristianismo como uma filosofia que se originou entre os bárbaros, mas floriu sob o Império Romano. Pede ao imperador que repense as acusações contra os cristãos. Reclama da perseguição, com os cristãos abertamente roubados e saqueados por aqueles que se aproveitam das ordenanças imperiais.

A cristologia de Melito enfatiza que Cristo é ao mesmo tempo Deus e um homem perfeito.

Fez a primeira investigação registrada acerca do cânon, sua composição e ordem dos livros. Para tal, viajou às igrejas antigas. Esteve na biblioteca cristã de Cesaria Marítima. Seu cânon do Antigo Testamento é similar ao cânon hebraico, mas sem Ester e talvez incluísse o Livro da Sabedoria. O termo cânon ou cânone para referir-se aos livros aceitos pela Igreja é de sua lavra.

Foi pioneiro na associação entre psicologia e cristianismo, tendo escrito um livro sobre tema, ora perdido.

BIBLIOGRAFIA

Cohick, Lynn H. The Peri Pascha Attributed to Melito of Sardis. Providence: Brown Judaic Studies, 2000.

Hegésipo

Hegésipo, o nazareno, (c. 110 – c.180 d.C.) foi um escritor da Igreja primitiva de origem judia.

Viajou amplamente, visitou Roma e escreveu a primeira história da Igreja, os Fragmentos dos Cinco Livros de Comentários sobre os Atos da Igreja (Hypomnemata, ou Memórias). Sua obra foi perdida, embora sobrevivessem até o século XVII. Contudo, restam oito citações delas nos escritos de Eusébio

Expressa simpatia com cristãos gentios, nota a teologia paulina entre os coríntios, as tradições das igrejas de Antioquia e de Jerusalém. Era familiarizado com um Evangelho dos Hebreus e com um Evangelho Siríaco (Diatessaron?), os escritos paulinos, além das tradições não escritas dos judeus. Certamente escreveu contra os gnósticos e de Marcião. Relata o martírio de Tiago, o justo, o “irmão do Senhor”.

Canonização

Canonização refere-se ao processo de estabelecer a canonicidade de textos bíblicos. Especificamente, há três acepções para cânon ou cânone: (1) a regra de fé em coerência com os livros bíblicos; (2) a lista de livros reconhecidos como inspirados para servir como fonte e norma provenientes de Deus para a instrução em sabedoria; e (3) o conteúdo textual dos livros canônicos reconhecido como legítimo.

Cânone de Ebed Jesu

Mar Ebed Jesu (Abd Yeshua, ou Abdisho bar Berika) foi o metropolita de Nisibis e Armênia da Igreja do Oriente. Era de origem siríaca. Depois de ser bispo de Sigara (Sinjar) por cinco anos foi feito bispo de Soba ou Nisibis em 1290 d.C.

Erudito, em c. 1298, publicou um cânone bíblico — uma lista de livros válidos para a vida em Igreja.

Com a força de Tua ajuda, ó Senhor, e auxiliado pelas orações de todos os eminentemente justos e da Mãe de grande nome, escrevo um excelente tratado, no qual enumerarei as Divinas Escrituras e todos os escritos eclesiásticos de tempos antigos e modernos. Além disso, registrarei os nomes dos autores dos diferentes livros e os assuntos de que tratam; e, com ajuda de Deus, começo com Moisés.

Moisés escreveu a Lei em cinco livros, a saber: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Depois disso, segue o livro de Josué, filho de Num; Juízes; Samuel; o livro dos Reis; as Crônicas; os Salmos de Davi; os Provérbios de Salomão; Eclesiastes; o Cântico dos Cânticos; a Grande Sabedoria [Sabedoria de Salomão]; a Sabedoria do filho de Siraque; Jó; Isaías; Oseias; Joel; Amós; Obadias; Jonas; Miqueias; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias; Jeremias; Ezequiel; Daniel; Judite; Ester; Susana; Esdras; Daniel o Menor [adições de Daniel?] ; a Epístola de Baruque; as Tradições dos Anciãos [Mishna? ou Pirkei Avot?]; Josefo, o historiador; o livro de Provérbios; a Narrativa dos filhos de Salomona; os Macabeus; um relato do rei Herodes; o livro da destruição da última Jerusalém por Tito; o livro de Asenate a esposa de José, o filho de Jacó, o justo; e o livro de Tobias e Tobit, o israelita.

Tendo enumerado os livros do Antigo Testamento, iremos agora registrar os do Novo Testamento. Primeiro, Mateus escreveu na Palestina, na língua hebraica. Depois dele vem Marcos, que escreveu em latim em Roma. Lucas, em Alexandria, falava e escrevia em grego. João também escreveu seu Evangelho em grego em Éfeso. Os Atos dos Apóstolos foram escritos por Lucas a Teófilo; e as três epístolas de Tiago, Pedro e João foram escritas em todas as línguas e chamadas de católicas. Além dessas, há quatorze epístolas do grande apóstolo Paulo, a saber, a epístola aos Romanos, escrita em Corinto; a Primeira Epístola aos Coríntios, escrita em Éfeso e enviada pelas mãos de Timóteo; a segunda aos Coríntios, escrita de Filipos da Macedônia, o grande, e enviada pelas mãos de Tito; a Epístola aos Gálatas, escrita em Roma e enviada pela mesma pessoa; a Epístola aos Efésios, também escrita em Roma e enviada por Tíquico; a Epístola aos Filipenses, escrita no mesmo lugar e enviada pelas mãos de Epafrodito; a Epístola aos Colossenses, escrita em Roma e enviada por Tíquico, o verdadeiro discípulo; a Primeira Epístola aos Tessalonicenses, escrita em Atenas e enviada pelas mãos de Timóteo; a Segunda aos Tessalonicenses, escrita em Laodiceia da Pisídia, e enviada também por Timóteo; a Primeira Epístola a Timóteo, também escrita de Laodiceia da Pisídia, e enviada pelas mãos de Lucas; a Segunda a Timóteo, escrita de Roma e enviada pelas mãos de Lucas, o Médico e Evangelista; a Epístola a Tito, escrita em Nicápolis, e enviada pelas mãos de Epafrodito; a Epístola a Filemom, escrita em Roma e enviada por Onésimo, escravo de Filemom; a Epístola aos Hebreus, escrita na Itália e enviada pelas mãos de Timóteo, o filho espiritual. E os [Harmonia dos] Evangelhos, chamados de Diatesseron, compilados por um homem de Alexandria chamado Amonis, que é Taciano.

Vale salientar que o conceito de cânone bíblico nas igrejas orientais é diferente de sua concepção ocidental. Entre cristãos ortodoxos do mundo oriental há livros elencados como dignos para doutrina e liturgia bem como outros livros inspirados, mas reservados à leitura privada. O cânone de Ebed-Jesu deve ser compreendido nesse caráter amplo.

BIBLIOGRAFIA

Abdisho’ bar Brika (Ebed-Jesu). Marganitha. Em Metrical Catalogue of Syriac Writers. G.P. Badger, The Nestorians and their rituals (1852) vol. 2, pp.361-379.

Cânone Muratoriano

O Cânone ou Fragmento Muratoriano é uma lista de livros do Novo Testamento. Talvez seja a mais antiga compilação explícita de livros tida como escrituras cristãs. Sua datação é estimada entre o final de século II e até o século IV a.C., provavelmente originária de Roma.

Em 1700, o erudito Lodovico Antonio Muratori (1672-1750) descobriu na Biblioteca Ambrosiana em Milão um códice do século VII ou VIII com vários escritos patrísticos, anotações e credos. Entre eles estava um texto que relatava os livros usados na Igreja.

Muratori publicou a lista em 1740 como um exemplo de latim bárbaro na Itália medieval. O latim desta lista é quase certamente traduzido do grego.

Cânone do Fragmento Muratoriano

  1. [Mateus]
  2. [Marcos]
  3. Lucas (= terceiro Evangelho)
  4. João (= quarto Evangelho)
  5. Epístolas de João (incluindo 1 João)
  6. Atos dos Apóstolos
  7. Epístolas de Paulo
    • Coríntios (duas)
    • Efésios
    • Filipenses
    • Colossenses
    • Gálatas
    • Tessalonicenses (duas)
    • Romanos
    • Filemom
    • Tito
    • Timóteo (duas)
    • Laodicenses (forjado)
    • Alexandrinos (forjado)
  8. Judas
  9. João (duas)
  10. Sabedoria de Salomão
  11. Apocalipse de João
  12. Apocalipse de Pedro (apenas para leitura privada, de acordo com alguns)
  13. Pastor de Hermas (apenas para leitura privada)

Lista de Bryennios

A Lista de Bryennios é um cânone dos livros do Antigo Testamento, descoberta 1873 no manuscrito Codex Hierosolymitanus (H) por Philotheos Bryennios (1833 – 1917), metropolita de Nicomedia da Igreja Ortodoxa Grega, na coleção do Mosteiro Jerusalém do Santíssimo Sepulcro em Constantinopla.

O Codex Hierosolymitanus, obra do escriba Leo no ano 1056, contém a Didaquê, Epístola de Barnabé, 1 Clemente, 2 Clemente e as versões longas das epístolas inacianas. Como o mosteiro onde foi descoberto era dependente do Patriarcado Greco-Ortodoxo de Jerusalém, o manuscrito foi transferido para a biblioteca do mosteiro do Santo Sepulcro em 1887, sob a referência H 54.

O conjunto de livros dos pais apostólicos no códice e a transliteração dos nomes em aramaico na língua levaram a pensar que originalmente seria datado de entre 100 e 150 d.C. — época dessa literatura, quando o aramaico seria corrente nas igrejas e ainda a ordem dos livros estava menos estável. Contudo, Stevens (2020) demonstrou que a lista originária de um trecho dos Pesos e Medidas (Mens. et pond. 23) de Epifânio é dependente de uma antologia medieval, a Doctrina patrum. Ademais, o aramaico ocidental continua a ser usado em algumas comunidades cristãs do Levante.

A Lista de Bryennios apresenta os nomes dos livros do Antigo Testamento, contados como 27, em grego e em sua forma semítica (hebraico e aramaico) transliterado. Depois de seu título “nome dos livros entre os hebreus” segue a lista:

  1. Brisith: Gênesis.
  2. Elsimoth: Êxodo.
  3. Odoikra: Levítico.
  4. Diiesou: de Josué filho de Naue (Num).
  5. Eledebbari: Deuteronômio
  6. Ouidabir: Números.
  7. Darouth: de Rute.
  8. Diab: De Jó.
  9. Dasophtim(n): dos Juízes.
  10. Sphertelim: Saltério.
  11. Diemmouel: Dos reinados – primeiro (1 Samuel)
  12. Diaddoudemouel: Dos reinados – segundo (2 Samuel)
  13. Damalachem: Dos reinados – terceiro (1 Reis)
  14. Amalachem: Dos reinados – quarto (2 Reis)
  15. Debriiamin: Do Paralipômena – primeiro (1 Crônicas).
  16. Deriiamin: Do Paralipômena – Segundo.
  17. Damaleiith: Dos Provérbios.
  18. Dakoeleth: Eclesiastes.
  19. Sira Sirim: Cantares
  20. Dierem: Jeremias (não fica claro se inclui Lamentações, Baruque e Epístola de Jeremias)
  21. Daatharsiar: Dos Doze Profetas.
  22. Desaiou: De Isaías.
  23. Dieezekiel: De Ezequiel.
  24. Dadaniel: De Daniel.
  25. Desdra: Esdras A. (Talvez o Esdras A da Septuaginta ou um targum de Esdras)
  26. Dadesdra: Esdras B. (possivelmente os atuais Esdras e Neemias)
  27. Desthes: Ester.

BIBLIOGRAFIA

Audet, Jean-Paul. “A Hebrew-Aramaic List of Books of the Old Testament in Greek Transcription.” The Journal of Theological Studies 1.2 (1950): 135-154.

Beckwith, Roger T. The Old Testament canon of the New Testament church: And its background in early Judaism. Wipf and Stock Publishers, 2008.

Jerusalem, Patriarchikê bibliothêkê, Panaghiou Taphou 054 Description, List of Contents

Gallagher, Edmon L., and John D. Meade. The Biblical Canon Lists from Early Christianity: Texts and Analysis. Oxford University Press, 2017.

Stevens, Luke J. “The Bryennios List and its Origin.” The Journal of Theological Studies 71.2 (2020): 703-706.