Mar Morto

O Mar Morto, corpo de água com alta salinidade localizado na região do Vale do Jordão, entre Israel e a Jordânia, é um dos lugares mais singulares do planeta. Sua superfície está situada aproximadamente 430 metros abaixo do nível do mar, tornando-o o ponto mais baixo da Terra em terra firme.

Na Bíblia, o Mar Morto é mencionado sob diferentes nomes, refletindo sua natureza e localização. É chamado de ים המלח (Yam HaMelah), “Mar de Sal” em hebraico (Números 34:3), devido à sua alta concentração de sal, que impede a proliferação de vida marinha. Também é conhecido como ים הערבה (Yam HaArava), “Mar da Arabá” (Deuteronômio 3:17), em referência à região do Vale do Arabá, onde está situado.

O Mar Morto é citado em diversas passagens bíblicas, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. No Antigo Testamento, é mencionado como limite da Terra Prometida (Números 34:3) e como local de eventos significativos, como a destruição de Sodoma e Gomorra (Gênesis 14). No Novo Testamento, o Mar Morto não é mencionado diretamente, mas sua região é associada a eventos como o ministério de João Batista, que pregava no deserto da Judeia, próximo ao Mar Morto (Mateus 3:1).

A alta salinidade do Mar Morto, cerca de 34%, torna-o inabitável para a maioria dos organismos, com exceção de alguns microorganismos halófilos. Essa característica peculiar contribuiu para sua designação como “morto”. Apesar da ausência de vida marinha convencional, o Mar Morto é uma fonte de minerais valiosos, utilizados em produtos cosméticos e terapêuticos.

Zahrat adh-Dhraʻ 2

Zahrat adh-Dhraʻ 2 é um sítio arqueológico na penísula de Lisan no Mar Morto, na Jordânia.

Trata-se de uma vila neolítica com restos datados entre 9140 e 8470 a.C. Foram encontradas ferramentas de pedra como foices, enxadas, pontas de flecha e facas. Apresenta indícios de agricultura, mas não de uso de cerâmica. São vários edifícios circulares que possuem um piso batido ou rebocado.

O sítio foi escavado em 1999 e atesta as fases iniciais da agricultura na região.

BIBLIOGRAFIA

Edwards, Phillip C, and Emily House. “The Third Season of Investigations at the Pre-Pottery Neolithic a Site of Zahrat Adh-Dhraʿ 2 on the Dead Sea Plain, Jordan.” Bulletin of the American Schools of Oriental Research 347, no. 347 (2007): 1-19.

Edwards, Phillip C., John Meadows, Ghattas Sayej, and Michael Westaway. “From the PPNA to the PPNB : New Views from the Southern Levant after Excavations at Zahrat Adh-Dhra’ 2 in Jordan.” Paléorient 30, no. 2 (2004): 21-60. 

Edwards, Phillip C, John Meadows, Ghattas Sayej, and Mary C Metzger. “Zahrat Adh-Drah(included In) 2: A New Pre-pottery Neolithic A Site on the Dead Sea Plain in Jordan.” Bulletin of the American Schools of Oriental Research, no. 327 (2002): 1. 

Hodayot

Em hebraico הוֹדָיוֹת, ação de graças. Refere-se aos manuscritos e ao gênero poético encontrado nos Manuscritos do Mar Morto, no qual se rende graças a Deus.

O Pergaminho de Ação de Graças foi um dos primeiros sete Pergaminhos do Mar Morto descobertos em 1947, bem como outros encontrados tanto na caverna 1 quanto na caverna 4 em Qumran. O maior dos documentos foi encontrado na caverna 1 (1QHa), bem como uma segunda cópia dos hinos que estava em pior estado (1QHb). A Caverna 4 incluiu seis documentos considerados associados aos Hinos de Ação de Graças.

O Pergaminho de Ação de Graças é uma antologia de cerca de 30 textos poéticos. Neles, Deus é louvado como o salvador e o revelador de segredos. Estilisticamente, há duas vozes: os textos dos “cânticos do Mestre” ou “cânticos do Maskil” (colunas X-XIX) e os “cânticos congregacionais” (colunas I-VIII e XX-XXVI).

Em alguns hodayot, o Maskil reivindica a posse do espírito divino e de um conhecimento profundo, no caso, uma interpretação sectária das escrituras.

Os hodayot indicam uma recitação coletiva e litúrgica. Aparecem paralelos nos Salmos, nos Salmos de Salomão, no Benedictus e o Magnificat (Lc 1) e o Prólogo de João 1.

Manuscritos do Mar Morto

Manuscritos do Mar Morto é uma coleção de textos religiosos escritos entre o século II a.C. e o I d.C., em uma comunidade sectária contemporânea ao Novo Testamento. Antes da descoberta desses manuscritos, as mais antigas cópias da Bíblia Hebraica eram textos massoréticos dos séculos IX e X d.C.

Os membros eram provavelmente ex-sacerdotes que rejeitaram o Templo e Jerusalém como impuros e fugiram para o deserto após perderem seus cargos depois da vitória dos macabeus sobre Antíoco IV.

Os textos incluem tanto a própria literatura da comunidade e textos bíblicos e não bíblicos. Os Manuscritos do Mar Morto faz parte de um corpus mais amplo, os Manuscritos do Deserto da Judeia. A região árida e remota ajudou a preservar muitos materiais escritos em suportes flexíveis (papiro e pergaminho).

Qumran era um assentamento na costa noroeste do Mar Morto. Foi ocupado de aproximadamente 100 a.C. a 68 d.C., quando foi destruída pelo exército romano.

O consenso inicial era que seria a ascética seite essênia. Vários textos referem à comunidade como o verdadeiro Israel, os “Filhos da Luz”, os herdeiros diretos do povo eleito de Deus. Contudo, nenhum texto encontrado identifica a comunidade como essênia.

CONTRIBUIÇÕES AOS ESTUDOS BÍBLICOS

Os Manuscritos do Mar Morto deram uma nova perspectiva sobre a história do texto bíblico, incluindo o Texto Massorético (TM), a versão hebraica padrão do Antigo Testamento.

O Texto Massorético, estabelecido pelos massoretas entre os séculos VI e X d.C., era a única versão completa do Antigo Testamento em hebraico disponível até a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto. A comparação entre os Manuscritos do Mar Morto e o Texto Massorético revelou uma série de semelhanças e diferenças, lançando luz sobre a história da transmissão textual do Antigo Testamento.

Os Manuscritos do Mar Morto apresentam algumas variantes textuais em relação ao Texto Massorético, incluindo diferenças em palavras, frases e até mesmo parágrafos inteiros. Essas variantes podem ser significativas para a interpretação de certas passagens bíblicas.

Os Manuscritos do Mar Morto contêm livros e fragmentos de livros tidos como sagrados e dotados de autoridade (o que chamamos hoje canônicos) que não estão presentes no cânone do Texto Massorético, como o Livro de Enoque e o Livro dos Jubileus.

Os Manuscritos do Mar Morto revelam a existência de diferentes tradições textuais do Antigo Testamento, que circularam em paralelo antes da fixação do Texto Massorético.

Exemplos:

VersículoManuscritos do Mar Morto (DSS)Texto Massorético (MT)Observações
Isaías 21:8“Então o vidente clamou: Sobre uma torre de vigia estou…”“E clamei como um leão: Senhor meu, estou sempre de pé sobre a atalaia de dia…”O DSS apresenta uma leitura mais concisa e direta, enquanto o MT adiciona a comparação com um leão e a informação sobre o tempo (“de dia”).
Isaías 53:11“Após o trabalho da sua alma ele verá a luz, se fartará” (LXX; DSS)“Do trabalho da sua alma ele verá, se fartará”O MT omite a frase “ele verá a luz”, presente na LXX e no DSS. Essa omissão pode ter ocorrido por um erro de cópia, em que o verbo “ver” foi duplicado, mas o objeto “a luz” foi omitido na segunda ocorrência.

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Referências:

  • Ulrich, E. (2010). The Dead Sea Scrolls and the Origins of the Bible. Grand Rapids, MI: Eerdmans.
  • VanderKam, J. C. (2018). The Dead Sea Scrolls Today. Grand Rapids, MI: Eerdmans.
  • Flint, P. W. (2013). The Dead Sea Scrolls and the Book of Isaiah. Grand Rapids, MI: Eerdmans.