Couflaïres

Os Couflaïres de La Vaunage foram uma comunidade protestante singular do sul da França, emergiram no final do século XVIII durante a perseguição religiosa após a revogação do Édito de Nantes.

A denominação “Couflaïres,” derivada do termo em occitano couflar, que significa “inflar” ou “soprar,” era um apelido pejorativo usado para descrever a natureza extática durante suas reuniões de culto. Esses atos eram interpretados como manifestações do Espírito Santo. Concentrados principalmente na área rural entre Nîmes e Montpellier, os Couflaïres encontraram afinidade com os quakers britânicos, tanto pela crença na inspiração do Espírito Santo quanto no pacifismo.

O encontro com os quakers resultou da Guerra da Independência Americana (1775-1783). Joseph Fox, um quaker britânico e co-proprietário de navios, ficou horrorizado quando seus sócios usaram autorizações de corso para saquear embarcações francesas. Fiel aos princípios pacifistas, fez um propósito de compensar as vítimas francesas.

Após o tratado de paz, seu filho, Dr. Edward Long Fox, viajou a Paris e publicou um anúncio no jornal Gazette de France. O primeiro-ministro da França adicionou um parágrafo introdutório que detalhava a fé e a prática dos quakers, esclarecendo que eles não se envolviam em pirataria. Esse anúncio, lido em Congénies, impressionou cinco Couflaïres que viram uma afinidade entre suas crenças e as dos quakers. Escreveram ao Dr. Fox, e em 1788, Jean de Marsillac, um deles, visitou a comunidade quaker em Londres, estabelecendo a primeira comunidade quaker na França.

A primeira Casa de Reunião Quaker na França foi construída em 1822 em Congénies, com fundos doados por quakers americanos e ingleses. O local serviu como centro para uma comunidade que, no século XIX, chegou a contar com cerca de 200 famílias. No entanto, o grupo entrou em declínio no início do século XX, principalmente devido à emigração dos jovens pacifistas que buscavam evitar o serviço militar obrigatório na França. Com a saída dos homens, as jovens quakers que permaneceram na região casaram-se com protestantes locais, e a comunidade acabou sendo absorvida.

A última reunião para o culto foi realizada em 1905, e a casa foi vendida dois anos depois. Ao longo do século XX, o edifício teve diversos usos, até que um casal de quakers britânicos o adquiriu, o renomeou como “Villa Quaker” e o converteu em residência. A casa foi posteriormente vendida mais duas vezes, sempre para quakers, até ser comprada em 2003 pelo Encontro Anual da França da Sociedade dos Amigos. Em 2004, a Maison Quaker reabriu suas portas, voltando a ser um centro para reuniões de culto, retiros e grupos de discussão.

BIBLIOGRAFIA

Louis, Jeanne-Henriette. “Les Couflaïres de la Vaunage et les quakers anglophones. Une rencontre providentielle à la fin du XVIIIe siècle.” In La Vaunage au XVIIIe siècle, vol. 2, 145–167. Assoc. Maurice Aliger, 2005.

Roger, Jean Marc. “Les ‘Couflaïres’ de la Vaunage: Identité et Racines.” Mémoires de l’Académie de Nîmes 76. Nîmes: Académie de Nîmes, n.d.

Willem Teelinck

Willem Teelinck (1579-1629) foi um teólogo e pregador reformado neerlandês no período da Reforma.

Teelinck estudou teologia na Universidade de Franeker e tornou-se pastor em Middelburg em 1604. Defendia a teologia reformada e pela ênfase na piedade pessoal. Como seguidor do teólogo neerlandês Gisbertus Voetius, Teelinck esteve envolvido na controvérsia sobre a heresia arminiana, defendendo a posição gomarista. Suas ideias teológicas sublinhavam a necessidade de uma estrita obediência à lei de Deus.

Teelinck valorizava a experiência espiritual pessoal e a piedade interior, aproximando-se de tradições como as dos pietistas e quakers nesse aspecto. Ele argumentava que a fé verdadeira deveria ser acompanhada por um coração transformado e uma vida de santidade. Em sua visão, o Espírito Santo desempenhava um papel central na orientação dos crentes para uma compreensão mais profunda da vontade divina. Seus sermões e escritos buscavam promover uma vida cristã moldada pela devoção e pela observância das doutrinas reformadas, reafirmando os princípios fundamentais da Reforma.

J. Rendel Harris

J. Rendel Harris (1852–1941) foi um acadêmico britânico com contribuições à matemática, aos estudos clássicos e bíblicos, bem como por sua dedicação à fé quaker.

Nascido em Plymouth, Inglaterra, Harris iniciou seus estudos no Clare College, Cambridge, onde se destacou como matemático. Posteriormente, ampliou seus interesses para as línguas antigas e o cristianismo primitivo. Ocupou posições acadêmicas na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e no Haverford College, onde aprofundou a análise de textos do Novo Testamento e da literatura cristã primitiva.

Uma das marcas de sua carreira foi sua dedicação à busca de manuscritos antigos. Harris realizou expedições ao Oriente Médio, adquirindo uma coleção substancial de documentos, incluindo manuscritos em siríaco e grego. Suas descobertas trouxeram contribuições importantes para os estudos bíblicos e para a compreensão da história da igreja primitiva.

Sua fé quaker teve impacto significativo em sua vida e trabalho. Harris foi um defensor da paz e da justiça social, participando ativamente de reuniões e iniciativas quaker. Ele foi o primeiro Diretor de Estudos do Woodbrooke Quaker Study Centre, em Birmingham, onde promoveu um ambiente de investigação intelectual e espiritual.

Thomas Chase

Thomas Chase (1827–1892) foi um educador americano, estudioso dos clássicos e membro da Sociedade Religiosa dos Amigos (Quakers). Desempenhou uma função significativa no desenvolvimento do Haverford College e na área de estudos bíblicos.

Nascido em Worcester, Massachusetts, Chase formou-se com distinção na Universidade de Harvard em 1848. Posteriormente, continuou seus estudos na Europa, dedicando-se às línguas e literaturas clássicas na Universidade de Berlim e no Collège de France.

Ao retornar aos Estados Unidos, iniciou uma longa carreira no Haverford College, uma instituição quaker. Foi professor de grego e latim de 1855 a 1875. Em 1875, assumiu o cargo de presidente do Haverford College, posição que ocupou até 1886. Durante sua gestão, consolidou a reputação acadêmica da instituição e incentivou a formação de uma comunidade intelectual ativa.

Além de sua atuação acadêmica, Chase foi membro do Comitê Americano de Revisão Bíblica, responsável pela revisão da versão King James do Novo Testamento. Sua experiência em grego foi fundamental para o projeto, contribuindo para maior precisão na tradução dos textos originais.

Como quaker, Chase integrou sua fé às suas atividades acadêmicas e administrativas. Ele acreditava no poder transformador da educação e promoveu os valores quakers de simplicidade, paz e igualdade em sua vida e trabalho.

Anthony Purver

Anthony Purver (1702–1777) foi um tradutor autodidata da Bíblia e pregador quaker, notável por sua tentativa de criar uma tradução literal das Escrituras cristãs.

Nascido em Hurstbourne, perto de Whitchurch, Hampshire, Inglaterra, Purver era filho de um agricultor e demonstrou desde cedo uma aptidão excepcional para os estudos. Mesmo sem acesso a uma educação universitária formal, dedicou-se ao aprendizado autodidata de línguas bíblicas, motivado por sua leitura do livro Rusticus ad Academicos, de Samuel Fisher, que criticava as traduções existentes da Bíblia, especialmente a versão King James.

Ainda jovem, enquanto trabalhava como aprendiz de sapateiro e agricultor, Purver começou a estudar hebraico por conta própria. Aos 20 anos, abriu uma escola local, mas logo a fechou para se mudar para Londres, onde publicou Youth’s Delight em 1727 e se uniu à comunidade quaker. Tornou-se um pregador ativo, viajando para reuniões de quakers em várias regiões, como Londres e Essex.

Por volta de 1733, Purver iniciou sua longa e laboriosa tarefa de traduzir o Antigo Testamento diretamente do hebraico e do grego. Considerava estar cumprindo um chamado divino, muitas vezes isolando-se por dias em busca de inspiração para interpretar passagens difíceis. Em 1763, após três décadas de trabalho, completou a tradução de toda a Bíblia, incluindo o Novo Testamento.

Em 1764, com o apoio financeiro de John Fothergill, um abastado membro da Sociedade dos Amigos (quakers), Purver publicou sua obra mais importante: A New and Literal Translation of All the Books of the Old and New Testament; with Notes Critical and Explanatory. Dividida em dois volumes, a tradução foi impressa em Londres por W. Richardson e S. Clark. Embora o autor esperasse que a obra fosse bem recebida, a tradução ficou conhecida como a “Bíblia dos Quakers” e não obteve o impacto desejado.

Apesar de seu rigor e dedicação, a tradução de Purver foi amplamente criticada. Alexander Geddes, um crítico contemporâneo, a descreveu como “um amontoado bruto, desorganizado e sem graça.” No entanto, autores como Robert Southey elogiaram alguns trechos e as notas explicativas, reconhecendo que Purver, em certos momentos, ofereceu interpretações mais claras do que a versão King James.

Purver adotava um método altamente literal em sua tradução, mas frequentemente suas escolhas estilísticas resultavam em frases pouco elegantes ou confusas. Além disso, suas notas críticas, embora extensas e detalhadas, eram marcadas por especulações etimológicas e interpretações rabínicas que nem sempre contribuíam para a compreensão do texto.

Além de sua tradução da Bíblia, Purver publicou outros textos menores, como o poema religioso A Poem to the Praise of God (1748) e um panfleto popular, Counsel to Friends’ Children, que teve várias edições. Seu esforço para produzir uma tradução literal e autossuficiente foi uma façanha notável para um homem sem educação formal e com recursos limitados.

Embora a Bíblia de Purver não tenha tido sucesso comercial ou impacto duradouro, ela permanece um testemunho de dedicação e erudição autodidata, além de um marco na história da tradução da Bíblia em inglês.