Joiada

Na Bíblia, o nome Joiada (יוֹיָדָע, Yoyada, significando “Javé conhece” em hebraico) é atribuído a pelo menos quatro indivíduos distintos:

  1. Joiada, pai de Benaia: Este Joiada é mencionado em 2 Samuel 8:18, 20:23; 1 Reis 1:8 e seguintes; e 1 Crônicas 18:17 como o pai de Benaia, um dos valentes de Davi e comandante do exército sob Salomão. 1 Crônicas 27:5-6 indica que esse Joiada era um sacerdote, e que Benaia, seu filho, o substituiu . Embora não seja explicitamente chamado de “sumo sacerdote”, sua posição de destaque e a de seu filho sugerem uma família de importância religiosa e militar.
  2. Joiada, o Sumo Sacerdote: Este é o Joiada mais proeminente na Bíblia. Ele viveu durante os reinados de Acazias, Atália e Joás de Judá (século IX a.C.). Joiada é conhecido principalmente por seu papel crucial na derrubada da rainha usurpadora Atália e na instalação do jovem Joás como rei (2 Reis 11-12; 2 Crônicas 22-24). Ele liderou a revolta, organizou a coroação de Joás no Templo, e estabeleceu uma aliança entre o povo, o rei e Deus. Joiada também orientou o rei Joás em reformas religiosas, incluindo a restauração do Templo. Morreu em idade avançada e foi sepultado com honras na Cidade de Davi (2 Crônicas 24:15-16). É a ele que a Bíblia consistentemente designa como hakohen (sacerdote), e como hakohen hagadol.
  3. Joiada, líder no tempo de Davi: 1 Crônicas 12:27 menciona um Joiada como “líder dos aronitas” (ou, em algumas traduções, “líder da casa de Arão”), que se juntou a Davi em Hebrom com 3.700 homens. A relação exata deste Joiada com os outros dois não é clara. Pode ser o mesmo indivíduo mencionado como pai de Benaia, ou um parente próximo. A descrição como “líder dos aronitas” sugere uma posição de liderança dentro da linhagem sacerdotal.
  4. Joiada, o sacerdote de Neemias Neemias 13:28 menciona que um dos filhos de Joiada, filho do sumo sacerdote Eliasibe era genro de Sambalate, o horonita, e foi expulso de Jerusalém.

Sumo Sacerdote

Sumo Sacerdote (כֹּהֵן גָּדוֹל, kohen gadol, em hebraico; ἀρχιερεύς, archiereús, em grego) era o título do líder religioso máximo do antigo Israel, ocupando a posição mais alta dentro do sacerdócio. O ofício do Sumo Sacerdote era hereditário, restrito aos descendentes de Arão, da tribo de Levi, e, em princípio, vitalício. Apesar de traçar suas origens a Arão, o primeiro a receber essa designação foi Joiada (2 Reis 12).

Funções e Responsabilidades:

As responsabilidades do Sumo Sacerdote eram extensas e abrangiam tanto a esfera religiosa quanto, em certos períodos, a política:

  1. Dia da Expiação (Yom Kippur): A função mais distintiva do Sumo Sacerdote era oficiar no Dia da Expiação, o dia mais sagrado do calendário judaico. Somente ele podia entrar no Santo dos Santos do Tabernáculo (e posteriormente, do Templo), o local da presença de Deus, para fazer expiação pelos pecados do povo e pelos seus próprios pecados (Levítico 16; Hebreus 9:7).
  2. Supervisão do Culto: O Sumo Sacerdote supervisionava todos os aspectos do culto no Tabernáculo/Templo, incluindo os sacrifícios diários, as festas religiosas e a manutenção da santidade do local.
  3. Consulta a Deus: Em algumas situações, o Sumo Sacerdote usava o Urim e Tumim (objetos sagrados de significado incerto, guardados no peitoral sacerdotal) para buscar a orientação divina em questões importantes (Êxodo 28:30; Números 27:21).
  4. Julgamento: Em certos períodos, especialmente durante o período do Segundo Templo, o Sumo Sacerdote atuava como líder do Sinédrio, o conselho supremo judaico, exercendo autoridade judicial e política.
  5. Representação do Povo: O sumo-sacerdote representava todo Israel perante Deus.

Vestimentas:

As vestes do Sumo Sacerdote eram elaboradas e simbólicas, diferenciando-o dos demais sacerdotes (Êxodo 28; 39):

  • Éfode: Um colete ricamente bordado, feito de linho fino e fios de ouro, azul, púrpura e escarlate.
  • Peitoral: Uma peça quadrada, presa ao éfode, contendo doze pedras preciosas, cada uma representando uma das tribos de Israel. Dentro do peitoral, eram guardados o Urim e Tumim.
  • Manto: Uma túnica azul, com romãs e sinos de ouro na bainha.
  • Tiara (Mitra): Um turbante de linho fino, com uma placa de ouro puro na frente, gravada com as palavras “Santidade ao Senhor”.
  • Túnica de linho, calções de linho e cinto: Semelhantes às vestes dos sacerdotes comuns, mas de qualidade superior.

História:

O primeiro Sumo Sacerdote foi Arão, irmão de Moisés, consagrado por este sob a direção divina (Êxodo 28-29; Levítico 8). A linhagem sacerdotal continuou através de seus descendentes. Em Josué 20:6 há a menção que o refugiado em uma cidade ficaria lá até o final do madato por morte do sumo sacerdote.

Durante o período monárquico, o Sumo Sacerdote manteve sua importância religiosa, mas a autoridade política estava concentrada no rei. Após o exílio babilônico e a reconstrução do Templo, o Sumo Sacerdote ganhou maior poder político, tornando-se, em alguns momentos, o governante de facto da Judeia. No período do Segundo Templo, a nomeação do Sumo Sacerdote passou a ser influenciada por poderes estrangeiros (como os selêucidas e os romanos), e o cargo perdeu parte de sua legitimidade e santidade.

Novo Testamento:

No Novo Testamento, a Epístola aos Hebreus apresenta Jesus Cristo como o Sumo Sacerdote supremo e definitivo, cujo sacrifício único na cruz supera e substitui os sacrifícios do Antigo Testamento. Jesus é descrito como Sumo Sacerdote “segundo a ordem de Melquisedeque”, não da linhagem de Arão (Hebreus 5-7). Os sumos sacerdotes do Templo, contemporâneos de Jesus (como Anás e Caifás), são frequentemente retratados em conflito com ele.

Sacerdote

Sacerdote (כֹּהֵן, kohen, em hebraico; ἱερεύς, hiereús, em grego) é um termo que designa um indivíduo consagrado para realizar ritos religiosos, servir como mediador entre a divindade e o povo, e, muitas vezes, oferecer sacrifícios. A figura do sacerdote é central tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, embora com funções e significados distintos.

Antigo Testamento:

No Antigo Testamento, o sacerdócio (kehunnah) era inicialmente uma função mais ampla, possivelmente exercida por chefes de família ou líderes tribais. Após o Êxodo, o sacerdócio em Israel tornou-se institucionalizado e hereditário, restrito à tribo de Levi e, especificamente, aos descendentes de Arão (o irmão de Moisés). Os kohanim (sacerdotes) eram responsáveis por:

  1. Serviço no Tabernáculo/Templo: Oferecer sacrifícios diários, queimar incenso, cuidar das lâmpadas, e manter a santidade do santuário.
  2. Ensino da Lei: Instruir o povo nos mandamentos e estatutos divinos (Deuteronômio 33:10; Malaquias 2:7).
  3. Julgamento: Em alguns casos, os sacerdotes atuavam como juízes em questões legais e religiosas (Deuteronômio 17:8-13).
  4. Purificação Ritual: Realizar rituais de purificação para pessoas e objetos considerados impuros (Levítico 13-15).
  5. Bênção Sacerdotal: Abençoar o povo (Números 6:22-27).

O Sumo Sacerdote (kohen gadol) era o líder máximo do sacerdócio, com responsabilidades adicionais, como entrar no Santo dos Santos uma vez por ano, no Dia da Expiação (Yom Kippur), para fazer expiação pelos pecados do povo (Levítico 16).

Além dos levitas arônicos, a Bíblia menciona Melquisedeque, rei de Salém e “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gênesis 14:18), que abençoou Abraão. A figura de Melquisedeque é significativa porque ele não pertencia à linhagem levítica.

Novo Testamento:

No Novo Testamento, a palavra ἱερεύς (hiereús) é usada para se referir tanto aos sacerdotes israelitas do Templo quanto a Jesus Cristo e aos cristãos.

  1. Sacerdotes Israelitas: Os Evangelhos mencionam os hiereis (sacerdotes) e os archiereis (sumos sacerdotes ou principais sacerdotes) como parte da liderança religiosa judaica, muitas vezes em conflito com Jesus.
  2. Jesus como Sumo Sacerdote: A Epístola aos Hebreus apresenta Jesus como o Sumo Sacerdote supremo e eterno, superior ao sacerdócio levítico. Ele é descrito como “sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hebreus 5:6; 7:17), significando que seu sacerdócio não é hereditário, mas único e eterno. Jesus oferece o sacrifício perfeito de si mesmo, de uma vez por todas, para a expiação dos pecados (Hebreus 9:11-14; 10:10-14).
  3. Sacerdócio dos Crentes: O Novo Testamento também fala de um “sacerdócio real” e “sacerdócio santo” de todos os crentes em Cristo (1 Pedro 2:5, 9; Apocalipse 1:6; 5:10; 20:6). Isso não significa que todos os cristãos desempenham as mesmas funções dos sacerdotes levíticos ou de Jesus, mas que todos têm acesso direto a Deus através de Cristo, podem oferecer “sacrifícios espirituais” (como louvor, oração e serviço) e são chamados a viver vidas santas.

Eli

Eli, em hebraico אֵלִי “Yahweh é meu Deus” ou “exaltado”, foi juiz de Israel (1Sm 4:18) e um sacerdote em Siló, onde a Arca estava localizada durante o período dos juízes.

Ao observar Ana orando pensou que estava bêbada, mas depois declarou que sua oração seria cumprida. Samuel, o filho dessa promessa, foi mais tarde levado a Siló e posteriormente sucedeu a Eli, cujos filhos, Hofni e Fineias, eram ambos ímpios.

A ascendência de Eli não está registrada e a transição da linhagem aarônica de Eleazar para a casa de Eli constitui uma dificuldade bíblica. Seus dois filhos têm nomes egípcios, um deles idêntico ao nome do filho de Eleazar, Fineias. Em 1 Sm 2:27 menciona casa de Eli havia sido designada para o sacerdócio enquanto Israel ainda estava no Egito, mas essa passagem não aparece no Pentateuco. Uma tradição diz que Uzi (1 Cr 6:4-6), da linha de Eleazar, seria o sumo-sacerdote e segundo a tradição Samaritana após a morte de Josué, o sacerdote Eli deixou o tabernáculo do Monte Gerizim, e construiu outro em Siló (1 Sm 1: 1-3; 2: 12-17). Uma tradição posterior traça Eli a Itamar filho de Aarão (Josefo, Antiguidades Judaicas 5:361; cf. 1 Cr 24:3) enquanto outra diz que era descendente de Eleazar filho de Aarão (4 Ed 1: 2-3; cf. Êx 6:23, 25).

Após a morte de Eli e seus filhos, a aldeia de Nobe local que seus possíveis descendentes se estabeleceram. De acordo com 1 Sm 22:20-23, o único sobrevivente da chacina que Saul fez nos sacerdotes de Nobe foi Abiatar, filho de Aimeleque, filho de Aitube, um descendente de Eli que foi deposto por Salomão (1 Sm 14:3; cf. 1 Re 2:27).

Abiatar

Abiatar filho de Aimeleque, sacerdote da aldeia de Nobe da tribo de Levi.

Abiatar foi o único sobrevivente de um massacre ordenado por Saul contra a vila sacerdotal de Nobe. Aparentemente Abiatar (e os sacerdotes de Nobe) eram vinculados ao Santuário de Siló, cuidado anteriormente por Eli e Samuel (1 Reis 2:26-27). Depois, refugiou-se com Davi, atuando como seu “capelão”. Permaneceu leal a Davi durante a sedição de Absalão, mas apoiou Adonias contra Salomão.

Alguns comentaristas veem em Abiatar como membro ou ancestral de uma linhagem rival anterior à de Zadoque, a família sacerdotal de Jerusalém do reinado salomônico até o exílio (2 Sam 8:17; 1 Samuel 22: 20-23; 2 Samuel 15: 24-37; e 1 Reis 2:26-27).

Mateus 12: 1-13 e Marcos 2: 23-28 registram Jesus citando a passagem do Antigo Testamento (1 Sam. 21: 2-7) que fala de Davi em fuga pediu pão da proposição ao sacerdote Aimeleque (Texto Massorético, LXX). Mas o relato de Marcos nomeia o sacerdote como Abiatar.

Em 1 Cr 24 Abiatar é listado como descendente de Aarão e em Juízes 18:30-31 (onde um nun indica variação no Texto Massorético) os sacerdotes de Siló traçam sua linhagem por Moisés, via Gérson.