Abjetos

Abjetos, no Salmo 35:15, traduz o termo hebraico נֵכֶה nekheh, que aparece uma única vez na Bíblia nesse verso e no plural נֵכִים  nekhim, cujo significado exato é incerto. Algumas traduções propostas seriam “caluniador”, “injuriador” ou “aquele que fere”. O salmista, Davi, usa o termo para descrever seus inimigos, que o perseguem e difamam sem motivo. Abjeto significa em português moralmente desprezível, vil.

Al-Tachete

Embora Al-Tachete, em hebraico  אַל-תַּשְׁחֵת, seja um termo que aparece no título do Salmo 57, seu significado e origem permanecem obscuros. A palavra Al-Tachete não possui um sentido claro no hebraico, levando a diferentes interpretações e especulações. Uma tradução mais comum seria “não destruas”.

Algumas hipóteses sugerem que Al-Tachete possa ser uma expressão musical, indicando uma melodia específica ou um estilo de execução para o Salmo 57. A indicação de que este salmo deveria ser cantado com a melodia de “não destruas” reforça essa possibilidade. No entanto, a natureza precisa da melodia “não destruas” se perdeu ao longo da história.

Outra interpretação propõe que Al-Tachete seja uma palavra ou frase em uma língua estrangeira, possivelmente aramaico ou outra língua semítica, incorporada ao texto hebraico. Essa hipótese se baseia na presença de termos estrangeiros em outros textos bíblicos, refletindo o contato cultural e linguístico entre os israelitas e outros povos da região.

BIBLIOGRAFIA
Kraus, Hans-Joachim. Psalms 1-59: A Commentary. Minneapolis: Augsburg, 1988.

Aijelete-Hás-Saar

Aijelete-Hás-Saar (em hebraico: אַיֶּלֶת הַשַּׁחַר) é uma expressão enigmática que aparece no título do Salmo 22 na Bíblia Hebraica. A tradução mais comum é “A Corça da Manhã”, embora o significado preciso e a função dessa frase no contexto do salmo sejam objeto de debate entre estudiosos.

Interpretações:

Existem diversas interpretações para Aijelete-Hás-Saar:

  • Indicação musical: A interpretação mais aceita é que a frase se refere a uma melodia ou estilo musical conhecido na época. “A Corça da Manhã” pode ter sido uma canção popular ou uma melodia específica à qual o Salmo 22 deveria ser cantado. Essa interpretação encontra paralelo em outros salmos que também mencionam melodias nos seus títulos, como o Salmo 56 (“A Pomba Silenciosa em Terras Distantes”) e o Salmo 57 (“Não Destruais”).
  • Referência simbólica: Alguns estudiosos sugerem que “A Corça da Manhã” possui um significado simbólico. A corça, um animal ágil e gracioso, pode representar a inocência, a pureza ou a busca por Deus. O amanhecer, por sua vez, simboliza a esperança, a renovação e a vitória sobre as trevas. Nessa interpretação, o título prenuncia o tema do salmo, que se inicia com lamento e sofrimento, mas termina com confiança na salvação divina.
  • Título litúrgico: Outra possibilidade é que Aijelete-Hás-Saar seja um título litúrgico ou uma referência a um contexto específico de uso do salmo no culto. Alguns estudiosos associam a expressão à “Shekinah”, a presença divina que habitava o Tabernáculo e o Templo.

Relação com o Salmo 22:

O Salmo 22 é um salmo de lamento individual que expressa profunda angústia e sofrimento. O salmista se sente abandonado por Deus e cercado por inimigos. No entanto, a segunda parte do salmo apresenta uma mudança de tom, com o salmista expressando confiança na libertação divina e louvando a Deus por sua fidelidade.

A relação entre o título “A Corça da Manhã” e o conteúdo do Salmo 22 é complexa. Se a frase se referir a uma melodia, a escolha pode parecer inadequada para um salmo de lamento. Por outro lado, se a interpretação simbólica for correta, o título pode indicar que o sofrimento do salmista é temporário, como a escuridão da noite que precede o amanhecer.

Escarlate

A escarlate ou carmesim, em hebraicoתּוֹלַעַת שָׁנִי, é uma tintura vermelha. Aparece em Gn 38:28; Êx 28:6, 8, 15. Era extraído de vários insetos e, principalmente, usado para vestimentas e acessórios de tabernáculo (Js 2:18; 2 Sm 1:24; Na 2: 3; Mt 27:28). Metaforicamente, está conectado ao pecado (Is 1:18).

Ḥerem (genocídio)

O ḥerem (hebraico חרם) era uma prática sacrifical na qual toda presa viva — quer pessoa, quer animal — é condenada à morte e devotada a um deus.

Antes, destruí-las-ás [ḥerem] totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos ferezeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o Senhor, teu Deus,

Dt 20:16

O termo ḥerem aparece nas línguas semíticas como algo interdito por razões religiosas. No entanto, em Dt 20:16; Js 10:40; na Estela de Mesa, o conceito de ḥerem indica aniquilação total da população apreendida. É nesse sentido de destruição que aparece a última palavra de Malaquias, no final do Antigo Testamento do cânone cristão.

O ḥerem oferece um dilema ético e moral, bem como uma dificuldade bíblica. O teólogo anabatista John Howard Yoder sugere de que o ḥerem evitava que a guerra se tornasse uma fonte de enriquecimento por meio de pilhagem. Assim, seria uma forma incipiente de conter a escalada de violência.

BIBLIOGRAFIA
Hofreiter, Christian. Making Sense of Old Testament Genocide: Christian Interpretations of Herem Passages. Oxford University Press, 2018.

Stern, Philip D. The Biblical Herem: A Window on Israel’s Religious Experience. Brown Judaica Studies 211; Atlanta: Scholars Press, 1991.

Trimm, Charlie. The Destruction of the Canaanites: God, Genocide, and Biblical Interpretation. Wm. B. Eerdmans Publishing, 2022.