Bete-Peor

Bete-Peor, em hebraico בֵּ֣ית פְּעֹ֑ור, no grego da LXX Js 13:20 Βαιθφογωρ betefogor; Dt 34:6 οἶκος Φογωρ; casa de Fogor, era uma cidade de Moabe atribuída à tribo de Rúben (Js 13:20).

Antes de entrar na Terra de Canaã, os israelitas acamparam no vale em frente a Bete-Peor, enquanto Moisés contemplava a Terra Prometida do alto do monte Pisga (Dt 3:29). Moisés entregou-lhes certas leis (Dt 4:46). Este é o vale onde Moisés foi sepultado (34:6). Bete-peor era provavelmente o lugar onde Baal-peor era adorado como divindade local (Nm 25:3, 5, 18).

Quanto ao significado de Peor (פְּעֹ֑ור), pode significar “abertura” ou “abismo”, vindo de uma raiz que aparece em árabe como faġara “abrir bem, bocejar”. O cognato siríaco (p’râ) significa “um abismo”.

Tradicionalmente, é identificado com Khirbet esh-Sheikh-Jayil, ao norte do Monte Nebo e oeste de Hesbom.

Eusébio localiz Bethphogor “como uma cidade a seis milhas de Livias perto do Monte Phogor, ou Peor” (Onom. 48, 35 [49, 3-41), a montanha na qual Beelphegor (Baal-peor) era adorado (Qnom. 44, 15-16 [45, 17-18]), e onde Balaque trouxe Balaão, com vista para Livias (Onom. 168, 25-26, [169, 19-20]), para amaldiçoar Israel.

Egeria registra que da igreja em Monte Nebo (Siyaghah) ela podia olhar para o norte e ver a cidade de “Fogor”, ou Peor (Peregrinação 12. 8, p. 108)

BIBLIOGRAFIA

Henke, Oswald “Zur Lage von Beth Peor”, ZDPV, 75 (1959): 155-163.

Decápolis

Decápolis em grego são as “dez cidades” greco-romanas visitadas por Jesus na região sul e leste do Mar da Galileia (Mc 5:20; 7:31).

Elas seriam Citópolis, Pella, Hipo, Dion, Gerasa, Filadélfia, Rafana, Canata, Gadara e Damasco. Contudo, vale atentar-se que essa lista variava ligeramente conforme os autores da Antiguidade.

Basã

Basã uma planície extensa, sem pedras e fértil a leste do rio Jordão. Está circundada por várias cadeias de montanhas: Gileade, monte Hermom, Jebel Haurã e ao ocidente por Gesur e Maaca (Js 12.5).

Aparece em Gn 14:5, como local de batalha de Quedorlaomer.

No final do êxodo, Ogue, o rei de Basã, enfrentou os israelitas, mas foi derrotado (Nm 21:33-35; Dt 3:1-7). Seu território coube à meia tribo de Manassés (Js 13:29

As duas principais cidades eram Edrei e Astorote (Tel-Ashtera). Em Dt 3:4 menciona sessenta cidades muradas em Argobe (monte) de Basã.

Mais tarde, no período salôminico, Argobe, em Basã, foi um dos distritos administrativos (1 Re 4:13).

No período dos reis as cidades de Basã foram conquistadas pelo rei arameu Hazael (2 Re 10:32-33), porém depois recuperadas por Jeoás (2 Re 13:25). Com a perda de população, a região virou pastos (Ez 39:18; Sl22:12), com florestas (Is 2:13; Ez 27:6; Zc 11:2) e a beleza de suas planícies (Amós 4:1; Jeremias 50:19). A expressão “vacas de Basã” indica a vitalidade pastoril da região.

Após o cativeiro babilônico, Basã foi dividida em quatro distritos: Golã ou Colinas de Golã, Haurã (Ez 47:16), Argobe ou Traconites e Bataneia.

Inscrição da Cidadela de Amã

A Inscrição da Cidadela de Amã (KAI 307) é um artefato encontrando na antiga capital dos amonitas, datada do século VIII a.C.

Descoberta em 1961 na Cidadela de Amã e publicada vez em 1968 por Siegfried Horn, a Inscrição seria proveniente do templo-fortificado dos amonitas, na atual Amã, capital da Jordânia.

A inscrição é esculpida em um bloco de calcário branco de aproximadamente 26 × 19 cm, com partes da inscrição perdidas, nos lados direito e esquerdo. A maioria das letras são claramente visíveis e a pedra tem poucos vestígios de erosão. Contém oito linhas. Nas oito linhas aparecem 93 letras em estimadas 33 palavras em língua amonita, uma variante do contínuo linguístico cananeu.

  1. [… Mi] lcom construiu para vós as entradas da cidadela […]
  2. […] que todos os que te ameaçam certamente morrerão […]
  3. […] Certamente destruirei, e todos os que entrarem […]
  4. […] e entre todas as suas colunas os justos habitarãoo […]
  5. […] pendurará em suas portas um ornamento […]
  6. […] será oferecido dentro seu pórtico […]
  7. […] e segurança […]
  8. […] paz a vós e pa[z …]

Atarote

Atarote é nome para três localidades bíblicas.

  1. Quirbete Atarote localiza-se a noroeste de Dibom (Nm 32:3, 34) em território da tribo de Gade. Foi conquistada por Mesa, rei de Moabe, o qual levou vasos de um templo de Yahweh que aparentemente existia no local, segundo a Estela de Mesa.
  2. A atual Tel el-Mazar, uma cidade na fronteira leste de Efraim (Js 16:7).
  3. Atarote-adar (Js 16:5; 18:13), uma povoação fronteiriça entre Efraim e Benjamim, atual Kefer ‘Aqab.

Amom, Amonitas

Os amonitas (os “filhos de Amom”) são na narrativa bíblica um povo próximo, porém competidor dos israelitas. Este povo viveu a leste do rio Jordão, na área da Jordânia (Jz 11:13) do final do Segundo Milênio até por volta de 500 a.C.

Os amonitas em Gn 19:30-38 aparecem como descendentes de um filho de Ló, sobrinho de Abraão, Ben-ami. Os conflitos entre Amom e Israel incluem Jefté contra uma coalizão de amonitas e filisteus (Jz 10:6-11:40). Os amonitas foram derrotados por Saul em Jabes-Gileade (1Sm 11) e depois por Davi em Rabá (2Sm 11:14-21).

Localizado em rotas de caravanas, na Idade do Ferro a pequena, mas densa região Documentos neo-assírios mencionam Amom. Um documento da época de Tiglate-Pileser menciona o tributo de um rei amonita. Os anais de Senaqueribe e Assurbanipal listam os reis de Amom. Em suas campanhas militares, o rei assírio Senaqueribe (c. 704-681 a.C.) dominou Buduili (Bod’el?) de Amom, Kammushu-nadbi (Chemosh-nadab) de Moabe e Ayarammu de Edom. O mesmo rei Buduili é mencionado em várias outros documentos. A emergência de estados aramaeus, neo-assírio e neo-babilônico no final da Idade do Ferro coincide com o fim dos amonitas como povo e sociedades distintas (Josefo, Antiquidades Judaicas 10.180–182). A região foi progressivamente ocupada por povos árabes. Nos períodos helenísticos e romano, Amã foi renomeada Filadelfia por Ptolomeu II e era parte de Decápolis.

A língua amonita é parcamente atestada por materiais epigráficos. Contudo, as inscrições são suficiente para estabelecer sua relação como parte do dialeto contínuo cananeu, os quais também incluem o hebraico e o moabita. Os registros epigráficos incluem a inscrição da cidadela de Amã (início do século VIII aC); uma grande coleção de selos, um jarro com inscrições de Tel Siran (século VI aC); a inscrição do Teatro de Amã (século VI aC). Arqueologicamente, os amonitas legaram uma tradição de esculturas com técnicas bem avançada quando comparadas com seus vizinhos da civilização sírio-cananeia.

A religião dos amonitas era centrada no culto a Moloque ou Milcom, conforme a Bíblia e onomástica teofórica. A raiz mlk indica rei ou governante e o sufixo possessivo –m parece indicar que o nome seria “seu rei”.

BIBLIOGRAFIA

Dion, Paul-Eugène. “The Ammonites: A Historical Sketch.” In Excavations at Tall Jawa, Jordan. Vol. 1, The Iron Age Town. Edited by P. M. Michèle Daviau, 481–518. Leiden, The Netherlands: Brill, 2003.

Dornemann, Rudolph H. The Archaeology of the Transjordan in the Bronze and Iron Ages. Milwaukee, WI: Milwaukee Public Museum, 1983.

Glueck, Nelson. The Other Side of the Jordan. 2d ed. Cambridge, MA: American Schools of Oriental Research, 1970.

Hübner, Ulrich. Die Ammoniter: Untersuchungen zur Geschichte, Kultur und Religion eines transjordanischen Volkes im 1 Jahrtausend v. Chr. Wiesbaden, Germany: Harrassowitz, 1992.

LaBianca, Øystein S., and Randall W. Younker. “The Kingdoms of Ammon, Moab and Edom: The Archaeology of Society in the Late Bronze/Iron Age Transjordan (ca. 1400–500 BCE).” In The Archaeology of Society in the Holy Land. Edited by Thomas E. Levy, 399–415. New York: Facts on File, 1995.

Lipschits, Oded. “Ammon in Transition from Vassal Kingdom to Babylonian Province.” Bulletin of the American Schools of Oriental Research 335 (2004): 37–52.

MacDonald, Burton. “East of the Jordan”: Territories and Sites of the Hebrew Scriptures. Boston: American Schools of Oriental Research, 2000.

Sauer, James A. “Transjordan in the Bronze and Iron Ages: A Critique of Glueck’s Synthesis.” Bulletin of the American Schools of Oriental Research 263 (1986): 1–26.

Tyson, Craig W. The Ammonites: Elites, Empires, and Sociopolitical Change (1000–500 BCE). London: Bloomsbury T & T Clark, 2014.

Abarim

Em hebraico הָעֲבָרִים significa “além”, “lugar oposto”, “para lá”. É a cadeia de montanhas vistas a partir da margem oeste do Jordão (cf. Gn 50:10-11; Nm 22:1).

Nas Escrituras Hebraicas aparecem o “os montes de Abarim” (Nm 33: 47-48); “Esta montanha de Abarim” (Nm 27:12) ou “esta montanha de Abarim” (Dt 32:49) e“Pilha dos Abarim” (Nm 21:11; 33:44).

Entre seus picos está o Monte Nebo, de onde Moisés viu a terra prometida antes de sua morte (Nm 27:12; Dt 32:49).

Já o nome Abarim, sem o artigo, ocorre em Jr 22:20, para referir a uma região, talvez remota como Líbano e Basã.

Moabe, Moabitas

Os moabitas, juntos dos amonitas, eram povos vizinhos, aparentados e ocasionais inimigos dos antigos israelitas. Viviam na região onde hoje é a Jordânia.

O território de Moabe localizava-se ao leste do Mar Morto, diante do deserto da Judeia. Trata-se de um plano árido até subir abruptamente cerca de 1.200 m de altitude em uma planície mais fértil que se estende por cerca de 24 quilômetros da escarpa até o deserto da Arábia. Seus vizinhos ao norte eram os amonitas e ao sul os edomitas, enquanto que a leste estava o deserto do Norte da Arábia.

Pouco se conhece dos moabitas. As fontes assírias, egípcias e a Bíblia constituem as principais peças para reconstruir sua história. Sua língua, o moabita, era um mero variante do contínuo linguístico cananeu e é atestada pela Estela de Mesa ou Pedra Moabita.

De acordo com a narrativa bíblica, a origem de Moabe seria o filho de Ló nascido de um relacionamento incestuoso com sua filha mais velha (Gn 19:30-38). Mais tarde, na fase final do êxodo, o rei moabita Balaque contratou o profeta Balaão para amaldiçoar os israelitas (Nm 22-24). Israel acampou nas planícies de Moabe antes de entrar na terra prometida (Nm 35:1; Dt 1:5), quando ocorreu o incidente de Baal-Peor (Nm 25).

Já no período dos juízes, o rei moabita Eglom oprimiu os israelitas, mas foi assassinado por Eúde (Jz 3:12-30). A moabita Rute, também ambientada no período dos juízes, é incorporada ao povo de Judá. Saul e Davi lutaram contra os moabitas, conquistando-os (1Sm 14:47; 2Sm 8:2). No período dos reis, os moabitas são mencionados apenas ocasionalmente (2 Re 3; 2 Re13:20; 2Re 24:2; Is 15-16; Jr 48; Sofonias 2:8-11).

Moabe é mencionado pela primeira vez no século XIII a.C. por Ramsés II, assim como referências a Dibom e Butartu.

Os dados arqueológicos identificam três fases da sociedade moabita.

A primeira, durante o período Ferro I, consistia em uma coleção de pequenos povoados do final do 2o Milênio, baseando em economias familiares e comunitárias de subsistência agro-pastoril. Com o controle do wadi de Árnom (Mujib), a região de Moabe viu um aumento dramático no povoamento tanto ao norte quanto ao sul do wadi devido à sedentarização dos povos nômades.

No final do século IX, já no começo da Idade do Ferro II, surge uma chefatura mais centralizada. Isso é condizente com a ameaça do expansionismo da monarquia israelita.

Como sugerem Is 15-16 e Jr 48, no final do século VIII a.C. ocorreu expansão da fronteira norte de Moabe até o estado amonita em Jalul. A Estela de Mesa, uma inscrição de um dos primeiros reis de Moabe, descreve como ele enfrentou os israelitas, aumentou seu território, estabeleceu uma nova capital e centro de culto em Dibom.

O Império Neo-Assírio passou a cobrar tributos dos moabitas e a dominar como suserano a partir do século VIII a.C. Mesmo assim, a produção pastoralista e têxtil cresceram. Já na fase final da Idade do Ferro (Império Babilônico), os moabitas desaparecem como sociedade distinta e sua região foi repovoada por nômades árabes.