Ephapax

O termo grego ephapax (ἐφάπαξ) significa “de uma vez por todas” ou “de uma só vez”. Aparece cinco vezes no Novo Testamento, sendo utilizado em diferentes contextos teológicos e narrativos. As ocorrências encontram-se em Romanos 6:10; 1 Coríntios 15:6; Hebreus 7:27; Hebreus 9:12; e Hebreus 10:10. Sua análise permite identificar significados específicos de acordo com o contexto literário e teológico.

Romanos 6:10

Em Romanos 6:10, ephapax é usado para descrever a morte de Cristo como um evento único e definitivo em relação ao pecado: “Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus”. O termo ressalta a singularidade do ato redentor de Cristo e sua eficácia no rompimento com o poder do pecado.

1 Coríntios 15:6

Em 1 Coríntios 15:6, o termo é empregado para indicar a manifestação de Cristo ressuscitado a mais de quinhentas pessoas “ao mesmo tempo”. Nesse contexto, ephapax enfatiza a simultaneidade do evento, reforçando a autenticidade e o impacto coletivo da experiência da ressurreição.

Hebreus 7:27

Hebreus 7:27 utiliza ephapax para descrever o sacrifício de Cristo como um ato único em contraste com os sacrifícios repetidos realizados pelos sacerdotes da antiga aliança: “Ele ofereceu sacrifício uma vez por todas, quando a si mesmo se entregou”. O termo sublinha a suficiência e a singularidade do sacrifício de Cristo.

Hebreus 9:12

Em Hebreus 9:12, ephapax refere-se à entrada de Cristo no Santo dos Santos “de uma vez por todas”, não por meio do sangue de animais, mas por meio de seu próprio sangue, obtendo uma redenção eterna. A palavra aqui reforça o caráter definitivo e irrepetível da obra salvífica de Cristo.

Hebreus 10:10

Hebreus 10:10 emprega ephapax para destacar a santificação dos crentes por meio da oferta do corpo de Cristo “de uma vez por todas”. O termo sublinha a abrangência e a permanência da obra de Cristo em relação à santificação.

Considerações Teológicas

O uso de ephapax no Novo Testamento aponta para a singularidade, suficiência e irrepetibilidade dos atos redentores de Cristo. Nos textos de Hebreus, especialmente, o termo serve para contrastar a nova aliança com os rituais repetitivos da antiga aliança, enfatizando a superioridade do sacrifício de Cristo. Em Romanos e 1 Coríntios, o termo reforça a eficácia histórica e escatológica dos eventos da morte e ressurreição de Cristo.

O termo também ilustra o caráter transformador e definitivo da ação divina em Cristo, representando uma ruptura com sistemas anteriores e a inauguração de uma nova era redentora. O estudo de ephapax destaca sua relevância na construção da teologia do Novo Testamento e na compreensão da obra de Cristo.

Apóstolo

Apóstolo, do grego para “emissário”, derivado do verbo “enviar”. termo que designa as testemunhas da vida e da ressurreição de Jesus Cristo (Mt 10:2-3; Mc 3:13-19; Atos 1:21-25; 9:15-16), enviados para proclamar a mensagem do evangelho ou trabalhar nele (f. At 14:14; 1 Cor 15:17).

Eram os ministros entre os cristãos primitivos designado para divulgar a fé que testemunharam em Jesus em seu ministério terreno (Mt 10:2,Lucas 6:13), embora Paulo reivindique tal posição (Gl 1:1).

O termo apostólico é relativo aos apostólos, sua época, seus ensinos e sua sucessão.

Há dúvidas quanto ao número dos apóstolos na Igreja primitiva e se o título denotava um cargo distinto daquele do episcopado/presbitério.

Onze apóstolos aparecem nomeados em Atos 1:13, “Pedro e João, e Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, e Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Judas Iscariotes, um dos doze discípulos originais, foi substituído por Matias (Atos 1:26). Adicionalmente Tiago, irmão do Senhor (Gálatas 1:19) e Paulo (Atos 14:14 etc) são indisputavelmente hoje contados como apóstolos.

Outras pessoas também possivelmente identificadas como apóstolos incluem Barnabé (Atos 14:14); Apolo (1 Coríntios 4:6-9); Timóteo e Silvano (1 Tessalonicenses 1:1 e 2:6); Epafrodito (Filipenses 2:25); os dois apóstolos não identificados (2 Coríntios 8:23); Andrônico e Júnia (Romanos 16:7).

Em Hebreus 3:1 Jesus Cristo é contato como o “Apóstolo e Sumo Sacerdote”, considerando seu papel de enviado divino.

Duas ressurreições

As doutrinas de uma e duas ressurreições referem-se a diferentes pontos de vista sobre o momento e a natureza da ressurreição dos mortos, conforme descrito na Bíblia.

Doutrina da Única Ressurreição: afirma que haverá um único evento de ressurreição no qual todos os mortos, justos e injustos, serão ressuscitados simultaneamente.

Adeptos dessa perspectiva citam frequentemente João 5:28-29: “Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão, os que tiverem feito o bem para a ressurreição da vida, e os que fizeram o mal para a ressurreição do juízo”.

Esta posição é historicamente majoritária. Entre os aderentes estão os sistemas teológicos protestantes tradicionais e o catolicismo romano.

Doutrina das Duas Ressurreições: propõe que haverá duas ressurreições distintas. Há aqueles que creem que uma ressurreição será para os justos (crentes) e outra para os injustos (não crentes). Outra perspectiva é que a primeira ressurreição seja espiritual e a segunda corpórea (Agostinho, Cidade de Deus, 20.7).

Adeptos da perspectiva citam frequentemente Apocalipse 20:4-6: Esta passagem fala de uma “primeira ressurreição” para aqueles que têm parte na “primeira ressurreição” e uma subsequente ressurreição do restante dos mortos após o reinado milenar de Cristo. Outro trecho citado também é 1 Coríntios 15:20-23.

A doutrina das duas ressurreições está principalmente associada a certos ramos do pré-milenismo e do dispensacionalismo.

Na história do pensamento cristão, Orígenes ensinava alguma forma de duas ressurreições. A primeira seria um despertar da alma e (potencialmente) uma existência não corpórea. A segunda envolvia um corpo novo.

O pré-milenismo histórico geralmente localiza a primeira ressurreição na Segunda Vinda de Cristo, com a volta à vida dos justos em Cristo, para reinar com Ele por mil anos. No final desse período, os injustos ressuscitariam para enfrentar o juízo do Grande Trono Branco. Elementos dessa perspectiva aparecem em Orígenes, Justino e Tertuliano, mas somente com Vitorino de Pettau em seu Comentário sobre o Apocalipse (início do século IV) uma discussão substancial sobre as duas ressurreições aparece. Já entre adeptos do pré-milenarismo dispensacionalista há várias nuances.

Essa doutrina ganhou um renovo nas discussões escatólogicas entre evangélicos de língua inglesa do século XIX, especialmente entre milleristas e dispensacionalistas.

BIBLIOGRAFIA

Bruce, F.F. “The Earliest Latin Commentary on the Apocalypse,” The Evangelical Quarterly 10. (1938): 352-366. 

Edwards, Mark J. “Origen’s two resurrections.” The journal of theological studies 46.2 (1995): 502-518.

Jeffries, Cyrus. The Doctrines of the Two Resurrections, According to the Scriptures of the Old and New Testaments: The First Resurrection was the Second Coming of Christ, at the Destruction of Jerusalem ; when He Set Up the Gospel Kingdom on Earth, and Resurrected Mankind from the Graves of Trespass and Sins. The Second Or Final Resurrection, is that of the Spiritual Body at Death. United States, S.A. Wylie Book and Job Print, Inquirer Office, 1867.

Imortalidade da alma

A crença na imortalidade da alma é entendida, em sentido estrito, como um componente vivo com existência separada e eterna do ser humano. Essa perspectiva não encontra respaldo no texto bíblico hebraico, mas é uma concepção helenista que ganhou sinonimia em círculos cristãos como crença na existência humana pós-vida.

No Antigo Testamento, a visão predominante descreve o ser humano como uma unidade humana (nefesh), sem a dicotomia que opõe o corpo a um componente espiritual presente na filosofia grega. A morte é representada como um estado de inatividade no Sheol, e embora algumas passagens poéticas sugiram uma continuidade da relação com Deus após a morte (Salmos 16, 49, 73), elas não sustentam explicitamente a ideia de uma alma imortal.

A noção da imortalidade da alma emerge no judaísmo durante o período intertestamentário (século II a.C. – século I d.C.), possivelmente influenciada pelo pensamento platônico. Posteriormente, o misticismo judaico elabora concepções mais complexas, distinguindo diferentes aspectos da alma (nefesh, ruah, neshamah, hayyah, yehidah) e suas jornadas após a morte.

No Novo Testamento, o termo grego psyche é utilizado para “alma”, mas geralmente preservando a concepção hebraica de unidade do ser humano. A doutrina central do cristianismo primitivo é a ressurreição do corpo (soma), como enfatizado em 1 Coríntios 15, em contraste com a ideia de uma alma imortal independente do corpo. Assim, a imortalidade da alma e a ressurreição corporal representam concepções distintas do pós-vida, com implicações teológicas divergentes.

A imortalidade da alma, enraizada na filosofia grega, particularmente em Platão, postula que a alma é inerentemente eterna e transcende o corpo, considerado uma prisão. A morte, nesse contexto, é vista como uma libertação. Em contrapartida, a ressurreição do corpo, central para o pensamento judaico-cristão, sustenta que tanto corpo quanto alma são criações divinas e serão restaurados em uma forma glorificada. Para o cristianismo, a morte é o último inimigo, vencido por Cristo, enquanto, para a tradição grega, é uma aliada que liberta a alma de sua condição material.

A noção liberacionista da alma encontrou respaldo entre círculos gnósticos que consideravam a matéria do corpo como um entrave para a salvação.

A distinção entre essas perspectivas é exemplificada por Oscar Cullmann em sua célebre palestra em Harvard Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos Mortos?. Cullmann contrasta a serenidade de Sócrates, que aceitou a morte como um momento de libertação da alma, com a angústia de Jesus, que enfrenta a morte como um inimigo a ser derrotado. Nos Evangelhos e na Epístola aos Hebreus, a morte de Jesus é marcada por terror e abandono, ressaltando a visão cristã de que a ressurreição é um ato criativo de Deus, restaurando a totalidade do ser humano, em vez de uma mera continuidade da existência da alma.

A ressurreição do corpo, portanto, é vista pelo cristianismo como um evento transformador e um milagre de recriação, enquanto a imortalidade da alma é considerada uma negação da morte. A ênfase cristã na ressurreição reflete uma visão holística da criação e da redenção, onde a totalidade do ser humano é restaurada à vida.

BIBLIOGRAFIA

Cullmann, Oscar. Immortality of the Soul or Resurrection of the Dead?: The Witness of the New Testament. Wipf & Stock, 2000.

Albert E. Saxby

Albert E. Saxby (1873-1960) foi um pioneiro pentecostal britânico.

Começou seu ministério como pastor batista na África do Sul e mais tarde serviu em uma igreja batista em Harringay, norte de Londres. No entanto, sua vida deu uma guinada significativa quando abraçou os ensinamentos pentecostais e se tornou um dos primeiros pioneiros do movimento.

Desempenhou um papel fundamental no estabelecimento da histórica congregação Derby Hall em Londres em 1915. Tornou-se conhecido em conferências e literatura pela propagação da doutrina da evidência inicial do Batismo do Espírito Santo através do falar em línguas, do universalismo e do pacifismo.

Argumentava que havia uma distinção entre falar em línguas como um dom do Espírito e falar em línguas como um sinal ou selo do batismo do Espírito Santo. Nem todos os indivíduos batizados no Espírito Santo seriam obrigados a falar em línguas. A partir da questão retórica “todos falam em línguas?” ensinava que, embora Jesus indicasse no Novo Testamento que os crentes deveriam falar em novas línguas, isso era principalmente um sinal ou evidência do batismo da Igreja no Espírito Santo. Saxby enfatizou que o dom de línguas se destinava à edificação da igreja, mas negou que cada destinatário do dom de línguas fosse necessariamente chamado para falar uma mensagem na assembleia pública da igreja.

Sobre a reconciliação final, Saxby ensinou que o julgamento de Deus recai sobre o pecado. Assim, através da cruz, Jesus finalmente reconciliará a humanidade com Deus (Colossenses 1:20), numa sujeição onde Ele será “Tudo em todos”. Uma vez condenado o pecado, os fiéis podem esperar a vitória final sobre a morte. Portanto, quando essa sujeição for alcançada, então, e somente então, ‘o último inimigo, a morte, será destruída’.

Instrumental na conversão de Donald Gee, Saxby era descrito como sendo agradável e alegre, bem como por sua paixão pelas Escrituras e profundo amor pelas pessoas. A partir de 1923, suas posições teológicas levaram a um isolamento em relação aos grupos pentecostais britânicos.

BIBLIOGRAFIA

Gee, Donald. These Men I Knew. Personal Memories of Our Pioneers. Assemblies of God Publishing House, 1980.

Saxby, A. E. God in Creation, Redemption, Judgment and Consummation & What is Ultimate Reconciliation? El Segundo, CA : Scripture Studies Concern, 1966.

Saxby, A. E. God’s Ultimate. London, England : Arthur H. Stockwell, 1938.

Saxby, A. E. The Second Death: An Enquiry into its Meaning and Operation. an enquiry into its meaning and operation. Fallbrook, CA : Van-Del Press, 1966.