Apóstolos

Apóstolos, em grego “enviados”, termo que designa os testemunhas da vida e da ressurreição de Jesus Cristo (Mt 10:2-3; Mc 3:13-19; Atos 1:21-25; 9:15-16) enviados para proclamar a mensagem do evangelho ou trabalhar nele (f. At 14:14; 1 Cor 15:17).

O termo apostólico é relativo aos apostólos, sua época, seus ensinos e sua sucessão.

Há dúvidas quanto ao número dos apóstolos na Igreja primitiva e se o título denotava um cargo distinto daquele do episcopado/presbitério.

Onze apóstolos aparecem nomeados em Atos 1:13, “Pedro e João, e Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, e Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago. Judas Iscariotes, um dos doze discípulos originais, foi substituído por Matias (Atos 1:26). Adicionalmente Tiago, irmão do Senhor (Gálatas 1:19) e Paulo (Atos 14:14 etc) são indisputavelmente hoje contados como apóstolos.

Outras pessoas também possivelmente identificadas como apóstolos incluem Barnabé (Atos 14:14); Apolo (1 Coríntios 4:6-9); Timóteo e Silvano (1 Tessalonicenses 1:1 e 2:6); Epafrodito (Filipenses 2:25); os doisvino apóstolos não identificados (2 Coríntios 8:23); Andrônico e Júnia–Romanos 16:7

Em Hebreus 3:1 Jesus Cristo é contato como o “Apóstolo e Sumo Sacerdote”, considerando seu papel de enviado divinp.

Simão

Simon do hebraico שִׁמְעוֹן, Shimon, helenizado como Symeon, em grego Συμεών.

  1. Simão, um dos doze discípulos de Jesus, chamado de cananeu (Mateus 10:4; Marcos 3:18) e de Zelota (Lucas 6:15; Atos 1:13),
  2. Simão, pai de Judas Iscariotes (João 6:71 ; 13:2,26).
  3. Simão, irmão do Senhor (Mateus 13:55; Marcos 6:3).
  4. Simão, fariseu em cuja casa “uma mulher da cidade que era pecadora” ungiu os pés de nosso Senhor com unguento (Lucas 7:36-38).
  5. Simão, leproso de Betânia, em cuja casa Maria ungiu a cabeça de nosso Senhor com unguento “enquanto ele estava sentado à mesa” (Mateus 26:6-13; Marcos 14:3-9). Talvez o mesmo acima.
  6. Simão Cirineu, um judeu de Cirene, no norte da África, na Líbia. Ajudou a carregar a cruz de Jesus. Chamado de “pai de Alexandre e Rufo” (Mateus 27:32), indicando uma possível participação posterior na Igreja cristã.
  7. Simão Mago, um feiticeiro entre os samaritanos (Atos 8:9-11 ). Convertido, foi repreendido por Pedro (Atos 8:18-23) por querer comprar ofícios espirituais, derivando-se o termo simonia.
  8. Simão, o curtidor, um cristão em Jope, um tanoeiro ou curtidor, com quem Pedro se hospedou (Atos 9:43). Durante tal estada, Pedro teve sua visão dos animais limpos e impuros (Atos 9:43; 10:5-6; 10:32)
  9. Simão Pedro (Mateus 4:18 ).
  10. Simão Macabeu, filho de Matatias. 
  11. Simão Niger ou Simeão Niger, um dos profetas de Antioquia (Atos 13:1).

Aramaico

O aramaico ou o aramaeu não é um só idioma, mas um conjunto de dialetos e línguas semíticas do noroeste da atual Síria em diferentes fases históricas que emergiram provavelmente por volta do século XII a.C., com abundância de inscrições distintivamente em aramaico aparecendo a partir do século VIII a.C.

No século VIII vários prisoneiros arameus ou sírios foram transportados para a Assíria, iniciando a adoção de seus idiomas por seus senhores. O comércio e os imperialismos assírio e babilônico propagaram a língua entre os povos cativos, mas seu uso na administração pública persa disseminou-a desde o sul do Egito até o Afeganistão, com inscrições encontradas até em Sardes (na Anatólia). Depois do exílio babilônico, o aramaico gradativamente substituiu o hebraico como língua corrente dos israelitas (Ne 13:24).
 
No período helenista dividiram-se os dialetos aramaicos ocidentais e os dialetos orientais. Essa divisão persiste até hoje, não sendo mutuamente compreensíveis. Por um mais de um milênio foi a língua internacional do Oriente Médio, até ser suplantada pelo árabe.

Atualmente, mais de 1 milhão de pessoas possuem algum domínio do aramaico nas seguintes variantes:

  • O siríaco é falado em várias comunidades no nordeste da Síria, no Iraque, no Irã, na Geórgia, bem como língua litúrgica de várias igrejas cristãs. Sobrevive nas diáspora assírias, siríacas e caldeias especialmente nos Estados Unidos e mesmo no Brasil.
  • O judeu-aramaico serviu para a composição do Talmud e de textos litúrgicos, sendo falado ainda hoje por judeus curdos.
  • O mandaico é uma variante aramaica falada pelos mandeus, seguidores de João Batista nativos do Iraque.
  • O neo-aramaico ocidental é usado em três aldeias próximas a Damasco.

As línguas aramaicas são semelhantes mas não inteligíveis com o hebraico. (Cf. 2 Re 18:26; Is 36:11). As duas línguas seriam tão compreensíveis como o italiano para um falante do português.

A escrita aramaica, uma adaptação do alfabeto cananeu ou fenício, foi adotada por muitos outros povos, inclusive os judeus, sendo chamado de escrita quadrada ou assurith. A escrita aramaica ainda influenciaria as escritas siríacas, árabe, persa pahlavi, o mongol, as escritas da Índia e do sudeste asiático.

No período do Novo Testamento o aramaico estava tão enraizado na cultura israelita que comumente essa língua era chamada de língua dos hebreus ou de hebraico. Nesse sentido aparece em Jo 5:2; 19:13, 17, 20; 20:16; At 21:40; 22:2; 26:14; Ap 9:1. E mesmo fora da Bíblia, em autores como Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas. 3.10.6 e Guerra dos Judeus 7. 2.1) refere ao hebraico intercambiavelmente como a língua dos judeus.

ARAMAICO E A BÍBLIA

Algumas palavras no Novo Testamento não são possíveis de distinguir se são aramaicas ou do hebraico tardio: Mamon, Bartolomeu, Barrabás, Boanerges, Getsemane, Gólgota.

Há cerca de 280 versículos com trechos escritos em aramaico tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.

Trechos em aramaico no Antigo Testamento:

  • Na fala de Labão (Gn 31:47).
  • Na advertência de Jeremias (Jr 10:11).
  • Em porções do livro de Daniel (Dn 2:4-7:28).
  • Em porções do livro de Esdras (Ed 4:8-6:18; 7:12-26).

Trechos em aramaico no Novo Testamento

  • Talita cumi “menina, levanta-te!” (Mc 5:41)
  • Efatá “abre-a!.” (Mc 7:34)
  • Aba “Pai ou papai” (Mc 14:36; Gl 4:6; Rm 8:15)
  • Raca “tolo” (Mc 5:22)
  • Raboni “meu mestre” (Jo 20:16)
  • Eli Eli lema sabactani “Deus meu, Deus meu, não me desampare” (Mt 27:46; Mc 15:34)
  • Osanna “Oh, Salva-nos.” (Mc 11:9)
  • Maranata “Vem, Senhor!” (1 Co 16:22)
  • Tabita: “Gazela” (At 9:36)

O aramaico é a base de várias versões da Bíblia:

  • Targum: traduções do Antigo Testamento, produzidas quando o hebraico deixava de ser compreendido pelos judeus.
  • Diatessaron: uma harmonia dos evangelhos feita por Taciano no século II.
  • Vetus Syra: versão antiguíssima do Novo Testamento. Consiste nas Versão reconstruída dos Atos (Conybeare), Versão reconstruída das epístolas paulinas (Molitor), Versão do Siríaca do Sinai, Versão de Curton.
  • Peshitta: tradução da Bíblia completa iniciada no século II e se tornou a versão padrão para os cristãos do oriente.
  • Syro-Hexapla: uma versão feita em Alexandria no século VII com base na Hexapla de Orígenes.
  • Siríaca Filoxeniana é uma recensão encomendada por Filoxeno de Mabbug e completada em 508 por seu corepíscopo Policarpo.
  • Siríaca Harcleana uma recensão por Tomás de Harqel concluída em 616 dC em Enaton no Egito.
  • Lecionários Cristãos Palestianianos: trechos da Bíblia em aramaico ocidental para uso no culto na Idade Média.

O aramaico é importante para conhecer melhor o hebraico bíblico e o contexto histórico da Antiguidade. Vários documentos (Visão de Balaão, Documentos de Elefantina, Documento Driver) e escritos parabíblicos (pseudo-epígrafas, Manuscritos de Qumran) foram escritos nessa língua.

No século IX d.C. o gramático Judah ben Quraysh formulou a hipótese de que Terá, pai de Abraão, falasse aramaico e fosse a língua ancestral da qual emergiram o árabe e o hebraico. No século XIX houve quem pensasse que a língua dos patriarcas fosse o aramaico com base, entre outros, em Dt 26:5. No entanto, tais teorias são hoje desconsideradas. Outra teoria marginal que envolve o aramaico é a hipótese de que grande parte do Novo Testamento ou as falas de Jesus terian sido compostos originalmente em aramaico. Contudo, várias análises linguísticas e evidências externas confirmam que a forma canônica dos livros do Novo Testamento foi escrita em grego koiné.

Em 1845 o biblista rabino Abraham Geiger formulou a hipótese de que o aramaico seria a língua nativa da Palestina do período do 2º Templo e seria a primeira língua de Jesus. Todavia, as citações em aramaico nos evangelhos não são conclusivas para determinar qual seria a língua materna de Jesus. As amostras da língua no Novo Testamento poderiam ser as ocasiões excepcionais em que Jesus estava falando a língua de seus interlocutores, como nos trechos em aramaico no Antigo Testamento ou exemplos de diglossia. Hoje, evidências históricas, literárias e arqueológicas apontam para um cenário linguístico mais pluralístico, com o grego e o aramaico sendo as línguas primárias da população da Palestina, sem excluir os usos minoritários do latim e do hebraico.

SAIBA MAIS

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